Pássaro da Solidão escrita por Nikka fuza


Capítulo 7
Capítulo 06




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Ivan e eu observamos as duas jovens damas se afastarem com pressa. Meu olhar continuava preso na figura de cabelos castanhos e vestido rosa. 

 

Eu nunca tinha visto tanta beleza em uma única dama, por mais que as damas da região fossem conhecidas por essa qualidade.

 

— Santo Deus, essa é a dama mais bela que eu já vi — Ivan exclamou ao meu lado.

 

Eu olhei para meu amigo, que acompanhava as duas com um olhar embasbacado, e naquele momento eu soube que era melhor não emitir uma opinião.

 

Ivan era do tipo que se apaixonava com facilidade, e a cada dama que ele conhecia, ele jurava ser a mais bela já vista. Apesar de que naquele momento eu concordava com sua opinião.

 

— Vamos, a Srª Ivashkov está nos esperando — Procurei fugir do assunto, guardando minha admiração para mim.

 

Eu sabia que se meu amigo estivesse interessado na dama era melhor que eu não me envolvesse em uma disputa direta.

 

Lançando um último olhar para as figuras que já quase desapareciam em nosso campo de visão, eu dei as costas, retomando nosso caminho. Ivan logo me acompanhou, parecendo ansioso por prosseguir no assunto.

 

— Vamos, Belikov. Você tem que concordar comigo. Ela não era a mais bela criatura que você já viu?

 

— Eu conheço muitas damas que você descreveu desta mesma maneira, Ivan — eu o provoquei.

 

Uma brisa gelada nos atingiu, eu ergui o olhar, observando algumas nuvens escuras se formarem logo acima.

 

— Temos que nos apressar, vai chover — eu emendei outro assunto.

 

— Ela é diferente de todas as outras, viu a forma como pareceu constrangida com o que aconteceu? — ele insistiu.

 

A expressão chocada no rosto daquela dama misteriosa quando me virei com sua luva em minhas mãos era algo que estava gravado em minha mente.

 

— Ela ficou bastante envergonhada — eu concordei.

 

— Eu preciso descobrir mais sobre ela — Ivan prosseguiu.

 

— Não sei de nenhuma família da região que tenha recebido convidadas ultimamente — eu ponderei.

 

Se eu ao menos soubesse o seu nome.

 

— A srª Ivashkov com certeza saberá de quem se trata. Ela sempre sabe sobre todas as novas pessoas da nossa comunidade. Certamente um anjo como a Srtª Rinaldi já deve ser conhecida — Ivan chamou minha atenção com sua última fala.

 

— Srtª Rinaldi? — eu parei de caminhar, franzindo o cenho diante da frase de meu amigo.

 

— Sim, você não ouviu a outra dama chamá-la assim? 

 

Ohh, então a dama que tanto lhe chamou atenção foi a jovem de cabelos dourados que acompanhava a amiga.

 

— Pensei que você estava se referindo à outra dama — eu dei de ombros, voltando a caminhar.

 

— Elas eram ambas bonitas, mas a Srtª Rinaldi tem uma beleza angelical que eu não posso ignorar — Ivan explicou.

 

Uma beleza que ele não pode ignorar. Meu amigo enlouqueceu ao sequer comparar a srtª Rinaldi com a sua amiga. Não tinha nenhuma comparação, aquela dama era a encarnação da própria beleza. A Srtª Rinaldi apesar de ser uma jovem bonita, não chegava aos pés da amiga.

 

— Vejo que você discorda de mim — Ivan insistiu diante de meu silêncio sobre o assunto.

 

— A outra dama chamou mais a minha atenção — Fui breve em minha resposta.

 

Ivan gargalhou ao meu lado, parecendo se divertir com minha resposta.

 

— Então, finalmente uma dama chamou sua atenção? — ele me provocou.

 

— Muitas damas já chamaram minha atenção — eu devolvi.

 

— Mesmo? O que você me diz da senhorita Conta? 

 

Camille Conta, uma jovem com bastante beleza e pouca inteligência. Não era o tipo que me atraia.

 

— Seu irmão não está interessado nela? — procurei uma resposta neutra.

 

— Natasha Ozera. Sua tia ficaria exultante se você se casasse com uma Ozera.

 

— Eu tenho certeza que a senhorita Ozera encontrará alguém em breve, e eu tenho minhas dúvidas em relação à felicidade de minha tia com o assunto — eu murmurei.

 

— Então você não está interessado em descobrir nada sobre essas damas misteriosas? Talvez eu deva perguntar para a Srª Ivashkov em particular e manter a informação apenas para mim.

 

Não, aquilo era algo que eu não poderia permitir. Eu queria saber mais sobre ela, queria conhecê-la, algo naquela jovem mulher criou essa necessidade em mim.

 

— Eu não disse que não estou interessado em conhecê-la, você sabe que o aumento do nosso círculo social é sempre bom — eu afirmei, o fazendo gargalhar novamente.

 

— Você está tão ansioso quanto eu para saber mais sobre as duas damas, apenas é orgulhoso demais para admitir — ele prosseguiu em sua provocação.

 

Um trovão soou ao longe, fazendo com que deixássemos de vez o assunto de lado e apertassemos nossos passos para alcançar Woodlands Park.

 

Eu vivia na propriedade com minha tia Tatiana Ivashkov desde que meu tio faleceu há alguns meses, me forçando a abandonar nossa residência em Londres e voltar para Kent, para ajudá-la a gerenciar a propriedade. 

 

Há quase vinte anos eu tinha aquela dama como minha própria mãe, ela criou a mim e a minhas irmãs desde que Olena faleceu no parto de Viktoria.

 

Meu pai, sendo um importante capitão do exército russo, não se opôs ao plano de adoção de sua irmã, e devo dizer que foi a decisão mais acertada.

 

Um homem como Randall Belikov não poderia cuidar de quatro crianças sozinho, não como os Ivashkov, pelo menos. Nós tivemos os melhores professores, a melhor educação, tudo o que crianças precisam para suprir suas necessidades. E Tatiana, apesar de ser taxada por muitos como uma mulher orgulhosa, o que não deixa de ser verdade, é uma boa pessoa e possui um coração generoso.

 

Nós chegamos a Woodlands Park um pouco antes de uma forte chuva começar a cair, nos aliviando por estar abrigados. Diana, uma jovem criada, se aproximou assim que notou nossa presença.

 

— Bom dia, senhor Belikov, Senhor Zeklos — ela fez uma breve reverência.

 

— Strª Hill, Bom dia. onde sua senhora está?

 

— Na sala de música com sua irmã, Senhor. 

 

Aquela informação me surpreendeu, já era tarde para a aula de piano de VIktoria.

 

— Sua lição ainda não terminou?

 

— Sim, senhor. Mas o Sr Ivashkov saiu daqui há poucos minutos com o filho. — ela me lançou um olhar de aviso.

 

Eu não precisava de mais do que aquilo para compreender o que se passava. Viktoria tinha sido a única a herdar o sobrenome Ivashkov, minha tia cuidou dela desde o primeiro dia de vida, e, se para nós, Tatiana Ivashkov era nossa mãe de consideração, para Viktoria, era a única figura materna que ela conhecia.

 

Ivan e eu passamos a caminhar em direção à sala de música, já nos preparando para a discussão que seguiria.

 

— Talvez uma boa novidade, como recém chegadas misteriosas à nossa comunidade possa apaziguar as duas — Ivan brincou.

 

Vika e minha tia tinham uma ótima relação, isso até a morte de meu tio, quando veio a tona um acordo feito entre ele e seu irmão Nathan. Assim que Viktoria chegasse aos vinte anos, ela se casaria com nosso primo Adrian, e, para uma jovem que sempre sonhou com um casamento por amor, aquela situação era um pesadelo.

 

— Por que você não pode ver que estou fazendo o melhor para você? — A voz da minha tia soou alterada.

 

— Por que a senhora deve decidir isso sem ao menos me consultar? 

 

Eu bati na porta entreaberta, antes de entrar, interrompendo a discussão das duas damas. O rosto de minha tia se iluminou ao me ver, enquanto minha irmã se sentou emburrada em uma poltrona.

 

— Dimitri, meu querido, eu não esperava que você retornasse tão depressa. 

 

— Os assuntos que a senhora pediu que eu resolvesse não eram tão complicados, Tia — eu fiz uma breve reverência.

 

Ivan se aproximou de minha tia, beijando sua mão em um gesto galante, me fazendo bufar internamente.

 

— Senhora Ivashkov, a senhora está radiante como sempre.

 

— Senhor Zeklos, é um prazer vê-lo.

 

— Srtª Ivashkov — Ele se virou para minha irmã, fazendo uma reverência que foi prontamente respondida quando Viktoria se levantou da poltrona onde estava.

 

— Sr Zeklos. Agora que terminamos nosso assunto anterior, eu vou me retirar, mamãe.

 

— Não tão depressa, Viktoria. Na verdade, seu irmão pode me ajudar a te fazer ver a razão.

 

Minha tia chamou a atenção de minha irmã, ignorando meu olhar suplicante para não ser envolvido naquele assunto.

 

— Na verdade, Srª Ivashkov, eu preciso de ajuda imediatamente. 

 

Meu olhar buscou o do meu amigo, lhe lançando um agradecimento silencioso por tirar o foco daquele assunto desagradavel que me faria dar uma opinião que desagradaria uma das damas mais importantes da minha vida. 

 

— Por deus, quem é a dama dessa vez? Não diga que é alguma amiga minha.

 

A fama de Ivan já era conhecida em minha família. Ele sempre se imaginava apaixonado por alguém, e certamente já teria se casado, se não tivesse escolhido tão mal o objeto de sua paixão. A última dama por quem ele se apaixonou de verdade, a srtª Lazar, o encorajou até o último segundo, ela dançava com ele em todos os bailes, sempre estava em sua companhia nas reuniões, aceitava caminhar com ele pela cidade e os dois trocaram cartas em mais de uma ocasião. 

 

A união dos dois já era dada como certa por todos os habitantes de Wingham, mas então, para a surpresa de todos, Ivan foi rejeitado quando fez o pedido após a dama retornar de uma breve viagem feita a Londres. Algumas semanas depois foi descoberto que ela vinha trocando cartas com um jovem barão que conheceu em na cidade.

 

Isso aconteceu há cerca de seis meses, e desde então, Ivan se deslumbrava com muitas damas, mas nenhuma evoluiu mais que uma dança em um baile.

 

— Eu serei abençoado se for, Srtª Ivashkov. Eu preciso saber tudo sobre a Srtª Rinaldi.

 

Minha tia me lançou um olhar divertido, já sabendo como aquela história terminaria, mas ao ouvir o nome da dama em questão, sua atenção se voltou para o rapaz.

 

— Srtª Rinaldi? Eu não conheço nenhuma família com esse nome!

 

Vika parecia tão confusa quanto minha tia, então decidi explicar, antes que meu amigo dificultasse ainda mais o entendimento.

 

— Nós encontramos duas damas desconhecidas na trilha norte de Wingham, nós nunca as vimos na região e apenas ouvimos uma se referir à outra como Srtª Rinaldi.

 

— Nenhuma família da região está recebendo convidadas, a srtª Clarence saberia, e eu a vi ontem a tarde — minha irmã afirmou.

 

Uma pequena discussão sobre a possível identidade das jovens tomou conta do ambiente, enquanto eu mesmo formulava alguma hipótese em minha mente.

 

— Talvez seja outra sobrinha do Sr Dashkov — VIktoria ponderou.

 

— Ela não tinha nenhum traço que lembrasse o Sr Dashkov, nem mesmo os olhos verdes — Ivan negou.

 

Tatiana respirou fundo, caminhando com graça até a porta.

 

— Existe uma maneira mais simples de descobrir o que desejam saber — minha tia explicou, saindo no corredor e olhando em volta antes de acenar para uma criada — Harriet.

 

Voltando para dentro, ela se sentou em uma poltrona vazia, esperando a criada, que não demorou para entrar na sala.

 

— Sim, senhora Ivashkov? — Harriet fez uma breve reverência.

 

— Você sabe algo sobre jovens recém chegadas a Wingham? Nós queremos saber mais sobre a srtª Rinaldi.

 

— Eu não sei nada sobre nenhuma Senhorita Rinaldi, senhora — Harriet franziu o cenho.

 

A frustração no rosto de Ivan era visível, e eu não me sentia diferente, ele sabia ao menos o nome da senhorita que despertou sua atenção, eu não podia dizer o mesmo.

 

— Tem certeza? O sr Belikov e eu vimos duas damas desconhecidas na Trilha hoje, e uma delas chamou a outra de srtª Rinaldi — Ivan insistiu.

 

— Na trilha que liga Woodlands a Goldfields Park? — a criada quis saber.

 

— Sim — Ivan confirmou ansioso.

 

— Eu não sei nada sobre nenhuma senhorita Rinaldi, mas, eu e a Diana ouvimos algo pela manhã no mercado de carnes — ela novamente despertou nossa atenção.

 

— O que vocês ouviram? — VIktoria sorriu animada.

 

Harriet olhou em volta, parecendo intimidada por estar no meio de tantas pessoas.

 

— O senhor Hathaway retornou de Cheshire.

 

— Sim, eu já convidei Oksana para um chá, mas ela recusou, afirmando que a viagem foi extremamente debilitante para o sr Hathaway e não poderia se ausentar de Goldfields Park no momento — Minha tia murmurou, claramente desaprovando a atitude de sua antiga dama de companhia. 

 

— Mas nós ouvimos duas criadas de Goldfields Park conversando no mercado, e elas afirmaram que o senhor Hathaway retornou com uma nova esposa, e elas também falaram algo sobre algumas jovens que vieram como damas de companhia da nova senhora Hathaway — Harriet narrou, e de repente, todas as coisas começaram a fazer sentido em minha mente.

 

As duas jovens que vimos antes são as damas de companhia da nova esposa do Sr Hathaway, que possivelmente ainda não foi apresentada à sociedade por conta do frágil estado de saúde do seu marido depois da viagem!

 

— Uma nova esposa? Como isso aconteceu? — Viktoria exclamou chocada.

 

— Os criados de Goldfields Park não falam sobre o que acontece na vida do Sr Hathaway, nós apenas ouvimos sobre o casamento — Harriet se desculpou.

 

Mais uma frustração. Como descobrir o que desejamos saber se os criados são tão legais ao seu senhor?

 

— Deve ser por isso que a Oksana recusou o convite — Vika ponderou.

 

— Provavelmente. Mas eu tenho outra maneira de descobrir — Minha tia sorriu.

 

**********

 

A chuva se transformou em uma tempestade com o passar do dia, o que apenas serviu para adiar os planos de minha tia. Mas na manhã seguinte, nem mesmo a fina garoa que caia, impedindo qualquer pessoa com o mínimo de juízo de sair de casa, mudou sua mente. Ela insistiu que eu usasse seu próprio Cabriolet (carruagem pequena, de apenas duas rodas, para duas pessoas) para chegar a Goldfields Park depressa.

 

Durante o caminho, eu repassei as recomendações de Tatiana mentalmente, mas na verdade, eu não precisava de instrução alguma, eu sabia o que queria descobrir, e apesar de procurar não demonstrar o meu interesse no assunto, eu me sentia ansioso para descobrir mais sobre aquela dama misteriosa.

 

Não demorou até que a grande propriedade de Goldfields Park surgisse em meu campo de visão. Eu conhecia bem aquele lugar. 

 

Quando me mudei para Kent, a propriedade sempre me chamou atenção, e nem mesmo sua fama de assombrada por conta de seu recluso proprietário me manteve longe. Foi assim que fiz amizade com Charles Hathaway, me esgueirando para conhecer os segredos daquele lugar.

 

Charles Hathaway estava longe de ser o velho insano que todos afirmavam, muito pelo contrário, ele era inteligente, gentil e nós nos tornamos amigos com o passar do tempo. 

 

E foi aquela amizade que eu usei como desculpa para visitá-lo naquela manhã.

 

Assim que a pequena carruagem parou na porta da casa, não demorou para que um criado viesse me receber, me guiando até o hall de entrada, onde Silvia Hurst, uma das criadas mais antigas da casa, estava carregando um vaso de flores.

 

— Senhor Belikov, que prazer vê-lo — Ela colocou o vaso em um aparador, fazendo uma breve reverência.

 

— O prazer é meu senhora, o Sr Hathaway está? Oksana relatou em sua última nota para minha tia que ele não estava bem de saúde.

 

— O senhor Hathaway apenas se esgotou por conta da longa viagem, ele passou alguns dias em repouso e já está recuperado, ele está na biblioteca nesse momento, eu posso levá-lo até lá — ela explicou.

 

— Não é necessário, senhora Hurst, a senhora parece ocupada e eu conheço bem o caminho — Eu observei o vaso de flores que não parecia estar no local apropriado.

 

A velha criada se limitou a sorrir em agradecimento, sabendo que não teria problemas em permitir aquela situação, já que eu era íntimo dos moradores da casa.

 

Eu me apressei em subir a grande escadaria do Hall que me levaria ao segundo andar, onde estava localizada a biblioteca particular do Sr Hathaway.

 

Minha visita seria breve, eu perguntaria sobre sua saúde, e ao descobrir sobre seu casamento, convidaria a nova srª Hathaway e suas damas de companhia para tomar chá com minha tia e minha irmã na tarde seguinte. Eu pretendia ficar apenas alguns minutos com o meu velho amigo para não cansá-lo, mas algo fez com que eu desviasse de meu caminho.

 

Assim que entrei no corredor da biblioteca, uma melodia começou a soar, ficando mais alta a cada passo que eu dava em direção ao meu destino. Eu nunca ouvi ninguém tocar piano de maneira tão suave, e aquela era a mais bela melodia que já havia ouvido em minha vida.

 

Eu parei de caminhar ao me aproximar da porta entreaberta do cômodo vizinho à biblioteca, de onde estava vindo a melodia. Eu não resisti a tentação, espiando para ver quem tocava. Meu coração disparou ao ver a elegante figura sentada atrás do piano, seu cabelo estava preso por grampos, deixando seus longos fios castanhos cobrindo seus ombros, contrastando com o tecido azulado de seu vestido, uma cor curiosa para uma dama tão jovem.

 

De onde eu estava eu conseguia ver apenas seu perfil, e, desejando ter uma visão melhor de seu rosto, eu me aproximei de maneira inconsciente, apenas percebendo o quanto havia sido indiscreto quando esbarrei em uma mesa de apoio já dentro da sala, quase derrubando um vaso. 

 

Ela parou de tocar, se virando em minha direção com uma expressão assustada, se levantando em seguida.

 

— O senhor! — ela exclamou, parecendo não saber como reagir a minha presença.

 

— Perdoe-me a intromissão, mas eu nunca ouvi uma melodia tão bela — eu procurei disfarçar meu próprio embaraço por me colocar naquela situação.

 

Não pude deixar de admirá-la naquele momento, aquela era sem dúvida a mulher mais bonita que eu já tinha visto em minha vida, eu desejava conhecê-la melhor.

 

— Eu compus essa melodia, senhor…

 

Seu olhar sobre mim fez com que eu percebesse meu deslize, eu nunca me apresentei, e tampouco sabia seu nome. Não demorei em fazer uma reverência para a dama.

 

— Perdoe meu deslize em não me apresentar antes, eu sou Dimitri Belikov, senhorita.

 

Ela correspondeu a reverência de maneira graciosa.

 

— É um prazer conhecê-lo, senhor Belikov.

 

Mas antes que ela me dissesse seu nome, uma voz veio da porta que levaria ao outro cômodo.

 

— Minha criança, por que parou de tocar? 

 

O senhor Hathaway entrou na sala em seguida, se surpreendendo com minha presença. Eu logo me recriminei por minha atitude, eu havia invadido o espaço de uma dama a quem eu sequer havia sido apresentado formalmente.

 

— Senhor Belikov, não sabia que estava aqui — o velho homem se alegrou com minha presença, ignorando minha indiscrição.

 

— Senhor Hathaway, eu estava a caminho da biblioteca quando ouvi a melodia que a Dama tocava, não pude deixar de elogiá-la — Eu me justifiquei.

 

— Ahh, minha querida Rosemarie é a melhor pianista que já ouvi — Charles elogiou a dama.

 

Rosemarie, um belo nome para uma bela jovem.

 

— O Senhor me bajula, meu caro senhor Hathaway, mas o senhor não me apresentou ao cavalheiro — Rosemarie sorriu.

 

Então algo chamou minha atenção na maneira que ambos se tratavam, aquele não era um tratamento adequado para a dama de companhia de sua esposa. 

 

— Eu sinto muito, eu passei tanto tempo sem conviver na sociedade que me esqueço das boas maneiras. Senhor Belikov, permita-me apresentá-lo a minha jovem esposa, Srª Rosemarie Hathaway.

 

Srª Rosemarie Hathaway. Aquelas palavras ecoaram em minha mente. Ela é casada. 

 

Naquele momento todas as esperanças que eu nem havia percebido que se formaram dentro de mim se desfizeram. Eu demorei tanto tempo para me encantar por uma dama, e ela é casada!

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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