Memories escrita por Morgan


Capítulo 1
U: hold on to the memories.


Notas iniciais do capítulo

Oioi! Antes de tudo quero agradecer (de novo) a Trice por ter betado e me assegurado que a história estava boa, tudo em cima da hora pq eu só terminei de escrever ontem hahaha, também quero agradecer aos adms do projeto que tá deixando esse mês de outubro muito mais bonito com os primeiros soulmates de Harry Potter! Não há nada acima de James Potter e Lily Evans, e é por isso, também, que eu quero dedicar essa história a Carter.

Amiga, não sei se você vai ler, mas ela surgiu (de verdade), porque você disse que sentia falta de Jily no canon. Ando adotando muito o universo alternativo no que escrevo, mas compartilho da sua saudade. Fico devendo a Olivia Kim e o James Sirius (que ainda virão!!), mas por enquanto, espero que isso seja o suficiente ♥

Boa leitura!



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James Potter nunca teve uma boa memória. Haviam sido incontáveis as vezes que ele perdera a própria pena e tinha que pegar a de Peter emprestada – algo que não incomodava nenhum dos dois, afinal, Pettigrew raramente a usava durante a aula. James era o tipo de pessoa que se esquecia do próprio almoço assim que a comida sumia do prato. Isso nunca foi um traço de personalidade tão bom, pois, embora gostasse de matar aulas com Sirius Black e fingir que não se importava, James gostava, muito mais do que seria capaz de admitir, de tirar notas boas e de ser aquele estudante que ninguém acreditava ser bom, mas era. Gostava de ser mais do que apenas o apanhador incrível da Grifinória – que ele sabia, sem modéstia alguma, que era. Mas ser assim o custava mais do que as pessoas imaginavam. O conteúdo das inúmeras disciplinas que tinham não ficava gravado em sua mente facilmente, eram o resultado de noites e noites de estudos ao lado de Remus. James sabia que valia a pena. Gostava de pensar que não estava apenas decorando e, sim, aprendendo. Mesmo que essa frase fosse extremamente clichê e ele soubesse que jamais diria em voz alta para ninguém.

Contudo, James estava aprendendo e ninguém poderia negar, fora assim que conseguira se tornar animago ao lado dos melhores amigos com apenas 15 anos, então ele não se arrependia de nenhuma noite em claro.

Em resumo, James Potter nunca teve uma boa memória. Esquecia com facilidade a história daquele bruxo importantíssimo para a História da Magia, esquecia os seus livros no dormitório e, certa vez, conseguiu até mesmo a proeza de deixar o seu uniforme em casa, descobrindo apenas no primeiro dia de aula, o que fez com que tivesse que usar as roupas de Remus emprestadas, que não ficaram tão bem assim, já que sempre fora o mais alto dos amigos. Para não ser um incômodo constante, James começou a usar uma agenda onde anotava os seus compromissos e as coisas que precisava fazer; quando viajava, inclusive, montava um checklist obrigatório para revisar a sua mala. James se esforçava.

A única coisa que James nunca precisou se esforçar para lembrar era dela. Lily Evans.

Não importava o que, quando ou como, se Lily estava envolvida, James se lembraria. Algumas pessoas pensavam que eles haviam se conhecido no dia da seleção, quando Lily foi colocada na Grifinória depois dele, mas estavam errados.

Nada no mundo faria James esquecer da primeira vez que vira Lily. Estava nervoso, tão nervoso que as palmas de sua mão suavam frio enquanto ele entrava no expresso de Hogwarts pela primeira vez. Sempre quisera ir para Hogwarts, porém, isso definitivamente não significava que aquela não era a experiência mais assustadora do auge dos seus 11 anos. Queria correr até os seus pais, que ele sabia que ainda estavam na plataforma, esperando o trem partir, no entanto, não podia. Sabia que não. Deveria ser corajoso. E James Potter era corajoso, sempre havia sido. Sempre seria.

Estava olhando pela janela da cabine quando a porta deslizou e ela apareceu pela primeira vez.

— Oi! Essa cabine está ocupada?

A voz melodiosa de Lily o fez se virar. Ela tinha um sorriso amigável e animado no rosto e os seus olhos eram tão verdes que fizeram James se perder por um momento. É claro que ele não percebeu na hora que, naquele exato momento, algo havia se revirado dentro dele também. James negou com a cabeça, abrindo a boca para dizer em voz alta que não, que estava sozinho, mas outra voz distante chamou a atenção da garota, que prontamente se afastou da porta para ouvir o dono dela direito.

— Lily, essa cabine está vazia! Vamos nos sentar aqui!

Ela assentiu e James já estava pronto para se virar e continuar a sua viagem sozinho quando a garota enfiou a cabeça dentro da cabine novamente com um sorriso ainda maior.

— Meu amigo encontrou uma cabine ali na frente, mas obrigada – ela suspirou, olhando em volta, parecendo maravilhada. – Estamos indo para Hogwarts! Uma escola de magia! Meu Deus... – Lily riu, balançando a cabeça como se negasse as próprias palavras. – Vejo você lá. Boa viagem!

James não passou muito tempo sozinho depois disso. Após poucos minutos, a cabine fora ocupada por Sirius e Remus, um depois do outro, o que foi maravilhoso, porque James sempre acreditou que as melhores amizades de Hogwarts aconteciam ali, no trem. Durante as oito horas de viagem até o castelo, James se permitiu ter no olhar a mesma fascinação e leveza que a garota ruiva o havia mostrado apenas por estar naquele trem indo para o desconhecido.

Essa foi a primeira vez que ele a viu. A segunda foi na mesa da Grifinória quando ele finalmente descobriu o nome dela e pôde dizer o seu também.

James poderia esquecer de tirar os seus óculos na hora de tomar banho, mas jamais esqueceria do aperto de mãos, firme demais para uma garotinha tão pequena, que deram naquele dia. Sabia que Lily o havia odiado por muito tempo e, se tivesse que ser sincero, entendia-a. Contudo, ele nunca a odiou. Nunca nem sequer se irritou com ela, nem mesmo quando a ruiva gritava, no meio do jardim, que o Potter não tinha cérebro. Não a julgaria, pois sabia que, até os 15 anos, tudo que sempre soube fazer fora perturbá-la para conseguir nem que fosse apenas um revirar de olhos. James provavelmente era o único que sabia o quanto Lily Evans ficava linda quando estava irritada.

Ela começava apertando o rabo-de-cavalo que sempre usava durante as aulas, pois os cabelos soltos a distraíam. James agradecia por isso; Lily de cabelos soltos também o distraía. E, então, cruzava os braços antes de olhá-lo de lado e revirar os olhos. Foi apenas aos 15 anos que James percebeu que precisava de mais do que isso. Foi quando os seus pedidos por um encontro começaram. Evidentemente que cada um deles foi negado. No começo, ele pensou que fosse por Snape. Sabia que, por algum motivo desconhecido, o garoto era o melhor amigo de Lily e ele e James tinham a sua cota pessoal de desentendimentos, assim demorou um certo tempo para aceitar que o motivo das recusas de Lily Evans eram apenas... ele mesmo.

James nunca se viu como um problema. Tinha uma autoestima boa demais para isso. Era bonito, divertido, inteligente e quase todas as garotas gostavam dele.

Durante o sexto ano, Remus já estava muito mais próximo de Lily graças à monitoria conjunta dos dois e foi esse o seu ponto de ignição. Remus conseguia fazer até o mais desatento dos amigos entender quando estava errado, e foi o que fez com James, quando entendeu porque Lily o rejeitava todas as vezes.

— Sei que Potter não é uma pessoa ruim, Rem. Acho, sim, que as brigas dele com Severus eram idiotas demais na maioria das vezes, mas entendo o lado dele. Sei que as coisas que Severus fala são erradas e que... bem, que nem todos tiveram tanta paciência quanto eu tive. Mas não é por isso que não quero sair com ele.

— Por que então?

— Ele é muito imaturo. Não combinamos. Tudo que ele faz é me irritar para chamar minha atenção há anos. Acha que eu não percebi? E outra, já vi garotas demais chorando por ele pela Torre da Grifinória. Ter o meu coração partido por James Potter? – Lily riu. – Não, muito obrigada.

James sabia o diálogo exato, pois havia feito Remus repetir ao menos 15 vezes antes de, finalmente, deixar o amigo dormir. O Potter passou a noite em claro, fitando o teto da sua cama de dossel. Ele era imaturo? Ela sabia que ele gostava dela há anos? Garotas de coração partido? Eram pensamentos demais para a mente confusa e adolescente de James. A única coisa que ele conseguia pensar era como Evans poderia sequer cogitar que James poderia, algum dia, machucá-la. Mirando as poucas estrelas que ocupavam a janela aberta perto da cama de Sirius, James caiu no sono após ter a certeza que a única pessoa que poderia sair com o coração partido em uma relação com Lily Evans era ele mesmo.

Já estavam no fim do período letivo, mas as palavras de Lily e de Remus, alguns dias depois, continuavam a martelar em sua mente.

— Você parece gostar mesmo dela, Prongs. Qualquer outra pessoa já teria esquecido uma paixãozinha de infância.

— Nem todo mundo pode ter a Evans como primeiro amor – foi tudo que James respondeu, observando Sirius e Peter perto do Lago Negro tentando fazer a Lula Gigante aparecer. Falar sobre os seus sentimentos com Remus era sempre fácil. Dos quatro amigos, ele sempre fora o mais sensível.

— Ainda temos um ano. Se é mesmo como você diz, você ainda tem uma chance.

— Ela me acha uma criança, Moony.

— E você é?

— Claro que não! Você sabe disso.

Remus afirmou com a cabeça, enfiando as mãos no bolso de sua calça enquanto sorria para Sirius que acenava para o garoto à distância.

— Tem razão. Você sabe disso. Eu sei disso. Sirius e Peter também. Mas Lily não sabe. Talvez você devesse mostrar a ela. Nunca é tarde demais, James. Vocês ainda têm muito pela frente.

E então Remus sorriu, aquele sorriso pequeno e calmo, que não mostrava os dentes, mas era mais doce do que qualquer outro.

Quando o sétimo ano começou, James já era um adulto. E não apenas pela idade que tinha. Uma vez o seu pai disse que ser adulto não era apenas ter 17 anos, ser adulto era uma sensação. Algo que você sentia, de repente, no fundo do seu coração que faria você perceber que realmente havia crescido.

Tudo começou com a ideia de visitar Sirius durante o verão. Não gostava de sua família, porém, aparentemente, James era sangue-puro demais para que os mesmos não o apreciassem, portanto, embora odiasse a energia que circulava na casa Black, ainda visitava Sirius uma vez ou outra. Nunca gostara de passar o verão sem o melhor amigo. Já havia avistado a casa número doze do Largo Grimmauld quando a porta da frente se abriu e um Sirius transtornado saiu de dentro da casa.

A primeira coisa que James reparou fora como o cabelo do amigo estava curto. Sirius, que havia prometido deixá-lo crescer e só cortar depois da formatura, tinha os cabelos na altura das orelhas com as pontas picotadas como se tivessem sido tirados com uma tesoura cega. Uma mochila cheia pendia no ombro do garoto e ele pisava tão forte que só viu o amigo quando James entrou na sua frente, segurando-o pelos ombros.

— O que está fazendo, Pads?!

A preocupação estava clara no olhar de James. Sirius sabia. Nunca tivera ninguém que se importasse com ele mais do que James Potter. E fora essa sensação de acolhimento que fez as primeiras lágrimas descerem no rosto do garoto, que, até então, estava vermelho apenas de raiva.

— Estou indo embora! Não vou ficar aqui, Prongs, não vou ficar aqui nem mais um segundo! Eles são... horríveis. Péssimos! – Sirius se encolheu, olhando para baixo, deixando que a sua última frase saísse tão baixo quanto conseguia. – Eles foram para o lado dele, James... Eles viraram... Comensais da Morte.

Sirius falou tudo tão rápido que James teve medo que o amigo se engasgasse. As últimas três palavras pendendo entre os dois garotos como uma bomba capaz de explodir a qualquer momento. As lágrimas caíam de seu rosto tão rápidas quanto uma tempestade ameaçando uma cidade, e James olhou para além do amigo, vendo Orion Black na porta, parado como uma estátua pomposa encarando o filho em frangalhos com um prazer quase sádico.

— Vou pegar um Noitibus, depois posso me hospedar no Cabeça-de-Javali até as aulas começarem, mas nunca mais colocarei os pés nesse lugar podre! Nunca! Por favor, não me diga para voltar.

James tocou levemente as pontas tortas do cabelo do melhor amigo, engolindo o nó que se formava em sua garganta ao pensar em como elas teriam sido feitas. A família Black havia se decidido e, aparentemente, não havia aceitado a recusa do filho mais velho muito bem.

— Jamais te diria isso – James falou, decidido, agarrando a mão de Sirius. – Vamos para casa, Pads.

Eles desaparataram no jardim dos Potter no segundo seguinte. Assim que Euphemia colocou os olhos em Sirius, o seu coração saltou, correndo até o garoto que ainda tinha lágrimas nos olhos.

James gostaria de dizer que tudo aconteceu naturalmente após isso, mas não foi o caso. Sirius fora tratado como um segundo filho pelos pais de James e, na sua casa, todos sentiam-se seguros. Eram puros-sangues, afinal. No entanto, os quatro sabiam que fora dos muros altos da casa vitoriana em Godric’s Hollow, tudo estava diferente, e voltar para Hogwarts foi a prova disso.

As pessoas não falavam como antes. Não comentavam sobre as suas férias ou sobre as suas famílias em voz alta e James conseguia ver o medo nascer no rosto dos amigos nascidos-trouxas. Conseguia ver o medo no rosto dela.

No sétimo ano, por algum motivo desconhecido, James tornou-se monitor-chefe ao lado de Lily, o que fez com que eles passassem muito mais tempos juntos do que a garota sonharia em fazer e, embora ela respondesse o Potter apenas com o necessário no começo, ele conseguia ver o alarme eternamente ligado nas feições dela. Foi nesse momento que James percebeu que havia crescido. Algumas pessoas diziam que Voldemort logo seria preso, que nada realmente de ruim aconteceria, mas algo crescia dentro de James. Não era exatamente medo nem muito menos esperança. Talvez um pressentimento. James não sabia. A única coisa que ele de fato podia compreender era que algo ruim estava chegando e que estaria sempre pronto para defender o que acreditava.

Foi com esse pensamento que James se esforçou ainda mais em suas aulas, vigiou de perto e minuciosamente cada corredor que patrulhava à noite e ficou ainda mais atento aos estudantes que ele sabia serem nascidos-trouxas. James não era bom em admitir coisas, tentava não errar, pois odiava dizer que havia errado com alguém, porém, até mesmo ele conseguia ver a diferença em seu comportamento. E Lily também.

Lily não conseguiu evitar notar o cuidado com que James tratava os alunos do primeiro ano, como ele sempre arranjava tempo para orientar algum quintanista com dúvidas, nem a pontualidade dele em todas as reuniões entre monitores-chefes. Lily reparava em tudo e, para sua maior surpresa, gostava de cada coisa que reparava também.

James havia definitivamente largado o pé de Lily. Não havia desistido. Nada jamais faria com que ele desistisse da ruiva, contudo, não a chamava para sair toda vez que a via andando pelo castelo como antes e achava que isso havia deixado a sua relação com ela muito melhor. James sempre soube que Lily era incrível, mas conversar abertamente com ela fazia com que ele tivesse a certeza disso. Eles começaram comentando sobre as aulas, depois, sobre livros e, quando perceberam, estavam até mesmo juntos na biblioteca enquanto Lily opinava em algum trabalho sobre Estudos dos Trouxas que James havia escrito. Era muito mais fácil tê-la lendo os seus trabalhos agora do que quando dependia apenas de Sirius.

— Eu estou aqui porque quero uma nota fácil no meu N.O.Ms – disse Sirius certa vez durante o quinto ano. – Mas você está aqui por causa dela, não é?

— Evans nem sequer assiste essa aula, idiota – falou James, impaciente.

Sirius riu, inclinando-se para o lado e diminuindo o tom de voz para responder.

— Você não está aqui para vê-la – falou, com aquele sorriso traiçoeiro e presunçoso de quem acha que sabe de todas as coisas. James estava prestes a revirar os olhos quando Sirius continuou falando. – Você está aqui para entendê-la.

James não teve nenhum argumento depois disso. Como poderia? Era a verdade, mesmo que ele se recusasse a sequer pensar sobre isso.

De qualquer forma, James havia parado de tentar conquistar Lily de maneira infantil. No entanto, vez ou outra, não conseguia deixar de falar alguma coisa, qualquer coisa, simplesmente por ser muito mais forte que ele. O que poderia dizer? Ainda gostava de ver Lily Evans revirando os olhos em sua direção.

Era de madrugada e os dois estavam fazendo a ronda de sempre perto da entrada da Torre da Grifinória quando Lily Evans parou o seu mundo pelo que deveria ser a centésima vez, mas definitivamente não a última.

— Amanhã é o primeiro jogo do ano da Grifinória, não é?

— Sim, nós contra Corvinal – James respondeu, dando um sorriso de lado. – Acho que a sua ilustre presença seria de grande ajuda amanhã, Evans, você sabe, trazer sorte para o time e tudo mais.

— Não sei se traria sorte para todos – disse calmamente. – Mas talvez possa trazer para o apanhador.

James piscou, confuso, quase tropeçando nos próprios pés por ter virado totalmente o rosto para encarar a garota. – Mas o apanhador sou eu.

Lily riu, fitando o outro de volta. James nunca teve uma memória boa, mas jamais se esqueceria de como os olhos de Lily pareceram ainda mais verdes e brilhantes naquela madrugada.

— Eu sei bem quem é o apanhador da Grifinória, Potter. E, se ele não levar horas e horas para encerrar a partida, estava pensando em chamá-lo para ir à Hogsmeade comigo.

Estavam na metade de dezembro, nem muito perto do natal, nem muito longe. A neve ainda não havia começado a cair, contudo, os ventos gelados faziam um bom trabalho em manter as pessoas agasalhadas. Era metade de dezembro e James Potter realizou a partida de quadribol mais rápida da história de Hogwarts ao pegar o pomo-de-ouro em 15 minutos e 22 segundos.

A arquibancada explodiu em comemoração, Benjy não soube como continuar a narração e Minerva McGonagall, assim como o restante do time, olhava espantada para o apanhador, mas James, ainda no ar, olhava apenas para ela. Evans escondia a risada surpresa sem tirar os olhos de James. Ele apontou o pomo-de-ouro para ela como se dissesse silenciosamente e entre eles: “Você prometeu”.

Enquanto todos os alunos comemoravam na sala comunal, Lily e James abandonaram o castelo sorrateiramente. O começo foi estranho. Os dois pareciam envergonhados enquanto caminhavam em silêncio pela neve que cobria todo o vilarejo, entretanto, quando finalmente puderam se sentar em uma mesa no Três Vassouras, tudo pareceu mudar, como o sol aparecendo depois de um dia de chuva.

— Acho que você decepcionou alguns fãs de quadribol hoje acabando com a partida tão rápido.

— Decepcionei você?

Lily riu, jogando os seus longos cabelos ruivos para trás e apoiando os braços na mesa para que pudesse repousar o seu rosto enquanto fitava James.

— Não. Só fiquei surpresa.

— Não deveria ter ficado – respondeu calmamente. Lily inclinou o rosto, sem entender. – Você me pediu para terminar logo, então eu terminei.

— Uau – Lily sorriu. – Quanta consideração por mim, Potter.

James riu, passando os dedos pelos cabelos revoltosos e encostando-se na cadeira.

— Você não faz ideia, Evans.

Depois de Hogsmeade, não havia ninguém que pudesse fazer James e Lily ficarem separados. Beijaram-se pela primeira vez naquele mesmo dia. Estavam na frente do dormitório feminino. Lily não queria subir e James sabia. Ela ria abertamente encostada na parede de pedra ao passo que James apoiava-se no braço que deixava ao lado dela. Não haviam bebido uma gota de cerveja amanteigada a tarde inteira, mas o Potter se sentia confortável, calmo e com aquela excitação que qualquer um culparia o álcool. Mas James sabia melhor.

A excitação vinha de ouvir a risada baixa de Lily, de quem não queria acordar mais ninguém, dos seus olhos brilhantes que ora fitavam os dele, ora fitavam os seus lábios.

— Prongs? Que apelido é esse? – Lily balançou a cabeça, sem acreditar que os amigos de James realmente o chamavam assim. – Você vai ter que me contar essa história, James.

Ele congelou por um segundo inteiro – tempo o bastante para Lily se dar conta que havia chamado o garoto pelo nome pela primeira vez em muito tempo. James se aproximou devagar, os olhos nunca abandonando os dela.

— James?

Todo o seu corpo formigava em antecipação. Queria encostar nela, queria sentir o corpo de Lily no seu. Os seus lábios imploravam pelos lábios dela cada vez que os olhos esverdeados da ruiva desciam para encará-los como se ninguém notasse.

— É o seu nome, não é? Não posso usá-lo? – Respondeu com uma risada nervosa.

James segurou rosto quente dela com uma das mãos.

— Eu sei que você só disse o meu nome, mas então por que ele parece tão diferente vindo de você?

— Pelo amor de Merlin, James – Lily murmurou, acabando com o espaço entre os corpos dos dois. – Me beija de uma vez.

James nunca soube quando Lily se apaixonou. Talvez tenha sido no primeiro encontro, talvez no jogo de quadribol, quando se beijaram ou, quem sabe, em alguma madrugada que passaram juntos pelos corredores do castelo. Não sabia. Mas podia dizer quando soube, definitivamente, que Lily Evans havia nascido para ser Lily Potter.

Os beijos não pararam na frente do dormitório feminino. Na verdade, eles se estenderam para o sofá vazio da sala comunal, para as salas de aula vazias, os corredores e as tapeçarias grandes o suficiente para escondê-los. Não houve surpresa maior no castelo do que o fato de Lily Evans ter aceitado ser a namorada de James Potter. E ele jamais ficaria envergonhado de se sentir tão bem por andar de mãos dadas com a bruxa mais surpreendente de todo o castelo para qualquer um que quisesse ver.

James nunca teve tanta certeza sobre algo em sua vida como tinha sobre Lily, mas foi durante a última aula de Defesa Contra As Artes das Trevas que ele soube o que deveria fazer. O ano letivo estava acabando e a última prova de DCAT sobre conjurar um patrono corpóreo tomava conta da cabeça dos alunos NIEMs tanto quanto a situação aterradora de medo e terror que os esperava do lado de fora dos grandes portões de Hogwarts.

Lily era a primeira da fila e todos sabiam que ela tiraria nota máxima. Isso não era nenhuma dúvida para James, contudo, quando a corça prateada saiu da varinha da ruiva e andou majestosamente pela sala, o coração de James parou. Ele saiu do local na mesma hora e voltou apenas quando teve certeza que a aula havia acabado. Não planejava perder a sua nota, mas a sua mente parecia flutuar acima de sua cabeça. Se fosse como estava pensando... Apenas torcia para que o professor Thomas Merrythought gostasse dele o suficiente para não ficar incomodado.

— Sr. Potter, o que aconteceu?

James fez uma careta, pois nunca era chamado de “Sr. Potter” pelo antigo auror. Merrythought arqueou as sobrancelhas, pronto para começar o sermão que odiava ter de fazer.

— Desculpe, professor. Eu precisei muito ir ao banheiro.

— No meio da aula? – retrucou desconfiado. Thomas conhecia o seu aluno favorito melhor do que isso, e James sabia. Especialmente quando não fazia tantos anos assim que o mesmo havia deixado Hogwarts.

— Não deu para controlar, professor. Acho que comi alguma coisa estragada, porque, nossa, se o senhor vi...

— Tudo bem. Chega, não preciso de detalhes! – interrompeu com uma careta fazendo James sorrir. – Vou te dar uma segunda chance, Sr. Potter, é melhor que consiga de primeira.

Ele tirou a varinha do bolso, mas, antes de recitar o feitiço, virou-se novamente para o mais velho.

— Posso fazer uma pergunta, professor? – o homem assentiu, recostando-se na própria mesa. – Quão verdadeira é aquela história sobre patronos que combinam?

Thomas Merrythought, que, até então, não parecia levar o aluno a sério e apenas desejava finalizar a nota da turma antes que James sumisse novamente, levantou os olhos, subitamente interessado.

— Você vai precisar ser mais específico.

— O senhor sabe... – James passou os dedos entre os fios de cabelo, como estava acostumado a fazer quando se sentia nervoso. – Almas gêmeas possuem patronos que combinam.

Thomas Merrythought sorriu pequeno antes de responder.

 – O feitiço do Patrono é, provavelmente, o feitiço mais forte e emocional que temos, James. Existe um motivo para precisar de suas memórias felizes para conjurá-lo. Ele é parte de quem você é e do que você ama. Então, sim, as almas gêmeas podem possuir patronos corpóreos que combinam, tudo vai depender do quão conectados vocês estão. É raro, extremamente raro. Não conheço ninguém que já tenha presenciado algo assim.

As palavras do professor repetiam-se na mente de James tão estridentes quanto alarmes matinais e suas mãos começaram a suar. Não se deu ao trabalho de responder ao professor e amigo. Não era preciso. Tudo que precisava era de suas memórias felizes.

James Potter nunca teve uma boa memória, mas lembrava-se de tudo sobre Lily Evans. O seu aperto de mão decidido, a sua voz imponente, a sua personalidade forte, o seu sorriso sarcástico, os seus olhos de um verde tão distinto que ele sabia nunca ter visto nada igual na vida, lembrava-se dos seus cabelos longos e ruivos tão vibrantes quanto ela, lembrava-se do vinco que se formava entre as suas sobrancelhas quando estava irritada e do jeito que ela revirava os olhos. Lembrava-se do seu sorriso gentil, do seu toque carinhoso, do seu beijo doce e do seu corpo quente contra o dele. James se lembrava de tudo.

Expecto Patronum!

Não foi uma surpresa quando a forte luz prateada que saía de sua varinha formou um grande e majestoso cervo, que caminhava vagarosamente pela sala de aula quase vazia. O cervo contornava James, que apenas o encarava. Era a sua transformação animaga em forma de patrono, mas também era muito mais do que isso.

— Um cervo e uma corça... – murmurou o professor para ninguém em especial, quase como se não acreditasse no que os seus olhos estavam vendo.

James abriu um sorriso, virando-se para o professor.

— Raro, você disse?

Thomas Merrythought desviou o olhar do animal prateado para fitar o aluno.

— Extremamente raro.

Era o último dia de aula e Lily estava nostálgica, assustada e triste, tudo ao mesmo tempo. Preocupava-se em deixar Hogwarts e pelo que teriam que enfrentar quando abandonassem as grossas paredes de pedra que o cercavam, contudo, também sentia uma saudade antecipada irritante. James entendia. Deixar a vida como conheciam era difícil, o seu consolo era saber que a deixaria para tentar algo melhor.

Lily estava o esperando próximo ao Lago Negro, embaixo da árvore onde, um dia, não muito tempo atrás, ela gritou para todos que ele provavelmente tinha caído vezes demais de sua vassoura para ser tão idiota como era. A lembrança fazia James sorrir, embora tenha o machucado um pouquinho no dia que ouvira, mesmo que houvesse merecido. James parou, distante o suficiente para observá-la. Lily encarava o castelo e, mesmo que não pudesse ver, James sabia que ela provavelmente estava com lágrimas nos olhos. Lily Evans amava Hogwarts como a sua própria casa e James amava aquele castelo por tê-la trazido até ele.

— O que tem de tão bom na paisagem?

Lily o olhou com o seu habitual sorriso brilhante e fez James suspirar. Já recebia aquele sorriso há tempos e ainda assim sabia que jamais se acostumaria.

— Apenas lembranças – respondeu. – Você demorou. Aconteceu alguma coisa?

James mordeu os lábios nervosamente, sentindo o bolso da calça que vestia pesar.

— Aconteceu. Eu menti.

Lily inclinou a cabeça para o lado, sem entender.

— Por anos, tudo que conheci foi o “James Potter, apanhador da Grifinória” ou, então, o Prongs de Padfoot, Moony e Wormtail. Deixar isso tudo, de alguma forma, é como deixá-lo também. Sei que você entende. Sair de Hogwarts é deixar tudo que conhecemos. Mas não consigo me sentir triste por isso, Lils, porque sei que, de todas as coisas, as que importam vão ficar comigo. Você.

— James... – Lily sorria, mas ele ainda tinha mais uma coisa a dizer.

— Desde que te conheci, eu senti isso. Não me apaixonei à primeira vista, mas sabia que iria me apaixonar em algum momento. Sabia que era inevitável amar você, Evans. Inevitável... querer passar o resto da minha vida com você. Não me importo com o James e a Lily que vão ficar, só me importo com os que vão sair daqui hoje. Então, eu menti. Meu patrono não é um leão.

A boca de Lily se abriu em um circulo perfeito, os seus olhos brilhavam com lágrimas que ameaçavam cair e ele soube que ela já havia entendido. Por detrás de James, o animal prateado surgiu.

— Isso é... um cervo? – Lily murmurou, estupefata enquanto a luz a cegava momentaneamente. James se aproximou, ajoelhando-se na frente da ruiva e tirando a caixinha de veludo que estava no seu bolso esperando o momento ideal há três semanas.

— Eu te amo, Evans, você é a minha alma gêmea. Nunca vou sentir nada mais bonito ou forte do que isso. Será que você poderia me fazer o idiota mais feliz do mundo e se casar comigo?

A respiração de Lily estava descompassada, mas o seu sorriso não havia diminuído, nem mesmo com os resquícios de surpresa estampados nela que misturavam-se com as lágrimas tímidas que escorriam pelo seu rosto.

— Você é mesmo um idiota – sussurrou.

— Eu sei.

— Não preciso saber da forma do seu patrono para saber que somos feitos um para o outro, James.

Lily agarrou as mãos de James e o puxou para cima, ignorando as alianças apenas por um momento. Ela segurou o rosto do namorado e o puxou em sua direção, beijando lábios dele devagar. Não conseguiu evitar rir baixinho ao sentir, na ponta de seus dedos, que as bochechas do Potter também estavam molhadas.

— Só preciso de você.

 

21 DE NOVEMBRO DE 1980 - Carta de James Potter para Sirius Black.

Querido Padfoot,

Sei que você está em missão com Lene e Moony, mas preciso que saiba disso assim que chegue em casa novamente: LILY ESTÁ GRÁVIDA! A minha Lily, Sirius! Grávida! Eu vou ser pai! Não consigo colocar em palavras o quanto estou animado, então essa carta pode soar confusa. Descobri há poucos dias, mas queria que você fosse o primeiro a saber (ou, mais provável, o primeiro a quem eu conto). Já chorei (você sabe) e já festejei. Sei que não é o melhor momento do mundo, mas não consigo evitar ficar feliz. Saber que um bebê estará entre nós daqui a nove meses me faz ter mais força para lutar pelo que é certo. Vou deixar um mundo melhor para ele. Vou protegê-los com a minha vida se for preciso.

Quando começamos a namorar, eu te disse que casaria com ela e nossos filhos seriam a junção perfeita de nós dois, você lembra? Agora que aconteceu, me vejo em uma situação engraçada: não desejo mais isso. 

Quero que ele seja como ela, Padfoot. Exatamente como ela. Os cabelos ruivos, os olhos mais lindos do mundo, a personalidade, inteligência, força e coragem. Não há ninguém no mundo que eu admire mais do que a minha esposa e quero que nosso filho tenha a sorte de ser como ela. Não acho que precise me preocupar com isso, afinal, ele vai crescer ao lado dela e sei que seremos bons pais, Sirius. Sei mesmo. Consigo sentir.

Me responda assim que puder. Espero que esteja tudo bem, sentimos falta de vocês. Nos vemos em breve.

Com amor e ansiedade de um futuro pai,

Prongs.


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Notas finais do capítulo

E é isso! Espero que vocês tenham gostado! Vivi uma história de amor e ódio com essa história, mas tô feliz DEMAIS por estar participando do meu primeiro Jilytober com a minha segunda Jily da vida :'). Queria fazer algo leve e feliz, não sei se funcionou, já que todo mundo sabe o que acontece com eles depois da felicidade hahahah. Enfim, obrigada por terem lido e espero que vocês possam me dizer o que acharam. Não ganho nada para escrever, então todo comentário/favorito/recomendação me motiva a continuar. Até a próxima ♥