Like a Vampire Extra: Untold Tales escrita por NicNight


Capítulo 2
Três coroas quebradas




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1998

Existem inúmeras formas de provar amor pra alguém. Em culturas humanas, essas provas se dão de diversas formas: serenatas, flores, joias e poesias que comparam o amor a um fogo que arde sem se ver.

As culturas mágicas são… um pouco mais específicas em relação a isso. Especialmente os vampiros.

A maior prova de amor que pode se dar a um vampiro é a benção do finito: a morte.

—Nasceu.- Um dos mensageiros veio até as grades da sua porta.- Uma menina, como esperávamos.

Christa franziu o cenho, atordoada:

—Quanto tempo até KarlHeinz descobrir?

—Acho que ele já sabe, minha senhora.- O mensageiro respondeu.

Christa afundou o rosto entre as mãos delicadas. Já parecia ser tarde demais.

—Quer que eu chame seu filho?

—Não é meu filho.

O mensageiro não soube o que responder a aquilo.

Christa era a última sobrevivente. Nenhuma das que vieram antes dela existiam mais.

Cordelia havia morrido nas mãos dos seus 3 filhos. Beatrix na mão do filho mais novo.

Evie… era diferente. Mas parecia que só faltava ela pro destino ser selado.

E não queria morrer. Ou queria, desejava aquilo mais que tudo. Mas não daquela forma.

Mas se visse Subaru… não ia aguentar.

—Você já deu sua faca de prata pra ele, minha senhora. O que mais quer?- O mensageiro perguntou.

Subaru ia matá-la. Sempre soube disso. Era parecido demais com seu pai para não fazê-lo. 

Parecido demais consigo mesma.

—Prefiro passar a vida toda aqui.

—Sabemos que não é verdade, minha senhora.- O mensageiro respondeu.

A benção do finito. Parecia quase certo que seu único filho a desse aquela dádiva.

Ao mesmo tempo, ele era só um menino. No fundo, seria covarde o suficiente para não matá-la.

—Ou ele será seu fracasso ou você será o fracasso dele.- O mensageiro informou- KarlHeinz está de olho na recém-nascida. Acho que seria melhor se apressar.

—Ele não vai parar até conseguir seis.- Christa murmurou. Conhecia bem seu primo e marido. Sabia como a mente doentia funcionava.

Se perguntava todo dia como fora capaz de amar um homem tão insano. Se perguntava mais ainda como outras mulheres foram tão facilmente enganadas por essa mesma paixão.

Perdeu a conta de quantas vezes havia se esguelado de tanto gritar e brigar sobre ela ser a esposa mais amada.

E onde isso a havia deixado?

Numa torre maldita, e as outras a sete palmos do chão. Todas presas, de uma forma ou de outra.

—Vá.- Christa comandou ao mensageiro, que não gastou tempo em obedecer.

Christa não tinha consciência de si ou de ser. Não comia a dias, mal dormia, e o lugar era tão apertado e sujo que parecia deixá-la cada vez mais claustrofóbica.

Anos naquele estado e ainda não se acostumava.

Quando Subaru a visitava, só conseguia ouvir uma voz alta saindo de sua garganta. Berros de socorro, pedidos de morte. Nem ela tinha consciência do que falava, as palavras só saíam livremente pela boca.

Era isso que havia rendido á ela uma vida na prisão, não é? Como jurou aos reinos mágicos e ainda mais que KarlHeinz ia cair, nem que fosse a última coisa que pudesse fazer.

Noites se passavam, dias se passavam. Christa de vez em quando ia pra sua janela, vendo os sete herdeiros Sakamaki vivendo a vida mais miserável que pudera imaginar.

Lilith trajou preto por dois anos depois da morte da mãe, antes de Ricther a obrigar a usar outras cores. Shu e Reijii mal apareciam na rua. Laito, Kanato e Ayato apareciam ás vezes, normalmente buscando alguma mulher.

E Subaru sentava no chão e observava sua janela.

Pelo menos foi assim, até o dia que resolveram que todos iam se mudar oficialmente pra Mansão Sakamaki.

De vez em quando ouviu guardas comentando sobre uma ou outra noiva de sacrifício. Normalmente um comentário seguido por "uma pena que durou tão pouco tempo.".

Um dia Subaru lhe enviou uma coroa de rosas brancas com alguns detalhes em prata. Rasgou tudo e jogou o metal janela afora.

Talvez devesse ter o guardado pra enfiar no coração, pensou mais tarde.

Gastou o resto do dia berrando e chorando para os ventos. Era um fantasma. Mal falavam com ela, sua voz na distância parecia a de uma assombração.

Um fantasma enganado, perdido. 

Havia sentido em vida eterna quando é assim? Presa numa torre minúscula, sem vida própria?

Estava uma estátua, parada, poeira no cabelo.

Tantos anos passaram, tanta coisa que queria falar.

Se pudesse ter dito uma última mensagem para alguém, seria pra salvar as noivas de sacríficio.

Do que adianta? Iam vir e ir na mansão, morrendo uma de cada vez, sobrevivendo meses no máximo.

Por um plano idiota. Falho.

Falaria que o despertar era uma idiotice. Que o plano Eve não é nada além de um plano de genocídio de garotas que as rendia a tortura e abuso antes de dar uma facada final.

Aquilo não era vida. Prometeu que depois dela, KarlHeinz não enganaria mais ninguém.

E se sentou e viu seu marido enganar seus filhos, salvar humanos e fazer promessas falsas pra no fim matar dezenas de mulheres. E só com um único objetivo.

A morte.

Tudo gira em torno dela. É um deus para os vampiros. Muitos pensam nela como impossível, mas todos sabem muito bem o que acontece se tentarem enfiar uma faca de prata no seu coração ou cortar sua cabeça fora.

Para humanos e para mágicos, a morte é uma certeza. Pode fugir o quanto quiser, mas em algum momento você vai se render a ela.

KarlHeinz planeja sua própria morte. A única forma de um ser como ele partir com alguma dignidade.

E assim iria ela, com todos seus segredos e palavras não ditas presos ainda na sua boca.

Queria ter falado mais. DevIa suportar pra poder aconselhar seu filho.

Mas nunca fora boa nisso.

Seu corpo foi encontrado quase sem nenhuma mutilação. Foi enterrado no jardim real, ao lado de Cordelia e Beatrix. A blasfêmia para as 3 esposas perdidas.

A torre foi limpa do seu sangue, mas continuou intacta e trancada. Realmente, uma assombração ainda estava lá.

E a chave estava com seu filho, mas ele nunca mais a visitou.

Talvez devesse ter esperado mais para que seu filho enfiasse a faca no seu peito. Mas não conseguiu.

E agora estava presa a sete palmos da terra, junto com aquelas que prometeu destruir.

E no fundo, sabia que se elas pudessem falar alguma coisa mesmo mortas, falariam que ela teve a morte mais honrada.

Não com essas palavras. Eram quebradas demais pra isso.

E agora eram 3 rainhas destruídas pelo próprio sangue Sakamaki.

Realmente, a morte devia ser a única saída digna daquele mundo.


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