Capítulo 04

Unidos pelo sanduíche.

Passaram-se três semanas, três semanas em que Liam e Theo tinham se aproximado cada dia mais, o que foi uma surpresa para metade da escola e ignorado pela outra metade.

As coisas em casa estavam mais tensas, ele havia tomado mais duas advertências e havia ficado uma vez na detenção, o que havia causado grandes brigas em casa e mais duas marcas em suas costas.

Ele estava dormindo na casa de Mason, estava se escondendo lá fingindo que estavam fazendo um trabalho em grupo quando, na verdade, ele sabia que não poderia colocar os pés em casa sem ter grandes problemas.

Ao saltar do seu carro, ele segue em direção a escada onde todas as manhãs encontra Theo, encontrando-a vazia.

Liam aperta a alça de sua mochila, sentando-se no último degrau da escada para logo em seguida observar Theo seguir em sua direção com o nariz avermelhado e o olho direito roxo.

—O que diabos aconteceu? – questiona, enquanto recebe o saco de papel com o seu sanduíche das mãos de Theo.

Eles sempre tomam café da manhã juntos, era por isso que ele sempre esperava para tomar café com ele e ao mesmo tempo não queria atrapalhar a funcionalidade da casa do seu melhor amigo, mesmo sabendo que não era um incômodo, que os pais dele não se sentiam incomodados com a sua presença, eles sempre demonstravam que gostavam de estar com Liam.

—Mais um garoto acolhido... Gosta de brigar, viveu nas ruas. – diz, apontando em direção ao seu rosto. –Ele me acordou a socos hoje... Tive que dormir mais uma vez no meu carro quando meti a porrada nele me defendendo. – comenta e eu solto um longo suspiro.

Liam inclina-se em direção a Theo, mexendo no seu queixo e encarando as marcas da surra.

—Você tem que falar com a assistência social... Não pode ficar levando porrada por nada! – afirma e Theo o encara com um sorriso sarcástico.

Mesmo que ele estivesse escondido na casa do Mason, ele tinha entrado em contato com a sua avó porque ele não aguentava mais a pressão que tinha em cima dele, porque ele tinha apoio de Theo, porque ele se sentia seguro ao lado do amigo e isso era um sentimento raro para ele.

—Falo a mesma coisa sobre você. – diz, levantando a blusa de Liam, que desvia o olhar. –Eu sei o que é ter um pai abusivo... Acredite, eu sei que merda é ter uma vida de merda! – garante, atraindo o olhar de Liam.

Theo tinha uma expressão sarcástica no rosto, mas Liam sabia que era somente o modo dele lidar com o fato dele ter que lutar todos os dias para sobreviver.

—Eu falei com a minha avó... Ela disse que eu posso ficar com ela por um tempo. – diz, sussurrando. –Mas ela acha que eu deveria ficar um tempo com a minha tia... Mas ela fica fora da cidade e eu não quero isso. – afirma, negando com a cabeça. –Essa é a minha cidade, esse é o lugar que eu quero ter uma vida... Eu não me imagino indo para lugar algum diferente. – comenta, abrindo o saco do sanduíche.

***

Para Theo era estranho ouvir algo assim, ele que já havia saído da cidade, morado em outro lugar, sendo obrigado a conviver com pessoas estranhas depois de tudo o que ele passou.

Ele sente o seu coração disparar ao encontrar o olhar de Liam em sua direção, o coração de Tara, o coração que salvou a sua vida, o coração que veio da morte cerebral da sua irmã depois dela bater a cabeça e cair no rio, depois do seu pai ter feito o que fez e tudo se transformar em um inferno... Um inferno que veio acompanhado de um transplante e um quase julgamento, além de olhares tortos.

—Eu queria ter essa certeza. – confessa, sussurrando. –Essa cidade é um lembrete sobre tudo o que aconteceu comigo. – murmura e Liam concorda.

—Mas gosta daqui, não gosta? – questiona, inclinando-se em direção a Theo.

—Estou suportando. – responde, dando de ombros. –Eu tenho uma casa aqui... A casa dos meus pais, ela vai ser minha assim que eu completar dezoito... Aí eu decido o que fazer. – revela e Liam concorda.

Eles tomam café e seguem em direção às suas respectivas aulas, Theo passou duas aulas sem arrumar problemas pelo simples fato de que ele não conseguia pensar mais em nada além do que Liam ter lhe dito.

Ele ficou pensando no futuro, no que ele queria no futuro e tudo o que ele conseguiu pensar era em trabalho e no quanto nada que ele planejasse sairia como ele queria.

Theo sai da sala, encontrando Stiles e Malia encostados à frente da sua sala, quando ele estava seguindo em direção ao refeitório, ele sente que está sendo seguido.

—Nem comece... Preciso falar com você. – revela Stiles e Theo revira os olhos, apertando o passo, mas ele continua a lhe seguir.

—O que você quer? – questiona, parando e voltando-se em direção a Stiles.

Stiles parece estar tentando encontrar as palavras para falar com Theo, diferentemente de Malia que estava procurando palavras para sair correndo daquela situação, pelo que Theo conseguia perceber.

—Eu não sei... Só estou acompanhando o meu ex-namorado depois de um drama mexicano que a ex-japonesa do meu atual namorado... Como se o fato de eu e o melhor amigo dele termos nos pegado boa parte do ano passado não seja estranho suficiente... Ainda tenho que andar com ele. – comenta Malia, dando de ombros.

—Entendo... Mas não estou nenhum pouco interessado. – revela, fazendo menção de se afastar.

—É o Liam... Ele pirou e agora está sumido pela escola. – revela Stiless, atraindo a atenção de Theo. –Os amigos dele do primeiro ano estão correndo atrás dele, mas Mason disse que talvez você soubesse onde ele está. – comenta e Theo sai correndo em direção ao vestiário dos fundos.

Era onde ele tomava banho quando invadia a escola e ele havia o ensinado a entrar no mesmo sem ninguém desconfiar.

—Liam! – chama, entrando no vestiário, sentado no chuveiro aberto e gelado. –O que diabos está fazendo? – questiona, desligando o chuveiro e agachando-se ao seu lado.