Flashlight escrita por moreutz


Capítulo 1
Capítulo único




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Parte I

Fazia algum tempo que James não recebia sua família em sua casa durante o Halloween, e ele entendia isso. Após algum tempo com a correria da vida seja com a carreira de Harry e de Gina, ou até mesmo com a escola dos netos, ele sabia que era comum algumas tradições de antes substituírem outras, isso aconteceu com ele também e não é como se ficasse sozinho todo dia 31 de outubro, ainda conversava com seus melhores amigos mesmo que não estivessem mais fisicamente ali, e tentava visitar Alice e Frank em algum momento. 

Por ter passado os últimos dois halloween sem aparição de seu filho e netos, é que se assustou com a mensagem de texto de James Sirius avisando que ele e os irmãos passariam o final de semana junto dele e que estariam logo cedo no sábado na porta da casa - junto da mensagem o garoto havia enviado uma foto da nova carteira de motorista e que estava ansioso para levar o avô para passear. 

Apesar da animação de James para ver as três crianças que mais amava no mundo, ele se lembrou do péssimo anfitrião que era. Normalmente essas coisas ficavam na mão de Lily, de Alice, e depois de Remus e Tonks, enquanto ele e Sirius ficavam com alguma tarefa inútil para se convencerem que estavam ajudando. Portanto, logo que fechou o celular pegou um bloco de notas e uma caneta que estavam ao lado da poltrona em que estava sentado na sala e começou a marcar tudo o que conseguia se lembrar de comida que Six, Regulus e Lu gostavam. 

Pensou em como sua esposa saberia exatamente o que comprar e preparar para os netos sem precisar marcar um cardápio para as refeições em dois dias em que eles ficariam por ali, mas no momento em que isso passou pela sua cabeça seus olhos marejaram e afastou o pensamento. Lembrar que Lily nunca vira seu filho crescer, se casar, e ter outras crianças era doído demais. Lembrar que ele viveu uma vida sem ela por perto, e a culpa de ela ter ido no lugar dela era ainda pior. 

Durante anos Remus tentou convencê-lo a sair de casa e conhecer novas pessoas, e, inclusive, a mudar de casa, mas de nada adiantava. Algumas vezes ele falava que James vivia na negação e embora por muitos anos este tenha negado isso, de uns dez anos pra cá ele aceitou que mesmo depois de 40 anos ele nunca aceitaria a morte de sua esposa e amor de sua vida.

Sendo assim, já às 8 da manhã de sábado James contava com seus armários da cozinha cheios de salgadinhos e doces, e a geladeira com refrigerantes, sorvetes e algumas latas de cerveja para dividir com seu neto mais velho. Além disso, James avisara à Mary que as crianças estavam vindo e ela o convenceu a enfeitar a casa no estilo de dia das bruxas, com abóboras, fantasmas pendurados e outras coisas que acharam no quarto cheio de coisas de Lily - que adorava essas datas. 

— Lembra como ela enchia nossa paciência para virmos todos fantasiados? — Mary falou depois de sentarem na escada da porta de entrada. Os dois estavam tomando uma limonada que ela havia preparado. 

— Comecei a me fantasiar na semana do dia 31 só pra ela gostar mais de mim a partir do quarto ano. — James riu. 

— É verdade, você se vestiu de que mesmo naquele ano? 

— de Dumbledore, de Gomez da Família Addams, de zé colmeia, John Lennon, David Bowie, Village People e Homem Aranha. — Potter terminou a contagem de fantasias nos dedos e soltou uma gargalhada — Todo ano eu peguei castigo e depois de um tempo Minerva viu que eu não pararia e só me proibia de sair do meu quarto mesmo, mas valeu a pena pois todos os dias era um sorriso diferente.

— Depois disso você e os meninos começaram a combinar fantasias, né? 

— Sim, só que pra convencer o Sirius que não podíamos nos vestir de Abba todos os anos foi bem difícil. 

— E depois que você viraram um casal ela só queria fantasia combinando também, isso quando não encrencava com todo mundo vindo com roupa combinando. 

— As vezes eu penso no que ela e a Alice inventariam pro Harry e pro Neville, eu tenho pena só de pensar… — James pensou nas fantasias desastrosas que ele, Remus, Mary e Dorcas tentaram vestir os dois meninos pequenos para manter essa tradição viva.  

— Com toda a certeza algo bem melhor do que fizemos os coitados passarem, porque eu sinto muito, Jay, eu amo eles como minhas crianças e posso até ter foto dos dois por toda minha casa, mas não acertamos uma vez nas roupas. Até o uniforme de Harry você conseguiu rasgar logo depois que comprou.

— Eu tenho sorte da Molly ter entrado na nossa vida, porque a adolescência do meu filho já não foi das melhores, sem ela iria ter sido basicamente nós quatro contando histórias absurdas pra ele, pois você e Dorcas não eram o melhor exemplo maternal do mundo. 

— Estou ofendida! — Mary colocou a mão no peito esquerdo — Mas é verdade, eu queria que Molly fosse minha mãe. E olhe que ela ainda me envia suéteres de natal.

Os dois riram bem a tempo de ver o carro de Harry parar no portão de casa, e James sentiu seu corpo se aquecer e seu sorriso abrir mais ao ver seu filho saindo do carro com o rosto alegre e acenando, ainda parecendo aquele garoto de 11 anos que acenou para ele do Expresso de Hogwarts a caminho para o seu primeiro ano na escola de magia e bruxaria que ele sempre ouvira falar de seu pai e tios. 

Ele sempre fez de tudo para que Harry potter não crescesse sem ter uma infância normal, pois sempre soube que os boatos sobre O menino que sobreviveu não seria algo fácil de conter, e com a ajuda dos amigos que ficaram ao seu lado, ele conseguiu se virar sem Lily, mas nada nunca conseguiu substituir o que seria ela ali. 

Mesmo assim, ver seu garoto - garotinho, como ele ainda falava - bem e com uma família formada era o número um na lista de maiores feitos que James Potter havia feito em sua vida, pois ele era babão desse jeito. 

Logo atrás apareceu uma Gina com cara brava para o filho mais velho, que continha a mesma expressão - provavelmente por não ter vindo dirigindo - e um Regulus Arthur e Lily Luna rindo baixo do irmão. Enquanto eles pegavam as mochilas no porta malas e abriam o pequeno portão, James e Mary se levantaram e a mulher entrou para dentro da casa para guardar a jarra e os copos e arrumar a mesa para o café. 

James Sirius entrou primeiro e Harry bateu na cabeça do filho para que ele sorrisse, o que só piorou o humor do adolescente com ego ferido o que fez com que o avô risse e abraçasse o neto logo de primeira.

— Por que essa cara, Six? — James tinha muitos problemas com os nomes de dois de seus netos, isso porque toda vez que usava o apelido para o neto via a cara de seu melhor amigo nele, e sempre que falava com sua neta via o rosto de Lily. E era impressionante como os dois eram parecidos com ambos em certas coisas.

— Meu pai não confiou que eu conseguia vir dirigindo. — Ele abraçou o avô de volta — Você encolheu, vô? 

— Isso é para eu te falar que você cresceu? 

— Você percebeu também? Me falaram mesmo… — O garoto abriu um sorriso convencido. 

— Você não tem vergonha nenhuma, né? — James pensou em como ele e Sirius na mesma sala seriam um perigo. 

— Eu falo pra Gina como ele e Sirius falam iguais, mas ela não acredita na minha teoria de que ele é a reencarnação dele. — Harry falou e colocou uma caixa de comida para o almoço que estava segurando — Que saudade, pai! 

Os dois se abraçaram e James aproveitou cada momento daquilo. Não era como se fizesse mais de um mês que eles não se viam, mas como eram tão próximos, ficar mais de alguns dias sem o filho ali ainda era estranho para ele, principalmente com Harry ter sofrido todo tipo de perigo durante boa parte de sua vida. Por muitos anos James teve de conviver com o medo constante de ficar sozinho por completo nesse mundo, e o garoto - ou homem - à sua frente era o que o mantinha são.

Se separaram e Harry voltou a falar:

— Lily Luna nos lembrou no começo da semana como faziam dois anos que não passávamos o Halloween em volta da fogueira aqui em Godric’s Hollow ouvindo histórias, e, bem… Gina lembrou que fazem 40 anos amanhã. — Ele desviou o olhar do pai, mas este percebeu os olhos marejados e tocou no ombro do filho. 

— Estou muito feliz que vocês vieram.

— Podemos falar com o vovô ou é só você? — uma Lily Luna de 1,50cm com 13 anos batia o pé impaciente e com as duas mãos na cintura, enquanto Regulus fazia sinais e mexia a boca para falar que a irmã estava brava.

— Venham aqui! — James abraçou os dois mais novos — Como vocês estão? 

— Bem! Você sabia que eu aprendi novos feitiços? Se eu pudesse eu te mostrava mas tio Neville disse que se usar feitiço fora da escola eu vou presa então acho melhor evitar isso por agora, talvez só quando eu for mais velha que eu já vou saber me proteger, né? A Mary fez bolo? Tô sentindo cheiro de chocolate. O que tem lá dentro? Você tá bem, vovô? Sabia que esses dias eu vi uma foto do Remus na escola? Teddy estava lá na frente dela e aí eu fiquei sentada com ele quietinha por um tempo, eu acabei pegando um castigo porque pedi aula, mas valeu a pena porque aí ele me comprou um monte de doce depois em Hogsmeade e eu fiquei acordada a noite toda de tanto açúcar. 

— Ela fala assim o dia todo. — Regulus falou pro avô, aproveitando que a irmã tirou uma pausa para respirar. 

— A culpa não é minha que tenho muito para contar, minha vida não é parada igual à sua, Regulus, eu sou uma garota popular cheia de histórias para compartilhar. Quando eu for mais velha vou ser mais ainda e você vai continuar trancado em casa fazendo drama. — Lily olhou brava para o irmão pouco mais alto que ela. 

— Quando eu for mais velho vou fazer uma medida restritiva pra você não chegar a menos de 50 metros de mim, Lilu. — O garoto bagunçou o cabelo da irmã, que deu um soco na costela do irmão. 

— Por Merlin, vocês não estão aqui a mais de 20 minutos e já tem uma costela machucada? — Gina Potter se aproximou com um garoto de cabelo lilás logo atrás de si, e James abriu um sorriso, Teddy Lupin era a perfeita mistura entre Remus e Tonks,  com suas expressões divertidas e alegres, e um olhar sensível e profundo. — Ele já te cansaram, James?

— Acho que aguento mais uma semana, eu passei minha adolescência com Frank, Sirius e Remus, Gina. Não me subestime! — Ele abraçou a nora. — Podem ir entrando, eu já vou. 

— James, sinto muito… queria ter conhecido ela. — Gina disse baixo para o sogro. 

— Ela teria te adorado, e com certeza falaria muito mal de mim e de Harry, sempre te falo isso. 

— Queria ter alguém pra reclamar de Harry, minha mãe não aceita nenhuma crítica a ele. — o homem riu e Gina entrou na casa seguida dos dois filhos. 

— Não sabia que viria. — James se aproximou de Teddy Lupin. 

— Harry me avisou ontem que apareci na casa dele e perguntei se poderia vir, precisava ver você e ouvir algumas histórias bestas sobre meus pais e todo mundo. — ele estendeu a mão que continha um embrulho. — Pra você. 

— O que é? 

— Abre.

James cuidou algumas vezes de Teddy quando era mais novo, como dias em que Andrômeda precisava resolver alguma coisa e Harry não conseguia, e depois de algum tempo o próprio pedia para ficar com ele. Ter uma combinação de seus dois queridos amigos era algo inesperado e bom demais de ter por perto e Teddy e James sempre se divertiam juntos, e acabaram criando um grande vínculo.

Potter abriu o embrulho e se deparou com uma pintura com todos seus amigos. Conseguia identificar Remus lendo um livro embaixo de uma árvore enquanto Sirius jogava pedrinhas nele; Marlene voando na vassoura; Alice suja de terra procurando por alguma planta nova; Frank jogando balas na boca de Mary enquanto Dorcas marcava ponto e um pouco mais ao fundo Lily treinando seu patrono enquanto o próprio James estava sentado admirando. 

Ele não esperava nada daquilo. Não esperava que Teddy, mesmo sem ter conhecido quase ninguém dali, conseguiria passar a exata imagem de como todos eram. 

James havia se segurado durante toda a semana, mas naquele momento seus olhos marejaram tanto que lágrimas grossas escorreram por seu rosto e a única coisa que o garoto à sua frente soube fazer foi abraçá-lo.

Mesmo com as lágrimas, ele pôde perceber que não era a tristeza mostrando sua cara, e sim uma estranha felicidade de saber que sua família continuava sendo lembrada e amada apesar de tudo. Aquilo compensou todos os pensamentos que havia tido nas últimas semanas e o preparou para um final de semana cercado de amor e histórias.



Parte II

— Ok! Então deixa eu ver se entendi, você e Roxanne fizeram os travesseiros da grifinória e da lufa-lufa explodirem? Como? — James perguntou para James Sirius tentando conter um pouco sua curiosidade e sem deixar mostrar seu orgulho e um pouco de ressentimento por nunca ter pensado nisso. 

— Não posso contar, é segredo. — O garoto fez um sinal na frente do coração com um sorriso de lado — E além disso, mamãe fica brava de lembrar disso. 

— Isso porque fui eu e seu pai que recebemos uma carta de urgência durante a noite para irmos até Hogwarts discutirmos o futuro de nosso filho mais velho. — Gina, que estava passando manteiga no pão, apontou a pequena faca para o jovem. — Eu juro, James, eu amo você e amava o Sirius, e quando Harry me disse para colocarmos o nome de vocês eu pensei ‘’Ok, uma homenagem para quem amamos.’’, mas nunca pensei que ele seria vocês dois em apenas um. 

— Bonito, engraçado, inteligente… Eu herdei tudo de bom. 

— O ego também. — Harry falou. 

— E você, Regulus? Como está indo? — O avô olhou para o neto do meio que estava quieto até então, não que ele fosse de falar muito, mas não havia feito nenhum comentário sobre como seu irmão o irritava e isso era algo inesperado. 

— Não muito bem… não gosto muito das aulas desse ano. 

— Ele vive na biblioteca tendo ajuda da Dominique e do Scorpius porque tá todo atrapalhado nas coisas. — Lily Luna falou um pouco mais baixo, e tapando a boca para o irmão não ver, enquanto o mesmo revirou os olhos. 

— OLHA QUEM FALA! VOCÊ TÁ POR POUCO EM 3 MATÉRIAS. 

— VOCÊ É UM FOFOQUEIRO SABIA DISSO? NUNCA MAIS TE CONTO NADA. AQUELE PACTO DE IRMÃOS ACABOU! 

Os dois continuaram a gritar por um tempo, e a família acostumada com isso sabia que em poucos segundos os dois se acalmariam. Lily e Regulus eram muito próximos desde pequenos, mas isso não impedia as constantes gritarias um com o outro e as pazes logo em seguida para irem fazer algo juntos. 

Quando pararam de gritar, Regulus retornou a falar com o avô:

— Mas apesar do que a minha IRMÃ fala, eu consigo ir bem, e Alice às vezes me ajuda em matérias que Dominique e Scorpius não sabem, porque ela é a mais inteligente da escola praticamente. — O garoto deu um sorriso e ninguém, além de James, percebeu, e manteve essa informação com ele. 

— Pelo menos EU não tenho ido bem porque EU passei para o time de quadribol, Regulus Arthur! — Lily Luna rebateu o irmão. 

— Isso não é desculpa, sua mãe também jogava e ia bem. — Harry falou. 

— E o senhor? — a filha o olhou com um olhar intenso. 

— Eu sou seu pai, e não te interessa. Você tem de ir bem, se não tá fora do time. — Ele disse e a filha revirou os olhos.

James olhou a mesa cheia dos que ele amava antes de se levantar para ir andar pela vizinhança e resolver alguns assuntos. Sorriu, pois nunca se cansava disso, e pensou que se por um acaso ele fosse um mero personagem de uma história, o leitor se cansaria de tantas vezes em que ele acaba sendo melancólico e fala sobre amar aquelas pessoas tanto assim. Lily o chamaria de dramático sem pensar duas vezes e sairia espalhando por aí que ele chora toda noite no banho - era incrível como lembrar dela ainda doía. 

Se despediu de todos e prometeu que estaria de volta antes das 16:00, passou a regra de não quebrar nada (porém sabia que ela nunca era cumprida e em um dia lá pelo menos três objetos acabavam no chão, ou, como em algumas vezes, na parede em brincadeiras dos netos).

— Eu até falaria para fulano ficar no comando mas eu sei que nenhum presente aqui tem essa responsabilidade então apenas estou confiando muito em vocês para não colocarem fogo na casa. Inclusive, sem tentar fazer a fogueira, ok? Da última vez nosso garoto aqui quase ficou sem braço e Harry sem cabelo, e isso não seria bonito. — Ele disse com as mãos no ombro de Teddy que riu. 

— Ei! Eu estou aqui! — Mary falou.

— Eu sei disso, e não muda nada do que falei. — Ela ameaçou jogar um copo em James, mas ele foi mais rápido e saiu da cozinha 

— Até, pai. — Harry disse rindo. 

 

Parte III

— Achei que tinha sido morto! — Mary gritou da porta da casa enquanto James fechava o portão atrás de si. 

— Já passamos dessa fase, Mary, se lembra em que ano estamos, né? 

— Cala a boca. — Ela ajudou ele com as compras — É que estão desesperados para acenderem a fogueira. Segundo a Lily e o Regulus, se eles não acenderem ela logo eles irão desmaiar. 

— Lily provavelmente diria algo como…

— ‘’Desmaiem agora, eu duvido! Se acontecer mesmo eu compro algo que vocês querem muito.’’ — a mulher disse rindo — Eu lembro. Ela usou essa tática com todo mundo, sua esposa era má. 

— Demais.

Eles entraram na sala a tempo de ouvir um James Sirius anunciar para o quintal ‘’ELE CHEGOU’’ seguido de gritos de comemorações dos outros mais novos enquanto Teddy chamava-o de volta com algo que estava na mão - o celular dele. 

— Os boatos são verdadeiros: eu voltei. — James abriu os braços e um sorriso. 

— FOGUEIRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. — Lily gritou. 

— Tonks com certeza iria rir muito dessa garota. — Harry falou enquanto ajudava o pai a pegar as madeiras e outros materiais para começarem a acender a tão esperada fogueira. 

— É por isso que quando me sinto meio pra baixo apenas ligo para falar com ela, 5 minutos no telefone eu já dou muitas risadas. — James falou. — Teddy, vem ajudar. 

— Pera aí. — O garoto respondeu sem desviar os olhos da tela do celular. 

— Ele tá ocupado falando com a Victorie… — Jaysix disse em tom fino. 

— Isso é inveja porque a sua namoradinha nem liga pra você? — Teddy respondeu o garoto. 

— Não tenho namorada. 

— Não mesmo, ela nem sabe quem você é. 

— AH É? Pois…

— Parem os dois! — Gina gritou — Teddy, Torie aguenta alguns minutos sem falar com você, e Sirius, todo mundo sabe que é a Alice. Agora vão ajudar seu avô!

— Tudo bem. — Os dois responderam em uníssono, mas dando umas empurradas leves entre si. 

James ficou confuso com a informação sobre o neto, principalmente pela reação de mais cedo com Regulus envolvendo a mesma garota, mas não é como se eles e os amigos não tivessem se interessado pela mesma pessoa antes.

Algum tempo se passou até conseguirem fazer com que ela acendesse e permanecesse naquele aspecto, e nesse tempo o céu escuro da noite já se mostrava, junto de algumas estrelas. 

Os outros haviam preparado as comidas para comerem e a mesa com as bebidas, com a regra de que Sirius e Teddy poderiam beber um pouco de álcool se quisessem, seguido da reclamação de Regulus sobre como aquilo era injusto e os dois mais velho implicando com ele por conta disso. 

Se acomodaram e começaram a conversar, rir, e James, mais uma vez pensou em todos Eles, e em especial Nela, se perguntando se estariam vendo aquilo de onde quer que estivessem, ou se até mesmo eles estariam ali entre eles fazendo alguma brincadeira, careta ou coisa assim.

Seu celular apitou com uma mensagem de Neville pedindo desculpas por não ter conseguido aparecer, mas que estavam na casa dos pais de Anna e assim que desse ele iria visitá-lo. James respondeu que não era pra se preocupar mas que sentia sua falta ali. 

Havia visto Neville crescer de perto junto de Harry, principalmente porque Augusta o deixava por lá para resolver coisas e no início, visitar Alice e Frank. Não era fácil ainda fazer isso, mas devia isso a eles, e era engraçado ver como Neville permaneceu como seu pai até seus 17 anos, e a partir disso se transformou completamente em Alice, sua segurança, sua sensibilidade para tratar com as pessoas e plantas, sua força para ir atrás do que sempre acreditava. Era como se ela estivesse sempre ali escondida nele mesmo sem terem conversado de verdade algum dia. 

— E você, vovô? — Percebeu a voz de Lily Luna ao longe e pediu para que ela repetisse a pergunta. 

— Qual foi a maior vergonha que passou em toda a sua vida? 

— Essa é difícil, pois já passei por várias, e acho que se eu contar aqui darei ideias a você e não quero que a mãe de vocês brigue comigo depois. — Ele olhou para Gina que levantou as mãos em forma de rendição como se dissesse ‘’Conta, o que posso fazer?’’ — Ok, sinal positivo. A primeira que me veio à cabeça foi uma vez no último mês do meu sexto ano, eu já estava saindo com Lily mas ela ainda implicava comigo e fazia questão de deixar o máximo possível em segredo, apenas nossos amigos mais próximos sabiam de tudo. — Ele riu de lembrar nos esconderijos em que se metiam quando alguém estava por perto — A verdade é que ela já completamente apaixonada por mim pois havíamos passado os últimos seis meses juntos como monitores, mas não admitia isso, e como sabem, o melhor amigo dela, Remus, era um dos meus melhores amigos. Por algum motivo que eu não lembro bem, ele propôs que eu completasse 5 tarefas para provar que eu era digno de namorar ela, e é óbvio que Lily Evans, sendo quem era, adorou a ideia. Eu juro para vocês, o olho dela brilhou tanto enquanto ela ouvia as tarefas e, principalmente o castigo que eu sofreria se não cumprisse tudo como deveria, que por um momento eu temi pela minha vida. 

— Vocês riem mas é que nunca viram aquela mulher nesse estado que James está contando, era assustador. — Mary tentou manter o rosto sério. 

— Eu não lembro muito bem as atividades mas lembro que roubei em 4 de 5 delas, e, bem, enquanto eu e Sirius juramos por tudo que o trio mais inteligente da escola não descobriria, comemoramos, mas logo fomos surpreendidos com Remus entregando a data e o horário em que eu cumpriria o castigo. — James começou a rir desde aquele momento — Oh, eu não contei o que era, hm? Eu teria de dar uma volta completa no Salão Principal durante o jantar sem roupa alguma. — Todos começaram a rir — E por um momento eu pensei ‘’Eu realmente vou arriscar ser expulso quase no meu último ano?’’ e então o lado mal da minha cabeça, que eu gostava de chamar de Sirius Black, falou no meu ouvido ‘’Cara, isso é um castigo? Que coisa incrível! Vai ser lembrado pra SEMPRE!’’ e eu e ele tínhamos essa coisa de ficar marcado e quando eu vi eu estava de frente para ele treinando frases de motivação enquanto Lily conferia o relógio de Alice para o horário das 19:00, que eu entraria. — Ele respirou pois falava em meio a risadas própria e dos outros — E quanto entrei, corri tão rápido, mas tão rápido que Minerva não sabia o que fazer e Dumbledore apenas fez um movimento com a mão para deixar continuar. Lembro que Frank começou a gritar várias coisas e o único momento em que parei foi perto de ranho-... Snape para falar algo não recomendado para crianças. 

— Lembra o que Minerva te disse depois? — Mary falou. 

— ‘’Vou poupar minhas forças de dar um castigo dessa vez, Potter, pois de alguma forma nessa você se superou e até fiquei surpresa que Sirius não estava junto.’’ e seguido disso ‘’Senhor Black, por favor, não comece a tirar as suas roupas ou senão irei expulsá-lo. Não abuse da sorte.’’ — James havia ajeitado a coluna para imitar a sua antiga professora. 

— E é por isso que você e seus amiguinhos nunca chegarão no nível Deles. — Teddy encarou JaySix ao seu lado.

— Conta alguma que você não contou pra gente ainda, vai. — Lily continuou pedindo. 

— Certo, já contei da vez em que Sirius deu uma vassoura pequena para Harry e ele se machucou, mas a avó de vocês estava fora na época e eu só podia contar com o socorro de Remus e Sirius então na hora liguei para eles pedindo ajuda, mas digamos que, mesmo que Remus fosse o mais cuidadoso, ele não era totalmente assim e Sirius nem preciso dizer. — Viu Gina bater na própria cabeça enquanto ria. — E bom, além da famosa cicatriz de raio, Harry também tem uma perto da orelha e outra na barriga. Isso porque na tentativa de cobrir os machucados originais, deixamos ele cair mais duas vezes e de algum jeito Sirius conseguiu contar a criança com a unha. Até tentamos disfarçar e eles ficaram em casa comigo, e o engraçado é que enquanto machucamos mais ainda meu filho, ele só dava risadas e Remus falava ‘’É uma coisa boa né? A gente só ri quando tá bem.’’ e Sirius respondeu ‘’REMUS ESSES DIAS ELE TAVA RINDO DE UMA CRIANÇA CAINDO NA CALÇADA, OU ELE NÃO SABE O QUE FAz OU TEM ALGO MUITO ERRADO COM ESSE MENINO!’’

 — Isso é digno de algum roteiro de filme. — Gina falou rindo.

— Eu também acho, só sei que, de novo e como nunca aprendíamos, juramos por tudo que Lily nunca perceberia nada e logo que ela entrou já disse que algo de muito errado havia acontecido ali. Ela me colocou de castigo por 15 dias de não poder brincar com o Harry sem supervisão, e o castigo dos outros dois era que não poderíamos nos ver por uma semana. Sirius me ligava todos os dias para falar que estava com saudades. 

— O mais engraçado disso é que quase todo mundo era vizinho e ele poderia ter pedido pra mim, pra Emmeline, até para o Frank, mas só pensou nos dois patetas. 

— EI! Eles sempre estavam ali para mim! E Sirius era o padrinho, o mínimo que eu esperava era saber cuidar de criança. 

— Você é o pai, James…

— Detalhes. 

— James, será que poderia contar, de novo, o pedido de casamento de vocês? — Gina perguntou. Ela adorava aquela história, a primeira vez  que havia ido na casa deles, ainda como amiga e irmã de Ron, disse que queria viver uma história de amor tão bonita como aquela.

— Claro! Vamos ver… Eu sempre gostei de brincadeiras e charadas, e naqueles tempos eu estava muito entretido em caças ao tesouro, enigmas e coisas do gênero, então em uma brilhante ideia de madrugada planejei todo o painel que faria para que Lily seguisse, tudo cheio de significados, como nossos encontros mais marcantes, nosso primeira missão da ordem juntos, nosso primeiro beijo e diversas outras coisas até que eu sabia da história dela e piadas internas nossas. Fiz um mapa com legendas, planejei as pistas que colocaria nos lugares e iria pedir ajuda de manhã para os outros e para pedir segredo também. 

— Eles sabem daquela parte principal, né? — Mary perguntou. 

— Oh, é verdade. Sirius sempre foi um fofoqueiro e nunca conseguiria guardar um segredo, então contei algo específico para ele que não contei para os outros para, de propósito, ele entregar a parte principal do plano para Lily. — James achava cômica essa situação — E após dias de preparação, com o anel perfeito para ela, que tinha um tom avermelhado bem fraco e com um lírio pequeno na ponta, e todo um discurso pronto no bolso para caso eu travasse e esquecesse todas as palavras como normalmente acontecia quando eu estava perto dela. 

— Vovó te deixava nervoso assim? — Regulus perguntou. 

— Muito! Desde o primeiro dia na estação, eu só soube esconder bem algumas vezes. — Ele pôde ouvir os amigos rindo de algum lugar falando ‘’Espero que a Mary conte a verdade pois esse é um mentiroso!’’ e quando olhou para a amiga ao lado ela realmente estava com um olhar desconfiado. — Ok, nem tanto, mas eu me esforçava! Continuando… Tudo estava a postos e uma hora depois recebo um berrador de Lily Evans e do nada fico extremamente confuso. Um milhão de coisas aparecem na minha cabeça, principalmente a que ela havia descobrido que era um pedido de casamento e não havia gostado e estava terminando comigo, e me tomou coragem, e um Frank batendo na minha cara, para me fazer ter coragem de abrir o envelope e logo a voz dela estava gritando na minha cara:

‘’JAMES FLEAMONT POTTER COMO SE ATREVE EM UMA ÉPOCA COMO ESSAS ME ENVIAR UM BILHETE ESCRITO ‘POR FAVOR VENHA ME ENCONTRAR NA ESTAÇÃO ONDE NOS VIMOS PELA PRIMEIRA VEz. SEM PERGUNTAS, É URGENTE COMO QUESTÃO DE VIDA E MORTE, NÃO TRAGA NINGUÉM JUNTO.’ TEM IDEIA DE COMO ESTOU, JAMES? CHOREI O CAMINHO TODO PARA CHEGAR AQUI E REVIRAR TUDO E NÃO TER NINGUÉM. VOCÊ ESTÁ FALANDO SÉRIO COM ISSO? É BOM VOCÊ ESTAR MORTO JÁ, POIS SE NÃO ESTIVER VAI MORRER DOLOROSAMENTE NA MINHA MÃO, SEU MALUCO!’’

Todos da fogueira, inclusive James, riam falando como ainda não acreditavam nesse bilhete. 

— Eu ainda não sei o que passou pela minha cabeça de mandar algo daquele tipo, mas Frank incorporou o berrador e começou a gritar comigo na mesma proporção que minha até então namorada havia feito. Passado o momento fui atrás de descobrir onde ela estava, e com a ajuda dos outros achei ela perto do bosque de Hogwarts, onde senti que ela correspondia meus sentimentos e pela primeira vez ela havia me dado um abraço. O rosto dela ainda estava vermelho do choro e tomei cuidado ao chegar perto para não ser azarado ou coisa pior até que ela falou:

Vim continuar seu estúpido mapa ao tesouro que eu só descobri que era um mapa há pouco. Até que as dicas estão boas.

Se lembra o que aconteceu aqui? — me aproximei devagar. 

Você completamente apaixonado por mim, como sempre. 

Tente de novo. 

A primeira vez que te abracei… — ela também foi se aproximando.

E…? 

Quando percebi que estava começando a ter estúpidos sentimentos pelo estúpido do Potter. — ela abriu o sorriso que eu mais amava no mundo e olhou nos meus olhos.

Eu sempre soube dos meus sentimentos por você, Evans. Alguns momentos acabei me perdendo, mas sempre soube que aquilo por você era verdadeiro e a cada dia que passamos juntos me dá a certeza disso, e como nunca quero perder isso, nunca quero perder você, meu lírio. — Estávamos mais perto um do outro e consegui dar um beijo em sua testa. 

O mesmo para você, James… Você é o algo que quero por toda a minha vida. 

Fico feliz de saber disso pois… — fui me ajoelhando enquanto ela falava vários ‘’não’’ 

Lily Marjorie Evans…

VOCÊ TÁ MESMO FAZENDO ISSO?

Vossa senhoria me daria a honra…

James Potter se isso for for uma brincadeira estúpida sua eu juro por tudo do universo que eu te caçarei e te matarei. 

DE SER MINHA ESPOSA, PARCEIRA E MÃE DOS FUTUROS FILHOS QUE TIVERMOS? Você não me deixa terminar. — abri a caixinha com o pequeno anel. 

SIM SIM SIM SIM SIM É CLARO QUE SIM, JAMES! — Ela pulou em mim e caímos na grama abraçados. Mais tarde fomos para casa e comemoramos com os nossos amigos e avisamos nossas famílias. Naquele tempo as coisas boas acabavam sendo raras mas tentávamos continuar vivendo normalmente, e o tempo que vivi com Lily, por mais que tenha sido pouco, valeu pela minha vida toda pois não teve um dia desde o ano de 1971 em que ela não clareava todo o ambiente em que estava com seu jeito de ser. Nos casamos depois de um mês e no final do casamento acabamos em volta de um fogueira nessa mesma casa, e brinco com a Mary as vezes que se ficarmos bem quietos conseguimos ouvir eles aqui com a gente comemorando tanto no passado quanto agora. Lily recontando essa história da forma dela abraçada nos netos, Sirius passando escondido bebida para os meninos, Remus puxando a orelha dele enquanto Marlene se encarrega da função naquele momento. Frank cuidando de uma Alice que bebeu demais e começou a chamar as garotas para cantarem alguma música do Abba e Dorcas rindo de tudo do canto e conversando com Gina sobre quadribol. 

Todos ficaram quietos por um tempo, tentando observar e sentir o que James acabava de descrever, todos com os olhos marejados mas com um sorriso no rosto. 

— Sabem… Hoje fazem 40 anos desde que o amor da minha vida se foi e me deixou aqui com um filho maravilhoso, e embora não tenha um dia que eu não chore quando olho para as fotos dela, eu não tenho nada a reclamar pela família que tenho. — James fez uma pausa recuperando o ar — Já perdi muita gente dessa minha grande família, mas estar aqui com vocês hoje podendo passar as coisas que já aconteceram ao lado deles e principalmente ao Dela, é o que me deixa melhor para continuar. 

Harry abraçou o pai e James se levantou anunciando que iria ao banheiro. 

No caminho, pegou a pintura que ganhou de Teddy e foi até a lareira da sala, tirou dali o velho retrato que uma vez todos tiraram como a Ordem, que embora estivessem todos, não mostrava a verdadeira energia e felicidade de seus amigos e pendurou aquela nova e boa lembrança para sempre lembrar de onde veio e quem o acompanhava mesmo depois de tanto tempo.

Logo ao lado o retrato de Lily no dia de seu casamento rindo e piscando um olho para a câmera que escondia um James de 20 anos e um pouco mais a direita um complemento dessa cena que era Remus e Sirius correndo até ela e a derrubando na terra úmida de outono com o vestido branco se transformando em marrom. E, embora a foto não tivesse uma cor tão nítida, tudo ainda era claro na mente de James. 

— Todos os dias é como se você ainda estivesse aqui, Lil… Sinto sua falta. 

James beijou o retrato e voltou para os que ainda estavam ali, deixando todos os seus amigos e esposa dançando e rindo por todos os cômodos de sua casa. Eternizados com toda a alegria e amor que sempre mereceram.


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