Observações estranhas do dia a dia escrita por elda


Capítulo 1
único




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Suki viu uma colega de classe no ônibus que acabara de subir e resolveu se sentar ao lado dela. As duas conversaram sobre música e bandas undergrounds, riram bastante e Suki pensou que ela era simpática, poderiam ser grandes amigas, ainda mais por terem o gosto musical parecido, não era todo dia que encontrava alguém que pudesse falar do que gostava de ouvir. No outro dia, Suki encontrou a mesma moça e se sentou ao lado dela, deu um “oi” e um “tudo bem?”, mas a garota apenas colocou seus fones de ouvido e a ignorou. Um gesto clamando um “fique longe” evidente. Sem escolha, Suki resolveu também pegar os seus. Que pena, achava que poderiam ser amigas depois de um tempo sem ter uma... mas quer saber?! O gosto musical dessa garota nem era lá essas coisas. 

Uma vez Suki estava lavando louça e seu pai chegara do trabalho, ele estava falando com a vizinha, que gostava muito dele e que até preparou um café só para servi-lo. Os dois conversavam e trocavam sorrisos, mas seu pai entrou na casa dizendo que ela era porca, sentia nojo de tomar o seu café e que era uma solteirona. Era estranho porque ele estava sendo bem simpático com a vizinha e depois de dar as costas, sua opinião sobre ela mudara totalmente. Suki já não lavava a louça e torceu profundamente da vizinha ser como seu pai. 

E quando chorava sua mãe lhe abraçava e dizia “Você é nova, tá na flor da idade”. E se não estivesse? E se continuasse assim mirando os seus olhos castanhos para um espelho com o seu rosto cheio de rugas? Muito conveniente consolá-la dizendo que era jovem, mas não seria uma para sempre. Pensava que sua mãe era horrível com as palavras, era tipo jogar para Deus os seus problemas e dar de ombros. Esperar que se resolvessem sozinhos. O tempo passava e continuava a não receber um conselho bom na vida além de “Pede pra Deus” ou “Vai dormir que passa”. 

E bem, Suki dormia pra passar. Sentia uma dor horrível, um frio no coração e uma vontade louca de morrer. Mas como sua mãe ensinou, ia dormir e entregava tudo na mão de Deus. 

Era até conveniente pensar que Deus resolveria seus problemas em vez de você mesmo, era muito menos trabalhoso, não? 

Um dia mesmo estava no ônibus, morrendo de vontade de cagar. Desesperada, desejava o banheiro sujo do terminal e deu uma oradinha, só ela e Deus ali — por mais que o transporte público estivesse lotado —, enquanto vinha aquela pontada descendo e que segurava com todas as suas forças. Nessas horas, ela pensava que Deus existia mesmo e de alguma forma, não se cagava toda por conseguir usar o banheiro do terminal. 


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