O Lorde da Ventura escrita por young sea


Capítulo 1
Imutável Dilema


Notas iniciais do capítulo

Este pequeno conto é inspirado em uma pessoa a qual suas complexidades são genuinamente amadas por mim.

Espero que gostem.



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Hazard concebia o futuro nas palmas de suas mãos.

Era desta maneira que ele trazia o entretenimento à tona, ao seu próprio deleite. 

Bastava apenas um desejo — um sibilo em feitio de pensamentos e tudo tomava um rumo totalmente diferente do expectável. 

Desta forma, ele orgulhosamente auto-denominava-se “O Lorde da Ventura”. Para os fantasiosos “O Duende da Boa-Sorte”. Mas aos demais habitantes de Coração-Gelado, uma figura excêntrica ou lunática que trajava vestes peculiares de arlequim. 

Hazard, embora brincasse com todo o destino e a rotina dos cidadãos da vila, nunca apresentava o seu tão poderoso dom de maneira clara e perceptível aos cidadãos. Eles sequer podiam formular uma mínima suspeita sobre o rapaz alterar todo o curso de uma situação, em um estalar de dedos. Simplesmente influenciar ou trazer a sorte à tona.

...Não teria a mínima graça se eles soubessem — pensava o Lorde. — Logo me sobrecarregariam de pedidos e insistências infinitas sobre mudar o rumo de suas deploráveis vidas...

Observar os demais destinos dando certo de forma precipitada, era uma forma de conter a sua imensurável solidão sobre a terra. Pregar peças ao manipular de maneira inesperada entre as comuns até as mais variadas situações — impulsionar um viúvo rabugento a ganhar na loteria, fazer com que uma dupla de saqueadores conseguisse escapar das autoridades. Vez ou outra juntava casais improváveis, fizera também com que um desempregado conseguisse um serviço novo e até mesmo auxiliou uma idosa a encontrar o seu cãozinho — especimentas de coisas que lhe traziam sustento em um vasto contentamento para o seu até então, vazio gigantesco e inexpugnável. 

Deste modo era a vida de Hazard — tão colorida quanto acinzentada. 

Ocasionalmente recordava de sua antiga e miserável vida como Bobo da Corte, trabalhando diretamente para um príncipe. Tendo tamanha facilidade de fazer o pequeno garoto sorrir, quando o seu próprio humor estava em ruínas — sua mãe encontrava-se gravemente enferma e mal podia levantar-se da cama, o seu pai era um alcoólatra movido pelo vício que exalava toda a sua apatia perante a família. E o sustento do lar dependia somente de Hazard, ou Harry — como era o seu nome de antemão.

Outrora, em poucos anos, o príncipe havia se tornado um adolescente, exigindo ainda mais a presença de seu Bobo da Corte — era constantemente cativado pelas peças pregadas e hilárias piadas de Harry. E pela vida solitária no palácio, acabou se apegando firmemente ao rapaz, a ponto de ter os seus sentimentos em conflito. 

Em uma manhã chuvosa, os empregados partiram para arrumar os aposentos do jovem príncipe. Durante o rígido serviço encontraram o seu diário trancafiado embaixo do colchão de plumas — lá estavam doces poemas e confissões pessoais sobre o arlequim, que instantes foram parar nas mãos da governanta afirmando ser um verdadeiro absurdo. 

Assim que chegou aos ouvidos da rainha junto a prova real, a mesma exigiu a morte imediata de Harry, que sequer teve a oportunidade de contestar ou explicar que não alimentava sentimentos semelhantes ao garoto. Inclusive tentou se pronunciar, no entanto, a decisão já havia sido tomada.  

Harry já sufocava com a terra à qual fora insensivelmente enterrado vivo, após ser imobilizado com grossas cordas e fortes correntes de aço, ao redor dos pés e mãos. Era praticamente impossível fugir das agressões dos guardas e suas constantes humilhações. Ele mal cogitava em tentar.

O rapaz pôde sentir a dor da angústia perfurando o seu coração, como se fosse um verdadeiro nada. Mas antes agonizou com um súbito pensamento — como sobreviveria a sua mãe sem o amparo de seu filho. 

Harry era a única pessoa no mundo a qual Rosemary contava.

Atormentado e interiormente destruído, ele se fora. No entanto, surgirá o que mais tarde se tornaria o seu criador. 

O Homem Sombra. 

A entidade metade humana e metade sombra que vagava pelo local — em espécime de trajetória densamente desconhecida — deparou-se com um passado interessante ao tocar o solo com as pontas dos dedos. Tornando-se envolvido com a sagacidade e a causa de um deplorável fim na terra, e mesmo que através das leis da natureza fosse totalmente errado, O Homem Sombra resolveu conceder uma segunda chance ao rapaz.

Desta forma, imortalizou cada pequeno traço do corpo cadavérico, corrompendo instantaneamente a alma de Harry enquanto o vapor das sombras libertavam os membros para fora da terra, transferindo poder suficiente para que ele despertasse de sua morte súbita. 

E logo ocorreu. Os olhos abertos em tom rubi, indicavam que Harry estava desperto. Em melhores termos, recém-nascido dos mortos. 

Embora a sua segunda vida lhe trouxesse infinitos anos sobre a terra, uma habilidade inteiramente exclusiva e uma personalidade alternativa. Hazard ainda se encontrava perdido em um dilema.

Ele havia conquistado o reino de Coração-Gelado, usando a sorte a seu favor, em meados de duas décadas atrás. Ele pôde vingar a sua penúltima vida, tomando o palácio para si. Expurgando o rei, a rainha e tudo o que estava incluído no pacote. E no fim, transformou o local inteiro da realeza exclusivamente em um casarão para a sua morada.

No entanto, algo estava faltando nas profundezas — onde habitavam os seus demônios mais carrascos e hediondos.

O seu vazio era friamente imensurável.

E Hazard soava em intensas gargalhadas todavia que se deparava solitário em sua biblioteca, dentre a turbulência dos pensamentos arruinando o que ainda restava de sua pobre sanidade.

O ruivo, ao decorrer de cada dia, definhava sem ao menos dar-se conta.

...Nós não somos capazes de viver a vida sozinhos — Dizia Athanasia, a sua aliada. Sua única companheira e amiga de infância. — Precisamos encontrar mais alguém, Milorde...

Hazard tomava essas palavras com suas mãos. Os punhos cerrados.

As visitas de Athanasia — A Garota dos Olhos de Vidro — ao casarão, se tornavam cada vez mais frequentes conforme a jovem explorava a insanidade de Hazard se tornar mais bruta. A albina sempre lhe trazia uma cesta colorida com frutas e guloseimas, embora a mesma não pudesse enxergar as cores.

...Então esse é o princípio de tudo — O arlequim respondia estampando um sorriso macabro sobre a face gélida. — Se eu me machucar por amar alguém, então não preciso de mais nada…

Athanasia não via qualquer sentido nas palavras proferidas por Hazard — pensou ser por culpa da mera fragilidade que sustentava a saúde mental do Lorde — de tal maneira que o levava a gargalhar em momentos esporádicos, e vez ou outra, murmurar em pequenos delírios internos.

Muito embora Hazard encerrava-se a conversação em mais uma parcela de ecos rebatidos pela madeira, os quais eram refletidos por sua risada aguda e um tanto espalhafatosa — ele encontrava a estranha verdade perambular astuciosamente, entre tais palavras ditas.


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