POV BUTTERCUP

Estou deitada na cama, fuçando em alguma coisa no meu celular. Lá fora faz um frio do diacho e eu estou coberta até o pescoço. Deslizo os dedos sobre a tela para ver as publicações mais recentes do Instagram. Até que aparece uma publicação recomendada para mim, de um perfil que não sigo.

@maverickhs_sports Você gosta de esportes? Gostaria de fazer parte das Olimpíadas? Então, deveria conhecer a nossa escola secundária, Maverick High School Of Sports, a única escola secundária da cidade focada em esportes! Você aprenderá coisas como matemática, história, etc., porém, há aulas curriculares do esporte que você escolher! Ficou interessado? Clique em “Saiba mais”.

Não demorou um segundo e eu cliquei no saiba mais. Uma nova tela se abriu e eu continuei lendo, super interessada.

@maverickhs_sports Você irá estudar em período integral, portanto, terá um quarto em nosso dormitório. Aos finais de semana, os alunos são liberados para passarem um tempo com a família, retornando domingo à noite. Mesmo se não for habilidoso nos esportes, nós te treinamos! Serão três anos inesquecíveis para você! Neste mês, abriremos uma bolsa de 50% para novos alunos, então aproveite e #vempramaverick ! (emoji de festa)

Dei um salto na cama e queria me inscrever naquele momento mesmo. Pena que tenha que pedir pro Professor. Estamos nas férias de inverno, mas acredito que ele vai deixar eu mudar de escola, só para variar. Sempre fui sombra das minhas irmãs, mesmo.

— Professor!!! — Saí gritando pela casa, sentindo o ar gelado invadir meu rosto.

— O que foi, querida? — Ele abaixou o jornal que estava lendo para olhar para mim. Fiz minha cara de pidona.

— Sabe… Tem uma escola muito legal que eu queria estudar… — Fui ao lado dele, massageando seus ombros, a fim de convencê-lo.

— Hmm… O que está aprontando agora, Buttercup Utonium? — Ele arqueou uma das sobrancelhas e eu só dei um risinho amarelo, dando de ombros.

— Olha aqui… — Mostrei a publicação para ele. — É uma escola secundária com atividades extracurriculares voltadas para esportes. — Mostrei a ele uma foto dos alunos na frente da escola.

— Muito interessante, querida. — Ele assentiu. — Porém, não tem nada de estranho nessa tal escola Maverick?

— O que?

— Não há meninas na foto.

— Cê sabe que não são todas as meninas que curtem esportes que nem eu, né?

Ele balançou a cabeça, em negação. Tô meio com medo do que ele vai falar em seguida.

— Querida, sinto informar… Mas você não pode entrar nesta escola. É uma escola só para garotos.

Subitamente, arregalei meus olhos. Tamanha era minha surpresa e frustração.

— Posso saber por que?! Garotas também jogam bem!! — Eu estava claramente indignada. Olhei para a foto novamente e senti ranço daqueles mauricinhos. Que sorte, eles podem estudar naquela escola…

— Eu sei, meu anjo, a vida é injusta…

— Isso não fica assim, Professor! Vou mostrar que garotas também podem ser ótimas atletas! — Falei, decidida como sempre.

— Buttercup Utonium, o que vai aprontar agora?? — Ele ergueu um pouco o tom de voz, levantando-se da poltrona, enquanto eu marchava pro meu quarto.

— Eu? Vou fazer eles engolirem as palavras deles. — Dei um sorriso meio maldoso e saí.

Escutei o suspiro do meu pai. Ele está acostumado com minhas artimanhas. E mais, não desisto fácil do que quero. Eu chamo de persistência, mas ele chama de teimosia.

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Decidi entrar naquela escola para dar na cara do diretor e para mostrar como garotas são boas em esportes também. Levei o maior susto quando o Professor abriu a porta do meu quarto de repente.

— Buttercup! Você NÃO vai para aquela escola!

— Eu vou, sim! — Retruquei. — Preciso fazer isso, ou as diferenças nunca serão resolvidas.

— É bonito da sua parte, mas será perigoso se for até lá sozinha…

— Eu não estou sozinha, eu tenho o Drake.

— Quem?

— É minha versão masculina. — Dei um sorriso maroto. — Eu serei um aluno. Não irei como Buttercup.

— É pior do que pensei…

— Relaxa, pai, eu vou fazer o que tenho que fazer e volto para casa.

— Espero não me arrepender… — Disse ele, meio pesaroso.

— Vai ficar orgulhoso de mim, isso sim. — Eu o abracei, reconfortando-o.

— Eu te amo, Buttercup. Não quero que se machuque.

— Te amo também. E… Não é tão fácil machucar a mamãe aqui. — Bati no peito com tudo, super confiante.

Ele riu. Sou decidida e teimosa assim desde pequena. Acho que isso nunca vai mudar. O que tem que mudar é o pensamento da sociedade em achar que só meninos podem ser atletas.

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— Você enlouqueceu de vez?! — disse Blossom quase gritando após eu deixá-las a par do meu plano. — Perdeu o juízo?

Estávamos no quarto dela, Bubbles penteava o cabelo enquanto nos ouvia calmamente, se arrumando para ir a aula de piano que começaria em uma hora, aproveitando o kit de maquiagem da irmã.

— Eu disse que ela iria surtar. — sussurrei para Bubbles, que riu baixinho se encolhendo.

— E se te descobrem? — Blossom prosseguiu com o sermão. — E se tentam fazer alguma coisa com você? E como você vai conseguir manter esse seu segredo por tanto tempo, durante os jogos?

Suspirei fundo e revirei os olhos.

— Irmã, você pensa demais. Relaxa! Até parece que não me conhece... Fica tranquila que a mamãe aqui vai colocar aquela escola abaixo — respondi com tranquilidade dando um sorrisinho sarcástico.

— Acho que é disso que eu tenho mais medo — comentou de braços cruzados e balançou a cabeça negativamente.

Bubbles se levantou da mesa da penteadeira e se sentou ao lado de Blossom na cama.

— Bloss, você tá sendo muito pessimista — Bubbles pôs a mão no ombro da irmã ruiva. — Sei que é difícil, mas eu confio na Butter, por isso a desejo boas energias e a admiro pela coragem.

— Ufa! Pelo menos alguém.

— Porém nada impede que ela ultrapasse os limites e…

— Aah! Fala sério!

Bubbles riu da minha reação.

Iniciei uma guerra de travesseiros, jogando uma almofada em Blossom que retribuiu. Bubbles tentou fugir a fim de não desmanchar o cabelo, sem sucesso.

— Vocês têm consciência do tempo que eu demorei para ajeitar isso aqui? — tentou manter uma postura rígida, apontando para os cachos loiros arrepiados.

Joguei outro travesseiro nela, provocativa.

— Eu odeio vocês — comentou brincalhona e não demorou muito para entrar junto na brincadeira, tentando me atingir.

POV BUTCH

Estou arrumando minhas coisas para voltar para a escola amanhã. Como é um internato, eu fico a semana toda lá. Eu até posso voltar para casa nos finais de semana… Mas não vale muito a pena pois eu estarei… Sozinho.

Ultimamente, começou a esfriar bastante. Estou usando um moletom verde-musgo que comprei em uma liquidação. A moça da loja disse que ficou bem em mim. E, modéstia à parte, ela tem toda razão.

A razão pela qual estou nessa escola de esportes e atletas… é para realizar meu sonho de infância que é ir para as Olimpíadas! Minha falecida mãe ficaria tão orgulhosa de mim. Meu pai eu já não sei. Ele nunca foi muito com a minha cara. A gente quase nem se vê, na verdade.

Chegando em meu quarto no internato, a primeira coisa que eu observo é meu brilhante troféu da última competição escolar. Não consigo parar de sentir orgulho, pois sinto que me aproxima mais da minha mãe. Era como se, segurar aquilo, fosse o abraço que ela me dava quando eu era mais novo.

Assim que deixei minhas coisas no quarto, fui dar uma volta, tomar ar fresco… Saí escutando música, com meus fones de ouvido pretos e observando os outros garotos conversando no refeitório. Assim que fui para o pátio principal do colégio, me deparo com um garoto estranho que nunca vi na minha vida. Ele era meio baixinho, tinha cara de invocado e teimoso. Será que teremos um mascote esse ano? Olhei o moleque de cima a baixo. Ele usava um moletom surrado, uma calça jeans preta rasgada nos dois joelhos, tênis de corrida verde-escuro e um boné virado para trás da cor cinza. Parece comigo quando era mais jovem.

Fico observando aquele forasteiro em silêncio. Ele ruma para a diretoria. Deve ser um aluno transferido. E eu, como não sou nada curioso, vou procurar saber mais sobre quem é ele.

Mas infelizmente, a vice-diretora Samantha M. Price não me deixa entrar. É estranho que apesar da escola ser só de garotos, a vice-diretora é uma mulher. Vai entender. Dou de ombros e volto a ouvir meu bom e velho rock. Encontro-me com Brick e Boomer, meus amigos-irmãos que conheço desde que era pirralho. Como eu não tenho pessoas muito próximas a mim, eu só consigo confiar nesses dois. Pode não parecer, mas sou bem desconfiado.

Era empolgante começar um novo ano letivo. Ainda mais que agora serei um segundanista. Mal posso esperar para me formar logo e ser um grande atleta no futuro…