The fake date guide escrita por Lily Potter


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

E PELA SEGUNDA VEZ NESSE PROJETO EU NÃO PIPOQUEI MEUS CAROS!!!!!!
Olá meus amados leitores, como vocês estão nesse belo dia de novembro? Eu estou, como podem perceber, animadíssima, auhauhauhauhauah. Dessa vez venho trazer um plot MUITO amado por mim e por grande parte da nação fanfiqueira/leitora que é o FAKE DATING! Com o adicional de friends to lovers pq eu sou cadelinha desse plot, vcs me perdoem.
Obrigada ao NH por tudinho, eu provavelmente n ia escrever se não fosse pelo projeto e OBRIGADA Belle pela correção, vc é perfeita bestie ♥
Sem mais delongas, aproveitem a fanfic, e se divirtam!!!



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1. 

    Harry era apenas um cara como outro qualquer, não havia nada em si que o fizesse se destacar, (seus pais achavam que ele era tudo de bom e mais um pouco, mas eles eram obrigados a achar isso, então não contava muito), e isso nunca o incomodou, porém, por algum motivo, ver seu primo Dudley Dursley com uma namorada, com sua ex-namorada, o fazia se sentir como o maior idiota da face da Terra.   

Ele sabia que só tinha dezessete anos e que iria enfrentar muitos términos até finalmente achar alguém que fizesse o mundo dele mais colorido, mas Deus, ele gostava de Emma, gostava de verdade e estava se esforçando para que eles dessem certo, a levava em jantares chiques, mesmo que odiasse isso, andava pelo shopping com ela mesmo que isso o matasse, e não insistia em falar sobre seus jogos de futebol porque sabia o quanto ela odiava.

Ainda assim, não foi o suficiente para Emma e ela o deixou, fazendo um escândalo no meio do campo de futebol e terminando com ele na frente de todos. Então, sim, vê-la com seu primo, o cara que batia nos outros por diversão desde quando eram crianças, fazia com que o lado mesquinho dele assumisse controle. 

Talvez não tivesse o incomodado tanto, se a descoberta não tivesse sido feita durante o jantar de aniversário de sua avó, Rose Evans, há pouco mais de dois meses, onde todos seus parentes estavam presentes, o olhando com pena enquanto Dudley beijava Emma.

    Havia sido a pior festa de todas, ainda pior do que quando a irmã de seu Tio Vernon, marido de Petúnia, estava presente e um de seus cachorros passou a festa toda perseguindo Harry. 

    Era quinta-feira, um dia antes do aniversário de sua tia Petúnia, e sua mãe o havia intimado a ir, sabia que as intenções dela eram as melhores, e que não tinha realmente como fugir disso, só que apenas pensar em ter de escutar seus parentes falando sobre namoro e faculdade fazia com que seu coração acelerar. 

    Até que ele percebeu que tinha uma ótima oportunidade em mãos. 

    — Ginny, por favor, é só por uma noite. — implorou enquanto se aqueciam para o treino da tarde.

    — Harry, não. 

    — Por que não?

— Primeiro, você tá me avisando em cima da hora e eu não tenho roupa, — a ruiva respondeu contando nos dedos, o rosto irritado. — segundo, eu não vou mentir pros seus pais, cabeção. 

— A gente não precisa mentir pra eles, Gin. — Harry revirou os olhos.

— Ah, porque é claro que a sua mãe ia aceitar você mentindo pra família toda. 

— Okay, você tem um ponto, — concedeu ele. — mas a gente não precisa mentir, mentir pra eles. 

— A resposta ainda é não. 

— Nem se eu disser que tem comida de graça?

— Tentador, mas acho que isso funciona melhor com o Ron. — ela sorriu sarcástica. — Por que não chama ele?

— Potter! Weasley! — Gritou Madame Hooch, a técnica de futebol. — Isso aqui é um treino de futebol! É pra treinar os pés e as pernas, não a boca.

Harry levantou as mãos em sinal de redenção para a mulher mais velha e começou a prestar atenção no aquecimento que fazia. Sua melhor chance era convencer a Weasley a ir consigo para a festa, mas ela estava irredutível, teria que jogar suas melhores cartas, se quisesse que ela desse o braço a torcer. 

— Ginny…

— Não. 

— Nem pelo jogo do Manchester United? 

— Você tá blefando.

— Sirius trabalha com isso, pode me conseguir os ingressos em um piscar de olhos, — o moreno deu de ombros como se não fosse nada. Que ela aceitasse. — mas como você não quer, acho que vou ser obrigado a chamar outra pessoa. 

— Argh, eu te odeio, Potter. 

— Te pego às seis?

— Eu não disse que ia.

— Hm, acho que os ingressos vão ser do Ron, então. 

— Tá bom! — respondeu irritada. — Mas eu não vou mentir pros seus pais. 

— Obrigado! — agradeceu com um grande sorriso. — Você é a melhor amiga do mundo.

    Sabia que não era exatamente a coisa mais sensata a se fazer, mas, ah qual foi, ele tem dezessete anos, tudo mundo com dezessete anos faz alguma coisa idiota ou perigosa, às vezes os dois, uns vão mentir sobre namorados, e outros vão usar drogas escondido. Pelo menos assim ele teria alguma coisa interessante para falar quando envelhecesse, certo?

Agora ele só precisava arrumar ingressos pro jogo do MU e convencer seus pais que era uma boa ideia mentir que estava namorando sua melhor amiga durante a reunião de família só para sentir-se bem. 

    — Eu te odeio. — Foi a primeira coisa que Ginny falou quando abriu a porta de sua casa. 

    — Você tá linda, Gin. — Harry respondeu com um sorriso.

Ela estava linda, quer dizer, Ginny sempre foi linda, e Harry estaria mentindo se dissesse que nunca pensou sobre isso, sobre em como ela era linda, principalmente quando sorria de verdade, como nas vezes em que ganhava dele no video game. 

A ruiva estava usando um vestido roxo de alcinha junto de um sobretudo branco que cobria boa parte dele, seus cabelos estavam caindo por seu ombro em leves ondas, o que significava que ela havia feito alguma coisa nele, e seus pés estavam em botas pretas de salto. 

Linda e casual, apenas como toda a personalidade de sua amiga. 

— Não adianta ficar puxando meu saco agora. — resmungou ela aceitando a mão dele. — É bom que esse jogo seja bom, se não eu vou te matar, Potter. 

— Você sabe que eu não tenho controle disso, né?

— Não me interessa. —  ela disse entre dentes, antes de entrar no carro com um sorriso. — Boa noite, Lily, James, Allie. 

Todos se cumprimentaram e James embarcou em uma conversa sobre escola e futebol com todos por alguns minutos, antes de se concentrar por completo no trânsito. Alyssa, sua irmã mais nova, estava mexendo no telefone, e Lily olhava para Harry em repreensão. 

Sua mãe realmente não gostava da ideia. 

— Ginny, me desculpa, por isso, não sei onde Harry estava com a cabeça para achar que era uma boa ideia. — sua mãe balançou a cabeça e olhou para ele com um misto de ternura e exasperação. — Não deveria ter deixado ele ver tanta comédia romântica quando era mais novo.

— Mãe…

— Não tem problema, Lily. — A ruiva mais nova sorriu. — De verdade, não tem.  

    — Você não deveria ouvir seus tios, filho. — Seu pai falou, pela primeira vez, optando por não fazer uma piadinha sobre as escolhas imaturas de Harry. 

Era bom ter a certeza de que sua família não se importava com esse tipo de coisa e o apoiava mesmo nas coisas estranhas que ele queria fazer.  — Eles ainda vivem nos tempos das cavernas. 

— Seu pai tem razão, amor. — Concordou a ruiva mais velha com uma careta. — Vocês não precisam fazer isso.

— Tá tudo sob controle, mamãe, relaxa. — Assegurou o moreno com toda a confiança que ele não tinha. 

Sua família não era fácil de lidar em grande parte do tempo, e ninguém ali conhecia Ginny mesmo que eles fossem amigos desde o primário, o que facilitaria em muito as coisas, não precisaria fazer nada muito drástico. 

Como sempre, ele estava errado e nada estava sob seu controle. 

Assim que chegaram à casa de sua tia, Harry percebeu o erro que havia cometido, ninguém da família conhecia Ginny, mas Emma conhecia, elas não eram amigas, mas Ginny e ele eram do mesmo time desde sempre, estudavam juntos, e eram melhores amigos. 

Eles entraram de mãos dadas, tia Petúnia o olhando com uma expressão azeda no rosto, o moreno não sabia dizer se por causa de Ginny ou se aquela apenas era a cara dela quando ele e seu pai estavam por perto, e logo viu Emma os encarando. 

— Para de olhar pra ela. — Ginny sussurrou apertando sua mão em repreensão. 

— Desculpa. — Sussurrou de volta, fingindo uma risada e colocando o cabelo dela atrás da orelha. — Ela pode estragar tudo. 

— Eu sei, — a ruiva respondeu entre dentes enquanto sorria para uma das tias da mãe dele. — mas se você encarar é pior. 

— Eu sei. 

— Então, Harry, essa é a sua namoradinha? — Perguntou seu tio Mark olhando Ginny de cima a baixo. 

Seus tios, com exceção de Petúnia, eram todos irmãos de seus avós ou primos de sua mãe, então todos já haviam passado dos quarenta, o que fazia com que os olhares nas pernas desnudas de Ginny fossem ainda mais asquerosos. O namoro poderia até ser de mentira, mas a vontade que sentia de socar a cara de cada um deles era totalmente verdadeira.  

— Sim, tio Mark, essa é minha namorada, Ginny. — Confirmou o moreno sabendo bem que Ginny iria responder com algo muito pior. 

Apenas para que a mentira ficasse um pouco menos óbvia, colocou seu braço em volta da cintura dela e beijou sua bochecha. Não era exatamente algo que ele nunca fez, uma vez que ele era extremamente carinhoso, gostava de abraços e pequenos gestos carinhosos, principalmente quando se tratava de pessoas próximas, como Ginny e seus pais, sendo assim, não era algo novo. 

Mas mesmo assim sentiu um sorriso surgir em seu rosto ao perceber que ela não se incomodava com o toque dele, mesmo que a ruiva não fosse a maior fã de demonstração de afeto em público, Harry sempre havia sido a exceção. 

— Vocês fazem um casal quase tão bonito quanto Dudley e Emma. — Comentou Angélica monotonamente. 

Angélica Davies era uma mulher terrivelmente chata, prima de sua mãe que insistia que ele deveria chamá-la de tia. Tia Petúnia e Angélica eram algo como melhores amigas e sempre juntavam-se para fazerem comentários passivo-agressivos sobre ele e sua família. 

— Obrigada, sra. Davies, — Ginny agradeceu com um grande sorriso falso. Harry apertou a mão dela em aviso e a menina apenas o ignorou. — Mas, eu acho que isso não é uma competição, e mesmo se fosse, nós ganharíamos. 

Ginny! — ele a repreendeu quando seus tios haviam se afastado. — Tenta não chamar tanta atenção pra gente. 

— Eu achei que o objetivo de me ter aqui era para deixar claro que você tem uma namorada. 

— Eu sei, mas eu não esperava ela aqui. — Respondeu com um suspiro.

Estava olhando o mais discretamente que conseguiu, ou seja, nem um pouco discretamente, em direção de Emma. Em sua defesa, era muito difícil não reparar nela quando seus cabelos loiros pareciam brilhar sob a luz forte do lustre como se fosse a porra de holofote.

Jesus, Harry, relaxa. — a ruiva respondeu soando irritada. — Achei que já tinha superado ela. 

— Eu superei

— Então porque não para de olhar para a Anderson? 

— Por que ela pode estragar tudo!

— Para de se preocupar tanto. — Ginny falou com uma careta, passando a mão no rosto dele com carinho. — Confia em mim, okay?

— Okay. 

Harry confiava em sua melhor amiga, Ginny quase sempre sabia como agir quando ele os enfiava em algum tipo de ideia absurda e não fazia ideia de como sair. Ambos eram impulsivos, era uma das coisas que mais os unia, só que onde ele era medroso, ela era corajosa, e onde ela era desbocada, ele media as palavras com o máximo de cuidado. 

De uma forma estranha e hilária, eles eram a melhor forma de si mesmos quando estavam juntos.

Seguindo seus instintos, e muitas vezes com um aperto de mão de Ginny, Harry conseguiu com que toda sua família acreditasse neles, e quando após o jantar as pessoas começaram a conversar quietamente ignorando os dois, o moreno conseguiu finalmente respirar aliviado. 

Eles haviam conseguido, mesmo com Emma os encarando a noite toda, haviam conseguido, sem quebrar ou sujar nada, o que talvez por si só já era uma conquista e tanto, principalmente se considerasse o quanto Harry era desastrado.

Ginny e Allie estavam falando sobre um filme que eles viram juntos, e já tendo participado da mesma discussão várias vezes com as duas, sabia muito bem onde isso daria se discordasse da opinião das duas. 

— Então vocês estão namorando? — Perguntou uma voz feminina muito bem conhecida pelo Potter. 

— Estamos sim, Anderson. — a ruiva respondeu com um sorrisinho, beijando a bochecha dele. — Algum problema com isso?

— Não, claro que não. — Emma riu cinicamente. 

Harry sentiu mais do que viu os olhos de todos neles, e mesmo que normalmente ele não odiasse olhares sobre si, naquele momento tudo o que queria era desaparecer. As meninas sempre se odiaram, os quatro longos meses em que ele e a Anderson namoraram foram os que ele e a ruiva mais brigaram, e sempre era por culpa dela.

Sabia muito bem que a risada viria acompanhada de algum comentário que sua melhor amiga não deixaria passar, e a situação só poderia terminar de uma forma: em gritos. Antes mesmo que pudesse fazer alguma coisa para impedir, a loira continuou:

— Você pode ficar com o meu resto, Weasley, ele não serve pra nada mesmo.  

— Olha aqui sua loira oxigenada, você acha que pode falar assim do meu irmão? — Gritou Allyssa com raiva indo para cima da menina. 

Harry que até então estava apenas olhando sem reação para a cena que desenrolava em sua frente, virou-se com toda força para retirar sua irmã de cima da garota, derramando, por acidente, todo o seu vinho no vestido branco que Emma usava. 

— Essa cor combina mais com você. — Ginny riu amavelmente;

Antes que Harry pudesse pedir desculpas ou fazer qualquer coisa igualmente terrível, ela pegou sua mão e saiu correndo. Os dois correram por um bom tempo, rindo até suas barrigas e pés começarem a doer. 

— Você tinha razão, isso totalmente valeu a pena. 

— Minha mãe vai me matar.

— Eu não acho, ela sempre odiou a Emma.

— Quê?

— É verdade. — confirmou a ruiva ainda rindo. — Ela sempre foi péssima, H. 

— Eu sei. — concordou ele com um suspiro pesado, pensando em tudo o que a loira havia falado. — Obrigado, Gin. 

— De nada. — sorriu. — Até que você é um ótimo namorado falso. 

— Idiota. 

A noite havia sido um desastre total, mas a companhia de Ginny fazia com que tudo fosse um pouco menos parecido com um circo de horrores insuportável e mais com uma comédia pastelão que sentimos vergonha alheia a cada cinco minutos, mas que valia a pena ver. 

 

2. 

    Harry e Ginny estavam no quarto dele fazendo dever de casa, ou pelo menos era o que tinha dito aos seus pais no telefone há quase duas horas. A realidade era que eles estavam assistindo Casa Comigo?, deitados de cabeça pra baixo fazendo uma competição de quem conseguia pegar mais gummy bears com a boca, os cadernos mais do que esquecidos nas mochilas, 

— Tá tendo desconto na confeitaria Honeydukes, você quer ir? 

— Não é tipo promoção do dia dos namorados, Gin? 

— Sim, mas não é como se o desconto fosse só para namorados, né? — Perguntou ela jogando um ursinho em sua direção.

— Sei lá, nem sabia que tava tendo esse ano de novo. — respondeu ainda mastigando. — Olha o carro vai cair.

— Como é possível você já ter visto todos os filmes de comédia romântica existentes? — a ruiva perguntou divertida. — E pelo amor de Deus come de boca fechada, Potter. 

— Eu não tenho culpa se você tem, tipo, zero cultura, Ginny. 

    — Harry, não conhecer todas as comédias românticas não me faz sem cultura. — Retrucou a ruiva com um revirar de olhos, jogando mais um gummy bear que, inevitavelmente, caiu no chão. 

— Cultura teen também é cultura!

— Eu não disse que não era. — revirou os olhos. — E você só usa comédias românticas pra ter uma desculpa pra ver a bunda de homens gostosos. 

Se fosse por isso eu poderia apenas assistir pornô. — retrucou imediatamente. Ficaram em silêncio por alguns segundos e ele fez uma careta. — Na verdade, não, esquece isso, eu não assistiria pornô, me recuso a aumentar o público dessa indústria porca. 

— Esse não é o ponto, — Ginny falou com um sorrisinho, e o empurrou levemente com os ombros. — mas concordo com você. 

Eles assistiram o restante do filme em quase completo silêncio, com exceção do barulho que a embalagem de doces fazia quando um deles mexia nela em busca dos últimos gummy bears e das risadas que escapavam com as interações entre Decklaham e Ana. 

— Quer ir na Honeydukes? — Harry a convidou, ainda encarando a televisão desligada. 

Sabia que não era nada demais e que viviam fazendo esse tipo de coisa, mas por algum motivo chamá-la no dia dos namorados para ir em um dos lugares mais românticos da cidade, fazia com que seu estômago revirasse. 

Quase como se ele estivesse se apaixonando. Sabia que não estava, já havia visto filmes de romance entre melhores amigos o suficiente pra reconhecer os sinais de paixão, e nenhum deles estava presente nas atitudes dele ou de Ginny. Eram apenas dois bons amigos e nada mais. 

— Tipo agora? 

— Sim, tipo agora. — concordou. — A menos que você não queira ir.

— O último a chegar na porta paga a conta. — Gritou a ruiva.

Antes mesmo de terminar de falar ela já estava de pé e pegando sua mochila. Harry riu e correu atrás dela, suas meias escorregando pelo piso de madeira e o coração batendo forte contra o peito. 

— Isso é roubo!

— Não é roubo, —  gritou de volta. —  você que é lerdo

— Eu sou literalmente o artilheiro do time. — Rebateu assim que a alcançou e começou a colocar seus sapatos enquanto, ela ria dele. Às vezes, a odiava com uma força tão grande quanto a amava.

— Nos seus sonhos, Potter. — Riu a ruiva mostrando a língua pra ele.

— Os pombinhos vão aonde? — Perguntou Allie, que ele sequer havia notado chegar em casa, encostada no batente do portal que separava o hall de entrada da cozinha.

— Primeiro, não somos pombinhos. — respondeu com um revirar de olhos. — E nós estamos indo na Honeydukes.

— Vocês estão indo na confeitaria mais romântica, juntos, no dia dos namorados e ainda querem falar que não são um casal? — Sua irmã perguntou incrédula, e quando os dois apenas deram de ombros, a ruiva mais nova riu. 

— Ninguém precisa ser um casal pra comer lá, Allie. — Ginny respondeu e abriu a porta. — Vamos, H?

— Vamos, baby. — concordou pegando a mão dela. — Se mamãe perguntar a gente tá na biblioteca, okay?

— Se divirtam, pombinhos!

Como boa parte das situações de sua vida, a simples ida à confeitaria deu errado. Logo que chegaram ao lugar, que estava totalmente rosa e cheio de frufrus e Harry realmente não conseguia entender se o objetivo era ser romântico ou parecer o pior pesadelo de um cara com masculinidade frágil, eles pegaram uma longa fila cheia de casais que se dividiam em: melosamente românticos ou drasticamente brigados. 

— Gin, cê tem certeza que quer comer aqui? — Perguntou olhando para o relógio em seu pulso. Estavam ali há quase meia hora e ainda havia cinco casais na sua frente. — A gente pode passar em outro lugar se você quiser.

— Certeza absoluta, Har. — Respondeu a menina, apertando o casaco contra o corpo. — Ouvi dizer que o bolo de chocolate tá saindo pela metade do preço. 

Ele suspirou abraçando-a, era fevereiro e o frio do inverno parecia tão forte quanto estava no natal, por alguma sorte divina não estava chovendo naquele momento, mas o vento ainda estava impiedoso. 

— Jesus, você tá congelando, G. — comentou quando colocou a mão dela entre as suas. — Por que não me falou?

— Porque você ia fazer a gente ir embora. — resmungou ela, colocando-se quase que dentro do casaco dele enquanto eles andavam. — E eu realmente quero comer bolo.

— Tem mais confeitarias que vendem bolo. 

— Sim, só que essa é a melhor.

— Sua namorada tem razão, menino. — a recepcionista falou com um sorriso. — Já sabem as regras da promoção?

— Regras? — Perguntaram juntos e se entreolharam. 

— Sim, as regras. — ela confirmou ainda sorrindo. — Criamos para ser mais dinâmico. 

— Hm, sim, claro. — Ginny concordou rapidamente, como se ela amasse regras. A maior mentira de todas. — Quais são as regras?

— É simples, para vocês conseguirem a promoção só precisam se beijar. 

    — Nos beijar? — O moreno perguntou quase que pateticamente. — Tipo na boca?

— Seu namorado é uma graça, querida. — Comentou a mulher sorrindo. — Sim, um beijo, tenho certeza que não é problema para vocês. 

— Claro que não! — Ginny respondeu rapidamente. 

E antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, as mãos dela subiram para seu rosto, e quase que imediatamente suas mãos envolveram a cintura dela, parecia até que já haviam feito isso antes. Não haviam, bem, com exceção a uma brincadeira de verdade ou desafio há quase dois anos, mas eles estavam bêbados e havia sido apenas um selinho. 

A boca da Weasley era macia e gelada contra a sua, tinha gosto de gummy bear e chá preto, apertou a cintura dela levemente, deixando-se perder no beijo, e sentindo seu coração se acelerar. 

Em poucos segundos Ginny o soltou, seu rosto estava corado e os olhos dela se encontraram com o dele rapidamente antes de desviarem-se. Deus, ele sentia todo seu corpo quente, como se sequer estivessem parados no meio da rua durante um dia frio de inverno.  

— Muito bem! — parabenizou a mulher, liberando a passagem para a porta. — Vocês estão na mesa cinco, tenham um bom encontro. 

— Obrigado. — agradeceu o moreno ainda meio sem saber o que fazer. — Vem, Gin. 

Eles foram andando de mãos dadas para o lugar ainda em silêncio, mas diferente do que normalmente era nos, raros e poucos, momentos em que ambos se calavam, não era um silêncio confortável ou aquele silêncio que fazemos antes de começar a gargalhar, era uma coisa espessa, tangível e cheio de constrangimento.

— Sabe, você não precisava dessa desculpa só pra me beijar. — Ele comentou com um falso sorriso brincalhão assim que se sentaram. 

Ginny revirou os olhos e sorriu, de verdade e com os olhos, toda a sua tensão se dissipando com as palavras dele. A ruiva o chutou levemente por baixo da mesa fingindo-se de sonsa enquanto pegava o menu. 

— Só nos seus sonhos, sr. mão boba. — Respondeu o olhando com a sobrancelha arqueada.

— Alguém tinha que fazer parecer o beijo parecer real, amor.

— Ela ia se contentar com um selinho, idiota. — sorriu afetuosa. — Você que não resistiu ao charme Weasley.

— Até parece, ruiva. — respondeu sorrindo bobo em direção de sua amiga. — Eu vi seu pezinho levantado. — comentou como se não fosse nada. — Totalmente o beijo da Mia em O Diário da Princesa.

— Meu Deus, você não aguenta ficar um minuto sem falar de comédia romântica? — perguntou exasperada. — Não me responda, eu sei que não.  

Eles estavam bem, nada ia mudar na amizade deles por causa de um beijo. 

 

3. 

    — E aí gatinha, me deixa te pagar um drink? — Um cara loiro e totalmente desconhecido perguntou no momento em que Ginny sentou-se no bar. O cara estava claramente “alegre”, e não parecia ser o tipo que aceitava não como resposta, mas levando em consideração a sorte que estava tendo isso já era de se esperar.

Era sexta à noite e sua semana havia sido um inferno:

Na segunda, ela havia chegado atrasada no trabalho e levado uma bronca de seu chefe por culpa de um professor que segurou a turma até mais tarde na sala falando sobre o trabalho que valeria mais da metade da nota. 

Terça sua colega de quarto achou que era uma boa convidar o namorado para passar a noite e a trancaram pro lado de fora, Harry a ofereceu um lugar em sua cama, mas o colega de quarto dele passou a noite toda vomitando e nenhum dos três conseguiu dormir. 

Então na quarta, como consequência de terça ela passou o dia com sono e errou mais de três pedidos no serviço, quase perdeu o prazo de entrega do trabalho da faculdade e rasgou sua mochila. 

O dia anterior havia sido o dia mais tranquilo, só que não menos tortuoso, já que ela se esqueceu que havia combinado de jantar com suas amigas e acabou aceitando fazer hora extra no café em que trabalhava. 

E claro, hoje estava terrivelmente cansada como consequência da semana, e tudo que queria era dormir até domingo, mas havia combinado com Harry, que havia acabado de sair de mais um relacionamento, que afogariam suas mágoas juntos.

— Muito obrigada, mas não. — respondeu o mais civilizadamente possível. Amaldiçoando seu melhor amigo por estar atrasado. — Tony, me vê uma dose de whisky, por favor. 

— Que isso gata, me deixa pagar pra você. — insistiu, colocando a mão na perna desnuda de Ginny. — Colega, traz um Angel Face pra essa princesa, mas cuidado na quantidade de gin, eu gosto da minha garota acordada, sabe?

— Cara, eu não quero que você me pague um drink. — Ginny respondeu irritada, retirando a mão dele de sua coxa. — Eu nem sei seu nome.

Por um momento sentiu que deveria ter colocado uma calça e não um vestido, talvez a situação seria evitada, porém era esse tipo de pensamento que fazia com que as meninas fossem as culpadas por serem vitimas de abuso sexual, se ele não conseguia tirar as mãos do corpo dela só porque suas pernas estavam expostas, a culpa era totalmente dele. 

— Carl Adams. — respondeu com um sorriso, que deveria ser encantador, mas que parecia mais com uma careta, e fez uma reverência estranha. — e o seu nome, princesa?

— Meu nome não te interessa, e eu não tenho interesse em você. 

— Qual foi princesa, vai bancar a durona agora? 

— Cara, pelo amor de Deus, eu não tô afim, me deixa. 

— Vamos lá princesa, você não me engana. — sorriu. — Tá toda bonita com esse vestidinho preto colado, sozinha num bar, e vai me dizer que não tá procurando um cara como eu?

— Eu não estou sozinha, — retrucou irritada. — E mesmo se eu estivesse isso não quer dizer que eu quero a sua companhia. 

— Princesa…

— Eu juro por Deus que se você me chamar de princesa de novo, eu vou dar um soco na sua cara. 

— A gatinha tem garras pelo visto. — comentou sorrindo. — Não tem problema, eu curto uns arranhões. 

Por Deus, esse cara não iria largar do seu pé? E onde estava Harry? Não aguentava mais ouvir o babaca Adams falar, e estava prestes a jogar sua recém adquirida dose de whisky no rosto dele quando sentiu uma mão forte em seu ombro, e o perfume de Harry entrar em seu nariz. 

— Desculpa a demora. — sussurrou o moreno ao pé do ouvido dela, sabendo que parecia que ele beijava sua nuca para qualquer outra pessoa. — Quer que eu me livre dele? 

Sabendo que o babaca os observava com curiosidade e que não poderia fazer nenhum movimento brusco, apenas recostou seu corpo no dele, em um claro sinal de que estavam juntos.

— Me desculpa a demora, baby, a fila do banheiro estava gigante. — Harry falou firme e forte, seus braços enlaçando a cintura dela com carinho. — Fez um novo amigo?

— Sim, amor. — sorriu docemente, entrando na ideia do Potter. — Carl aqui estava me comprando uma bebida, muito gentil, não?

— Vocês estão juntos? — O loiro perguntou, olhando para o braço do moreno em sua cintura, e para os braços fortes de seu amigo. Nunca havia sido tão grata por ele ter insistido em começar a treinar pra valer na academia.

— Sim, algum problema?

— Não cara, de boa, eu não sabia. — respondeu imediatamente. — Me desculpa, sem ofensas.

— Claro, cara, entendo. — Harry respondeu com a voz curta e grossa. 

A Weasley sabia que ele odiava tanto quanto ela caras assim, e que mais vezes do que ela poderia contar ele havia salvado ela e Allie de situações difíceis com esse tipo de cara.

— Mas se eu fosse você tomava cuidado, sabe, ela é muito bonita e não disse que tinha namorado. — O loiro deu de ombros, parecendo ainda não ter entendido que deveria sair de perto deles. 

— Você não está tentando insinuar que a minha namorada iria me trair, está Carl?

— Não, mas você sabe, ela anda vestida como uma vadia…

— Como é? — Ginny perguntou irritada, sentindo os braços de Harry apertarem sua cintura. 

— Cara, é melhor você sair logo daqui. 

— Ou o que?

— Ou o meu punho vai ter que pedir desculpas pra sua cara. — O moreno respondeu, e antes que Ginny pudesse fazer qualquer coisa Harry havia dado um soco no nariz do cara, que cambaleou alguns passos para atrás com a mão no rosto. 

— Vá se foder! — ele gritou. — Vocês são um bando de malucos!

— Me desculpa, Gin. — Potter falou virando-se para ela. — Não sei o que deu em mim. 

— Relaxa, H,  — respondeu. — Mas da próxima vez que você me deixar esperando, quem vai levar um soco vai ser você.

— Desculpa, ruiva. — respondeu com um sorriso sem graça. — Meu chefe tava um porre hoje, prendeu todo mundo depois do horário. 

— Seu pai é o seu chefe, Harry. 

— Eu sei, por isso mesmo. 

— Você é impossível. — riu a menina. — Ainda quer beber aqui, ou prefere comprar vinho barato e ir sentar num banco de praça que nem dois estudantes sem dinheiro? 

— Nós somos dois estudantes sem dinheiro, idiota. 

— Exatamente meu ponto. — revirou os olhos. — Tirando o fato de que você tem dinheiro. 

— Cala a boca. —resmungou o moreno. — Vamos tomar um drink aqui primeiro.

— O cara tentou me oferecer um Angel Face, acredita?

— E você recusou?

— Claro né, Harry!

— Que pena, eu gosto de Angel Face. — deu de ombros. — Amigo, me traz um Sex on the beach, por favor?

— Você tem o pior gosto pra bebidas, Potter.

Harry apenas riu e deu de ombros, sem insistir em tentar convencê-la de que deveria beber um drink de nome estranho. Era bom estar com ele, apesar de tudo, no final do dia se precisasse escolher uma pessoa com quem estar, com quem fingir um relacionamento para fugir de situações ruins, seria Harry. 

Sempre seria Harry.

 

4.

— Eu tenho mesmo que usar terno e gravata? — Harry perguntou pelo o que parecia ser a quinquagésima vez desde que saíram do apartamento dela e pegaram estrada em direção a Surrey para o casamento de Cormac. 

Cormac McLaggen era um de seus colegas de trabalho, ou melhor, ele era o filho do CEO da empresa que havia contratado Ginny há poucos meses, e ela, como secretária do McLaggen sênior, precisava comparecer ao casamento e levar um acompanhante. Teria levado qualquer um de seus irmãos, se não fosse o fato de Michael Corner, seu ex-namorado da faculdade, ser o padrinho do noivo. 

Corner havia sido um dos piores namorados que Ginny teve em seus longos vinte e dois anos de vida, e saber que ele estaria lá com sua namoradinha nova, uma menina loira que ele sempre disse ser apenas uma amiga, enquanto ela estaria com Ron como acompanhante era castigo demais. 

A opção masculina mais fácil para arrumar de última hora era Harry e, é claro que, como bom hater do Corner, o moreno havia aceitado prontamente, o que os levava a tortuosa viagem de carro.

— Harry, é uma festa com os meus patrões, então sim, você tem que usar terno e gravata. 

— Beleza. — ele concordou. — Você deve gostar muito de ser minha namorada falsa, né?

— Você sabe que eu posso te largar no meio do nada, não sabe?

— Pff, você não faria isso, Gin. — falou confiante, e depois a olhou melhor. — Bem, eu acho que não faria, né.

— Quer testar?

— Se me deixar no meio do nada você vai ter que aparecer na festa sozinha, sabe disso né?

— Eu posso contratar um acompanhante. — blefou. — Estilo Uma Linda Mulher e tudo mais. 

— Eu não acredito que você acabou de fazer uma referência de comédia romântica. — o moreno gargalhou, jogando sua cabeça para trás. — Sério, o melhor dia da minha vida. 

— O melhor dia da sua vida é o dia em que eu te arrastei como namorado falso para um casamento que só vai ter gente insuportável no meio de Surrey? — Perguntou  o olhando incrédula, o sol batia na pele dele dando a impressão de que ele era feito de ouro, ou um material tão rico e brilhante quanto.

A diferença entre Harry e um metal precioso, era que enquanto um era bonito e frio, o outro era lindo e cheio de calor. Talvez fosse melhor compará-lo ao sol, que possuía tanta luz e era tão lindo que te cegava, mas aquecia, e era tão importante que estava presente em todos os momentos bons de sua vida.

— Claro que sim! — o Potter concordou com um grande sorriso. — Finalmente você está cedendo aos encantos do romance.

— Eu não estou cedendo a nada, idiota. 

— Está sim! — riu. — O próximo passo é citar cenas da Disney.

— Isso nunca vai acontecer, Harry. 

— Sei. — ele disse cético. — Não me deixe casar em Surrey, eu te imploro.

— Por que? — perguntou curiosa. — Achei que você iria amar essa vibe meio conto de fadas. 

— Eu amo a vibe conto de fadas, juro, mas se for pra dirigir por horas que fosse para um lugar no campo de verdade. — respondeu, franzindo o cenho para a rua cheia de casas iguais por onde estava passando. — Tem certeza que não estamos perdidos? Sinto que já passamos aqui antes. 

— Sim, as últimas dez quadras eram idênticas a essa daqui. — concordou a ruiva olhando para uma mulher morena e alta que estava encarando o carro deles. — Acredite ou não, a gente não se perdeu, eu conferi os nomes das ruas. Duas vezes.

— Consigo ver a tia Petúnia morando aqui, fácil, fácil. 

—  É bem a cara dos seus tios mesmos, são tão chatos quanto eles. 

— Acho que isso aqui consegue ser até menos chato que eles. 

— Você é pior que crianças às vezes, Harry. — Ginny falou com um sorriso que foi imediatamente retribuído pelo moreno.

— Até parece que não concorda comigo. 

— Detalhes. — deu de ombros. — Finalmente chegamos, acho.

— Wow! — exclamou ele com um grande sorriso. — É ainda mais brega do que eu imaginei.

— Idiota. — riu. — Comporte-se, okay?

— Okay, eu não vou bater no seu ex-namorado babaca. — falou seriamente. — Promessa de escoteiro. 

— Você nunca foi escoteiro. 

— Continua sendo uma promessa. — Ele deu de ombros, saindo do carro. — Pronta pra ter o melhor namorado da sua vida?

— Namorado falso. — Ginny retrucou em voz baixa, entrelaçando a mão deles. — Se comporte. 

— Relaxa, vamos arrasar. — garantiu. — Só cuidado pra não se apaixonar. 

— Vai com calma nos livros de romance erótico, garanhão. 

— Idiota. — riu ele, jogando a cabeça para trás, fazendo com que seus cachos ficassem ainda mais desarrumados. — E pra sua informação, não era um romance erótico. 

— Romances de época são sempre romances eróticos, Harry. 

— Orgulho e Preconceito não tem nem beijo, Ginny. 

— Porque é um livro clássico, eu tô falando dos romances de épocas escritos por pessoas desse século. — respondeu com um revirar de olhos. — Olha, o Corner está bem ali, tomara que ele não me veja. 

— Credo, está mais feio do que eu me lembrava. — comentou o moreno. — E aquilo é um mullet? 

— Meu Deus, eu acho que sim. — riu, atraindo os olhares de alguns convidados que estavam por perto. — Você viu o vestido das madrinhas? 

— Você quer dizer a quantidade absurda de panos cor de salmão? — Harry perguntou risonho. — Acho que qualquer pessoa num raio de duzentos quilômetros viu.

— E eu achando que gente rica se vestia bem. 

— Você já viu as roupas do meu pai? — perguntou e fingiu estremecer. — Nunca vou esquecer do terno roxo com purpurina e a gravata amarelo neon que ele usou na festa da empresa.

— Lembra da vez em que sua mãe fez ele ir trocar de roupa porque se recusava a sair com “uma cópia da pior parte da moda dos anos oitenta”?

— E essa nem foi a pior das roupas dele. — respondeu ele daquele jeito que era afeiçoado e exasperado ao mesmo tempo, fazendo com que ela risse. Riram por alguns momentos, até ele olhar em volta do lugar distraído.

 — Ei, a gente não precisa, tipo, falar com os pais do noivo ou coisa do tipo?

— Não, só depois da cerimônia. — Ginny respondeu com um sorriso, colocando a mão dele entre a sua. — Acho que a noiva já vai entrar. 

— Já? — perguntou surpreso. — Nem percebi que chegamos tão tarde. 

— Pois é, bom que a gente não vai criar raízes aqui. 

— Sim, e quanto mais rápido começar, mais rápido a gente pode comer. — Harry falou com um sorriso infantil, fazendo com que ela risse novamente, e atraindo alguns olhares para si. — Tsc, tsc Weasley, não aguenta ficar no anonimato mesmo, hein?

— Cala a boca, idiota. — Sussurrou ela, sentindo suas bochechas queimando devido aos olhares. 

Harry sempre tinha esse poder de a deixar tão confortável que esquecia-se de onde estava ou de qualquer tensão que estivesse sentindo, estar perto do moreno era quase como mágica para a ruiva, tudo que bastava era uma palavra bem colocada e seus problemas pareciam menores e mais fáceis de resolver. 

Suas mãos estavam enlaçadas, uma coisa que anos antes quando eles fingiram ser namorados falsos pela primeira vez ainda era uma novidade na relação deles, mas que agora não precisavam estar fingindo ser um casal para ficarem assim, ter sua mão entre as dele era quase tão previsível quanto o sorriso de lado que ele a presenteava sempre que se encontravam. 

— Aposto cinquenta pratas que o vestido da noiva vai te dar ânsia de vômito. — Harry sussurrou assim que a marcha nupcial começou a tocar.

— Aposto cem pratas que você vai tentar defender a escolha da noiva. — Sussurrou de volta, sentindo-se mais ansiosa do que nunca para ver a noiva. 

Os dois perderam a aposta, o que era uma primeira vez na amizade deles, a noiva estava totalmente deslumbrante, seu vestido conseguiu fazer com que ambos ficassem apaixonados, no entanto as madrinhas estavam mais feias do que eles acharam quando viram de longe, a cor salmão do vestido era tão forte que quase os cegou, e cada vestido parecia ter mais frufrus que o outro. 

— Bem, pelo menos a noiva tem algum bom gosto. — comentou ele quando estavam se encaminhando para o local da festa. — Tirando para homens, acho que o gosto dela pra homem consegue ser pior que o seu. 

— Falando assim, até parece que você tem um ótimo gosto para escolher namorados ou namoradas. 

— Você quer mesmo falar sobre isso? — perguntou ele arqueando a sobrancelha. — Eu posso até ser péssimo nisso, mas você não fica muito atrás com seus namorados e namoradas, tirando a Luna, ela era ótima. 

— Não posso falar o mesmo do Malfoy. 

— Pelo amor de Deus, esquece que eu te contei isso, Gi!— implorou ele, olhando para todos os lados como se esperasse que seu ex saísse de um arbusto e falasse alguma coisa. — E foram só dois meses, nem deveria contar como namoro.

— Vocês postaram no facebook e quase se mudaram pro mesmo apartamento, — protestou exasperada. —  e foram quase oito meses, Harry. 

— Detalhes, detalhes, Ginny. 

— Não são detalhes, H. — protestou ela, mesmo que soubesse que ele não iria a ouvir, quando o assunto era ex, Harry não a ouvia. — Meu patrão está ali com os noivos, vem. — chamou com um sorriso, já sentindo o clima aliviar. — Se comporta.

— Jesus, ruiva, relaxa. — pediu o moreno, apertando sua mão em sinal de apoio e colocando um sorriso no rosto. — Deixa comigo. 

— Ah, senhorita Weasley, vejo que conseguiu vir. — Sr. McLaggen a cumprimentou com um grande sorriso, como se ela fosse muito mais que uma simples secretária. —  Ficamos muito felizes com sua presença.

— O prazer é totalmente nosso. — Ginny respondeu com um sorriso ao seu chefe e virou-se em direção de Cormac, que a olhava como se ele quisesse a levar pra cama, fazendo com que ela se encolhesse um pouco ao lado de Harry. — Meus parabéns ao novo casal. 

— Foi uma cerimônia lindíssima. — o moreno elogiou, passando o braço envolta da cintura da ruiva. — Espero que o casamento de vocês seja tão deslumbrante e maravilhoso quanto. 

— Muito obrigada. — a noiva, Olivia, agradeceu com um sorriso sincero. — Vocês não pensam em casar?

— Acho que ainda é muito cedo pra pensar nisso… — Começou ela sentindo seu rosto aquecer. Não imaginava que fossem a perguntar esse tipo de coisa, nunca haviam feito isso, nem mesmo quando ela estava com um namorado de verdade. 

— Na verdade, eu não vejo a hora de poder me casar com ela. — Harry respondeu com uma risada sincera, a olhando como se Ginny fosse uma das melhores coisas que havia acontecido em sua vida. — Só estou esperando o momento certo.

— Tenho certeza que logo ele chega, vocês são adoráveis juntos. — respondeu a mãe do noivo simpaticamente. — Me faz lembrar de quando eu e John éramos mais novos.

— Obrigada, sra. McLaggen.

— Não é nada, querida. 

— Espero ver vocês na pista de dança mais tarde. — falou Cormac com um falso sorriso. — Só tentem não roubar nosso holofote. 

— Dificilmente conseguiremos fazer isso. — riu o Potter. — Eu nasci com dois pés esquerdos, seria terrível me ter na pista de dança. 

— Mais uma vez, parabéns ao novo casal. — Ginny desejou quando percebeu que a fila só aumentava atrás de si, e com isso ela e Harry afastaram-se dos noivos. — Você ficou doido?

— Do que você tá falando, Gin? — perguntou Harry parecendo genuinamente confuso enquanto puxava a cadeira para que ela sentasse. — Nós fomos muito bem.

— Todo aquele papo sobre casamento, Harry!

— Eu só estava sendo educado, G. 

— Você poderia ter só concordado comigo. — respondeu frustrada, tentando ao máximo controlar sua voz, a última coisa que queria era fazer um escândalo. — Agora todo mundo vai achar que eu vou ser noiva em breve, noiva de um namorado que nem existe!

— Primeiro, ouch! Eu existo, tô bem aqui. — falou ele com uma falsa voz ofendida, antes de adotar um semblante realmente sério, chegando mais perto de seu ouvido, de uma forma que para todos eles pareciam um casal apaixonado. — Segundo, sua mentira era ridícula, a gente tem pelo menos umas mil fotos juntos no instagram, esse papo de que é recente ia ser refutado fácil, fácil. 

— Mas se me perguntarem sobre você depois, eu vou falar o que?

— Fala que a gente se desentendeu e terminou. — deu de ombros. — Não importa, até porque ninguém vai perguntar nada. 

— E aquele papo de que você tem dois pés esquerdos? — perguntou ela curiosa. — Você fez aulas de dança por anos. 

— Eu e você sabemos disso, mas eles não. 

— Isso não explica porque você mentiu. 

— Porque aquela mulher parecia pronta pra pular em cima de mim!

— Não seja bobo, Harry. — riu a ruiva. — Nem foi ela quem perguntou. 

— Eu tô te falando, ela tava dando em cima de mim. 

— Ela não tava, não. — Ginny contestou séria. 

Os dois ficaram alguns poucos momentos em silêncio apenas para começarem a gargalhar segundos depois, ficaram bons momentos rindo, até seus companheiros de mesa chegarem e começarem uma conversa agradável.

Estavam rindo de uma piada besta que Harry havia feito sobre a comida quando Ginny sentiu um olhar sobre si, que logo começou a procurar de onde vinha. Assim que encontrou a pessoa a quem o olhar pertencia e que se aproximava rapidamente, parou de rir mais do que imediatamente. 

— Weasley, Potter. — Cumprimentou Michael com um sorriso tão falso quanto seus dentes brancos. Sem sequer tentar falar com as outras duas presentes na mesa.  — Que surpresa vocês aqui.

— O que você quer, Corner? — Harry perguntou com a voz dura, toda sua atitude fácil se esvaindo imediatamente, seu rosto tornando-se totalmente impassível. 

Eram momentos assim que a faziam perceber que por baixo de toda a parte doce e adorável de seu amigo, existia o lado que o fez se tornar um bom advogado, um lado sério e calculista, que sabia esconder as reações negativas quando necessário

Harry estava em modo de defesa.

    — Não precisa ficar todo arisco, Potty, não quero nada dessazinha. 

Amor, calma. — pediu a ruiva, usando o apelido carinhoso propositalmente. Em parte era para acalmar o moreno e lembrá-lo de onde estavam, mas também era para deixar bem claro o status de relacionamento deles para Michael. — Não vale a pena. 

— Claro que vocês são um casal, agora. — Corner riu, e só então Ginny percebeu que ele estava bêbado. — Ainda bem que eu te traia, porque você não vale nada mesmo. 

— Vai embora, Corner. — pediu o moreno de cachos com a voz baixa. — Vai ficar com sua turma, e deixa a gente em paz. 

— Foda-se vocês dois, babacas. — Michael rosnou pra eles e saiu pisando duro. 

— Eu odeio esse cara. — Ginny resmungou olhando para seu melhor amigo. 

— Eu também. — concordou com um suspiro. — Cê tá bem? A gente pode ir embora se você quiser.

— Você o conhece, Ginny? — perguntou Susan, era uma das primas de terceiro grau da noiva, olhando para o homem que se afastava com curiosidade. — É um dos padrinhos do noivo, não?

— Sim, Michael Corner. — respondeu com uma careta. — A gente namorou por um tempo há uns anos. 

— Ele parece terrível, ainda bem que está com o Harry agora. — Comentou Emily, namorada de Susan, com um sorriso amável. 

— Sim, ainda bem que tenho o Harry. 

E por mais surpreendente que fosse para alguns, estava sendo sincera quando disse isso. Era grata por ter Harry ali consigo, mesmo que não fosse a mais ideal das situações, a presença dele já era mais do que o suficiente.

    Sempre havia sido.

5.

    — Sabe, você é ainda mais bonito do que eu esperava. — Comentou Lucy, mexendo em seus cabelos castanhos e sorrindo sensualmente. 

    — E você consegue ser ainda mais encantadora pessoalmente. — Retrucou ele com um grande sorriso, pegando a mão dela que repousava sobre e entrelaçando junto da sua. 

E era verdade, Lucy, era uma mulher encantadora, sabia conversar sobre todas as coisas, tinha um ótimo senso de humor e gostava de comédias românticas quase tanto quanto ele. Haviam se conhecido através do Tinder, e depois de longas semanas trocando mensagens, marcaram um encontro. 

Era levemente estranho pensar que em qualquer outra sexta-feira ele estaria com Ginny, no apartamento de um dos dois, jogando jogos de tabuleiro e assistindo filmes de comédia romântica enquanto comiam delivery, normalmente pizza, e tomavam vinho ou cerveja. Talvez fosse mais estranho o fato dele estar em um encontro com uma mulher linda, que ele achava interessante e que decididamente estava interessada nele e ainda assim pensar em sua melhor amiga, que também estava em um encontro naquele exato momento. 

Como se apenas pensar nela fosse capaz de atraí-la, seu celular apitou levemente, no toque que era apenas dela, interrompendo o que a morena a sua frente falava. Lucy o encarou curiosa quando Harry retirou seu celular do bolso. 

— Só um minuto, é importante. — Pediu com um sorriso sem graça, já desbloqueando seu smartphone. 

— Claro, gato. — Concordou ela com um sorriso compreensivo, voltando a beber o drinque à sua frente. 

 

 Cherry Bomb:

acho que meu date babou

tô esperando tem 40min já

 

Boo:

quer que eu te busque?

só falar que eu vou

Cherry Bomb:

não precisa, você tá no seu encontro

eu pego um uber e já chego em casa

e vamo de afogar as mágoas c ben&jerry’s

 

Boo:

sinto muito, carrot

:(

Cherry Bomb:

ñ tem problema

até depois, boo

 

— Tá tudo bem? — Lucy perguntou parecendo levemente entediada. — Era alguma coisa importante?

— Era Ginny, minha melhor amiga, o cara que marcou de se encontrar com ela, furou. — Respondeu com um suspiro olhando para a tela de seu celular. 

Era uma foto deles em uma “pose de casal” em frente a um carrossel, o cabelo dela estava mais curto, assim como o dele, e mesmo que houvesse tirado a foto há quase dois anos apenas de brincadeira, essa era uma de suas fotos favoritas que tinha com ela. 

— Ela deve ser bem importante pra você. — Comentou a morena, parecendo um pouco pensativa. — Talvez seja melhor eu ir embora. 

— Eu fiz alguma coisa de errado? 

— Não, você foi ótimo, — garantiu com um sorriso, já se levantando da cadeira. — mas acho que não sou a sua pessoa, sabe?

— Eu não entendi. — respondeu sinceramente. — Foi por causa do lance com o celular? Eu e ela não temos nada, de verdade, somos só amigos.

— Você é bem lerdo, Harry. Foi e não foi. — riu a morena. — Chama sua amiga pra comer com você, tenho certeza que vão aproveitar bem mais. 

— Não. — negou, se levantando também. — Fica, aproveita a sua noite, e me manda a conta depois. — balançou a cabeça, não acreditando no que estava fazendo. — Ginny não curte comida francesa.

— Tudo bem. — a mulher morena concordou. — Boa sorte com ela. 

— Obrigado, Lucy. — agradeceu e beijou a bochecha dela. — E me desculpa. 

Com isso, Harry saiu do restaurante em que estava, dirigindo diretamente para a casa de sua melhor amiga, parando apenas em uma loja de conveniência para comprar dois potes de sorvetes, cookies & cream para ela e chocolate para ele, uma caixa de chocolates e depois parando em uma floricultura para comprar um buquê de violetas roxas e brancas. O sorvete, na realidade, era seu plano B, seu plano A era bem mais interessante que isso.

Em exatos vinte minutos chegou na porta do apartamento da ruiva. Colocou seu melhor sorriso no rosto e tocou a campainha, torcendo para que ela já estivesse em casa. Em menos de um minuto a ruiva abriu a porta. 

— Harry? — perguntou o olhando com o rosto confuso. Provavelmente havia chegado a pouco tempo, pois ainda estava com o vestido roxo e a maquiagem feita.  — O que você está fazendo aqui?

— Vim te buscar pro nosso encontro. — respondeu com um sorriso, e estendeu a mão onde estavam os chocolates e as flores em sua direção. — São pra você.

— Você não tinha um encontro hoje?

—  Sim, por isso estou aqui. — Deu de ombros e entrou no apartamento dela, tirando os sapatos na entrada e indo em direção a cozinha e colocando seus sorvetes no freezer. 

— Eu não estou entendendo nada, — ela falou, colocando as flores em um vaso. — mas obrigada pelas flores, são lindas.

    — Que bom que gostou delas. — sorriu e a abraçou com carinho. — Você foi prometida um encontro hoje, e o babaca não apareceu, então eu vou te levar a um encontro. 

    — Boo, você não precisa fazer isso. 

— Eu sei, mas eu quero. — afirmou beijando o topo de sua cabeça e saindo do abraço. — Vamos?

— Vamos. — concordou a ruiva com um sorriso afetuoso. — Acho que você realmente gosta de me namorar de mentira. 

— Só um pouquinho. — Ele admitiu abrindo a porta do apartamento dela, sua mão na cintura da ruiva. 

Foram para um restaurante italiano que ela queria experimentar, usaram o carro dele e foram cantando todas a playlist compartilhada que tinham, era um mix de Taylor Swift, cortesia de Harry, e The 1975, cortesia da ruiva. Estavam fingindo que realmente estavam em um encontro romântico, então no momento em que chegaram no restaurante, agiram como se nunca tivessem saído antes, faziam isso apenas para ver a reação das pessoas e se divertirem à custa delas.

Por algum motivo aquilo que foi piada para eles por tanto tempo parecia cada vez menos uma piada, a cada vez que fingiam que estavam apaixonados parecia ser mais fácil agir como um casal, e tudo ficava menos falso, quase como se eles realmente estivessem apaixonados. 

E desde que Lucy falou que talvez ela não fosse sua pessoa, quando o moreno tinha total certeza de que ela tinha todos os atributos para ser, apenas o fazia pensar sobre isso, sendo uma pessoa que amava comédias românticas, pela primeira vez, sentia como se o que sempre procurou estivesse bem ao seu lado. 

Horas depois, quando estavam dançando na praça que ficava em frente ao restaurante, Ginny riu de uma piada besta que ele fizera sobre as batatas que havia comido no jantar estavam tendo o momento da vida delas, e ele se viu totalmente hipnotizado. 

O som da risada de Ginny nunca havia soado tão lindo, a seus ouvidos soava como a melhor valsa já inventada, quando Tchaikovsky escreveu a valsa das flores havia sido inspirado nela, tinha certeza, não importava que séculos separavam os dois, tamanha perfeição só poderia ser reproduzida por um dos maiores músicos, se não Tchaikovsky, então Mozart, havia se inspirado em Ginny Weasley. 

Era engraçado pensar em como uma coisa tão simples quanto uma risada era capaz de mudar toda sua vida. No final da noite, quando deixou Ginny em casa e assistiu ela entrar em seu prédio, pela primeira vez Harry desejou nunca ter pedido para que ela fosse sua falsa namorada há quase oito anos, talvez assim, ele não teria se apaixonado por sua melhor amiga. 

 

+1. 

— Você está linda, amor. — Harry falou colocando o braço em volta da cintura de sua esposa, observando o reflexo dos dois no espelho do quarto.

Ginny estava usando um lindo vestido azul escuro que fazia um belo contraste com sua pele recém bronzeada, seus cabelos ruivos, que agora ela mantinha na altura do ombro, estavam em pequenos cachos com apenas uma presilha simples prendendo algumas mexas que insistiam em cair em seus olhos.

Estavam casados há pouco mais de quatro anos, o que havia sido decididamente a melhor decisão que ele poderia ter tomado em toda sua vida, e ainda assim não cansava de observar cada pequeno detalhe da Weasley. 

— Obrigada, boo. — agradeceu ela com um sorriso que fazia com que as borboletas no estômago do moreno se agitarem e virou-se em sua direção, enlaçando o pescoço dele com seus braços. — Você está tão lindo, Har. 

Deus, Ginny se você me olhar assim de novo a gente vai se atrasar. — resmungou o moreno beijando sua esposa com todo o desejo que um cara loucamente apaixonado por sua mulher tinha a oferecer. — Deveria ser proibido ser tão perfeita assim. 

— Idiota. — respondeu a ruiva com um revirar de olhos afetuoso. — Nem acredito que já fazem quinze anos que nós nos formamos no ensino médio. 

— Eu também não, parece que foi ontem. — concordou o moreno beijando os lábios dela levemente, seu olhar recaiu sob o relógio em seu pulso. — Se a gente não sair agora vamos chegar atrasados, e ainda temos que deixar James na casa dos meus pais. 

— Só vou pegar meu casaco e já podemos ir. — Ginny falou se soltando dele e indo em direção do closet. — Pega a mochila dele e vê se ele ainda tá limpo, que eu já to descendo. 

— Okay, babe. 

Era como um sonho poder ter esses pequenos momentos, que talvez parecessem insignificantes para outras pessoas, com Ginny, com sua melhor amiga, a pessoa que o melhor conhecia, que sabia tudo sobre ele, todos os defeitos e o amava mesmo assim. Chegava a ser hilário como quase desistiu de ter tudo isso, quando há oito anos percebeu que estava apaixonado por ela, no medo que sentiu da rejeição, em como o encontro de “mentira” que tiveram foi tudo que precisou para que chegassem onde estavam. 

Ginny e James eram seu mundo inteiro, imaginar um mundo em que isso não era verdade, em que seu filho não existia, e a ruiva era apenas sua melhor amiga era doloroso demais, e talvez todo esse medo quase insensato de perdê-los fosse o que fazia com que o Potter fosse ainda mais grato pelo o que tinha. 

— Jay, já tá na hora de ir. — Chamou o filho entrando no quarto do pequeno. 

O quarto estava cheio de brinquedos espalhados pelo tapete, como havia deixado há menos de cinco minutos quando deixou o filho brincando e foi chamar Ginny, e seu pequeno ainda estava no meio de toda a bagunça, com seu dinossauro amarelo na mão. 

— Casa do vovô? — perguntou com a voz adorável que apenas crianças tem. — Papai vai também?

— Não, papai vai sair só com a mamãe, hoje. — Respondeu com um sorriso, bagunçando o cabelo do menino.

Abaixou e pegou seu filho no colo, beijando o topo de sua cabeça e sentindo seu cheirinho de neném. Sabia que logo James iria ser grande demais pra isso, mesmo que só tivesse dois anos, então tentava aproveitar cada pequena oportunidade de o pegar no colo e enchê-lo de beijos. Talvez estivesse chegando a hora de aumentar a família de novo.

— Vamos, meninos? — Ginny chamou da porta olhando para ele com carinho. 

— Vamos, amor. — Concordou e pegou a mochila do filho, acompanhando sua esposa para o carro em silêncio, seus passos ecoando pelo piso de madeira. 

O caminho para a casa de seus pais foi calmo e sem acidentes, James sequer chorou quando a avó o levou para longe dos pais com promessa de biscoitos quentinhos e maratona de desenhos com o vovô. Estavam menos ansiosos do que as primeiras vezes em que saíram sem James, e o único nervosismo que o moreno sentia era de voltar à sua antiga escola. 

Ele não havia sido o cara nerd que apanhava, e mesmo que houvesse sido, hoje era uma pessoa segura o suficiente para não se importar com essas coisas, mas ainda assim a ideia de ver todo mundo o deixava ansioso. 

— Você acha que a gente deveria fingir que não se fala mais? — perguntou à sua esposa enquanto a ajudava sair do carro. — Pra dar uma animada na noite? 

— Você quer evoluir do namorado falso para falso estranho, amor? — retrucou divertida. — Que tara mais estranha. 

— Foi só uma ideia, pumpkin. 

— Eu odeio esse apelido.

— Eu sei. — riu a abraçando de lado. — É por isso que amo usar ele. 

— Às vezes me pergunto porque aceitei casar com você. — Ginny comentou fingindo irritação. — Nossa, a escola tá igual, parece até que a gente veio pra um baile de fim de semestre e não para reunião de quinze anos. 

— Aposto que ainda tem o G.W na cadeira da sala de química, e que eles vão tentar servir ponche sem álcool. — Harry comentou, a empurrando levemente de implicância e fazendo com que a ruiva revirasse os olhos. — Impressão minha ou a pessoa na recepção é a professora McGonagall? 

— Acho que sim. — ela respondeu soando surpresa e animada. — Ela continua igualzinha. 

— Será que fizeram uma estátua dela?

— Não seja bobo, amor. — A ruiva riu, os aproximando ainda mais de sua antiga professora.

Minerva costumava ser a professora favorita deles, mesmo que Harry não fosse o melhor aluno de matemática, e ela realmente parecia a mesma de antes.

— Srta. Weasley, Sr. Potter. — cumprimentou a mulher mais velha com um sorriso acolhedor. — Vejo que a dupla permanece intacta. 

—  Professora McGonagall é um prazer rever a senhora. — Ginny respondeu sincera, com um grande sorriso. 

— Continua tão bonita quanto me lembrava, Minnie, — o moreno comentou com uma piscadela, fazendo com que as mulheres rirem. — mas agora é sr. e sra. Potter.

— Weasley-Potter, idiota. — a ruiva corrigiu com um revirar de olhos, sabendo muito bem que ele só falava errado para fazê-la falar o sobrenome dos dois. — Você é muito irritante.

— Ah, vejo que os dois finalmente ficaram juntos. — respondeu a professora com um sorriso. — Meus parabéns ao casal, então. — e entregando os crachás para cada um, continuou. — E aproveitem a reunião.

— Obrigado, professora. — Agradeceram com sinceridade. 

Afastaram-se de mãos dadas absorvendo cada detalhe do local que abrigava tantas das memórias que tinham de suas adolescências, era incrível como mesmo sendo só amigos na época do colegial, a quantidade imensa de coisas que haviam feito ali. 

— É quase como voltar no tempo. — Harry comentou sentindo-se nostálgico. — Lembra quando você socou a cara de um menino mais velho porque ele me chamou de quatro-olhos? 

— Lembro. — riu a ruiva olhando-o com carinho. — Também lembro de ter que te levar pra enfermaria porque você quase desmaiou quando viu o nariz dele sangrando. 

— Foi uma visão horrorosa, ok? — defendeu ele. — Aquela ali não é sua antiga crush? Hannah Abbott?

— Acho que sim. — concordou, olhando pra direção onde duas mulheres loiras conversavam. — E ela não era minha crush. 

— Aham, sei bem. 

— E aquele ali não é o seu crush, Cedric Diggory? 

— Claro que não, ele nem era da nossa turma, porque ia tá aqui. — respondeu mais que imediatamente, só realmente olhando pra pessoa depois. — É ele sim, droga. — resmungou, sentindo-se um adolescente de novo. — O que diabos ele tá fazendo aqui?

— Vai ver ele namora alguém que era da nossa turma?

— Onde você tá indo?

— Falar com as pessoas? — respondeu a ruiva, lançando um olhar confuso em sua direção. — Você não tá surtando por causa do seu antigo crush, está?

— Claro que não, querida. — retrucou imediatamente, passando a mão pelos cabelos em um claro sinal de nervosismo. — Só que eu já tô reunido com a melhor pessoa de todas. 

— Você é tão brega, amor. 

— Weasley? — Chamou uma voz que a muito não ouvia. Era Sarah Holiday, uma mulher morena e alta, que costumava fazer parte do grupo de meninas mais populares da escola. 

O tempo não parecia ter sido tão gentil com ela, o moreno percebeu assim que ela aproximou-se um pouco mais, a morena usava um vestido vermelho vibrante que já parecia ter visto dias melhores e sua maquiagem carregada a dava um ar falsificado terrível. E pensar que já havia chorado por que ela não quis sair com ele, patético, Potter, patético.

 — Ginevra Weasley, é você mesma?

— Só Ginny, está bom, Sarah. — a ruiva respondeu educadamente, mesmo que ele conseguisse ouvir um quê de irritação em sua voz. Todos sabiam que ela odiava que a chamassem de Ginevra, principalmente seus antigos colegas de sala.  — Amei seu vestido. 

— Obrigada, mas não é de longe tão lindo quanto seu. — garantiu a outra com um sorriso que não chegava aos seus olhos. Ginny e Sarah não se davam bem na época em que estudavam, principalmente por a ruiva ser meio tomboy e ainda assim conseguir tantos encontros quanto a morena. — Onde comprou? Na Zara? Ou foi em outra loja de departamento? 

— Sarah, continua tão estonteante quanto antes! — Harry falou, interrompendo qualquer resposta atravessada que sua esposa pudesse dar. 

— Potter, encantador como sempre. — ela respondeu com uma voz alta, chamando atenção de muitos que estavam por perto. — Vocês ainda mantêm contato? Que bonitinho.

— Potter! — cumprimentou William Jones com um sorriso falso, outras três pessoas o acompanhando, como se eles ainda fossem alunos do ensino médio que andavam em bando. — E Weasley, linda como sempre.

— Obrigada, Jones, você continua o mesmo. — a ruiva respondeu com a voz neutra. — Andrews, Richards, Morrison, é bom ver vocês de novo.

Harry já não aguentava mais essa situação desconfortável, e daria uma fortuna apenas para poder ficar em casa com seu pequeno fazendo a bagunça de sempre, com Ginny aninhada em seus braços enquanto um filme da Disney estava ligado na televisão. 

— Weasley, Potter. — os outros três responderam educadamente. Jenny Morrison no entanto continuou, seus cabelos louros estavam elegantemente presos em um coque. — Vocês não trouxeram acompanhantes?

— A gente veio junto. — Harry respondeu com um sorriso, colocando a mão na cintura da ruiva. Ginny apenas sorriu em sua direção, provavelmente grata por ele não fazer o discurso de sempre. Se seu sorriso fosse a recompensa, deixaria o discurso de lado pro resto de sua vida, apenas para vê-la sorrir dessa forma sempre. — E vocês? Trouxeram algum acompanhante?

— Ah, meu marido está bem ali, no sofá. — Respondeu Camile Richards com um falso sorriso, apontando para um cara levemente barrigudo e com a cara ranzinza. 

— O meu foi ao banheiro. — Sarah comentou como se não fosse nada, mas Harry percebeu a forma em que o rosto dela formou uma leve careta de desgosto, e pelo canto do olho soube que Ginny percebeu a mesma coisa. — Steve e Will continuam solteiros como sempre, pelo o que ouvi dizer, e Jenny está noiva. 

— Meus parabéns, Jenny! — Ginny falou com um sorriso em direção da loira, de todos ali, ela era a menos terrível. — Tenho certeza que vai ser uma cerimônia incrível. 

— Obrigada, Weasley. 

— E vocês dois? — pressionou Sarah, olhando para o moreno com uma quantidade nada disfarçada de interesse. — Estão em algum relacionamento? Abertos para descobertas?

— Na verdade… — A ruiva começou a falar, provavelmente pronta para esclarecer que eles estavam muito bem casados, sendo impedida pela voz alta do Jones. 

— Você não vai dizer que está com alguém, né Weasley? — ele riu, seus olhos absorvendo cada detalhe do corpo de sua esposa. Harry estava pronto para dar um soco na cara milimetricamente composta de plásticas dele. — Com um vestido desses, está pedindo pra ser fodida.

Era isso, ele seria obrigado a quebrar a cara desse idiota, e se por algum acaso, ele tentasse processar Harry, o moreno conhecia bem o suficiente as leis para saber o que falar em sua própria defesa, nada aconteceria. Nada, além de, talvez, um nariz quebrado, pensou enquanto sentia todo seu corpo crepitar em adrenalina, nojo e raiva. 

— Se você abrir essa sua boca suja pra falar da minha esposa, eu juro por Deus, Jones que vou quebrar essa sua cara com tanta força que médico nenhum vai saber arrumar. — o Potter rosnou, segurando o outro pela gola da blusa social. — Estamos entendidos?

Amor, você está causando uma cena desnecessária. — Repreendeu a ruiva, olhando para ele com um misto de raiva e diversão. — É isso que você pretende ensinar aos nossos filhos?

— Vocês estão blefando. — Steve Andrews falou com um riso debochado. — Estão fingindo que são casados apenas pra ficarem por cima da gente, até parece que vamos cair nessa. — fez uma pausa que permitiu todos ao redor rirem. — Daqui a pouco vão dizer que tem uma carreira bem sucedida. 

— Cara, sua vida deve ser patética pra achar isso. — Harry respondeu, pressionando a mão na testa por alguns segundos, o começo de uma dor de cabeça já queria se fazer presente. — Vamos sair daqui, Gin.

— Não somos nós quem sai inventando relacionamentos falsos por aí, Potter. — Sarah riu, apoiando-se no braço dele de forma que o decote de seu vestido ficasse mais pronunciado. — Mas tudo bem, você ficou mais bonito com o tempo, te deixo me foder assim mesmo. 

Sentia vontade de gritar a cada a palavra que saia da boca de seus ex-colegas de classe, arrependendo-se a cada minuto que passava por não ter feito o discurso: “Essa mulher maravilhosa ao meu lado, está vendo, ela? É a minha esposa, e eu sou o cara mais sortudo do mundo!”. Como não conseguiam perceber o quanto Harry era caidinho por Ginny? Durante os poucos minutos de conversa, havia mantido seus olhos focados em sua esposa quase o tempo todo, e sua mão estava em sua cintura, com sua aliança visivelmente brilhando contra o azul do vestido dela. 

— Escuta aqui seu projeto de Barbie mal feito, — Ginny começou a falar, os olhos cheios de raiva, apontando o dedo em direção da morena. — se você encostar um dedo no meu marido, eu juro por Deus que reconstruo sua cara toda.

Harry apertou a cintura dela com um pouco mais de força para impedi-la de socar a cara da outra mulher, mesmo que concordasse com ela, não ia deixar cinco idiotas estragarem a noite deles.

— Vamos dançar, meu bem. — sussurrou ao pé do ouvido dela, ciente de que o pequeno grupo, e provavelmente muitas outras pessoas, estavam os encarando. — Deixa esses idiotas pra lá, vem dançar comigo.

Ela não falou nada, apenas o deixou a conduzir para a pista de dança improvisada. Uma música lenta tocava, era antiga, uma das que costumava tocar nos bailes de formatura, lembrava-se de ter dançado essa mesma música com ela diversas vezes, e ainda assim parecia a primeira. 

— Obrigada por me tirar de lá, amor. — a ruiva falou, sua voz parecendo mais calma e suas feições menos tensas. — Não acredito que eles pensam que a gente tá fingindo. 

—  Bem, a gente tem um histórico de fingir que somos namorados. — admitiu com um sorriso. — Mas no final você não resistiu ao charme Potter, e finalmente percebeu que eu sou tudo que você sempre quis.

— Pelo que eu me lembro, foi você quem se declarou primeiro. — retrucou a ruiva com um sorriso divertido. — E foi extremamente brega, igual você.

— Primeiro, você deveria agradecer por eu ter te proporcionado o melhor da comédia romântica, Weasley. — retrucou com um revirar de olhos. — Segundo, eu não sou brega. 

— Claro, boo, — ela riu. — mas sua gravata combinando com o meu vestido diz outra coisa.

— Foi sem querer, eu já disse!

— Eu vi o recibo da compra, Har. 

— Isso não quer dizer absolutamente nada, Ginny. 

— Tá bom, amor, — riu. — mas tudo bem ser brega. — continuou sorrindo com carinho, sua mão saindo do pescoço dele, para a bochecha. — Eu sempre vou ser um pouquinho brega por você também.

— Eu te amo. — Sussurrou ele com carinho, a apertando contra si e beijando sua testa. 

Sem se importar com quem poderia estar olhando, inclinou-se por completo e a beijou. Não importava que eles se beijassem todos os dias a cada momento que conseguiam, não ligava se já estivessem fazendo isso há anos, sempre sentia como se fosse a primeira vez.

Os lábios dela eram macios, tinham um leve gosto adocicado, e deslizavam delicadamente contra os seus com uma prática que nunca havia precisado ser aperfeiçoada, mas mesmo assim, eles aperfeiçoaram e fizeram com que tudo parecesse dez milhões de vezes melhor do que o anterior. 

Separou-se do beijo, e a olhou, os olhos castanhos dela brilhavam mais do que todas as luzes da cidade poderiam brilhar, mais do que qualquer estrela no céu de verão, mais do que qualquer coisa no universo. 

— Eu também te amo, Har.

Como algum dia pensou que poderiam ser apenas amigos? 

Principalmente quando ela olhava dessa forma, olhos transbordando um afeto tão forte que palavras não conseguiam descrever, e que ela não tentava dizer porque sabia que ele a entendia, afinal o mesmo olhar, o mesmo sentimento era refletido nos olhos dele. 

Sempre que pensava que levou mais de dez anos e centenas de momentos fingindo serem um casal para que eles percebessem que talvez gostassem um do outro de uma forma não platônica, sentia um sorriso bobo fazer morada em seu rosto. Quando mais novo sonhava em ter um amor perfeito, saído de uma comédia romântica, com trilhas sonoras apaixonantes, gestos grandiosos e momentos de descoberta cheios de emoção onde tudo de alguma forma fazia sentido do nada. 

Sonhava com um amor que tirasse todo seu ar e fizesse valer a pena cada pequeno momento em sua vida.

Não teve trilhas sonoras apaixonantes, ou um momento grandioso quando se viu apaixonado por ela, apenas um medo terrível do que viria depois, e ainda assim, quando a olhava, sabia que de uma forma meio diferente, havia conseguido o que sempre quis. 

Por que Ginny Weasley era sua comédia romântica favorita e ele não mudaria nada.

— Calma aí, — falou ele, só então percebendo o que ela havia dito minutos antes. — você tá grávida?



   


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, o final, foi ideia da maravilhosa Belle, minha amada beta, então agradeçam a ela por esse mimo, MARAVILHOSO, e obrigada por lerem!
Deixem comentários pois essa autora ama lê-los, e depois surtar pra responder de uma forma coerente e humana.
Beijos e até semana que vem!!!!



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