Distração escrita por Ocarina


Capítulo 1
Só mais um segredo


Notas iniciais do capítulo

Participação no sexto dia da #hisomachiweek21
Prompt: Secret

Capa feita para o mesmo evento (dia 2 - Kiss or Kill).
História simples e curta, nem um pouco elaborada. Escrevi numa tacada só, então nem sei se ficou bom, mas resolvi postar mesmo assim. :)



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Dentre todas as atitudes que Hisoka já havia tomado, aquela foi a que mais surpreendeu Machi. Ele nunca a havia beijado daquela maneira, tão carinhoso e suave. Sem tentar provocá-la com segundas intenções.

O primeiro impulso de Machi, porém, foi tentar se afastar. Eles estavam em público, cercados por uma multidão e Hisoka não foi nem um pouco discreto ao puxá-la para si, apossando-se de sua boca com intensidade. Atraindo todos os olhares para o ato inesperado. Mas para ela, demonstração de afeto em público eram inaceitáveis, principalmente se o afeto em questão era por Hisoka. O que ele tinha na cabeça, afinal? Em que momento ela tinha dado liberdade para que ele fizesse algo tão estúpido? A intimidade que compartilhavam devia ser sempre mantida como o segredo imundo que era, jamais exposta aos quatro ventos. 

Era vergonhoso demais deixar que todos soubessem de sua maior fraqueza. 

“Nojento!”, ela pensou, tentando inutilmente se livrar dos braços que a envolviam. Quando se deu conta, porém, com todo o seu esforço apenas conseguiu abrir ainda mais espaço para que ele aprofundasse o contato. 

Somente o fator surpresa foi capaz de fazê-la relaxar.

Geralmente, quando estavam às sós, a única coisa que importava para Hisoka era satisfazer os desejos de um prazer carnal e doentio. Suas mãos, que normalmente a apertavam com força, por vezes perfurando-lhe a pele, agora estavam pousadas suavemente sobre a sua cintura. Seus olhos ferinos, que geralmente a fitavam em brasa, estavam fechados como se ele realmente estivesse aproveitando o momento. 

O seu semblante era sereno e deleitoso.

Aquilo era uma novidade, diferente de tudo que Machi já havia experimentado. E apesar de todos as noites que já tinha compartilhado com Hisoka, ela sentiu como se ele a estivesse beijando pela primeira vez. Inebriada, ela então desistiu de lutar, deixando-se levar pela súbita vontade de correspondê-lo. Quase se esquecendo completamente de que estavam no meio de uma missão. 

Ao lembrar do plano da Troupe, porém, se deu conta das reais intenções de Hisoka e desfez o beijo, separando-se dele ainda ofegante.

Pela ordem recebida, os dois entrariam como turistas na excursão ao templo budista onde se encontrava um acervo de antiguidades famosas pelas lendas que as cercavam. As relíquias, aparentemente escondidas em algum lugar do subsolo, abaixo do altar na parte interna do santuário, só poderiam ser acessadas por meio da área delimitada pela segurança, restrita ao público comum.  

Uma vez dentro do templo, Hisoka e Machi fariam uma varredura inicial, verificando a estrutura da construção e reportando-a aos demais para dar continuidade ao roubo. Hisoka tinha se voluntariado para garantir que os guardas ficassem vulneráveis ao Black Voice de Shalnark, que anularia a segurança do local. A partir daí, tomariam o santuário e tudo que estivesse dentro dele, incluindo as futuras vítimas ali presentes. 

Machi não duvidou que o mágico conseguiria cumprir com o seu papel, mas não imaginou que ele o faria daquela forma, a usando como mero objeto de distração. Quando ela foi verificar a posição do mais novo membro da Genei Ryodan, ele a agarrou de surpresa em frente ao altar, sem que houvesse chance de escapatória. A estratégia, porém, foi mais eficaz do que Machi gostaria, pois naquele instante, todas as pessoas encaravam o casal sem noção que ousava profanar o solo sagrado do santuário com um prazer tão mundano e fútil. 

Cochichos, risinhos e críticas reverberavam em uníssono pelo amplo salão em que se encontravam. O rosto de Machi pegou fogo e ela amaldiçoou todos os que estavam ali, prometendo a si mesma que, assim que os portões se fechassem, ela se vingaria. Hisoka, por sua vez, mantinha um sorriso triunfante e uma expressão de tranquilidade, contrastando com o mau humor evidente que ela não fazia o mínimo esforço para disfarçar. 

Com o alvoroço no local, o único segurança que estava a postos foi ágil em se dirigir até eles, solicitando que se retirassem por desrespeito às regras. Ainda mais rápida, foi a forma com que o homem caiu ao chão, quase decapitado pela maneira com que a carta do baralho havia lhe cortado o pescoço, atingindo diretamente a carótida. 

Ao se darem conta do que tinha acontecido, o pânico se alastrou pela multidão. Os demais funcionários — que até então se mantinham na sala privativa do templo — cercaram Hisoka e Machi, com as suas armas de fogo posicionadas para o ataque. Porém, eles nem sequer tiveram tempo de ameaçá-los como desejavam. Ao abaixarem a guarda, a fase de ação de Shalnark já havia sido iniciada. 

A antena, lançada por ele do lado de fora do templo, atravessou uma janela aberta e atingiu diretamente um dos guardas, fazendo com que a marionete humana atirasse repentinamente nos próprios colegas. No mesmo instante, os portões do santuário se fecharam e, antes mesmo que qualquer pessoa pudesse fugir dali, todos foram trancados pelo lado de fora. 

Ignorando os gritos de desespero e toda algazarra em seu entorno, Machi ainda encarava Hisoka, paralisada no mesmo lugar. O som dos disparos da arma proveniente do fantoche de Shalnark continuavam a ecoar pelo ambiente. Outros membros da Troupe já seguiam em direção ao subsolo.

— Idiota. Se fizer isso de novo, eu te mato! — ela disse enfim e, usando o dorso da mão, limpou os lábios com um movimento exagerado — Dá próxima vez, vê se arranja outro jeito de distraí-los! 

— Distraí-los? — Hisoka indagou, semicerrando os olhos. Em seguida, esboçou um sorriso no canto dos lábios — Esse não era o meu plano de distração, Machi. Mas que bom que consegui atingir dois propósitos de uma só vez. 

Machi perdeu a voz. Sem resposta, ficou procurando a melhor maneira de exigir uma explicação. Porém, quando enfim conseguiu formular uma frase, Hisoka já havia a deixado sozinha, misturando-se no meio da multidão agitada que corria de um lado para o outro tentando escapar da morte iminente.

Ela tentou se recompor, mas, confusa e furiosa, não conseguia mais raciocinar com clareza. Somente quando os olhos relancearam uma mulher encolhida no chão, que, chorando copiosamente implorava por uma ajuda que nunca chegaria, foi que ela se acalmou. 

Uma fina linha de Nen então tomou forma em sua mão.

Era hora de voltar aos eixos e retomar o foco na missão. Nada poderia importar mais do que isso, nem mesmo o que ela realmente havia sentido durante aquele beijo. 

Seria somente mais um segredo. Mais um entre tantos outros. 


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