Liberté escrita por Mel de Abelha


Capítulo 1
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804588/chapter/1

Eu disse que a qualquer momento sairia correndo sem rumo e dessa vez eu fui.

Vesti a calça mais rasgada e larga que achei, o maior casaco de capuz do meu guarda-roupa, calcei meu par de tênis mais velho e rasgado, amarelo desbotado e sujo, soltei o cabelo do emaranhado embolado que ele estava. Desliguei o celular, joguei ele no telhado, fechei o notebook e o arremessei na piscina com um chute de dar inveja a qualquer atleta.

Gritei.

E corri.

Deixei todas as portas e janelas abertas, o portão bateu atrás de mim para nunca mais abrir, a chave estava dentro de casa na minha bolsa com os cartões de crédito que cortei com a tesoura sem pontas.

Corri pelo meio fio da avenida, corri pelo parque, corri na rua principal, corri por um parquinho, corri, corri, corri.

Corri até uma loja de bicicleta, tirei do bolso todo o dinheiro que guardei para pagar as contas e o joguei no balcão, peguei a bicicleta azul metálica que estava na vitrine e subi, ninguém da loja teve tempo de reagir, pois eu já estava voando.

Pedalei em direção ao litoral, o sol e o vento me beijavam, à minha direita a vegetação e a pequenez de uma cidade distante, à minha esquerda a areia brilhante, a imensidão do céu e do mar, o horizonte brilhante e o cheiro de maresia, a brisa doce do desconhecido, do puro e do verdadeiro.

Gargalhei de vida pela primeira vez desde a infância, chorei lágrimas açucaradas, senti seu sal na minha língua, ouvi a voz da minha cabeça e ela não estava triste, ela não estava presa, ela não estava nem aí. Pedalei, fracassei ao fazer manobras no asfalto vazio da praia, era terça-feira. Caí e ralei metade da minha perna, lavei-a com água do mar, ardeu. Mergulhei sem saber nadar, fiz um castelo de areia e o chutei, dancei sozinha e chorei no pôr do sol. Catei as conchas que pude e me abriguei num barco abandonado do píer, pude ver estrelas que nem sabia que existiam, pude ver todas elas.

Acordei com lágrimas nos cílios, o orvalho me banhou, o sol me despertou.

Peguei minha bicicleta e continuei o caminho, dessa vez caminhando, sem pressa, sem linha de chegada, sem nada. Eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Liberté" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.