Será que ele pensa em mim? escrita por My Daydream


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Todd's POV



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Acordei no horário certo e bem disposto para começar o meu dia. Eram assim todas as manhãs após as reuniões da Dead Poets Society, eu acordava inspirado, feliz com o novo dia e prometendo a mim mesmo que aproveitaria o máximo do meu dia. Carpe diem! Me aprontei, tomei um café da manhã completo e fui para mais uma aula “super divertida” de latim.  

Estava empolgado porque também nesse dia aconteceria a tão esperada oficina de escrita criativa do Sr. Keating. Eu claro que eu estava desolado por Neil não poder participar, pois, além de ficar longe dele, me compadecia da situação delicada que ele enfrentava com o pai. O velho era realmente osso duro de roer, característica que não combinava em nada com meu colega, que sabia ser tão delicado, paciente, sensível... Chega! Se eu for listar todas as qualidades que minha paixão secreta tinha daria uma bíblia.  

— Neil, fique tranquilo, eu vou anotar tudo da oficina para você - eu disse, me aproximando de um Neil cabisbaixo sentado com com pés em cima de sua cama. 

— Está tudo bem Todd, não precisa se preocupar, eu vou ficar bem. Tenho muito conteúdo de história para estudar, vou tentar focar nisso – murmurou ainda sem muita empolgação.  

Dei de ombros, encarando meus pés e soltando um suspiro, sem ter como consolar o meu amado e caminhei até a sala onde aconteceria a oficina.  

Claro que foi extremamente inspiradora, tanto quando as reuniões dos Dead Poets, e acrescentou um aprendizado inestimável à minha mente poeta, mas com certeza teria sido muito melhor se eu pudesse contemplar os olhos de Neil brilhantes ao ouvir os ensinamentos sábios do Sr. Keating. A forma com que ele parecia empolgado com as palavras de versos poéticos me trazia inspiração, vontade de viver, me fazendo acreditar que o mundo poderia ser um lugar melhor e que tudo é possível. 

Voltei ao meu dormitório depois de me despedir dos meninos e encontrei com Neil na mesma posição que o deixara, desta vez em um sono profundo. 

— Todd? - é, talvez não tão profundo. 

— Me desculpe, eu te acordei? Tentei ao máximo não fazer barulho – sussurei como se ele ainda estivesse dormindo. 

— Não, eu só estava tirando um cochilo. O livro de história não é tão empolgante quanto Walt Whitmant – riu-se dando de ombros. 

— Bom, eu sei que não é a mesma coisa, mas eu fiz algumas anotações na oficina e pensei que talvez a gente pudesse repassar juntos. Sei que não sou tão inspirador quanto o Sr. Keating, mas posso tentar – sugeri com um sorriso amarelo. 

— Sério Todd? Eu disse para não se preocupar – tentou disfarçar, mas era nítida a animação em seus olhos, apesar do tom de voz sério. 

— Claro! - Me joguei na cama e o convidei com mão para sentar-se junto a mim. 

Neil levantou-se de supetão com toda a euforia que havia guardado em seu peito. Sentou-se ao meu lado e eu senti minhas bochechas esquentarem ao sentir seu corpo se bater contra o meu. Abaixei o rosto, engolindo seco em uma tentativa de disfarçar os sinais de timidez, com medo de que meu colega me interpretasse erroneamente, ou seja, decifrasse tudo o que um simples toque seu era capaz de me fazer sentir. 

Ficamos ali por longos minutos, lendo e conversando sobre a oficina. Eu lhe explicava as técnicas de escrita fazendo gestos e dando exemplos de poemas de grandes autores, os mesmos citados pelo Sr. Keating, a fim de aproximar Neil o máximo possível do evento que ele não gostaria de ter perdido. E ele sorria em resposta, dava exemplos de textos, mostrando que estava pegando o espírito da coisa. Os olhos sempre brilhantes não lhe deixavam mentir que estava adorando tudo aquilo, e minhas bochecas rosadas, nos instantes de silêncio constrangedor, transpareciam cada vez mais que minha vibração com aquele momento ia muito além da literatura. 

Pare de sorrir feito um bobo, ele já vai começar a perceber. 

Dando um suspiro final ao acabar nossos assuntos, encarei Neil assentindo com a cabeça, meio sem jeito, esperando que ele dissesse mais alguma coisa que me tirasse daquela tensão de estar com seu rosto tão perto do meu, mas ele apenas fazia o mesmo que eu soltando alguns sorrisos, quanto olhava fixamente em meus olhos, ainda empolgado com o tempo que passamos lendo e falando sobre tanta poesia. 

Estava tarde, o relógio batia meia-noite e o silêncio inundou os corredores de Welton. Ainda sem trocar nenhuma palavra, nos mantínhamos lado a lado, hora olhando para baixo, hora encarando a porta, como se esperássemos – ou torcíamos para que não - alguém adentrando-a e atrapalhando nosso momento a sós. 

Com a respiração compassada, percebi que meu amigo encarava fixamente nossas mãos e, em um gesto inesperado, tocou meus dedos, afagando-os com leveza, já com uma expressão séria e concentrada no rosto. Fechei os olhos, a fim de sentir o contato com mais intensidade, sentindo minha respiração se tornar mais densa do que o normal, em um daqueles momentos que eu costumava guardar na gaveta de recordações da minha mente. Isso realmente estava acontecendo? 

Tomei coragem de encarar Neil, que agora subia sua mão lentamente pelo meu braço esquerdo, acariciando meu suéter laranja com o polegar, acompanhando-a com os olhos e não parando até chegar nos meus. Engoliu seco e mordeu o lábio inferior, fixando o olhar em meus lábios. Fiz o mesmo e senti que a qualquer momento meu coração ia parar de bater e minhas bochechas iam explodir de tanto que esquentavam. E então, aproximando-se lentamente de mim, Neil parou com seu nariz quase colado ao meu e alternou os olhos para minha boca e para minhas órbitas, que já quase saltavam para fora, como se aguardasse uma aprovação. Assenti levemente com a cabeça, como quem lera seus pensamentos e tombei minha cabeça colando meus lábios junto aos seus. Permanecemos assim, até sentir meu colega de quarto parecendo querer provar cada vez mais daquele beijo tão afetuoso, chupando minha boca com cada vez mais euforia e pedindo passagem com a língua e, claro, eu permiti. Não negaria nada para aqueles olhos castanhos, que passaram a me segurar com firmeza pelos braços e a me puxar para cada vez mais perto si em um abraço aconchegante. 

Parecia que estava sonhando. Seu gosto, seu cheiro, seu calor e sua excitação estavam dominando todos os meus sentidos e eu pensava que a qualquer hora iria desmaiar. Após longos minutos provando do sabor da boca um do outro, nos separamos de nossas carícias e encaramos um ao outro, incrédulos, ainda ofegantes pelo o que acabara de acontecer.  

Hoje o amor me correspondeu e senti pela primeira vez o doce e selvagem afago de sua pele contra a minha. Hoje, eu dormiria sabendo que vivi minha vida com toda a intensidade e que respirei o ar com toda a força de meus pulmões. Hoje eu saberia que sim, sonhos se realizam, pois se Neil me desejava tanto quanto eu, tudo é possível e a vida realmente valeu a pena, afinal. Carpe diem. 


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