NO GOD: But vampires yés escrita por Diego Farias


Capítulo 1
Capítulo 1: Fim


Notas iniciais do capítulo

Vamos a um prólogo?



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Estai vós também apercebidos; porque, numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem.
Lucas 12:40

 

  Daynian! Daynian! 

  Eu mal podia ouvir as leves batidas na porta do banheiro. Um, porque eu estava cantando a plenos pulmões a música de abertura do meu desenho favorito e dois, porque o chuveiro estava ligado.

  Em algum momento, eu voltei a terra, fechei o registro do chuveiro e fiquei com meus ouvidos atentos. Silêncio. Eu podia jurar que mesmo de longe, eu havia ouvido a voz da minha mamãe.

  Como faltava pouco para eu ir para escola, decidi que já havia me divertido o suficiente. Caso, ficasse mais tempo no banho, não poderia almoçar, assistindo os meus desenhos. Eu odiava quando isso acontecia.

   ― ACABEI! ― eu fiquei encolhido dentro do box, aguardando a minha mãe, tremendo de frio. ― Mamãe?

   Chamei mais duas, três vezes e ela não respondia. Decidi me enrolar na toalha e sair do banheiro. Ela nem poderia reclamar de mim, ela que não me ouviu. Depois não adiantaria ficar falando sobre: “Você não seca esse pinto direito! Por isso, vive assado”.

  Eu saí do banheiro e dei de cara com o corredor do segundo andar. Eu olhei para o piso de tábua corrida e imaginei que ela faria um escândalo ao ver minhas pegadas molhadas nele. Voltei a chamar por ela, mas ainda sem resposta.

  Fui no meu quarto e troquei a toalha por um roupão do Incrível Hulk. Era o meu personagem favorito dos Vingadores e minha mãe sempre me zoa, falando que eu sou igualzinho a ele. Que por onde passo sempre quebro tudo.

   ― Mamãe! ― exclamei, bastante assustado, depois que cheguei ao seu quarto.

   Ela não estava lá, mas curiosamente as roupas que ela vestia nessa manhã estavam amontoadas pelo chão. Eu fiquei incrivelmente vermelho ao concluir que além da minha mamãe não estar em casa, ela ainda saiu pela rua, completamente nua.

  E mesmo com os pés molhados e com risco de escorregar, eu desci a escada correndo e graças a Deus, eu não desci rolando feito uma bola de futebol. A porta da frente estava destrancada, então, saí no jardim e fui testemunha ocular de um completo caos.

  Pelo visto, minha mãe não foi a única pessoa que teve a brilhante ideia de sair de casa pelada. A rua inteira parecia enlouquecida, já que meus vizinhos saíam com peças de roupas dos seus familiares nas mãos e gritando por seus respectivos nomes.

  O pavor estava tatuado na face das pessoas e eu não entendia nada do que estava acontecendo. Foi quando, um dos vizinhos da frente, abriu a janela do seu quarto e colocou uma música no último volume para tocar

   ― Onde está aquele povo barulhento? Aqui, não se vê mais nenhum irmão! ― era uma espécie de introdução com um coral de vozes agoniadas que entoavam esse lamurio acompanhado de palmas.

  Aparentemente, as pessoas foram atraídas por aquele canto. Nele, parecia estar a resposta para esse caos que estava ocorrendo.

  ― Em todos os lugares do mundo, pessoas inexplicavelmente estão desaparecendo sem deixar qualquer vestígio. ― o desenho era interrompido por um plantão emergencial do canal.

  ― No mundo todo? ― repeti, sentindo o desespero me tomar.

   Comecei a correr pela rua e gritar a minha mãe. Até que ouvi um som esquisito e olhei para trás. Era um carro desgovernado que vinha na minha direção. Um vizinho conseguiu me agarrar e saltar no canteiro, enquanto o renault clio 1999 colidia violentamente contra um poste. O transformador sentiu o impacto, fazendo com que seus fios entrassem em curto, espalhando faíscas que afastaram os desesperados.

   ― O rádio toca e na televisão. A notícia mostra a situação. Gritos, sirenes, procuram a solução e o motivo ninguém sabe a razão.Pai procura filho, irmão, irmão, onde está o motorista daquela condução?

   O vizinho voltou a cantar aquela canção a plenos pulmões com um livro de capa de brochura preta na mão. Ele gritava para que todos nós o encarássemos, enquanto ele folheava aquele livro. Eu o reconheci, porque minha mãe tinha um igual em cima da cômoda do seu quarto. Era a bíblia sagrada.

   ― Meu Deus, Meu Deus! O que será de mim? Eu não ouvi a tua voz e já chegou o fim. Meu Deus, meu Deus, o que será de mim? Eu não ouvi Tua voz e já chegou o fim.

   ― O fim? ― eu olhei ao meu redor e as coisas começaram a fazer sentido.

   Pessoas desaparecendo ao redor do mundo? Pessoas ficando? Arrependimento? Choro? Não é possível. Era o apocalipse.

  E de repente, um assobio atraiu a nossa atenção aos céus. O vizinho que havia me salvado, me largou e saiu correndo. Era uma aeronave. Ela cortava o céu com um assobio ensurdecedor, perdendo altitude rapidamente.

  Eu me levantei para observar aquela pseudo estrela cadente atravessando o meu bairro e caindo com alguns metros de distância, mas causando uma grande explosão. Uma torre de fogo e fumaça se ergueu e a onda de choque e sônica derrubou a todos que ainda estavam na rua.

  Eu caí para trás e não conseguia me levantar. Meu corpo parecia ser feito de chumbo e o zumbido em meus ouvidos, me deixava tonto. Eu fiquei ali encarando o céu azul, esperando minha mãe aparecer e me salvar, mas ela nunca veio. Só meus vizinhos passavam correndo por mim com o risco de me pisotearem.Esse dia, jamais desapareceu da minha memória.

  Eu sou Daynian Dilan. Um dos sobreviventes ou melhor... ignorados pelo divino. Testemunha ocular do final dos tempos e ser humano remanescente depois da chegada das criaturas da noite. Essa é a história de como a humanidade tenta sobreviver após o apocalipse, depois que Deus nos abandonou.

  Eu não sei se você vai acreditar nos relatos que virão depois desse ponto, mas se aceita um conselho: Abandone toda a sua fé. Deus não está na cidade... E se estiver, ele não liga para nenhum de nós.

 

 Daynian Philip Dilan, 7 anos.

 


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Notas finais do capítulo

Por favor... Me digam o que acharam...