Couro e renda escrita por Supernova


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Essa fic era um desafio da #tagdaescrita, que rolou em 2020 no Spirit e foi um presente para uma usuária de lá, que por sorte, compartilhava do meu amor por este ship, que é meu favorito.


Enjoy.



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— Ah, Shaka! Eu não acredito que você vai ficar aí!

 

Milo estava inconformado com a cena: sentado no sofá, trajando cueca e uma camisa folgada, seu amigo segurava um livro, revezando as páginas com goles de vinho de uma taça que pousava no braço do móvel no qual estava despojado.

 

— Qual o problema? — sem entender, Shaka voltava a mirada ao visitante, por trás das lentes de seus óculos de aro tartaruga.

 

— O problema é que você casa amanhã!

 

— E qual o problema? — repetiu a pergunta, ainda desconhecendo o motivo do drama.

 

— A gente deveria sair, beber e você devia ter um dançarino seminu performando para você!

 

Anos a fio de amizade deveriam ser o suficiente para Milo saber que a companhia que Shaka mais apreciava no mundo era a própria, assim sendo, estava aproveitando ao máximo sua última noite sendo apenas ele e ele mesmo que teria em sua vida. Ou ao menos Shaka julgava que o outro deveria saber, todavia, analisando a figura ao batente da porta com uma das mãos na cintura enquanto a outra gesticulava ao ritmo de seu discurso, pôde perceber que julgou erroneamente. Seu amigo morreria tentando arrastá-lo para sociais.

 

— Milo, se eu estou iniciando uma vida conjugal, para quê eu vou querer olhar outro homem que não o meu? Além disso, já estou bebendo. Grato.

 

— Você não precisa querer, só acho que se o Saga vai fazer isso você deveria também.

 

— Como é? — parecia que enfim Milo havia conseguido sua querida atenção.

 

— Disse que seu futuro marido tem um dançarino para animar a festinha.

 

— Saga só foi tomar uma cerveja com os amigos.

 

— Na casa de quem?

 

— Aiolos.

 

— E você acha mesmo que o Aiolos não ia organizar uma festinha?

 

Pensando friamente: evidente. Aiolos era a pessoa mais festeira que pairava sobre a Terra e, coincidentemente, uma das que menos possuía noções de limite e senso. Certamente para ele uma despedida de solteiro contar com um stripper era algo natural e de se esperar, como se antes de casar os envolvidos já não estivessem engajados em uma relação monogâmica. Ora, solteiros já não eram há dois anos. Suspirou. Por que os amigos de Saga eram todos loucos? Claro que ao pensar nisso, Shaka fazia vista grossa à conduta pouco ortodoxa do próprio noivo e, inclusive, ignorava solenemente o fato dele mesmo não ser exatamente um exemplo de normalidade apenas por estar no extremo oposto do comportamento social esperado no senso comum.

 

 

 

— Do que você sabe, homem?

 

Ah, o sabor da vitória. Milo alargou o sorriso, finalmente tendo todo o interesse de Shaka. Era a maravilhosa hora de expor sua descoberta. Dissipar informação disputava com omiti-las o posto de atividade favorita para Milo que, quando não estava guardando segredos estava os desvelando.

 

— É só que talvez o cara com quem eu estou saindo divida o “apê” com um parente que trabalhe em uma boate de strip e talvez ele pegue freelas de dançarino em eventos particulares tipo despedida de solteiro e talvez eu tenha escutado a conversa dele no telefone. Talvez também eu tenha me interessado ao ouvir o nome do Aiolos e só talvez eu tenha fuçado as coisas dele e confirmado as informações, porque você sabe que eu não gosto de fofoca!

 

— Ah claro, nem de bancar o detetive — guardou silêncio por mais alguns instantes, voltando a folhear o livro. Milo chegou a pensar que tão rápido quanto havia conseguido captar o interesse de Shaka, o havia perdido, até que este voltou a se pronunciar — O cara é bonito?

 

— Dez de dez.

 

Shaka ergueu uma sobrancelha e desviou o olhar. Confiava em seu noivo, o que não queria dizer que não sentia ciúmes. Era para ser uma última loucura antes do casório? Pois ele também teria sua cota. Ergueu-se de súbito, desviando-se das caixas com as coisas da mudança de Saga pelo caminho, desaparecendo no quarto. Milo pensou em perguntar, mas o barulho da porta do armário era a deixa que precisava. Havia garantido uma social com seu amigo. Estava pesquisando opções para a noite quando Shaka despontou pela mesma porta pela qual havia sumido, o puxando pelo braço.

 

— Vamos!

 

Para onde? Tudo indicava que Shaka já sabia muito bem.

 

 

 

Na casa de Aiolos, Saga até estava curtindo a noite com os amigos e as rodadas de cerveja, carteado e música. Até que a campainha tocou e dois homens entraram, colocando um pequeno palco no centro do recinto e algumas luzes coloridas.

 

— Aiolos, por que tem um palco no meio da sua sala?

 

— É sua noite! Amanhã você será um cara casado!

 

— É exatamente porque eu ainda quero ser um cara casado amanhã que eu não estou gostando de supor o motivo.

 

— Relaxa e curte, homem!

 

— Você não está entendendo, se o Shaka descobre isso, come meu fígado!

 

— Achei que ele comeria sua bunda.

 

— Isso ele faz sem precisar de pretexto!

 

Aiolos apenas riu.

 

— Está tudo no mais absoluto controle. Quando eu te coloquei em encrenca?

 

— Prefiro não começar a contar — respondeu, virando-se para pegar outra cerveja.

 

Se aquilo era o que estava pensando, era melhor dar um jeito de ir embora logo.

 

 

 

Não foi difícil localizar a van do dançarino na frente da residência alheia. Com uma plotagem com o nome Afrodite estampado, era o local onde o mesmo terminava de se aprontar. Estranhou as batidas na porta do veículo. Escutou um “não era isso o que eu tinha em mente para a sua noite, Shaka” vindo do lado de fora e estranhou mais ainda ver Milo ladeado de um desconhecido bonito e nada contente, que indagou assim que Afrodite correu a porta.

 

— Quanto o Aiolos pagou para você?

 

— Como?

 

Shaka observou a figura belíssima em uma calça justa e provocante de couro e uma sobrepele toda em renda tule. Era mesmo um dez de dez. Nada naquele homem parecia errado.

 

— Eu cubro a oferta para você não entrar — disse sem rodeios.

 

O tal Afrodite deu uma risada baixa.

 

— Olha, tem um noivinho esperando por mim, detestaria decepcioná-lo — respondeu ostentando o sorriso.

 

— O meu noivinho, no caso. E pode apostar que você detestaria ME decepcionar. Seus dentes também odiariam, suponho.

 

— Quanta agressividade! — riu — Tudo bem, anjo. Agora… — dizia enquanto vasculhava a bolsa, retirando uma máquina de cartão — o pagamento é a vista, coisa bonita.

 

Revirando os olhos, Shaka sacou a carteira. Fez questão do comprovante, que obviamente seria o presente de casamento de Aiolos. Afrodite parecia preparar-se para se retirar, quando escutou a voz do “noivo brabinho”.

 

— E esse outfit, aí?

 

— O que tem? — virou-se e o olhar alheio dizia tudo. Sorriu novamente — Ah, meu caro, se você vai fazer mesmo isso, eu te dou de graça, ainda arranco esses óculos e passo um lápis nesse olho de piscina que Deus te deu, mas essa eu vou querer ver.

 

— Então garanta seu assento.

 

Com isso e diante da feição descrente de Milo, entrou na van para trocar de roupas com o estranho.

 

Sentindo o controle da situação retornar para suas mãos, misturando-se com a euforia de quem está prestes a fazer algo improvável, Shaka permitiu-se sorrir também. Se alguém estava preparando um show para seu quase marido, Shaka garantiria que fosse o melhor de todos.

 

Hoje certamente todos dentro daquela casa iriam desejar ser o Saga por uma noite ao fim de sua apresentação, afinal ele seria o único a ter o segundo ato daquela performance.

 

Por todos os outros dias de sua vida.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada a você que leu até aqui.



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