Onde Nós Vamos escrita por Julio Cezario


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta! Isso mesmo estou de volta com mais uma historia quentinha saindo do forno e muitas outras novidades ^^ Espero que vocês curtam esse novo romance que estou lançando, sintam-se a vontade para comentar. Lembrando que faço lives aos finais de semana no meu canal da Twitch aonde vou ler seus comentários e vocês podem interagir ao vivo comigo!!!



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Você acredita em destino? Que duas pessoas estão presas a um fio vermelho que as unem de alguma forma? Alma gêmeas, talvez? Ou que fomos, de alguma forma, vidas passadas que não se encontraram? Besteira, né? É eu também não acreditava nessas merdas... O que? Sim, eu não “acreditava”, tipo no passado. Bom, digamos que é sobre isso que você vai ler no decorrer dessas páginas, vou contar a minha história. Como começou e como terminou, como pessoas podem mudar tanto.

E sim, esse é outra história sobre o amor e não de amor. Mas não esperem algo conceito ou fora das massas, por hora vai ser um romance bem água com açúcar, pelo o que me lembro.

Bem, para contar como tudo isso começou. Precisamos voltar bons anos no passado, vou tentar ser bem detalhado para evitar mal entendidos e flashbacks indesejados, até porque não estamos em Naruto, convenhamos.

...

Eu diria que isso começou quando tinha dois anos. Minha mãe me levou para o meu primeiro dia de escola, eu estava nervoso pois sempre fui um pouco acima do peso e a outras crianças podiam me caçoar por isso. E esse medo se mostrou real, por que ninguém interagia comigo, ficavam olhando de canto e cochichando, aquilo me fazia sentir uma experiencia que descartaram e me puseram lá para servir de exemplo. No intervalo me afastei de todos e fiquei sentado na caixa de areia sozinho, não queria mais sentir os olhos em mim.

— Ei. — Uma voz disse sussurrando, vinha dos balanços.

Eu não respondi, mas olhei para ver de quem era. Um garotinho magrelo de cabelos dourados tão finos que parecia quase invisível, seus olhos eram de um azul energizante beirando o selvagem.

— Eu falei com você, menino. — Dessa vez o garoto pulou do brinquedo e se aproximou cauteloso. — Você é mudo?

— Não. — Disse me retraindo.

O garoto chegou perto o suficiente e começou a me cercar como um gato de rua curioso, percebi que ele devia ser um pouco mais alto.

— Qual é o seu nome? — Ele sentou na minha frente, acho que ele não se importava de sujar as roupas de areia. Até por que já pareciam bem desgastadas.

— Zach. Zach Young.

— Prazer, Zach! — Ele estendeu a mão, seus braços eram finos que nem um cabo de vassoura. — Eu sou o Mike River. Quer ser o meu amigo?

— Eu não sei... os outros não gostam de mim.

— Que os cachorros os mordam. Você parece legal pra mim.

Mike, esse era o nome dele. Um garoto de olhar selvagem, engraçado e destemido, tudo o que eu não era. Lembro de apertar aquela pequena mão e ele abriu um sorriso confiante, aquele sorriso me fez sentir todo o meu rosto arder como se formigas andassem nele. Era estranho.

E numa promessa implícita nos tornamos os mais improváveis e melhores amigos. Desde aquela época o Mike demostrava muita curiosidade em tudo, sempre questionava e ia atrás das próprias respostas ou brigas, nisso eu acabava sendo puxado por aquela tormenta juvenil. Começamos a fazer tudo juntos à medida que crescemos, contar tudo um para o outro, mostrar as mudanças que o corpo estava sofrendo. Ele sempre me ajudava nos esportes e me defendia quando alguns garotos zombavam de mim. Enquanto isso eu o ajudava nas aulas, sempre dando dicas e ensinando tudo o que deveríamos aprender no dia, já que éramos da mesma sala, ele sempre dizia que eu levava jeito e que se dependesse seria o meu aluno para sempre.

Com o tempo fomos desenvolvendo novos hábitos, como passear, ir aos lugares, fazer trilhas nas florestas, jogar jogos, explorar mais a cidade. Springfield era uma grande cidade. (Ah! E não é a dos Simpsons, a Springfield em que eu morava é outras das 27 que existem nos Estados Unidos). E fomos entendendo algumas coisas, o Mike vivia na minha casa ou nos telhados das outras, sua mãe não tinha uma boa fama na cidade e isso refletia muito nele.

E os dias se passaram, virando semanas, virando meses que viraram anos. Logo estávamos terminando o ensino fundamental e planejando como seria o ensino médio, ansiosos e cheios de energia. Dois garotos dividindo um futuro, o que poderia dar de errado? Mas é agora que vem a melhor parte.

No último dia de férias, Mike me chamou para uma das típicas trilhas nas florestas nos limites da cidade, no começo eu achei que seria uma como qualquer outra, mas acabou durando uma eternidade. Trinta minutos já estava todo empapado de suor, meu cabelo grudando na minha nuca e fedendo a terra. Não era o meu estado favorito.

— Chegamos! — Ele exclamou. Mike nem sequer parecia cansado, mas havia algo nos seus olhos. Algo distante, achei que talvez fosse a paisagem que o deixa tão pensativo.

— Finalmente. — Reclamei. — Numa dessas trilhas você vai acabar me matando.

Ele riu e se aproximou.

— Eu jamais deixaria isso acontecer com você. — Deu umas tapinhas nos meus ombros. — Agora vem cá.

Fomos até o ponto que ele indicou. Algo ente uma pequena montanha e uma colina grande, dava para subir sem precisar escalar. Lá de cima dava para ver toda a cidade. O sol estava prestes a sumir no horizonte tingindo o céu com um tom de laranja suave, o vento quente trazia o cheiro azedo de grama e seiva de arvore. Era algo que precisava ser admirado, não havia sons de carros, pessoas, maquinas, nada. Só eu, o Mike e a floresta a nossa volta.

Estávamos em silencio e contemplando tudo aquilo quando uma música começou a tocar, olhei para o lado e vi que o Mike já tinha colocado suas coisas no chão e o celular na mão.

— Praquê a música? — Perguntei intrigado.

— Só achei que esse momento pede uma música. — Deu de ombros. — E você sabe que uma música pede?

— Ser escutada?

Ele riu.

— Não, sua besta. — Disse me dando uma cutucada na costela. — Pede uma dança.

— Pera. Você está sugerindo que dancemos needy da Ariana Grande, aqui, sozinhos e ambos sujos de terra e suor?

— Por que? É muito estranho e bizarro para o seu mundinho frágil? — Ele fez a sua cara de sarcástico.

— Eu... só não sei dançar. É isso! Eu não sei dançar e contato físico me deixa desconfortável, você sabe disso e estamos ambos sujos, não quero que você fique mais ainda e eu também não quero. São muitos germes— Eu estava nervoso, as palavras só saiam descontroladas.

—Zach. — Mike me segurou com suas mãos, uma em cada ombro. Seu toque, eu pude sentir uma corrente percorrer pelo meu corpo. Minha pele ardia em brasas. — Se acalma. Estamos sozinhos, ninguém vai ver você pisando no meu pé. — Ele desceu ambas as mãos até o meu quadril me segurando firme, como se quisesse se certificar que não escaparia dele. Meu corpo estava respondendo a todo aquele contato. — Prometo não gritar caso pise.

Pus as minhas mãos em volta do seu pescoço e ali estava eu dançando lentamente ao som meloso da cantora. Minha cabeça dizia que aquilo era errado, eu não deveria dançar com outro cara, mas podia sentir o meu coração batendo mais rápido sedento por tudo aquilo, temi que ele pudesse ouvir as batidas. E continuamos dançando, Mike me guiava com maestria, podia sentir o seu corpo, seu calor, seu cheiro. Levantei os meus olhos e o encarei, seu sorriso doce, pele corada pelo esforço físico, até seus olhos não estavam mais distantes, estavam ali, olhando para os meus, fixos como se pudessem ler o que eu estava sentindo.

— Zach. — Sua voz me tirou do devaneio.

— Oi.

— Se acontecesse algo com a gente... — Ele parecia apreensivo, mas aquela sugestão me assustou um pouco.

— Como assim? Se algo acontecer?

— Eu não sei, mas se algo acontecer. Você promete que não vai esquecer de mim?

— Mike, você está me assustando. Está acontecendo algo?

Ele mordeu os lábios. Ele está escondendo algo, pensei, o conhecia bem o suficiente e poderia dizer tranquilamente que podia o ler como um livro, mas mesmo assim ele era bom em esconder as coisas.

— Não é nada. Só que nunca se sabe. — Sua mão foi até o meu rosto. —E eu queria saber se você lembraria de mim.

— É claro que eu me lembraria. Que pergunta!

E então antes que pudesse terminar a frase ele me beija. Seus lábios estavam encostando nos meus. A sensação era algo tão arrebatador, me senti num parque de diversão, vários brinquedos para ir e só um de mim, mas ali estava eu indo em todos ao mesmo tempo e sem cinto de segurança, caindo para algo desconhecido. E quando acabou levei alguns segundos para processar tudo aquilo e a minha primeira visão foi a feição do Mike confusa como se acabasse de cometer um crime hediondo.

— M-Me desculpa. Eu, eu não devia... — Então ele pegou suas coisas e saiu correndo.

Lembro muito bem de ver ele sumindo entre arvores, e eu ali parado como uma estátua. Perguntas como: O que foi aquilo? O que aconteceu? Eu sou gay? Por que ele fez isso? Fiz algo errado? Corriam pela minha mente num trafico caótico e furioso, não gritei para que voltasse e nem corri atrás dele. Simplesmente sai andando tentando sentir meu corpo novamente, até então nunca havia sentindo isso por ninguém e muito menos beijar, que era algo tão íntimo. Quando dei por mim já estava na minha cama, deitando e fitando o meu teto cheio de estrelinhas que brilham no escuro.

— Amanhã. Amanhã eu converso com ele. — Prometi a mim mesmo animado.

Mas eu inocente, não sabia o que estavas prestes a acontecer.

...

No primeiro dia de aula do ensino médio, era algo que parecia tão crucial, a vida adulta batendo na porta, sentimento florescendo como brotos, um futuro que não teríamos ideia de como seria. Com todas essas possibilidades, não percebi que não havia mensagens no meu celular naquele dia, não havia um Mike me esperando no ponto de ônibus, mesmo sendo longe da casa dele, como de costume. Eu não percebi que estava embriagado com doces mentiras e a verdade amarga gritava tentando me alertar.

Naquele dia, naquela merda de dia. Mike River chegou na North East High School no carro de Jimmy Hartline, herdeiro da família Hartline que tinham raízes na política da cidade desde a fundação da mesma, o pior exemplo de ser humano que poderia pisar na terra, se houvesse um bingo de todas as coisas ruins que uma pessoa poderia ser, esse garoto ganharia sem sombra de dúvida e mesmo se não ganhasse, trapacearia para mudas os resultados.

— Mike? Onde você esteve? — Eu me aproximei dele.

— O quê, sua bichinha? — Jimmy já brotou no meio para impedir que chegasse até ele. — Mike. Você fala com gays agora?

— O quê? Do que você...

E antes que eu pudesse terminar a frase o Mike fez um gesto para que pudesse se aproximar, seus olhos estavam cheios de ódio.

— Olha, eu não sei o que você está querendo, mas é bom ficar longe de mim. Não vai querer machucar esse rosto de boneca. — Ele disse e logo em seguida me empurrou com força o suficiente para me jogar no chão.

A partir daquele dia Mike River não era meu amigo, o substituíram, alguém frio que andava com os riquinhos da escola e fazia parte da “elite”, a partir dali não houve mais mensagens, ligações, brincadeiras, conversas, trilhas e nem mesmo beijos.

Aquilo me derrubou de certa forma, em estado de choque passei o dia inteiro no automático, sequer lembro do que fiz. Mas quando cheguei em casa, desabei, pondo tudo para fora, contei para os meus pais, eu não sabia o que fazer e os sentimentos continuavam naquele maldito parque de diversões macabro. E desde então eu não consegui ser a mesma pessoa que era antes, algo em mim morrera e eu continuei vivo, respirando.


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Notas finais do capítulo

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