A fada que o escreva escrita por Creeper
Notas iniciais do capítulo
Hi!
Eu nem acredito que chegamos ao penúltimo capítulo, nem vi o tempo passar! Mas estou muito felizes por termos chegado até aqui, lhes desejo uma boa leitura ♥
Ousei dar um passo à frente, fazendo com que a corrente em meu tornozelo se esticasse. Abri os braços, esbocei um sorriso melancólico e então exclamei:
— Tudo bem.
Amy avaliou-me com uma feição séria e levantou sua mão, ordenando a Peach que congelasse no lugar e que o caranguejo interrompesse sua investida.
— Ao menos, deixe eu me despedir de Dante antes que ele perca as memórias. – pedi com a voz embargada.
Dante ofegou e lançou-me um olhar de descrença.
— Suichiro, não irei lhe soltar. – Amy ditou rigorosa.
— Por favor, preciso abraçá-lo enquanto ele ainda se lembra de mim. – solucei. – Enquanto ele ainda sente algo por mim.
Meu coração apertou-se e me vi obrigado a jogar meu sobretudo no chão e erguer as mãos para provar minha inocência.
— Eu não tenho nada. Nada que seja capaz de soltá-lo. Pode matar a mim e a ele, porque já não há nada que nos salve. – gritei dolorosamente.
Amy arqueou uma sobrancelha, tomou um instante para me estudar e suspirou comovida. Com o cenho franzido e os lábios formando uma linha reta, retirou a chave de seu bolso e abriu a corrente.
Minha liberdade não durou muito tempo, pois logo a governanta apertou meu ombro e guiou-me até Dante.
— Pode me soltar? – funguei. – Já disse que não tenho nada. Eu preciso, preciso desse momento a sós.
Amy largou-me e avisou impaciente:
— Um minuto é tudo que te dou.
E afastou-se desconfiada, colocando-se ao lado de Peach que permanecia imóvel e sem expressão como uma marionete que esperava as cordas serem puxadas.
Tive tanto repúdio, porém, apenas mordi o lábio inferior e foquei-me no semblante de Dante que demonstrava uma mistura de dor e ternura.
— Me desculpa. – sussurrei angustiado.
Ele fechou os olhos por um momento, expirou e abriu-os novamente.
— A gente vai morrer? – Dante inclinou a cabeça e seus cabelos caíram no rosto.
Toquei suas bochechas e acariciei suas feridas, dando confiança para que ele respirasse calmamente. Apesar de hesitante, fiquei nas pontas dos pés e beijei sua testa de maneira suave.
— Está preparado para isso?
— Nem um pouco. – ele me fitou determinado.
— Então não vamos. – afirmei convicto.
Fechei os olhos, juntei as mãos e iniciei uma pequena prece. Começou com uma palpitação no peito e um formigamento na pele, assim passei a sentir minha energia ser sugada de dentro do corpo e concentrar-se à minha volta. Minhas pernas tremeram e os joelhos ameaçaram ir ao chão, todavia, usei todas as minhas forças para me manter de pé.
— O que pensa que está fazendo?! – Amy gritou incrédula.
— Karma de aquário, projete-se!
Abri os olhos e afastei as mãos para expandir a silhueta verde que me rodeava e ordenei que obtivesse a forma de uma redoma que protegesse a mim e Dante, mesmo que a uma curta distância. Ofeguei exausto e notei a vista ficar turva, contudo, eu não iria ceder, não ali.
— Consegue fazer magia?! – Dante indagou impressionado.
— Todos conseguem, não é? – minha voz saiu falha de cansaço.
— Suichiro, vai se arrepender de ter mentido para sua mãe! – a governanta rangeu os dentes e com um simples movimento mandou que o caranguejo atacasse minha redoma.
Não sabia por quanto tempo meu karma duraria, mas tinha certeza de que era pouco em relação a magia corrompida de Peach. Procurei por qualquer coisa que me ajudasse a soltar Dante, entretanto, aquele lugar não estava nem um pouco ao meu favor.
— M-Mamãe?
Senti um estalo na cabeça e virei o rosto de modo brusco para a fonte do som, avistando Manjiro e Kenjiro parados na porta completamente encharcados e carregando expressões de pavor.
— Por que estão aqui?! – arregalei os olhos.
— Começou a chover, então… – Kenjiro encontrava-se boquiaberto e vidrado em Peach.
— Voltamos para casa, afinal… – Manjiro esboçava o mais puro horror.
— Você tem medo de tempestades.
A terceira voz foi a que mais me surpreendeu. Passando pela porta, o homem imponente com as vestes molhadas coladas ao corpo empunhou um sabre de lâmina comprida e brilhante e apontou-o na direção de Amy.
— Pai?
Fraquejei e vi tudo virar um borrão, parecia que toda minha vida era drenada para sustentar aquela pequena redoma que não via a hora de ceder às batidas do caranguejo.
— Então é isso que tem feito debaixo dos meus pés o tempo todo? – papai franziu as sobrancelhas.
Amy ganhou um olhar de ódio, afastou-se instintivamente e analisou a situação em silêncio. Papai não perdeu tempo, bradou autoritário e confiante:
— Kenjiro, ajude seu irmão. Manjiro, detenha o karma. E eu cuido da governanta.
Manjiro foi o mais rápido em acatar a ordem, sacou sua espada e ativou seu karma de gêmeos formado por uma silhueta branca idêntica a sua e correu ao encontro do caranguejo. Kenjiro agitou a cabeça para fugir de seu estado de choque e veio ao nosso auxílio, enfim permitindo-me desmanchar a redoma.
— O que está acontecendo aqui? – ele agarrou sua espada. – Karma de gêmeos, duplique-se!
A silhueta de cor branca repetiu exatamente todos os seus movimentos, partindo simultaneamente as correntes do lado esquerdo enquanto seu dono partia as do direito e espalhando faíscas alaranjadas pelo ar.
— Amy… – encostei-me na parede, zonzo. – Colocou um demônio no corpo da mamãe.
— Ela disse que o alimenta com seu próprio sangue. – Dante massageou seus pulsos. – Só podemos derrotar Peach afetando sua fonte de alimentação. Ou seja, atingindo o ponto vital de Amy.
Kenjiro engoliu em seco e desviou o olhar para o gêmeo. Manjiro e seu karma não conseguiam dar investidas, apenas defendiam-se dos ataques das pinças ao barrá-las com as espadas ou saltando para trás.
Do outro lado, Amy havia sacado um punhal para contra-atacar o sabre de papai, travando um combate corpo a corpo onde o menor deslize resultaria em um corte fatal.
Um engasgo soou acima de nossas cabeças e ao olharmos para cima, vimos a imagem horrível de Manjiro e seu karma presos nas garras do caranguejo, sendo apertados até que o primeiro cuspisse sangue e o segundo desaparecesse.
— Me desculpem, mas vocês sabem que essa não é mais a mãe de vocês. – Dante resgatou sua corrente que estava jogada em um canto e lançou-a em Peach.
Tendo envolvido seu torso, o exorcista balançou a corrente e arremessou o corpo da mulher contra a parede. O tremor que se seguiu fez Amy berrar por Peach e abandonar a luta contra papai, correndo para ajudar sua… Eu nem sei do que poderia chamar.
— Seu imbecil! – Amy bradou irada. – Se ela tiver um arranhão sequer, não restará nada de você, nem mesmo suas cinzas!
O karma de câncer ficou estático e derrubou o corpo de Manjiro no chão em um ruído seco e doloroso como se pouco importasse a mancha vermelha que se espalhava pela barriga do rapaz.
— Manjiro! – Kenjiro ajoelhou-se ao lado do gêmeo e lágrimas de desespero despencaram de seus olhos.
Mais sangue saiu da boca do loiro, cujo a respiração estava instável e os olhos quase saltavam de dor. Dante apressou-se em rasgar parte de sua blusa e pressioná-la no ferimento, dizendo aos rapazes para manterem a calma.
Ao aproximar-me de meu irmão, o choro e a tontura me impediram de ver qualquer coisa com clareza. Mas algo em especial brilhou em meu campo de visão e chamou-me para si.
Movido por uma vontade desconhecida e descontrolada, roubei a espada de Manjiro caída a alguns metros de seu corpo e arrastei-a pelo chão, caminhando pesadamente sem que nenhum dos três percebesse.
Meus pulmões queimaram pela falta de ar, porém, lá estava eu diante do corpo ajoelhado e indefeso de Amy que cuidava de um corte na testa de Peach.
— O que foi? Vai me matar? – a governanta riu com desdém.
Eu não tinha forças para erguer a espada. E aquela vontade dentro de mim não era capaz de me fazer matar alguém. Encolhi os ombros, rosnei e culpei-me. Culpei-me por ser fraco. Culpei-me por ser eu. Culpei-me por não estar errado.
Seu riso abafou-se e ela estalou os dedos, devolvendo a Peach seus olhos azuis e sua expressão adorável. A mulher de cabelos salmão então tocou sua ferida, gemeu baixinho de desconforto e fitou-me confusa.
— Se acabar comigo, acabará com ela. – Amy pegou um lenço de dentro de seu bolso e pousou-o na testa de Peach.
Apertei o cabo da espada com mais força e mordi o lábio inferior a ponto de sentir o gosto de sangue preencher minha boca. Estava pronto para aceitar que perderia a consciência por minha exaustão, mas algo me acordou novamente.
O som da lâmina atravessando as costas de Amy e sua tosse sangrenta espalhando-se pelo chão. Tropecei em meus próprios pés e segui o olhar pelo sabre que papai segurava com um semblante frio e opaco.
— Amy! – Peach clamou aflita.
— Traiu minha confiança. Desrespeitou o corpo da minha esposa. Ignorou o ciclo da vida. Fez meus filhos sofrerem. – papai citou apático e puxou seu sabre de volta. – Nada que disser ou fizer vai me comover. Porque tudo o que você merece é a escuridão.
O homem agarrou a governanta pelo braço bruscamente e obrigou-a a se levantar, ainda que cambaleante e pálida. Peach fez menção de segurá-la, todavia, acovardou-se sob a aura de papai.
— Você entende, não é? – ele largou sua arma, fazendo-a tilintar no chão. – Que é uma morta-viva. Uma obra do desejo.
Naquela hora, pude identificar a dor sussurrante nas palavras de papai. Seu olhar perdido barrava o choro ou qualquer forte emoção que estivesse gritando dentro de si. Porque ele precisava ser gélido. Mesmo com a imagem de sua esposa.
Peach pressionou os lábios exatamente como eu fazia e encolheu-se no lugar, amedrontada. Impressionado, ordenei ao meu corpo que recuasse ainda mais. Precisava evitar. Evitar que começasse a assimilar aquela figura com minha mãe.
— Exorcista. – papai chamou seriamente. – O que fazemos?
Dante respirou fundo, levantou-se e colocou-se frente a frente com o Dr. Tama.
— Não posso fazer um exorcismo, pois o corpo foi entregue ao demônio, não possuído por ele. – explicou. – Existem apenas duas alternativas e a família deve decidir. Primeira, condenar Amy a execução e deixar que Peach se desgaste de fome. Ou segunda, deixar Amy em prisão perpétua e manter Peach sob controle na cidade dos exorcistas.
Peach afundou o rosto nas mãos e balançou a cabeça negativamente enquanto Amy pendia nos braços de papai e lutava para continuar acordada.
— Nunca a terão sob controle. Ela me pertence. Ela faz o que eu ordeno. – a governanta falou roucamente entre uma tosse e outra.
O exorcista franziu as sobrancelhas, estendeu a mão e sussurrou algumas palavras que não entendi. De repente, uma chama alaranjada surgiu em sua palma enluvada e crepitou vividamente.
— Que o fogo divino da verdade revele a mentira dos pecadores. – ele semicerrou os olhos e rangeu os dentes.
A chama abandonou sua mão e serpenteou pelo ar, revelando um cordão de névoa púrpura que ligava o pulso de Amy ao peito de Peach. Dante agitou o braço e o cordão desapareceu junto ao fogo.
— Só pode controlá-la a distância que o cordão permite. – ele limpou o suor de sua testa. – Pode ter sido talentosa ao criar o círculo da ressurreição, mas é fraca demais para estabelecer uma distância ilimitada.
Amy rosnou com as poucas forças que ainda tinha e sua tensão tornou-se quase palpável. Papai apertou o braço da governanta, varreu o chão com os olhos, inspirou e prosseguiu:
— Não posso deixar que essa decisão seja apenas nossa, por isso peço sua opinião de exorcista.
Dante arqueou as sobrancelhas, segurou seu queixo de modo pensativo e encarou-me brevemente. Seu silêncio durou um minuto e foi tortuoso.
— Amy já vendeu o círculo. Por enquanto, só conseguiram fazer cadáveres ambulantes, porém, em algum momento terão êxito. Peach pode ser usada como exemplo do que realmente são pessoas ressuscitadas: um corpo sem memórias e que guarda o mal dentro de si. – gesticulou.
Fitei Peach que se apresentava desolada, sem coragem de mover-se ou sequer de nos mostrar seu rosto. Engoli em seco e cerrei os punhos, sabendo que aquela decisão também cabia a mim.
— Kenjiro, Manjiro. – papai chamou.
— B-Bem, é o corpo da mamãe, não é? – o ruivo comentou hesitante. – Talvez devêssemos dar uma chance, é só domarmos o demônio dentro dela e... – sua voz tornou-se um fio.
— O karma da mamãe nunca me atacaria daquele jeito. – o loiro balbuciou deitado no chão. – Essa coisa é ruim por natureza. Nunca vai ser nossa mãe novamente, não importa a aparência que tenha.
A opinião de ambos me balançou, afinal, eles nunca discordavam um do outro. Papai soltou um suspiro trêmulo e foi sua vez de comentar:
— Manjiro tem toda razão. O corpo de Peach precisa descansar por sua eternidade merecida, ter um demônio dentro dele é manchar a essência pura que teve em vida.
De maneira unânime, os olhares apreensivos voltaram-se pesadamente para mim. Todos aguardavam por minha resposta. A resposta que decidiria o destino de Amy e Peach.
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E finalmente descobrimos o karma do nosso menino Suichiro! Vamos a um esclarecimento?
O símbolo do signo Aquário é o aguadeiro, mas acabei focando mais na parte do jarro que ele carrega do que a água em si. Por isso, resolvi colocar a magia do Suichiro como uma redoma para fazer uma piada com o que conhecemos como aquário (objeto) hoje em dia e também por causa desse senso de proteção que ele tem com todos, vide a frase de Dante lá no começo da história.
Espero que tenham gostado e me contem o que acharam ♥
Até semana que vem!
Beijos.
—Creeper.