O Titã de Ataque escrita por Yongyuan


Capítulo 1
Capítulo 138 - Os Planos para o Futuro


Notas iniciais do capítulo

戦え > Tatakae (do japonês, "Lutar").



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804033/chapter/1

Armin Arlert, como um rei, era erguido ao ar pelas mãos da figura do Titã Bestial que, uma vez, já havia servido à Tom Ksaver. Grisha Yeager e Eren Kruger estavam também presentes, logo ao lado, todos erguidos pelas mãos do Titã Colossal de Bertholdt. Determinado e ferido à perna direita, Armin respirou fundo - era a hora de tomar a atitude final. Qualquer um que estivesse ali perto teria, ainda, ouvido algumas palavras.

— Eu sou grato - grunhia, em tom baixo, a voz do rapaz. - sem a força de todos vocês... não conseguiríamos parar o Estrondo.

Todos os outros que ainda formavam a Aliança, já devidamente presos à rede nas costas do titã mandíbula, assistiam a cena sem saber o que sentir.

— Adeus... Eren.

A luz surgiu-se, primeiro, na vertical; veio, logo em seguida, o risco horizontal, ainda branco, tendo o corpo de Armin como o epicentro de uma explosão de alta magnitude. O fogo e a fumaça, dispersos violentamente por todas as direções, destruíam e corroíam cada um dos imensos ossos que formavam o Titã Fundador. Mikasa, com dor no peito, assistiu por quase trinta segundos aquele esqueleto ser demolido parte por parte, seus destroços caindo ao chão um por um. Não só a explosão mas como também a queda daqueles ossos quilométricos ao chão fizeram causar um impacto violento por todos os arredores, de forma que os Colossais sem mente mais próximos ao corpo do Fundador sentissem todo aquele ataque. Mortos, devido à falta de ação do Sangue Real em contato com o poder do Titã Fundador, alguns mais à frente da horda chegaram a cair. Seus corpos colidiam com os mais de trás, o que causou, por mais quase trinta segundos, um efeito dominó. Como nem todos estavam tão próximos uns dos outros, um total de menos de cinquenta colossais caíram-se ao chão.

Toda aquela cena de destruição foi palco de contemplação para todos os sete membros da Aliança que voavam sobre o corpo de Falco. O tempo passava-se e nenhum deles sentia um pingo de coragem - por menor que fosse - para dizer qualquer coisa. A morte de Eren era um preço alto a se pagar para aqueles que eram seus amigos, ainda que fosse pela salvação do mundo; aqueles que nao eram amigos, mantinham silêncio pelos outros. Talvez fosse por respeito, talvez fosse por aceitação.

— Falco - soou, forte, a voz de Pieck, que aproximava a cabeça do corpo do titã. - desce lá. A gente precisa pegar o Reiner e... e Armin de volta.

Gabi engoliu seco. Voltar para perto do titã Fundador, ainda que estivesse todo demolido e tornando-se fumaça em baixo ritmo, não parecia uma boa ideia para ela. Não teria como descobrir, mas Pieck e Annie, em específico, sentiam algo parecido.

Em meio à imensa fumaça que erguia-se da explosão, ao mesmo tempo em que os últimos ossos do Fundador caíam-se ao chão, a figura de Armin, em seu Titã Colossal, erguia-se aos ares. Ele olhava para baixo, sereno e focado, como se conseguisse enxergar algo. Sabia, apesar da falta de visão, que já não havia mais nada ali; todos os inúmeros titãs que apareceram anteriormente na batalha, fossem aliados ou inimigos, já haviam desaparecido, fosse pela explosão ou fosse pela derrota do poder do Fundador. Armin ergueu a cabeça, então, virando o rosto para o lado, encontrando o Titã Mandibula ao longe, dando uma volta, curvando-se em vôo em sua direção. Ele sabia, assim como todos da Aliança, que a sua próxima missão era procurar pelo corpo de Eren. Talvez tivesse sido desintegrado, mas talvez não. Cauteloso como nunca, ele sabia; não ter visão do corpo morto de seu amigo de infância significava, também, não ter certeza da vitória.

~

A visão lhe parecia turva. Ainda assim era possível ver, no céu escuro, uma série de linhas de luz, em números incontáveis, saindo de um lugar e indo para o outro. Confuso, Eren percebeu-se pela primeira vez no lugar onde estava; os Caminhos. Tendo uma sensação estranha na perna esquerda, resolveu erguer a cabeça, guiando o olhar para a parte de baixo de si. O que viu foi Ymir, ajoelhada logo ao seu lado, modelando sua perna através da areia.

— Hm? - resmungou ele. Ymir, sem parar o trabalho, virou o rosto à direita. Ela encarava o portador do Titã de Ataque, mas seu rosto estava tão escuro que não era possível ver seus olhos.

A garota finalizou o que estava fazendo em poucos instantes. Assim que o corpo de Eren estava totalmente refeito, ela ergueu-se, sem pressa, virando-se e caminhando em direção à Árvore de Luz; a mais alta de todos, origem de todos os Caminhos.

Eren fez deitar novamente a cabeça sobre a areia, erguendo o braço direito, como se quisesse alcançar as linhas dos caminhos com a própria mão. Um cansaço forte tomava conta de seu corpo, mas ele sabia que, não importando qual fosse a situação, cansaço nunca seria motivo para parar de avançar. Foi, talvez, para lhe dar certeza desse pensamento é que surgiu, aproximando-se de Eren, uma figura. Ele ergueu o olhar somente para ver Eren Kruger e Grisha Yeager logo ali.

— Levante. - rugiu Kruger, como teria feito há muito tempo para com Grisha, quando o médico sentia-se cansado e desanimado. A situação, entretanto, não era a mesma; Eren estava, sim, cansado, mas não desanimado.

— É, eu sei. - respondeu o rapaz. Fechou o punho direito com toda a força que tinha. - Levantar. Lutar.

CAPÍTULO 138

OS PLANOS PARA O FUTURO

Logo que levantou-se, Eren continuou a contemplar visão de tudo o que havia ao redor; os Caminhos. Aquele era, talvez, o lugar mais lindo que um ser humano poderia conceber.

— Então.. quer dizer que ela conseguiu. - disse ele. Grisha balançou a cabeça, em gesto positivo. - É, eu sabia que... ia acabar acontecendo algo assim.

— Foi uma anomalia. Ao mesmo tempo em que sua mente morreu, depois do tiro dela que arrancou sua cabeça, o contato com o sangue real de seu irmão engatilhou sua presença nos Caminhos. - explicou Kruger.

— É difícil de explicar se... se você está vivo ou se está morto, filho. - concluiu Grisha.

Eren deu um riso de deboche, sem, ainda, prestar olhares à nenhum dos portadores anteriores do Titã de Ataque. Riu, sim, pois tudo aquilo lhe soou como uma piada; ele sabia que não estava morto. Pelo contrário: estava muito mais vivo que antes. Ele tinha ciência de que aquela era a segunda vez que havia estado nos Caminhos e isso significava que Ymir havia escolhido seguir suas ordens ao invés das de Zeke. Ele havia ganhado de seu irmão; o Estrondo começaria a seguir. Sua segunda estadia ali naquele campo fora dos Tempos e Espaços tinha ainda, com certeza, o propósito de fazê-lo receber auxílio de Ymir pra que seu corpo, antes decapitado, não morresse.

— Se aqui o tempo passa diferente... isso significa que, agora, a Marionete do Fundador está sendo criada. - disse Eren. - As muralhas de Paradis estão caindo. Está tudo indo de acordo com o plano.

— Eu tenho as minhas dúvidas sobre isso, Eren. - retrucou Kruger. - Como você vai libertar Eldia deixando Armin e Mikasa à solta? Sabe que eles vão te caçar até o fim do mundo pra não te deixar concluir o Estrondo.

— Dúvidas sobre as minhas atitudes? - indagou o rapaz, virando levemente a cabeça para o lado. Seu rosto trazia em si o semblante de poucos amigos. - Talvez eu é quem devesse ter dúvidas sobre os teus ideais. Quem é que te mandou lutar por Eldia, em primeiro lugar?

 Kruger engoliu seco. Depois de ouvir aquela pergunta, ele não pôde evitar lembrar-se do momento mais triste e importante de sua infância; momento no qual via os próprios pais serem mortos sob o fogo, queimados vivos, por não terem a liberdade de pensar e dizer o que achavam certo. Assim que os guardas da Segurança Pública de Marley saíram da casa, Kruger, em sua figura criança, saiu também do guarda-roupas no qual se escondia, somente para perceber que não teria sequer a coragem de chegar perto dos cadáveres carbonizados de seus pais. Ficou ali, parado, encarando, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos.

— ... eu quero sumir... - disse o pequeno garoto, sob o medo e espanto. Ele tinha certeza que não teria como continuar vivendo naquele mundo sem seus amados pais. - eu preciso sumir...

Foi em seguida é que ocorreu, à ele, sentimento similar à um dejavu; uma voz, de potência grave, inundou seus pensamentos, manipulando, pela primeira vez em sua vida, suas sensações e ideais.

— Sumir!? - retrucou a voz.

A criança não fez nada em resposta àquela fala, mas, se resolvesse virar o rosto à direita, veria ali um rapaz de cabelos negros pouco alongados, casaco preto e marcas de titã à parte de baixo dos olhos.

— Você precisa ir em frente. Você precisa lutar, por eles. Por Eldia. - continuaria Eren Yeager, em semblante de fúria. - Lute!!

Aquelas memórias passaram à mente de Kruger velozes como nada antes já visto por ele. Já nos Caminhos novamente, ele baixou o olhar; não tinha resposta.

— E você, Grisha? - continuou o rapaz, desviando o olhar, encarando o próprio pai, que estranhou ter sido chamado pelo nome pela primeira vez. - Também tem alguma dúvida sobre as minhas ações?

Grisha lhe encarou de volta, determinado. Havia acontecido, com ele, o mesmo que acontecera com Kruger; o médico viu-se, novamente, numa cena de alguns anos atrás. Trazia o corpo já acordado de seu filho - uma criança - no braço direito, enquanto Keith Sadies, como o espectador que era, surgia ali, naquele dormitório provisório feito para abrigar os moradores da muralha Maria.

— A mamãe foi devorada... por um titã... - dizia o menino.

A resposta adequada para aquela afirmação, para Grisha, era clara; a mulher de sua vida havia sido morta por pura negação da familia real, que, anteriormente, tinha todo poder possível para parar o ataque dos titãs Colossal e Encouraçado. As tragédias de sua vida repetiam-se. Por um breve momento, arrependeu-se de todas as dúvidas que havia tido na batalha contra Frieda; toda sua hesitação em matar e devorar o corpo daquela mulher, assim como de matar também os familiares dela, havia sido em vão. Era o certo à se fazer. As memórias do futuro de seu filho, que lhe havia influenciado à lutar, estavam certas. As coisas, entretanto, seriam agora diferentes. A responsabilidade de trazer dor aos guerreiros de Marley e trazer justiça ao povo eldiano era pessoalmente dele, e não de Eren. O homem tinha, ainda, um ou talvez dois meses de vida. Para ele, isso ainda era tempo suficiente para rastrear os Guerreiros e matá-los adequadamente, como já havia feito com a familia Reiss. Transferir o Titã de Ataque ao seu filho era uma tarefa para depois.

— Não!!

Tal voz, de cunho negro, rugiu por todos os arredores de sua mente, no formato de uma lembrança futura. Não haveria tempo para isso, mas, ainda assim, Grisha suou uma gota fria pelo canto direito da testa.

— Sou eu quem vou vingar a minha mãe, não você. Sou eu quem vai trazer justiça à Eldia, e não você! Esse poder é meu!!

Grisha sabia que, se olhasse para a direita, veria imagem similar de seu filho à que havia visto logo antes de sua batalha contra Frieda Reiss. Percebeu algo que, por breves momentos, poderia lhe parecer impossível: a influência de seu filho, através da conexão do Titã de Ataque, se tornava mais forte do que seu ódio pessoal por conta da perda de Carla. Talvez, no fundo, não houvesse poder o suficiente em seu ódio.

Já de volta nos caminhos, Grisha não teve outra reação além de encarar de volta o filho, ainda determinado em seu olhar.

— Eu sei que você não consegue mais odiar, de verdade, nem os próprios inimigos depois de seu encontro com Kruger, quando seria mandado para a prisão do paraíso...  - continuou Eren. - Eu sei que deu o nome dele à mim justamente como um meio de ajudar a si mesmo, diariamente, à lembrar de sua luta... mas agora acabou. Eu vou acabar com tudo pessoalmente.

— Só pedimos explicação, Eren. - murmurou Kruger. - Queremos saber como é que isso vai acabar. Você nos deve essa satisfação, já que ... dedicamos nossos corações pela sua causa... pela nossa causa, por toda a nossa vida.

Eren deu um riso novamente. Por tanto tempo, “dedicar o coração” havia sido um lema de sua vida e das ordens que recebia dentro da Tropa de Exploração. Talvez o poder do Titã de Ataque tivesse também causado a influência desse lema em seus portadores antigos. Talvez.

— Qual a dúvida, Eren ? - perguntou de volta o rapaz.

— Mais que qualquer outra coisa, quero saber como é que você vai fazer pra continuar vivo, avançando no Fundador, deixando solto o Colossal. Você sabe que, assim que possível, ele vai chegar até você e usar a explosão pra te matar e destruir seu titã. E, também, por que é que você acha que o avanço dos colossais vai solucionar o problema dos Eldianos? As pessoas em Paradis ainda v-

— “Solucionar”? - retrucou o rapaz, interrompendo a fala de Kruger. - O Estrondo não está sendo feito pra solucionar nada. As relações entre as pessoas, sejam de Paradis ou não, sempre vão ter problemas, isso não tem como corrigir. O Estrondo é sobre destruir quem quer destruir Eldia, e pronto. - concluiu, dando um passo ou outro para o lado. - ... e, sobre Armin, Ymir não vai deixar isso acontecer. Ela vai usar todo e qualquer poder que tiver à disposição para restringir as ações dele e de quaisquer outros que forem atrás de mim.

— E se ela não conseguir?

— ... Eu tenho um outro plano, eu...

— Eren, eu pessoalmente não me importo tanto com relação aos outros, mas o Titã Colossal precisa morrer, ou s-

— EU NÃO VOU MATAR NENHUM DELES!

Eren gritou como talvez nunca antes havia gritado na vida, interrompendo a fala de Kruger, que assustou-se. O rapaz, em legítimo semblante de fúria, passou a dar alguns passos para os lados, como se tivesse uma sensação de conflito dentro de si.

— Nenhum deles. - continuou ele, enquanto ainda caminhava. - É justamente por eles é que eu estou fazendo tudo isso!

— Você vai arriscar tudo o que nós fizemos por esses anos todos, logo no final do seu plano, por conta da vida de um eldiano?

— Ele não é um “eldiano”. Ele é meu amigo!  - respondeu, parando de caminhar por alguns momentos. - E você sabe muito bem como a raça eldiana foi subvertida pelo resto do mundo. A verdadeira Eldia é Paradis. Todos de Paradis merecem ser protegidos, o Estrondo todo é sobre isso. A ilha vai continuar vivendo em paz, enquanto todos aqueles que desejaram a morte para a própria raça, ou pra outra raça, serão varridos desse mundo. Talvez algumas pessoas sofram enquanto os Colossais estiverem sendo liberados das muralhas, mas em nenhuma hipótese eu vou matar deliberadamente qualquer Eldiano de verdade. Principalmente um amigo meu. ... principalmente o Armin.

— Eu não entendo. Eles estão contra você, contra tudo o que você e nós fizemos... eles estão planejando parar a última esperança da sobrevivência de Eldia... eles estão planejando matar você, Eren. - disse Kruger.

— ...Sim. Não é como se isso pudesse ser diferente, ahm?

Grisha e Kruger, sem dizer nada, apenas observavam e encaravam o rapaz, que baixou o olhar momentaneamente, fechando o próprio punho direito. Ele, mais que qualquer um, sabia o peso que aquela mão podia segurar.

— Eu me lembro, até hoje, do medo e do terror que senti quando enfrentei um titã pela primeira vez. Eu tinha um pouco de coragem... nem todos tinham. Se não todos, a maioria dos que se uniram contra mim sabem o terror que os titãs causam. Eles sabem do medo e do desespero que a Marionete do Fundador e os milhões de Colossais vão causar no mundo. De uma maneira ou de outra, a missão de cada um deles, desde o começo, era de salvar a humanidade contra a ameaça dos titãs, e é isso que eles vão fazer, até o fim. Isso é quem eles são, quem sempre foram. Pra evitar que humanidade fora das muralhas seja extinta pelos titãs, eles vão deixar as diferenças de lado. Eles vão deixar de ser inimigos uns dos outros, pelo menos... pelo menos nesse momento.

Houve silêncio ali em seguida, por alguns instantes. Eren respirou fundo; sentia como se estivesse falando demais. Sabia, ao mesmo tempo, que havia muita coisa ainda à ser dita. Nenhum dos três teria como ver, mas haveria, à partir daquele momento, diversas cenas que dariam razão às palavras de Eren. Numa delas, poderia-se ver Connie, rindo, ao ver Annie de boca cheia, comendo em desespero de fome. Ele riria dela ao invés de avançar em ataque posto que precisariam um do outro para lutarem juntos. Noutra cena, poderia-se ver Gabi, ajoelhada frente à Jean e outros membros da Aliança, admitindo que havia errado em julgar Paradis erroneamente por tanto tempo e pedindo a ajuda de todos para pôr fim ao Fundador e ao Estrondo.

— Eu só... quero salvar Eldia... só queria que a influência do Titã de Ataque tivesse alcance maior que duas gerações... eu já teria mudado tudo há muito tempo. - concluiu ele, baixando o olhar.

— ... Então qual é o outro plano que você mencionou? - perguntou Grisha. - pra caso Ymir não consiga restringir totalmente Armin e os outros?

— Não é uma reserva, ele será feito de qualquer maneira. - explicou Eren, dando mais alguns passos para o lado. - Através dos poderes do Fundador e da modelagem que ele pode fazer aqui nos caminhos, eu vou criar uma cópia de mim mesmo, um segundo eu. Eu vou dividir a minha consciência.

Grisha e Kruger arregalaram os olhos por alguns momentos, surpresos com aquela resposta. Suas reações assim o foram por dois motivos; o primeiro é que, mesmo que a fala tivesse vinda de Eren Yeager, a possibilidade de criar uma cópia de si mesmo através dos Caminhos e dar à ela metade de sua consciência parecia uma impossibilidade. O segundo é que, se fosse possível, era completamente perigoso e arriscado.

— Eren, isso não evita a possibilidade de você ser totalmente morto caso a Marionete do Fundador caia...

— Sim, evita. - disse ele, sentando-se ao chão sem pressa. Com as próprias mãos, ele modelaria ali, à partir daquele momento, um segundo corpo de si. Através do contato físico entre o original e a cópia, que seriam duas partes de um só ser, seria possível fazer uma “transferência” da consciência, numa técnica usada anteriormente por Reiner para sobreviver à batalha de Shiganshina, mas, nesse caso, fazendo parar o processo na metade. A verdade é que, para qualquer outra pessoa, seria impossível saber se, na morte de um, o outro pereceria ou não, mas Eren tinha suas certezas, por seus motivos. - E isso vai ser necessário porque não existe nenhuma atitude que eu possa tomar pra evitar com que meus amigos vão até a Marionete para me parar. O Fundador vai cair, cedo ou tarde, isso é um fato. Só não posso deixar que isso cause a destruição de Paradis e a morte de todo Eldiano inocente que vive na ilha.

— ... Só está faltando uma parte do seu plano, Eren. - disse Grisha. O rapaz, antes compenetrado em sua modelagem na areia, ergueu os dois olhos, encarando o próprio pai. - Se não quer que seus amigos morram, precisa ter cuidado com Ymir. Ela aceitou ir com você pra que o Estrondo seja concluído, quando ela vir seus amigos tentando te parar, ela vai fazer tudo o que puder pra mata-los.

— Ela vai fazer tudo o que puder pra restringi-los, sim - respondeu o rapaz, voltando o olhar para as areias dos Caminhos. - mas ela não vai matar nenhum deles.

— ... ?

— Pai... o poder do Titã Fundador consiste em dar ordem à Ymir. Praticamente todo poder titã emana somente dela. - disse. Grisha cerrou os olhos,  assim como Kruger. - O Fundador, de modo geral, é como um canal de comunicação com Ymir, enquanto que o Sangue Real é o requisito pra se dar uma ordem à ela. Como eu não tenho sangue Fritz, ela pode não me obedecer por completo pra qualquer ordem que eu dê pra ela a partir de agora... mas quando eu pedi o poder dela, dei também algumas ordens, e uma delas é de não matar diretamente meus amigos. Todas essas vão ser seguidas pela Ymir porque ela é, ainda, mais que tudo... uma escrava.

Kruger e Grisha não poderiam testemunhar presencialmente o ocorrido, mas Eren estava certo; o titã porco, usando do próprio corpo, prendeu Armin dentro de si, sobre os ossos do esqueleto do Fundador em movimento, pondo a própria língua dentro da boca do rapaz para evitar com que ele se ferisse e causasse a transformação imediata. O titã poderia, entretanto, ter usado mais força para destruir o corpo do portador; poderia, ainda, ter mordido sua cabeça e matado-o instantaneamente. Não obstante, outros titãs trazidos à vida por Ymir podiam ter usado todas as suas capacidades para ferir a Aliança de forma letal, ao invés de apenas encenar alguns ataques e focar Reiner, Pieck e Annie com mais fervor, por saberem que seus ataques não os matariam. Eles assim o fizeram por conta das ordens de Eren à Ymir.

— ... mas mesmo essa ordem pode não ser suficiente. - continuou Eren. - Eu acredito na capacidade de cada um deles, mas a situação pode sair um pouco do controle. Se for esse o caso, eu vou usar toda a influência e poder que eu tiver, sobre o Fundador e Ymir, pra levar ajuda pra eles. Se isso acontecer, vocês serão invocados... junto com outros portadores do passado. Se isso acontecer...  eu peço, pessoalmente, à vocês dois... não deixem os meus amigos morrerem.

Tal cena piscou como um flash de memória à Kruger e Grisha, tempos depois, nos quais perceberam-se novamente no mundo, sob a forma de seus respectivos Titãs de Ataque, agindo pelo pedido de Eren. Juntos, eles destruíam os corpos de cada um dos titãs originais que avançavam em direção à Annie, que trazia, na mão, Armin em sua forma humana. Eles o faziam por pura fé em Eren - aquele que havia, verdadeiramente, iniciado todo esse ciclo de resposta ao ódio do mundo contra Paradis.

— Eu agradeço vocês - concluiu o rapaz, percebendo-se habilidoso em criar um molde de si mesmo na areia. - vou finalizar tudo à partir de agora. Eldia será livre.

Kruger e Grisha balançaram a cabeça em gesto positivo, sem dizer mais nada. Não foi preciso à qualquer um deles - ou mesmo à Eren - fazer também qualquer coisa para que a imagem dos dois antigos portadores do Titã de Ataque sumisse, como se nunca tivessem estado ali em primeiro lugar.

A modelagem de um segundo corpo humano durou pouco tempo para Eren - e muito menos tempo para o mundo real. O corpo de areia tinha textura de baixa qualidade, demonstrando a falta de habilidade artística do rapaz. Não era como se isso tivesse qualquer relevância, afinal. Eren, calmamente, posicionou a mão esquerda, aberta, à cabeça do corpo modelado ao chão. Num piscar de olhos, anos passaram e luzes se piscaram. O rapaz sentiu como se tivesse morrido e renascido uma série de vezes; como se tivesse sob forte efeito da mais forte das drogas. Seu objetivo, entretanto, manteve-se sempre ali. Era de conhecimento dele que uma única memória ou ideal de uma pessoa não poderia ser dividido em dois, então cada uma das experiências e lembranças de Eren pertenceria, necessariamente, somente à um ou à outro. O resultado disso não poderia ser diferente; a Marionete do Fundador, num tamanho maior que tudo no mundo, seria guiada pela mente de uma criança, num estado quase primitivo, que tinha, em si, um desejo simples e imenso, maior talvez que o Titã que, inconscientemente, controlava: a Liberdade. Do alto das nuvens, a criança veria-se de braços abertos, no melhor momento de sua vida, contemplando a verdadeira liberdade, sem jamais ter conhecimento do terror e da destruição que levava consigo.

Ao mesmo tempo, todas as memórias e conhecimentos sobre os titãs originais, toda a verdade sobre Eldia e o resto do mundo eram alocadas à uma nova mente, num novo corpo, moldado no mesmo material biológico ao qual moldavam-se os titãs puros e originais. Num impulso neural único, tal mente obrigou os olhos de seu corpo à abrirem-se. A primeira visão que teve foi de um céu azul, iluminado por uma luz forte do Sol. Eren, ainda vestido nas mesmas roupas, trazia as marcas de seu Titã de Ataque na parte de baixo dos olhos. Ele não podia lembrar-se de absolutamente nada que havia acontecido em sua vida antes de ter lido os livros - e visto as memórias - deixadas por seu pai no porão de sua casa, em Shiganshina. Isso não lhe teria qualquer relevância, entretanto; seus planos ainda precisavam ser concluídos. Eren ainda precisava levantar e seguir em frente. Ele ainda precisava lutar.

Lute”, pensou.

戦え .」


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Titã de Ataque" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.