Para Shoto, encontrar as almas gêmeas fizeram do pai e de Touya mais idiotas. Mais bobos. Mais vulneráveis. 

Tudo devido… Ao que mesmo? Ao laço que nem a morte separava? Não entendia bem como as pessoas podiam mudar tanto umas às outras.

Até que chegou sua vez.

Estava no cinema, esperando que os amigos voltassem com comida quando um cara gigante surgiu.

— Esse lugar é meu.

— Não é — desmentiu com confiança. — Conferi meu ingresso, se quiser-

— Acha que também não conferi o meu?!

O rosnado não amedrontou Shoto. Já estava acostumado com Bakugo.

— Não precisa gritar. Talvez tenha se enganado.

— Não estou enganado! Esse lugar é meu! — insistiu ele, ainda a chispear.

— Então prove.

— Por que não prova você?

Enfim perdeu a paciência. Logo Shoto, que costumava ser tão calmo.

— Dá pra parar de gritar? Estamos no cinema.

— Vou parar de gritar quando sair do meu lugar!

— Olhe bem aqui. — Mostrou-lhe o ingresso. — Essa poltrona é minha.

— O que me diz disso? — Ele indicou a mesma sigla no próprio ingresso. — Seu papel falso não quer dizer nada. Agora. Saia. Do. Meu. Lugar.

Foi o bastante. Pela primeira vez, puxou uma pessoa pelo colarinho para gritar na cara dela. Mal se reconhecia na veneta.

— Qual é o seu problema, porra? O que te fiz pra você agir desse jeito comigo?

O que receberam foi a expulsão da sala de cinema. Shoto resignou-se, mas o rapaz enorme parecia constrangido.

Assim como as palavras rudes, uma profusão de desculpas deixou sua boca em altos decibéis. Talvez ele falasse tão alto assim naturalmente.

Quando ele estendeu a mão num gesto de cordialidade, Shoto reconheceu o próprio sobrenome tatuado na palma.

— Qual é seu nome? — questionou, sem disfarçar o desespero.

Shoto quis gritar novamente quando ele respondeu Yoarashi.

A mesma marca eterna em sua pele.