Nosso primeiro natal escrita por Kaline Bogard


Capítulo 2
Parte 02 de 02


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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— Posso ajudá-lo, senhor? — era uma Beta de sorriso amplo e contagiante, disposta a agradar. Passou um pouquinho do limite ao reclinar-se na direção de Hiro, tentando evidenciar o decote generoso que em nada combinava com clima de dezembro, ainda que o prédio oferecesse aquecimento — O lema da loja é “tudo para agradar ao cliente” — e sorriu ainda mais.

— Eu — Hiro ia responder quando sentiu a punhalada certeira nas costas...

Não literalmente, claro. Foi apenas uma referência à sensação de um intenso olhar direcionado para as suas costas. E então dedos entrelaçaram-se aos seus quando Arima parou ao lado.

— Obrigado, a gente chama se precisar de ajuda — dispensou a vendedora num tom um tanto seco.

A moça não deixou de sorrir. Pelo contrário, ela acabou achando um tanto fofa a expressão fechada do jovem Omega.

— Tudo bem, estarei circulando pela loja — e afastou-se sem dizer mais nada.

Hiro tentou não sorrir, para disfarçar mostrou a estrela de gosto duvidoso.

— Podemos ficar com essa?

— Alpha assanhado — Arima respondeu, começando a seguir em direção aos caixas.

— Isso é ciúme? — provocou sorrindo largo.

— Não! — a palavrinha veio depressa demais. A sequencia soou com mais calma — Ciúme é sentimento de pessoas inseguras.

— Pareceu ciúmes... — não ia desistir fácil daquela!

— Alpha egocêntrico — o rosto de Arima esquentou. Ele não era inseguro, ao menos não atualmente. Mas não pôde conter a pontinha de ciúmes ao ver a vendedora insinuando o decote! Claro que Hiro era um Alpha de ótima aparência, educado e gentil. Vivia de bom humor e tinha uma paciência que estendia pelo infinito. Não podia culpar a funcionária por tentar, hum? Aqueles atributos eram algo que se percebia na aura de Hiro.

Não disseram mais nada enquanto esperavam na fila e pagavam pelas compras. Foi tudo muito mais tranquilo do que se enfrentassem a loja em promoção, apesar de abrir mão dos descontos tentadores. Nem sempre valia a pena economizar no bolso, mas sofrer no tumultuo.

— Vamos olhar ali? — o Alpha apontou uma loja de roupas masculinas — Ou está cansado? — sabia que a perna fraca do companheiro não aguentava muito esforço.

— Vamos sim, sem problemas.

— Quero comprar umas meias. E o presente do Amigo Secreto — todos os anos o corpo docente da faculdade fazia uma brincadeira trocando mimos simbólicos.

— Vai ser o prendedor de gravatas mesmo?

— Sim, adorei a sua ideia. Combina muito com Boris.

Arima concordou com um aceno de cabeça. Foi uma visita rápida e pontual. Hiro comprou alguns pares de meia e o prendedor de gravatas. Aproveitou uma breve distração de Arima para comprar algo a mais. Distração causada por uma queima de estoque: o Omega notou uma bancada exibindo blusas de verão com preços pela metade. Acabou comprando duas para aproveitar o ótimo valor!

— O que acha de comer alguma coisa? — Hiro sugeriu ao terminarem as compras. Carregava um bom par de sacolas nas mãos. O casal se empolgou com as peças de natal!

O outro hesitou um pouco.

— A praça de alimentação deve estar lotada...

— Fato. A gente espia, se for impossível, sai pra comer em algum lugar por perto.

— Pode ser!!

Não foi surpresa nenhuma subir ao último piso, onde ficavam os restaurantes, e descobrir um mar de gente acomodado nas cadeiras. Conversas diversas davam a impressão de entrarem em uma colmeia humana! E a decoração natalina de bom gosto dava um clima especial.

Contudo foi surpresa notar um grupo que se levantava da mesa naquele exato segundo. Um movimento ágil de Hiro colocou as bolsas sobre o tampo de mármore, garantindo o lugar!

— Sou um ninja!! — gabou-se.

Arima balançou a cabeça e aproximou-se em poucos passos.

— Parabéns, Alpha das sombras.

— Fica aqui garantindo nosso lugar. Vou buscar algo para comermos. O de sempre?

— Sim, pode ser.

Arima sentou-se à mesa observando enquanto o Alpha costurava entre as mesas até o restaurante em que costumavam comer quando iam ao shopping. Imaginou fácil que haveria certa demora pelo tanto de gente que estava por ali. Ajeitou as bolsas sobre a mesa, abrindo um espaço para que colocassem as bandejas com a refeição.

Em seguida pegou o celular para se distrair. Era um modelo um tanto antigo, que supria bem as necessidades mais básicas com eficiência. Tal fato dispensava a compra de um novo num futuro próximo. Verificou os grupos de mensagens, o da faculdade tinha um número enorme de notificações. Abriu e fechou o aplicativo sem ler nenhuma: noventa e nove por cento era conversa fiada e Arima não tinha paciência para acompanhar. Havia uma notificação do curador também. Apesar de já ter vinte e três anos, seus pais determinaram em testamento que deveria ter um curador até se formar na faculdade. Isso salvou sua herança de ser tomada pelos avós e acabou aumentando o rancor que sentiam de Arima. Seu pai, tinha uma condição financeira confortável. Porém era estrangeiro e não foi bem aceito pela família da amada. O contrário do dinheiro que deixou ao morrer: se pudessem, os velhinhos teriam torrado cada centavo! Só não o fizeram por impedimentos legais, os mesmo que restringiam os gastos do Omega, ele recebia o suficiente para pagar o curso e nada mais. Quando se formasse, poderia sacar todo o montante que sobrou, mas Arima sabia que não era muito e não fazia nenhum plano de riqueza vinda da herança.

O curador estava avisando que a parcela daquele mês fora enviada à faculdade e anexado todos os comprovantes. Um valor simbólico também havia sido transferida para a conta do rapaz: para que bancasse os livros, cópias xerográficas e demais necessidades do dia a dia educacional.

Finalmente fechou o celular e ficou admirando a movimentação de pessoas na praça de alimentação. Todo tipo de ser humano, com suas variadas refeições, indo e vindo, buscando um lugar vago para comer e descansar um pouco.

— Demorei muito?! A fila estava grande, mas eles servem rápido!

— Não demorou não, pensei que seria pior.

Hiro equilibrava duas bandejas nas mãos, e uma sacola de papel pendurada no braço, objeto que logo despertou a curiosidade de Arima. Fazendo um pequeno malabarismo, o Alpha colocou o jantar à frente do outro: um belo prato de arroz branco soltinho e caldo encorpado de curry, que parecia saboroso. Torradas cortadas em rodelas recobertas com creme de queijo e isca de carnes bem grelhadas acompanhados por um grande copo de suco de laranjas.

— O cheiro está ótimo. Me castigou até chegar aqui! — ele escolheu igual para ambos. Por fim sentou-se e revelou o que estava na sacola: uma garrafa de vinho tinto — Vamos montar a árvore e comemorar essa noite, hum?!

O coração de Arima deu um salto no peito e o rosto corou em sequência.  Sabia bem o que vinha nas entrelinhas daquela “comemoração”... com certeza a resposta ao convite era “sim”. Mil vezes “sim!!”.

— Alpha saliente — resmungou misturando arroz com curry para levar aos lábios.

O sorriso de Hiro tornou-se mais cálido. Ainda não tinha feito a Marca em Arima, embora já houvesse um vínculo entre eles que era mais do que mero rascunho. O rapaz murmurava e se fazia de mal humorado, mas por baixo de todo aquele jeitinho marrento havia um Ômega que era um pedacinho de pudim. Conseguiu captar traços da empolgação e leve excitação que envolveu o companheiro, ainda que tentasse manter a pose de durão. Era uma fofura.

— Bom apetite, namorado — brincou. No começo da relação Arima tinha muita dificuldade de chamar Hiro pelo nome, desconfiado de Alphas. Usava rótulos para se dirigir ao outro, habito que ainda trazia consigo. De vez em quando Hiro provocava fazendo o mesmo, chamando-o de “namorado” ou “Omega” e algum atributo. “Omega fofo”, “Omega arisco”, “Omega pudim”...

— Bom apetite.

A frase simples deu início à refeição. Por alguns segundos, comeram em silêncio. Hiro aproveitou para observar o outro, que comia com calma, saboreando o gosto bem temperado, a consistência do curry combinando com o arroz soltinho, numa evidente demonstração de prazer. Era inacreditável pensar que conheceu aquele rapaz em condições penosas, com Arima bem abaixo do peso e passando restrições porque os avós maldosos judiavam do neto.

Sabia que o Omega venceu superações inimagináveis, sem deixar que isso quebrasse seu espirito. Nutria uma admiração grande por ele e sua força de vontade, traços de personalidade que o cativaram por completo.

Arima sentiu uma nuvem de ternura envolvê-lo através do vínculo e olhou curioso na direção do Alpha.

— Hiro?

O homem notou o grãozinho de arroz preso no canto dos lábios manchados de molho e sorriu.

— Amo você — declarou com simplicidade, apenas para ver a tez morena do jovem a sua frente se tingir de um adorável enrubescer.

— A-Alpha meloso! — tentou disfarçar o embaraço. Hiro levou a mão ao peito, como se tivesse levado um tiro e fez Arima rir do drama. Os cálidos olhos castanhos transmitiram um mar de ternura quando a resposta se completou — Eu também amo você.

Hiro até pensou em soltar uma piadinha padrão “nunca duvidei”, mas mudou de ideia no último instante. Era difícil para Arima ser tão explicito com os próprios sentimentos. Aquele momento não era para se rir, era um momento para se admirar.

*****

Depois de comer, o casal caminhou pelo shopping de mãos dadas por um tempo, comentando sobre as fachadas decoradas, os preços e planos para comemorar o primeiro natal em que moravam juntos. Passaram pelo piso do cinema, especulando os filmes em cartaz, conquanto nenhum os agradasse.

Passava das dez horas quando decidiram ir embora.

O estacionamento estava bem mais vazio naquele horário, tornando mais fácil encontrar o veículo esportivo. Assim que o alcançaram, ao invés de liberar a trava automática, Hiro colocou as sacolas sobre o capô e remexeu o interior de uma delas, assistido com curiosidade por Arima.

— Aqui! — exultou ao tirar uma peça de lã, formada por múltiplas listras coloridas. Então aproximou-se do companheiro e enrolou o cachecol ao redor do pescoço dele, com cuidado e carinho que não surpreenderam nem um pouco. Arima sabia que o Alpha era dado a gestos assim — Achei a sua cara.

O Omega levou a mão livre ao cachecol macio e afofou de levinho. A peça era grande e envolveu-lhe a metade inferior do rosto, encobrindo o sorriso bobo nos lábios e parte das bochechas coradas.

— Obrigado — agradeceu baixinho — Gostei muito!

Só então Hiro destravou o carro, acomodando todas as sacolas no banco de trás enquanto Arima sentava-se no lado do carona. A noite divertida rendeu bons frutos ao casal, apenas um prólogo aquecendo e preparando para a comemoração esperada à qual Hiro se referia com tanto carinho como “Nosso primeiro natal”.


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Notas finais do capítulo

até a próxima!



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