Aquele cheiro de cigarro já se tornara comum em suas rotinas, mas Zoro nunca conseguia se acostumar e sempre pedia para Sanji parar. E, naquele dia, o desgraçado acendeu um em plena manhã, lhe acordando com o ar do ambiente tomado pelo fedor. Se ao menos não dividissem o mesmo quarto do colégio interno em que estavam ingressados, talvez Zoro conseguiria um momento de paz naquele lugar rígido e que sugava sua juventude aos poucos. Não fazia ideia de como o maldito loiro arrumava os cigarros, às vezes até pensava que aquilo tudo era uma prisão e que os alunos tinham que arrumar um contrabandista pra conseguir algo ou trocar por outro algo. 

— Ei... o que eu disse sobre fumar pela manhã? — Resmungou Zoro, depois de tirar o cobertor do rosto e ver Sanji sentado no sofá da janela, fumando. 

— Manhã?! Já almoçamos, Marimo... 

— Quê?! — Levantou-se bruscamente e bateu a cabeça no beliche de cima que era de Luffy. Sanji riu. — Por que não me acordaram?! 

Estava tão exasperado que não ligou do sobrancelha enrolada rir dele, só conseguia pensar que perdeu mais uma manhã de aulas. 

— Sabe, hoje todo mundo estava atarefado e esquecemos... — Assoprou uma fumaça pro alto. — Você já tem idade pra viver sem ser dependente de outro, sabia?

Zoro bufou e se levantou da cama com cuidado dessa vez. Estava sem camisa e enquanto esfregava o rosto desacostumado com a luz da janela, Sanji observava seu corpo escultural pensando que era desenvolvido demais. Nem ele, nem Luffy e nem Usopp eram tão robustos... e era belo ver sua pele suada depois de suas flexões, porque ela brilhava por ser bronzeada. Era exótica. Sanji se tocou que o fitava demais e desviou o olhar.

 O marimo aproximou-se da janela esfregando os olhos e coçando levemente a cicatriz que cortava seu abdômen. O loiro tinha razão, pensou nervoso. Pela posição do sol, já parecia ser mais de meio dia. Zoro também pensou que seus amigos eram uns idiotas egoístas do caralho, sendo aquele sobrancelhas o pior de todos.

— Onde você arranja esse negócio, hein? — O jovem de cabelos verdes perguntou irritado ao outro sobre os cigarros. 

— Se eu te contasse, teria que te matar.  — Sanji respondeu com um sorrisinho insolente.

Zoro sentou-se na outra ponta do sofá da janela.  — É do mesmo lugar que consegue suas revistas estúpidas?

— As pornográficas? — Perguntou e riu por ver Zoro sem graça. O idiota tinha um corpo desenvolvido, mas Sanji não se lembrava de uma única vez em que Zoro veio ao seu encontro para pedir dicas de como chegar perto de uma mina, e ele nem sabia qual era o seu tipo favorito. Magras? Peitudas? Asiáticas? — Por que fica incomodado?

Coçou a cabeça por saber do que falava e se ajeitou melhor no sofá, seus olhos passaram pelo quarto todo e parou na janela que dava para o campo de futebol. — Não me incomodo... só acho que você deveria... respeitá-las.

Sanji assoprou uma fumaça sem mirar para o alto e Zoro tossiu, raivoso. — Eu as trato com todo o respeito, idiota. Mas, acho que conter meus instintos também não é algo muito bom.

O moreno balançou a mão pra espalhar a fumaça irritante e se aproximou mais de Sanji. — É? Então por que não faz nada?

— Do que tá falando, seu maluco? Estamos num lugar só com garotos idiotas, se eu pudesse sair daqui, seria outra história.

Zoro acenou com um sorriso, que irritou muito Sanji. — E você não gosta deles?

— Tá perguntando se eu sou viado? — O loiro respondeu rapidamente em tom defensivo. Talvez o marimo idiota tivesse percebido suas olhadas afinal, pensou nervoso. 

— Oe existem bissexuais também idiota. Além disso, você fala muito de mulher para ser apenas gay. — o jovem de cabelos esverdeados argumentou encarando o loiro. 

— E desde quando você entende disso cabeça de musgo? Tu não fala nem de homem e nem de mulher. Achei que não gostasse. — Sanji perguntou interessado no papo do outro. Zoro era sempre tão contido. Justamente ele vir falar desse tipo de coisa era surpreendente. 

— Só por que eu não falo de sexo 24 horas por dia feito você, não quer dizer que eu não goste. — Roronoa respondeu levemente encabulado. 

Sanji riu. 

— Gosta ... de? 

— Hã?  

— Gosta de quê alga burra? Homem? Mulher? Os dois?

Zoro ficou quieto por alguns segundos, como se pensasse, e deu um sorriso com sua clareza súbita.

— Só sigo meus instintos... — Pegou num pé de Sanji, que se assustou com o toque e teve um leve arrependimento por ter feito tal pergunta. — E não me contenho.

— Do que tá falando?! — Tencionou se levantar, mas Zoro bloqueou o caminho com o braço. — Mas que porra…

O cigarro caiu no seu colo, Sanji o apagou desesperado enquanto tentava entender por que Roronoa estava lhe prensando na parede. Não era possível, há pouco tempo o idiota estava igual um tomate, mas tinha certeza que agora era ele que devia estar todo vermelho, até porque não tinha como não estar quando encarava o olhar sacana do marimo idiota.

— Por que não se solta como deveria?

Tão perto! Sentia o cheiro de seu hálito. Merda. Tinha um tarado no quarto o tempo inteiro fazendo de idiota. Merda. Merda.

— Seu tarad-

Nem terminou de falar e Zoro o beijou. Merda. Merda. Merda. Seu peitoral estava tão perto, que não notou quando pousou suas mãos sobre ele e se aproximou para respondê-lo. Sim, estava um bom tempo observando Zoro, mas achava que fosse a falta de uma garota. No entanto, era estranho não sentir o mesmo por Luffy e Usopp. Merda. Aquele corpo bronzeado era algo a mais. Se praguejou por ser um tarado também e que ainda foi seduzido, mas estava feliz por senti-lo finalmente. Arranhava suas costas desnudas, se separavam e voltavam, sentia Zoro descer sua mão até sua calça. Com certeza estava duro só com um beijo.

No entanto, ouviram uma voz familiar chamando por eles no corredor. Era Usopp gritando animado “Luffy, Sanji e Zoro!” por estar trazendo uma novidade. Os dois se separam a tempo e Usopp abriu a porta.

— Consegui um papel pra próxima peça no clube de teatro!!! — Disse animado, mas estranhou o comportamento arisco dos garotos com quem dividia o quarto. — Interrompi alguma coisa? — Entrou e achou o cômodo quente. — A propósito, onde está o Luffy?

Não vendo o amigo no quarto e nem tendo uma resposta, Usopp pensou em deixar o aposento.

— Usopp! — Chamou Sanji, antes que o amigo abrisse a porta. — Eu vou procurar com você!

Sanji se uniu a Usopp, enquanto pensava que conseguiu se afastar do marimo idiota, mas não por muito tempo. Tarado como era, procuraria por algum lugar que os dois pudessem ficar a sós ainda aquele dia.