Onde Nós Vamos escrita por Julio Cezario


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

E vamos de capítulo novo! Agora alguns plots começam da história e eu prometo que coisas muito fodas tá pra acontecer heheheh



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Na escola o Mike ficava me encarando, como se vigiasse o que iria fazer. Aquilo estava me dando nos nervos. Nem consegui me concentrar na aula de Educação Domestica, o professor Caio com certeza estava explicando sobre pragas, algo importante, mas não conseguia focar no assunto.

No fim do dia, ele me seguiu até o meu armário.

— O que é você quer, Mike? Que inferno! — Tentei não gritar, mas deixei claro minha raiva.

— É que eu queria conversar sobre sábado.

— Olha, eu não quero falar sobre isso, não aqui, não agora. — Bati a porta do armário e dei as costas, mas ele me segurou pelo o meu braço. Seus dedos apertavam.

— Mas é que...

— Está acontecendo algo aqui? — Gary chegou bem na hora, interrompendo o que o garoto iria dizer.

— Nada, Stone. Não é da sua conta.

— Então é que tipo assim. Você está segurando o meu amigo pelo braço como se ele fosse uma das suas piranhas, e acho que você não vai cobrar dinheiro de programa. Então é da minha conta sim. — Gary semicerrou os olhos.

O Mike olhou do Gary para o meu braço, percebendo que ele estava fazendo me soltou.

— Eu só quero conversar, Zach.

— Mas ele falou não.

— Stone, não se mete.

— Oh meu deus. Você espera que eu acate as ordens da Regina George? Não sabia que estamos em Garotas Malvadas?

Mike se virou para o Gary. A expressão dos dois era de pura fúria, algo de bom não viria dali.

— Quem você está chamando de Regina George? — Mike deu um empurrão no outro.

— Eu gaguejei por acaso, caralho? — Gary retribuiu o gesto.

— Olha aqui seu merdinha, fica na sua. Você não sabe de nada.

— Ah não? Não sei o que você fez com o Zach? Ou o motivo pelo o que você fez? Pela Crystal e do Bill?

— O quê? Como... — Por um momento o terror passou pelo rosto do Mike.

— É eu sei, River. Eu sei de muita coisa.

Os dois já estavam se agarrando um pela camisa do outro.

— Você passou dos limites!

Mike preparou o punho, eu tive que fazer algo. Ninguém que estava em volta parecia se importar para separar os dois, até o Jimmy parecia torcer pelo pior.

— Ououou. Vocês dois! — Me meti no meio para separar os dois.

— Posso ajuda-los garotos? — A sua voz firme soou bem alto, todos se calaram e se afastaram. Era tarde demais. O Diretor Eric estava ali. — Devo lembra-los que não admito brigas nas dependências da escola?

Por um longo momento ficamos parados, mas depois me toquei.

— Vamos, Gary. — Puxei o meu amigo para longe dali. Longe dos olhos aguçados do diretor antes que ele mudasse de ideia.

Depois de arrastar o Gary por duas quadras, ele resolveu andar por conta própria.

— O que deu em você? — Perguntei já deixando evidente o quanto estava furioso. — Que papo todo era aquele? Você sabe do quê?

— O que deu em mim?!? — Gary parecia indignado. — O que ele queria fazer com você? Você não estava vendo?

— Ele só queria me contar algo.

—Zach, ele parecia a merda de um estuprador em cima de você e te puxando. Eu te salvei, isso sim.

— Olha, eu agradeço. Mas eu sei me cuidar e nada mudou entre mim e o Mike, o que ele iria me contar, ele ia contar na escola e nada além disso.

— Me desculpa também. — Gary suspirou irritado. — Eu não devia ter deixado aquilo me subir à cabeça. Eu só não quero que ele faça você sofrer de novo, isso me mataria.

Olhei nos olhos do Gary, ele parecia preocupado. Era raro, já que ele era sempre tão elétrico e sagaz, ver ele me deu um aperto no coração. Eu o amava e sabia que era um sentimento reciproco. Por isso não hesitei em abraça-lo.

— Eu não sei o que seria da minha vida sem você, Gary Stone.

— Bom, por onde eu começo? Ah sim, você estaria mofando no telhado da North East.

Ri e deu um soco no ombro dele.

— E desde quando você conhece Garotas Malvadas?

— Como amigo hetero eu tenho que me mantar atualizado do seu mundo, mona. Tá passada?

— Idiota. Agora vai pra casa, hoje quero jogar mais com você.

E assim nos separamos.

Naquela mesma noite eu e o Gary estávamos no Discord conversando sobre as partidas do Dead by Daylight, quando um barulho na janela me chamou atenção.

— Só um minuto. Acho que ouvi algo na janela.

— Tá bom.

Lentamente fui até a janela, peguei a réplica da marreta que tinha da Arlequina que comprei na Comic Con. Me aproximei para ver o lado de fora quando de repente o Mike surgiu do nada me assustando. Acabei derrubando alguns livros próximos.

— Filho? — Lily gritou. — Está tudo bem?

— Tô mãe! — Olhei com reprovação para o garoto na minha janela. — Eu só me assustei com um gato aqui na janela.

— Quer que o seu pai vá aí tirar?

— Não, não. Eu já espantei ele.

Eu abri a janela e o Mike estava lá, sentado no beiral de costa.

— O que você está fazendo aqui? E como? — Mantive a voz no sussurro para não chamar a atenção.

— Eu subi pelas grades de plantas, acho que matei algumas rosas. — Ele deu de ombros como se aquilo fosse um pedido de desculpas. — Mas vim até aqui para conversar.

— A essa hora? São quase onze horas. Não dava para esperar até amanhã?

Ele desviou o olhar, sua feição não era das melhores. Ele não era mais o Mike Popular, só o Mike. Cansado e Solitário Mike.

— É que lá em casa tá meio complicado. Eu... bom. Eu meio que gosto de ficar em telhados. Você vem? — Ele fez um gesto me convidado para o lado de volta.

Bufei irritado, mas fui até o armário pegar um moletom. Saí pela janela e subimos mais um pouco até um ponto mais alto. Não dava para ver muita coisa dali, mas era até que bonito.

— Tá, você tem cinco minutos antes que eu mude de ideia. — Disse já abraçando minhas pernas para afastar o frio.

— Primeiro, queria pedir desculpas por hoje. Eu agi feito um idiota.

— Não é para mim que deve pedir desculpas.

— O que o Stone disse...

— Gary, por favor. O nome dele é Gary.

— O que o, Gary, disse. Sobre o que eu fiz e o por que fiz... — Ele pareceu apreensivo. — É o principal motivo de eu estar aqui hoje, acho que preciso te dizer. Eu te devo isso.

Mesmo agasalhado senti o frio percorrer o meu corpo. Finalmente saberia o motivo de ele ter fugido, ter me abandonado. Três anos e lá estava a minha desejada reposta, mas agora sentia que talvez eu não estivesse pronto.

— Olha. Você não me deve nada.

— Sim, eu te magoei, Zach. Fiz algo ruim pela pessoa que é especial para mim. — Ele suspirou. — A quatro anos atrás, minha mãe, a Crystal. Ela começou a namorar com um cara, um tal de Bill, ele era bem barra-pesada, envolvido com o que você pudesse imaginar e usava todo tipo de droga. A minha mãe estava num momento delicado e ele se aproveitou disso, a envolveu de tal forma que ela acabou se tornando obcecada e dependente dele. No início era tranquilo e eu não via nada demais, mas depois de alguns meses ele começou a mostrar a verdadeira natureza e suas intenções. Ele era bem violento e cabeça quente, quando algo saía errado, descontava em mim e na Crystal. Eu conseguia me esconder as vezes, tentei convencer a minha mãe a deixa-lo ou expulsar de casa. Mas, os olhos dela, ela... — Ele mordeu o lábio. — Enfim, isso foi me corroendo por dentro, estava perdendo a minha única família e nada do que fazia parecia funcionar. Até que um dia peguei detenção, por coincidência o Jimmy estava lá também. Contei para ele algumas coisas e ele me ofereceu a casa da piscina, ele me disse que seus pais não ficavam em casa e que poderia ficar o tempo que precisasse.

— Mas era o Jimmy. — Reforcei.

— É, eu sei. Mas o Jimmy consegue ser tentador quando quer. Era como se o próprio diabo quisesse a minha alma. E eu vendi. E alguns dias se passaram quando ele começou a questionar o motivo de eu andar com você. Todo mundo já comentava que você...

— Que eu era gay?

— Sim. E eu fiquei com medo, por que eu tinha sentimentos por você. E tive que esconder o máximo que deu. O Jimmy me disse que eu tinha que parar de andar com você e sim com ele, assim eu estaria mais “protegido”. Fiquei sem saída, ele realmente te odiava, mesmo que você não tenha feito nada. Então tive a ideia daquele da caminhada e do beijo. Eu precisava te dizer tudo o que eu sentia.

— Mas não disse e ao invés disso correu e parou de falar comigo por três anos.

— Eu sei o que eu fiz tá! — O seu rosto corou. — Não me orgulho dessa porra. Mas eu precisava sobreviver a toda merda que acontecia. Eu tive que fingir, me camuflar. Até comecei a namorar a Rebeka.

— Sim, essa parte eu sei. Vocês são tipo Bonnie e Clyde da escola.

—Então. A gente conversou e decidimos montar esse circo para servir de bode expiatório. Assim ela podia sair com a Victoria e ninguém suspeitaria.

— Pera aí. — Interrompi. — A Victoria e a Rebeka? Tipo elas se pegam?

Mike concordou com a cabeça. Aquilo sim era algo inacreditável.

— Eu até contei para elas o que aconteceu. Elas encheram o meu saco para te contar e voltar a falar com você, mas tive medo.

— Até agora.

— Até agora. — Ele abriu um sorriso triste.

Foi muita coisa para digerir. Eu estava meio zonzo.

— Eu acho que preciso voltar. Eu não sei o que sinto sobre isso.

— Isso o quê?

— Tudo, Mike! Eu sei que você passou por muita merda e de fato eu entendo. Mas você tem que entender que teve consequências e eu sofri também. E poderia ter sido diferente se você tivesse me contato tudo, poderíamos ter dado um jeito.

— Eu sei. — Ele abaixou a cabeça.

Eu me senti muito mal por ele. E por mim. Mas não ia deixar nada daquilo me afetar agora, o silencio constrangedor pairava sobre nossas cabeças. Nem eu e nem ele sabia o que dizer agora.

— Bom, eu preciso dormir, já está tarde e amanhã temos escola. — Disse já indo para a janela do meu quarto. — E saía do meu telhado. Isso é bizarro.

Ele riu.

— Verdade, né. Eu já desço. Nos vemos amanhã?

— Nos vemos todos os dias, cabeça de vento.

E então o deixei ali parado, sozinho na escuridão da noite. Entrei pela janela do meu quarto como se fosse um portal que me tiraria para longe dele.


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Notas finais do capítulo

O quê? Você ainda está aqui? Vá pra casa, acabou por hoje. Você quer mais conteudos? Ah tá bom. Então vou deixar alguns links aqui para você não ficar com tanta saudades... Mas não se esqueça de deixar o seu comentério, seu apoio é muito importante para mim ^^

Uma playlist que me inspirou bastante para a historia:

https://open.spotify.com/playlist/4NHnkZTvzeFSpBjf2dvkgu?si=74383642a55f4b5e

E o link da página oficial aonde todas as histórias se encontram:

https://www.facebook.com/jcalves.oficial



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