As Crônicas da Morte escrita por Izabelly Rodrigues


Capítulo 2
Cassandra: 1826 – 1922


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoas. tudo ótimo?



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Cassandra Eliza Martin

* 1826 – 1922

Uma bela e jovem moça, no auge dos seus 14 anos, pronta para ser a madame do açúcar. Noiva de um milionário fazendeiro com o triplo de sua idade. Homem vivido pai de três filhos com duas esposas já enterradas. — Conheci cada uma delas, belas mulheres e educadas.

Seu pai queria logo que a cerimônia fosse realizada. Ganharia uma grande recompensa pelo casamento bem-sucedido.

Cassandra era uma jovem obediente. Foi ensina e treinada desde muito jovem a ser mulher, a ser responsável, obediente e muda.

Era o orgulho da família, a única filha de seus pais. Sua mãe era como ela, silenciosa e obediente. As cicatrizes que carregava não era nenhum problema, fora ensinada assim e assim era a sua vida.

O casamento ocorreria no sábado pela manhã. Teria sua noite de núpcias que não fazia ideia o que iria acontecer. Sua mãe apenas a aconselhava. “Faça o que ele mandar quantas vezes fosse necessário. Não reclame, não chore, não peça pra parar. Ele quem manda, uma boa esposa deve obediência a seu marido”.

Cassandra obediente como era concordou e jurou estar à disposição de seu homem.

O casamento foi a coisa mais incrível que uma jovem poderia sonhar, apesar de seu marido não ser nenhum pouco atraente, ela roubava a cena. Graciosa e bela despertava alegria e energia positiva. Uma moça feliz e inteligente.

A noite de núpcias estava para acontecer, e uma apreensão envolveu a jovem. Era algo novo e cheio de fantasias românticas. Para o seu desespero e tristeza, Cassandra passou a pior noite de sua vida. Seu marido, nem um pouco gentil fez o que queria, da forma que queria sem se preocupar com o bem-estar de Cassandra. E a jovem bela carregou sua primeira cicatriz.

Na manhã seguinte ainda sentia os efeitos da violência, suas partes machucadas seu corpo sujo e cheio de hematomas, mas como fora ensinada escondeu suas marcas tristes e passou a mandar em sua casa como uma mulher madura.

Sua vida foi se prolongando aos meses que passavam e logo veio sua primeira barriga inchada. Cassandra deveria sorrir para aquela notícia, mas não conseguia. Era o seu pior pesadelo e não sabia por que, mas odiada com todas as suas forças a cria que crescia dentro dela.

Ganhou muitos presentes, lembranças, fez o quarto de seu herdeiro, mas o sentimento de ódio só crescia conforme se olhava no espelho.

Seu marido também não se incomodava, tudo o que queria é que o novo herdeiro fosse um homem. Já com três filhos homens, Jairo, queria mais um. “Mulher não dá lucro, a não ser que você coloque pra se prostituir” ele comentava com seus amigos de negócios. E todos riam de suas piadas grosseiras.

Cassandra entendia que sua vida não era como de sua mãe, por mais que ela fosse infeliz, seu pai a tratava com... O que ela considerava respeito. O que não acontecia com ela, ainda mais dentro de quatro paredes. E o ódio de Cassandra só crescia.

Um dia, um jovem pouco mais velho que Cassandra apareceu em sua casa, o rapaz era filho de um fazendeiro vizinho que fazia negócios com seu marido. Já nos primeiros olhares os dois se encantaram um pelo outro. O rapaz era gentil e muito educado, e amando de seu pai, ele aprendia como deveria negociar, afinal, herdaria tudo. Estudado e muito inteligente. O jovem advogado passou a frequentar a casa de Cassandra, não apenas para fazer negócios, mas para admirar aquela beleza de mulher.

Finalmente o fim de sua gestação chegou e Cassandra sentiu as piores dores de sua vida, quando ouviu o choro pela primeira vez do inocente, Cassandra o pegou nos braços. Era uma menina, tão linda quanto ela, mas Cassandra ainda não sentia o amor que sua mãe dizia que sentiria. Quando seu marido chegou a ver o bebê seu rosto se tornou de feliz para uma espécie de monstro. Ele xingou, gritou, a culpou de o ter apunhalado pelas costas, chutou e quebrou tudo o que estava em sua frente.

E Cassandra experimentou mais uma vez o gosto de seu sangue.

Os dias se passaram, e o ódio de Cassandra só aumentava, tanto por sua filha quanto por seu marido. Não acreditava que sua vida se resumiria aquela porcaria em que vivia. Se tornou uma mulher mais fria.

Um dia, percebeu que seu bebê não chorava mais, não reclamava e nem resmungava dentro do berço o que a fez ficar um pouco preocupada.

Ao olhar para o berço percebeu que a bebê também não respirava, e estava com o rosto cheio de hematomas, questionou ao seu marido sobre o ocorrido já que ele quem estava com o bebê por último.

O homem estava bêbado e chorava como uma criança. Ele confessou o seu crime. Cassandra nunca tinha sentido um ódio tão grande quanto sentia aquele momento e desferiu uma punhalada no homem com o abajur cortando sua testa. Chamou a polícia e contou o que havia acontecido, mas eles não acreditaram.

Acontece que, seu marido era um homem influente e com muito dinheiro facilmente converteu o seu crime em direção a sua esposa. Cassandra foi presa injustamente, sua palavra não tinha valor, era uma mulher.

Foi condenada à prisão perpétua pela violência causada em sua filha recém-nascida e tentativa de homicídio contra seu marido.

Aloisio era um rapaz tímido e apresentava traços e trejeitos nada típicos de um macho alfa. Como punição, seu pai lhe fez servir o exército para provar que era homem de fato. O rapaz logo pegou gosto pela profissão, mas aprendeu queria fazer muito mais pelas pessoas. Resolveu se tornar policial e não demorou muito para que se tornasse um carcereiro. Para o seu azar, ou talvez sorte. Começou a trabalhar na prisão feminina de sua cidade, onde conheceu muitas histórias. Cassandra era uma das jovens com história triste que comoveu o frágil coração de Aloisio, e logo acabou se apaixonando pela jovem. Sua beleza, delicadeza, seu jeito meigo e doce lhe fazia o coração disparar. Se comoveu com a punição daquela mulher inocente.

Aloisio não podia mais ver sua paixão mofar naquelas paredes frias, fez muitos amigos influentes e por causa dessa influência conseguiu ótimos conselhos, além de advogados e juízes que puderam dar uma segunda chance a Cassandra.

Quando finalmente sua amada estava livre, ela partiu, levando junto seu coração.

Cinco anos após sua liberdade. Cassandra conseguiu se reerguer, longe de pessoas más que lhe causaram o mal. Por mais que tivesse liberta e feliz com a nova vida, uma pessoa ainda se mantinha em seus pensamentos. Aloisio havia sido esculpido em seu coração, como uma bela arte grega, e em seus sonhos o homem de sua vida jamais foi abandonado.

Para sua surpresa, aquele final de ano, completaria seis anos após sua liberdade, Aloisio estava ali, parado em sua porta com um buquê de belas flores, as preferidas de Cassandra, e com um sorriso e lágrimas em seus olhos a mulher correu em sua direção, apaixonada e encantada pelo reencontro.

Decidiram se casar, decidiram ter filhos, decidiram viver juntos.

Os últimos dias de Cassandra foi como um sonho, um conto de fadas infantil. Eu recolhi Aloisio sete anos antes de Cassandra, e posso dizer que aquela mulher mereceu toda a felicidade do mundo. Quando eu cheguei finalmente, ela sorriu de felicidade, estava pronta.

Seu corpo foi guardado em uma caixa feita com uma madeira de qualidade, rodeada de cinco filhos, quatorze netos e vinte e quatro bisnetos.

Então a levei comigo após 96 anos.


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