Não se reconhece mais a ponto de não se importar, dormindo na mesa com uma garrafa de vinho aberta. Tão absorta e quebrada, meia arrastão rasgada e maquiagem borrada. Os cabelos que outrora eram loiros flamejantes como seu espírito na adolescência, agora são castanhos escuros como a lâmpada amarela e barata da cozinha em que está encostada. 

Seu palhaço interior se enforcou nas vigas do porão, solitário e triste, pois não ri, não chora e nem goza, a procura incessante acabou quando resolveu deixar de lado. Assim, como eles a deixaram de lado. Ou de joelhos ou de quatro, mas nunca podendo fazer parte. 

Tudo parece invertido, mas não era como se pudesse se olhar no espelho. Sua imagem não aparecia mais, ou pelo menos não se importava a ponto de não ver. O peso era tão pesado que a fez passar dos limites, deu uma volta e acabou no ponto de partida: o da indiferença. Seus olhos verdes atravessavam o espelho e só sua “eu” do passado se sentiria terrível quando a visse caso viajasse para o futuro. 

Já não sentia saudades do passado e muito menos da sua imaginação, o caminho do consolo e que fazia seus sonhos tonarem-se realidade. Desse desvio não tinha mais. Portanto, nada a prendia e o revólver estava na bolsa de couro junto de uma crise boba.