NO GOD: But vampires yés escrita por Diego Farias


Capítulo 7
Capítulo 7: Sussurros Divinos


Notas iniciais do capítulo

Um pequeno desvio por culpa de Eddy, simplesmente, custou a visão de um curioso.
Eu adorei escrever esse capítulo. Espero que também curtam.



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“Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”. Levítico 19:31.

   Eu marchava pelo corredor da Hollydale High vociferando vários palavrões e ofensas ao maldito do Portman. Eu mirava o elevador com tanto ódio que nem me importei em esbarrar em alguns alunos. Meu sangue fervia e me impulsionava a procurar por uma briga e assim, conseguir a minha expulsão desse inferno.

  O Hall estava cheio por ser intervalo. Eu notei que alguns calouros me encaravam incrédulos por me verem vivo e cochichavam entre si. Eu distribuí alguns dedos médios erguidos para os curiosos mais ousados, mas fui interceptado por um jovem branquelo de roupas havaianas e semblante desesperado.

   ― DAYNIAN! EU FIQUEI SABENDO! ― Eddy nunca foi o exemplo de discrição, mas antes que ele continuasse a chamar a atenção do colégio inteiro, eu o puxei pelo braço e o arrastei por um corredor que surpreendente nos levou ao refeitório. ― ÓTIMO! VOU QUEBRAR O MEU JEJUM POR CAUSA DE VOCÊ. VOCÊ SABE QUE EU COMO QUANDO ME SINTO ANSIOSO!

   O refeitório era gigantesco. Era cheio de mesas redondas com oito cadeiras cada, refletores de luzes UV por todo lado que se refletiam nos talheres de prata pura. Algumas runas estavam pintadas nas portas que se abriam por pressão.

  Tanto as merendeiras, como as serventes usavam um hábito longo, deixando apenas seus rostos para fora. Todas exibiam seus terços em contas, enrolados no braço, como se fosse uma espécie de arma de defesa pessoal.

  Eu e o futuro clérigo pegamos uma bandeja cada e fomos servidos de uma macarronada a bolonhesa com suco para beber, servido em uma caneca de ferro que dava um gosto “delicioso” a bebida.

   ― Sabia que toda comida é feita com aguá benta? ― eu ia dar um gole e perdi a sede. ― Existem vários rosários submersos nas cisternas da escola. E todo dia os clérigos rezam ao redor dela para purificá-la.

  ― E como conseguem algum resultado? Esqueceu que o chefe não está na cidade?

  ― Por que você não vem a assistir a próxima aula comigo, Daynian? ― eu balancei a cabeça que não. ― AH! VAMOS! Introdução às Runas Antigas é muito legal. Além de ser interessante é uma disciplina marcada por bastante adrenalina.

   Eu parei com o garfo envolto de macarrão e carne moída rente a boca, só para olhar Eddy com o olhar mais desinteressado que pude. Logo em seguida, tentei imaginar o que seria uma aula cheia de adrenalina cujo assunto era símbolos arcaicos.

   ― Essa é uma aula que fazemos com a galera que vai se dedicar a magia! ― Eddy só tinha cara de santo, mas amava uma treta mística. ― Daí, imagina os futuros sacerdotes num mesmo lugar com bruxas.

  ― A própria inquisição! ― confesso que me animei. ― Mas se as fogueiras voltarem, estou do lado das bruxas.

   Eddy fez o sinal da cruz e se levantou ao ouvir o som do sinal. Eu decidi acompanhá-lo só pra ver treta mesmo e me surpreendi quando no meio da multidão, eu vi Petter passando e exibindo seu curativo na bochecha direita. Acho que ele sentiu a minha presença e me encarou no meio da multidão, mas estranhamente, ele virou a cabeça e continuou o seu caminho.

  Eu entrei numa sala qualquer, com clima temperado e bem lá atrás como de costume. Os futuros Arias vestiam uma estola branca como as dos coroinhas e carregavam pergaminhos de todos os tamanhos debaixo de seus braços. Era como se eles estivessem saído de algum filme de época.

  A cena a seguir foi bastante cômica. A parte satânica da turma chegou poucos minutos depois. Em sua grande maioria eram meninas ou figuras andrógenas com um visual rockeiro dos anos 90. Calças de couro escuras e apertadas, coturnos pretos, pulseiras de espinhos, piercings no nariz, na boca, nas sobrancelhas, umbigo ou língua, cabelos cumpridos e muito delineador.

  Sério! Tinha uma menina que parecia um panda.

  E não era, porque ela era gordinha.

  Os Wicca eram irreverentes, pousavam suas pernas sobre as cadeiras à frente e cheiravam a ervas de odor característico e função alucinógena. Os futuros padres se benziam e rezavam mantras baixinho, como se fossem exorcizar um por um deles.

   ― Noite sinistra, turma!

  ― Olá, Reverendo Maxwell ― disse uma jovem de corpo cheio de curvas e vestindo a calça mais apertada de todas que ressaltavam seu belo par de coxas. O reverendo teve de desviar o olhar, pois a tal da Dinger Mcphee tinha um busto avantajado e resolvera assistir a aula apenas de top. ― Dizem por aí que o senhor tem uma runa bem grande. Posso ver?

   O padre loiro e de quase um metro e noventa ficou vermelho como um pimentão e não conseguiu puxar uma repreensão sequer. Alguns Arias levantaram e uma grande discussão começou.

   ― Eu falei que era animado!

  ― Nunca pensei que me divertiria numa aula assim, Eddy.

   O Reverendo Maxwell golpeou a mesa com um grimório milenar que ensurdeceu as baixarias e maldições que as bruxas entoavam e as orações e súplicas de justiça, rezadas pelos clérigos. O professor tirou um ponto da média da turma inteira e todos se aquietaram.

   ― Todo ano é a mesma coisa! ― lamentou ele, enquanto riscava o quadro branco com sua caneta. ― Alguém pode me dizer, porque esta aula é de interesse comum a ambos os grupos.

  ― Por que o deus de vocês está cagando pra vocês e aí vocês precisam do nosso ocultismo!

  ― Você está parcialmente certa, Dinger.

   A jovem piscou incrédula e prestou atenção nos desenhos que o professor fazia paralelamente no quadro. Os Arias, automaticamente, copiavam, enquanto os Wiccas apenas observavam e tiravam sarro do conteúdo.

   ― Alguém sabe me dizer que letras são essas? ― eu encarei Eddy e me surpreendi que nem ele mesmo sabia a resposta. ― Bem! Estas são as Runas Futhark, que em termos saxões, a palavra runa também pode ser traduzida como: sussurros divinos.

  ― DESCULPE O ATRASO! ― alguém chegara, interrompendo a aula. ― Oi, Eddy!

   Eu encarei o padre havaiano e pela primeira vez na vida, eu notei que Eddy estava com vergonha. O novo sacerdote que adentrou era muito mais baixo que nós dois, estava acima do peso e era mega estabanado, já que conseguiu tropeçar nos próprios pés, deslizando pelo chão da sala e espalhando seus pergaminhos.

   ― Ai, não! ― Eddy parecia congelado. ― Por que o Wilson está aqui?

  ― Aquele é o “Wilsinho”? O maníaco por filmes de terror? Sério que ele quer virar um Aria?

   Ignorando as risadas e provocações dos Wiccas, wilsinho sentou numa carteira de frente para o reverendo Maxwell. Ele acenou para nós dois e Eddy queria desaparecer dentro da túnica de alguém, pois nunca conseguiu se dar bem com o primo mais novo.

  É! Os Codys não são a família mais unida de Hollydale não.

   ― As Runas são um alfabeto antigo ligado aos nórdicos. Acredita-se que essas palavras combinadas tem o poder de criar magia e dar a habilidade de clarividência! ― pronto, capturada a atenção dos Wicca. ― E para nós, clérigos, as runas são uma possibilidade de criar rituais de selamento, rituais de purificação e mágias divinas de ataque.

  ― Isso é perda de tempo! ― Dinger cruzou os braços e fez questão de apertar ainda os seios para provocar o reverendo. ― Bruxas de verdade possuem magia de clarividência. Não precisamos decorar letras estúpidas.

  ― Em parte é verdade, Srta Mcphee, porém, acredita-se que os segredos do universo estão descritos nessa escrita divina. ― a jovem negra chegou a desequilibrar-se em sua carteira, embasbacada, arrancando algumas risadas dos clérigos. ― E em sua estrada pelo oculto, você se deparará com várias formas de adquirir poder.... Deixarei aqui minha primeira lição de casa. Para os Wiccas, eu quero um trabalho manuscrito contanto a história de um deus da mitologia nórdica que você se identifique e a runa que o representa. Estudar o caminho de um deus é um modo bem promissor de despertar magia. Quanto aos Arias, montem suas equipes eucarísticas e dividam-se em seus papeis.

   Certa vez, Eddy tentou me convencer a me juntar aos Arias. E nem precisava colocar Deus no meio para que eu não achasse uma boa ideia. Eles tem um ritual pesado de treinamento e um critério rigoroso para que alguém entre no mundo deles.

  A equipe eucarística consiste em um sacerdote desenhista que rapidamente desenha símbolos ou runas, usando óleo, tinta ou seu próprio sangue. Outro sacerdote que memoriza integralmente escrituras e encantamentos. Um sacerdote armeiro que carrega os utensílios e armas, normalmente, o clérigo com a maior força física e um quarto sacerdote empenhado em magia divina.

  Ou seja: trabalho demais pra mim.

   ― Day, eu não sei que tipo de sacerdote eu quero ser. Todos os quatro tipos exigem um treinamento rigoroso e uma memória incrível.

  ― O nosso professor potencialmente pederasta da primeira aula me convidou para entrar para o clube de caçadores.

  ― E você aceitou?

  ― Claro que não. E não fiz um mal negócio. Durante a aula de laboratório, eu notei que os caçadores não possuem credibilidade alguma.

  ― Enquanto vocês trabalham, alguém gostaria de servir de voluntário para eu testar a minha clarividência? ― o reverendo parecia realmente animado. Pena que ninguém se candidatou. ― Vamos lá, pessoal. Não possuem dúvidas quanto ao futuro de vocês?

  ― Professor! ― Eddy ergueu meu braço mais rápido do que eu pude abaixá-lo. ― Temos um ouvinte louco pra saber o que acontece em seu futuro.

   Eu queria fuzilá-lo. Foi a primeira vez que Arias e Wiccas se uniram para rir da mesma pessoa. Eu encarei o reverendo e ele me olhou de um jeito tão acalentador que me levantei e fui até a mesa dele.

  Ele bateu uma palma orgulhosa, retirou três sacos de pano surrado de dentro de sua gaveta e afrouxou o lacre que os vedava. Eu pude ver que haviam várias peças de madeira e outras em rocha polida, mas em ambas, depois de comparar com os desenhos do quadro, notei que tinham runas esculpidas nelas.

   ― Bem turma, o que eu não disse é que existem vinte e quatro runas diferentes e a vigésima quinta runa que é chamada de runa branca. Essas runas são dividas em três ciclos que são regidos por uma dupla de deuses nórdicos cada. ― a tuma observava atentamente a explicação. ― A esses conjuntos de letras damos o nome de Aett... Qual é o seu nome, filho?

  ― Daynian! Daynian Dilan! ― ele tinha olhos azuis tão claros e serenos.

  ― Existem muitas formas de aplicar a clarividência através das runas. As possibilidades e combinações podem ser infinitas. Hoje vou apresentá-los ao método que eu uso. Eu vou pedir ao Sr Dilan que retire uma runa de cada saco e as deposite sobre a mesa.

   E assim, eu fiz. Retirei uma runa de cada saco e as depositei sobre a mesa. E não sei o porquê, mas eu pressentia que algo ruim estava para acontecer.

   ― Cada Aett representa uma modalidade do ser humano. O primeiro representa as qualidades e dificuldades que teremos em vida. O segundo fala sobre as emoções, no que se refere. as experiências da vida, sejam elas traumas ou testemunhos de superação. E o terceiro e último, fala de evolução mental e elevação da espiritualidade. Eu consigo ver um lampejo do futuro, quando a pessoa que está se consultando tira uma runa de cada uma dessas atmosferas.

   O reverendo Maxwell tinha a turma nas mãos. Eu sentia os olhares curiosos às minhas costas e isso triplicava a tensão. Ainda mais, quando o professor pegou seu par de óculos para poder reconhecer a escrita divina. Meu interior suplicava para que eu estendesse a mão e devolvesse cada peça ao seu devido saco, mas ele foi mais rápido, tomando as peças para si.

   ― Ora... ― a pupila dilatou-se ao reconhecer as pedras. ― Nauthiz, Inguz, Uruz....

   De repente, eu senti um aperto no peito, no mesmo momento, em que as peças liberaram um brilho azul. As linhas esculpidas começaram a brilhar, liberando uma luz que encheu toda a sala. Clérigos e bruxos ficaram atordoados com os gritos do professor que estava de pé, aos berros, com os olhos queimando com chamas azuladas.

  Não demorou para que outros inspetores e dezenas de curiosos se amontoassem na sala dos Arias e me encarassem em pé, diante do reverendo desmaiado e caído no chão, que agora, possuía duas fendas no lugar de olhos.

   ― Parece que alguém tem um futuro bem enigmático, não é ouvinte? ― disse a cobra da Dinger que de repente, não era mais tão atraente quanto no início da aula.


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Notas finais do capítulo

O mistério que ronda Daynian só fica mais estranho.



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