Ao contrário dela, Adrien conseguiu colocar as mãos sobre o rosto antes que pudesse ver quem era a parceira por trás da máscara.

— Ladybug! Por que você fez isso? Não precisava revelar sua identidade só porque revelei a minha, ficou doida? — ele gritava, com os olhos fechados. — Olha, eu vou me virar, pode se transformar de volta, ir embora, sei lá, que eu não estou vendo. — Ele ficou de costas para ela, que começou a rir.

— Adrien, pode olhar.

— Não! Eu cometi um erro e sei disso, mas não vou quebrar sua confiança descobrindo quem você é! Você não está pensando direito e… — Marinette segurou o ombro dele e o virou para ela novamente, mas o loiro continuava cobrindo o rosto. — Eu não vou olhar, Ladybug. Você não precisa…

— Abre o olho logo Adrien, que drama do caralho! — Ela tirou as mãos dele rapidamente, se deparando com uma expressão completamente perplexa segundos antes de ele pisar em falso e quase cair do prédio.

Marinette o puxou de volta, trazendo o loiro atônito para perto de si.

— Porra, garoto! Não inventa de morrer agora que a gente revelou as identidades não!

— M-Marinette! E-eu... não consigo acreditar! — Ela conseguiu sentir o coração dele batendo acelerado por conta da proximidade e soltou uma risada ao ver o enorme sorriso que ele exibia. — C-como que a gente… como não percebemos? Era só… A gente podia… Eu tô… — Os dois riram com a incapacidade dele de formar uma frase e se abraçaram.

— Pois é, eu também não estou acreditando — ela disse depois de se afastarem.

— Mas… Então tudo o que eu disse… Nós estávamos… Esse tempo todo… — Ele riu de si mesmo. — Ok, eu desisto de falar qualquer coisa. — Riram novamente. — Isso é bom demais pra ser verdade! Parece que vou acordar a qualquer momento!

Nesse instante, Marinette mudou sua expressão, olhando para algum ponto atrás de Adrien com um semblante assustado.

— Bunnix? — falou ela e o loiro gelou. “Não, não pode ser! Por favor, não!”, pensava ele enquanto voltava-se para o local que o olhar dela tanto se fixava.

Para sua surpresa, não havia ninguém ali. Olhou para Marinette novamente, que ria como nunca.

— Não acredito que você caiu nessa! — ela falou entre gargalhadas.

— Você me paga! — Adrien se aproximou dela, fazendo cócegas em sua barriga até que, não aguentando de tanto rir, deitaram-se um ao lado do outro sobre o telhado.

Quando finalmente recuperaram o fôlego, encararam os kwamis que dormiam um pouco distante de onde estavam.

— Como você acha que eles vão reagir quando souberem que revelamos as identidades? — Marinette perguntou de repente.

— O Plagg vai ficar extremamente aliviado, ele não aguentava mais guardar segredo! Agora eu entendi porque ele sempre me dizia que eu gostava da Marinette. — Ela riu. — E a Tikki?

— Acho que vai ficar muito feliz também, agora estou relembrando tantos momentos em que ela quase me contou quem você era e percebi que ela também não aguentava mais guardar segredo!

Um silêncio confortável se seguiu enquanto observavam a noite estrelada acima deles, até que Marinette sentiu Adrien a observando e virou-se para ele.

— Eu realmente não consigo acreditar que estávamos apaixonados um pelo outro esse tempo todo! — Reafirmou o loiro, mas ela permaneceu em silêncio, com uma expressão indecifrável. — Vai me dizer que agora realmente a Bunnix está atrás de mim? — Ela riu.

— Não, é que… eu estou pensando em tantos momentos que passamos. Foram tantas batalhas como Ladybug e Chat Noir, mas ao mesmo tempo foram tantas coisas como Adrien e Marinette. — Ele assentiu, mas ela mostrou-se um pouco cabisbaixa. — E… nesses últimos anos eu meio que me afastei de você. 

O loiro exibiu uma careta confusa. Ladybug e Chat Noir nunca estiveram tão próximos. 

— Do Adrien. — Marinette explicou. — Quer dizer, nós éramos bem próximos no último ano da escola, quando… derrotamos o Shadow Moth.

Adrien lembrou daquele dia, sorrindo ao lembrar do apoio que Marinette lhe ofereceu na época, deixando-o até passar aquela noite no quarto de hóspedes da padaria enquanto esperava a situação se acalmar um pouco, junto com seus sentimentos, ao descobrir a verdade sobre o pai.

— Mas depois que me mudei eu tentei esquecer o que sentia por você, eu acho. Tanta coisa estava acontecendo e eu mal conseguia parar para pensar sobre os meus sentimentos — confessou ela, olhando para as estrelas. — Acho que por isso também eu desisti de me declarar. Tudo parecia tão confuso ao meu redor, eu não tinha mais tanta certeza se deveria dizer o que sentia. — O loiro assentiu e ela suspirou, melancólica. 

— Mas agora estamos aqui, e é o que importa — disse, e Marinette sorriu. — E passamos também por muita coisa boa juntos, não foi?

— Com certeza! — Ela riu levemente quando uma lembrança específica tomou conta dela e colocou as mãos sobre o rosto para encobrir as bochechas coradas. — Ai, meu Deus! Você lembra da primeira batalha contra o Cupido Negro?

— Bom, na verdade não muito, eu fui atingido por ele. — Marinette continuou rindo.

— Exato! E para te livrar do feitiço eu tive que te beijar.

— O primeiro de vários beijos que nós não conseguimos nos lembrar, né? — Riram juntos.

— Eu nunca tinha parado para pensar por que o beijo tinha funcionado. Quer dizer, naquela época eu jurava de pé junto que não era apaixonada pelo Chat Noir.

— Custava muito assumir a verdade, né? — Ela fez uma careta para ele e os dois riram novamente. — Estou aqui lembrando de quando a Nadja Chamarck colocou uma foto desse beijo no programa dela e eu fiquei sem entender nada!

— Um passarinho, ou melhor, um gatinho me contou que você ficou todo bobo quando chegou em casa nesse dia.

— Plagg, seu kwami fofoqueiro! — Os dois riram.

— Uma pena que você não consegue lembrar direito desse dia por causa do feitiço do akumatizado… — ela disse, olhando para as estrelas novamente.

— Verdade... — Ele também olhou para o céu daquela noite quente, como ela. Um certo silêncio se seguiu à fala de Adrien, até que Marinette o quebrou.

— Talvez, só talvez, eu pudesse te relembrar agora. — Seus olhos se encontraram.

— Talvez, é?

— Uhum. Só talvez. — Levou alguns segundos para que ambos assimilassem o que estava prestes a acontecer.

— Bom, eu não me lembro muito bem, mas acho que nós estávamos mais ou menos assim, né? — Adrien posicionou-se sobre ela, com um joelho ao lado de cada lado de seu corpo, conforme o pouco que se lembrava da primeira batalha contra Cupido Negro. Sentia o coração explodir dentro de si.

— É… — ela disse, sentindo seus batimentos mais acelerados do que nunca. — Então eu segurei seu rosto assim. — Ela tocou as bochechas dele, trazendo-o para perto de si. — E depois… — Marinette sussurrou, já com o rosto próximo ao dele.

— E depois? — Adrien disse, no mesmo tom que ela. Parecia que seu coração saltaria do peito a qualquer instante.

— E depois eu não me lembro, que pena — ela brincou, afastando-se um pouco, e ele fez uma careta surpresa.

— Você quer acabar comig… — Marinette o interrompeu, puxando-o finalmente para um beijo intenso e apaixonado, ainda melhor do que o que ela se lembrava do dia do Cupido Negro.

Após se afastarem, soltaram uma leve risada juntos, tamanha alegria que sentiam. Permaneceram com os rostos próximos, de forma que Marinette percebeu quando o sorriso dele se desfez e o encarou com atenção.

— Você acha… acha que vamos nos lembrar desse beijo? Tipo… qual a chance da Bunnix realmente vir do futuro e mudar tudo? Eu falei brincando no início, mas isso pode acontecer, não pode? Quer dizer, tecnicamente, não devíamos ter revelado nossas identidades — disse ele, com uma expressão um tanto desesperada, que a contagiou um pouco.

— Eu realmente não faço ideia. — Um silêncio um tanto triste se seguiu.

— Eu não quero te perder, my lady.

— Eu também não, gatinho. — Ela segurou as mãos dele ao perceber o quão desanimado estava. — Mas eu tenho certeza que, se qualquer coisa acontecer e acabarmos nos perdendo, nós vamos nos encontrar novamente. Sempre nos encontramos, não é? — Adrien assentiu, exibindo um leve sorriso com a certeza que a voz dela passou.

— Mas assim, só para garantir, acho que eu gostaria de relembrar o beijo do Cupido Negro, eu meio que esqueci de novo, sabe? — Marinette riu.

— Você não tem jeito mesmo. — Os riram antes de juntarem os lábios novamente.

E assim aquela madrugada seguiu, com os dois relembrando os momentos que viveram até ali, rindo sob as estrelas daquela noite de verão em Paris.