POV BUTTERCUP

Quando finalmente o professor disse que podíamos ir para o intervalo, eu puxei Butch pelo braço.

— Me conta o que você sabe sobre o Ace, por favor.

— Só se formos comer alguma coisa lá embaixo. Você não pode ficar sem comer, mocinha.

Fiquei um pouco corada com aquela preocupação.

— T-Tanto faz! Você não é meu pai.

Ele sorriu e rumamos para o refeitório.

Sentamos em uma mesa próxima à janela. Ele tinha escolhido um pastel de carne enquanto eu preferi uma coxinha.

— Então - Comecei a falar, mesmo de boca cheia. - Qual é o paradeiro de vocês dois?

Butch tomou um gole do seu suco de caixinha e olhou nos meus olhos.

— O que você tem a ver com isso?

Me assustei com aquele tom dele. Não estava acostumada a vê-lo falar desse jeito.

— Tenho muita coisa a ver. - Insisti. - O Ace Buckings era meu namorado até ele falecer, no ano passado.

Falar daquilo fez meu peito doer, mas era bom colocar para fora. Falar com o Butch sempre é bom.

Ele ficou pasmo com aquela resposta. Estava até com a boca semiaberta. O que será que ele está pensando?

— Nossa, como o mundo é pequeno… - Foi o que Butch começou dizendo, coçando a nuca e bebericando seu suco novamente.

— Por que? Ele é seu parente? - Parei de comer para prestar atenção.

Os olhos de Butch pareciam ter ficado opacos.

— Eu sou meio que a reencarnação dele.

Parece que o mundo em torno de nós parou. Um buraco imaginário parecia ter surgido abaixo de mim e eu mal conseguia respirar.

— Mas… Como? Você já era nascido quando ele… você sabe. Você não pode reencarnar como se fosse ele. - Eu tava com um nó na garganta.

— Eu só estou aqui hoje graças a ele. - Dizia ele. - Sabe, antes de morrer, ele me salvou de ser atropelado.

Eu acho que vou desmaiar agora mesmo.

— O Ace conhece eu e meus irmãos desde que eu era pirralho. Eu sei que ele era envolvido com drogas e outras paradas… Até fumava junto com meus irmãos. Mas ele era bacana. - Disse ele, mordiscando seu pastel. Eu nem ousava piscar. - Praticamente um irmão mais velho.

— E por que você seria... - Parei de falar de repente e respirei fundo para falar o resto da frase. - a reencarnação dele?

— Na hora em que ele me salvou, foi atropelado no meu lugar. Ele me permitiu viver no lugar dele. Sou como uma representação.

— Que susto, garoto! Achei que era mesmo uma reencarnação! - Soquei de leve o braço de Butch, sorrindo amarelo. - Vocês têm suas semelhanças mesmo.

— E… De vez em quando, ele invade meu corpo. Aconteceu umas duas ou três vezes. - Complementou Butch, brincando com seu guardanapo em forma de bolinha.

Meu estômago começou a embrulhar. Então não foi um delírio. Ace apareceu no corpo do Butch para falar comigo.

— Então… Ontem eu falei com ele… Ele estava no seu corpo.

Butch parecia decepcionado de certa forma.

— Então foi ele que você abraçou?

Assenti com a cabeça.

— Ele até me contou em sonho que eu podia confiar em você. Que você era gente fina e tal. - Resolvi contar isso ao Butch. Não tinha nada a perder.

— Olha, ele tem toda razão. - Ele sorriu, todo orgulhoso, terminando seu pastel.

Eu fiz uma careta para ele, abocanhando o resto da minha coxinha. Meu estômago ainda estava embrulhado, então a comida não descia. Parecia que estava tudo preso na minha garganta, descendo lentamente para meu estômago.

— Mas tem uma coisa que não está fechando nessa história. - Comecei falando, jogando minha caixinha de suco no lixo, juntamente com os guardanapos. - Como foi que ele te salvou de ser atropelado no dia da morte se ele foi atropelado primeiro?

— Vai ver eu seja só uma alucinação. - Disse ele, sério. - Eu não sou real.

Ficamos uns segundos em silêncio, quando ele cortou o clima:

— Brincadeira! Hahaha! 

— Que susto! Já estava achando que você era um fantasma!

— Não… Fantasma é o Ace… Mas ele é bonzinho. - Ele disse, colocando as mãos atrás da cabeça.

Eu sorri. Era maravilhoso pensar que meu namorado conhecia o Butch desde pirralho. Queria tê-los conhecido na época também. Quando o Ace foi atropelado, tinha um garoto lá mesmo. Agora que estou recobrando a memória... Então era mesmo o Butch que ele salvou...

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POV BUTCH

Foi um choque quando descobri que meu velho amigo Ace era na verdade namorado da Buttercup, a garota maneira que conheci esses dias. Sabia que nosso encontro não tinha sido por acaso. Agora eu sei porquê a Buttercup finge estar bem quando na verdade, ela precisa de um abraço. Deve sentir muita falta do Ace. Eu também sinto, mas no meu caso, é diferente.

— Ei, Butch… - A voz de Buttercup surgiu do nada, me pegando de surpresa. - Valeu…

— Valeu pelo que?

— Por… Me ouvir, me explicar toda a história… Me consolar… Sei lá. Obrigada. Sabe, agora eu sei que realmente posso confiar em você.

Eu senti meu coração bater acelerado. Não sabia o porquê daquilo, mas apenas sorri.

— Sempre que precisar, estarei aqui para você.

Ela deu um sorriso genuíno e me abraçou, bem ali, no pátio da universidade. Senti vários olhares nos encarando. Mas Butter não parecia se importar. Ela parecia estar em paz e era isso que importava. Com cuidado, bati de leve com minha mão nas costas dela, como se ela soubesse que eu estaria com ela, custe o que custar.

— Hãã... Buttercup... - Pigarreei, meio envergonhado ainda com aquela situação. - O Ace não está aqui, então por que...

— Não estou abraçando o Ace desta vez. - Ela disse, num tom de voz mais sereno. - Estou abraçando você mesmo, Butch.

Eu arregalei os olhos e senti meu coração bater como se estivesse preso em um liquidificador. Eu sorri de canto. Sabia que parecia errado, mas fiquei feliz por desta vez eu ser o sortudo a ganhar um abraço dessa garota. Ace, meu brother, me perdoa.

Chegando na sala de aula, a maioria dos alunos estava com uma cara boba. E estavam olhando maliciosamente para mim e a Buttercup.

— Olha, galera! O casal Butchercup chegou! - Gritou Mike, do outro lado da sala.

Todos começaram a cantar uma musiquinha boba “Tão namorando”. Eu achei que só fizessem isso na escola.

— Afe, que nada a ver. - Grunhiu Buttercup, revirando os olhos. - Vocês não têm nada melhor para fazer, não?!

— Não precisa bancar a durona, BC! Nós sabemos de tudo! - William fez um biquinho e fingiu que ia beijar o amigo, Francis.

— Vimos você e o Butch lá no pátio no maior love! - Mike continuou, fazendo um coração com as mãos. Eu fiquei meio constrangido, mas ela parecia enfurecida apenas.

— Que love o que?! Eu só abracei ele! - Gritou Buttercup, batendo no peito. - Tá com inveja porquê o Butch é meu parça, né, Mike?!

Mike só deu de ombros. Por sorte, logo eles pararam de falar da gente e o professor chegou. 

— Certo, vamos continuar a aula. - Pigarreou Raymond, o professor daquela aula. - Vou continuar explicando sobre…

Ele continuou falando sem parar. Tentei anotar alguma coisa no caderno, mas ele estava indo rápido demais. Nem dava para acompanhar direito.

Olhei de canto para Buttercup. Ela parecia estar prestando atenção. Mas notei que seu rosto estava ruborizado. E sabe o que é mais estranho? O meu também está.

“Ace, me perdoe… Mas eu acho que estou desenvolvendo sentimentos pela sua ex-namorada…” - Pensei, um pouco envergonhado. Não sabia se gostava dela daquele jeito, mas de qualquer forma devia uma explicação para o Ace.