Bilhetes escrita por daylightsx


Capítulo 1
Bilhetes




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— Boungiorno, Bella. – O Dr. Cullen entrou no restaurante quase vazio, com seu sorriso encantador de sempre. – Alice, Rose. – Ele acenou para umas das mulheres que trabalhavam comigo. 

— Bounasera, Edward. – O corrigi no automático, sorrindo com seu italiano quase perfeito. – Como vai? Achei que não viria hoje. Já se passaram das duas. 

— Tive complicações em uma cirurgia. Não deu para sair mais cedo. – Ele disse e se debruçou no bar, sentando-se no banco que dava para a cozinha aberta. No meu restaurante, quem optava por se sentar no bar, tinha uma visão privilegiada da cozinha. 

— Você é médico de quê, mesmo? – Perguntei, curiosa, enquanto colocava a massa preferida dele em uma frigideira. Sempre spaghetti. 

— Sou cardiologista. Cuido dos corações alheios. – Edward deu um sorriso e seus olhos brilharam. Dava pra ver que ele amava muito o que fazia, e minha cabeça foi para longe. E o coração dele? Afastei  esse pensamento o mais rápido que pude. 

— Qual o molho de hoje? 

— Carbonara. Os dois. – Ah, sempre. Ele sempre pedia um para ele e um para levar. 

  — É pra já. – Quebrei os ovos e comecei a fritar o bacon, enquanto ele me olhava do bar. Sentia seus olhos em mim, mas não tive coragem de cruzar os meus com os dele. 

— O cheiro está maravilhoso, Bella. – Ele disse, e eu sorri. 

— Grazie. – Respondi e coloquei seu prato bem em sua frente. Ele respirou fundo, sentindo o aroma. Fechou os olhos. 

— Como se eu estivesse na Itália. – Ele disse e sorriu. 

— Essa é a intenção. – Eu disse e pisquei para ele. – Eu vou pegar a embalagem para colocar o outro. – Avisei e saí por um segundo, mas senti seus olhos ainda em mim. Voltei com uma caneta e o bloco de post it na mão. Isso já era tradição. Deixei-os do lado dele, que me agradeceu e continuou a comer. 

A cantina já estava quase vazia, por isso me dava ao luxo de poder desfrutar de algumas conversas agradáveis com alguns conterrâneos italianos que moravam naquele bairro de Chicago. 

— Grazie, mia bella. – O casal Dallamari se despedia de mim quando Edward se aproximou para se despedir. 

— Até a próxima. Arrivederci. – Abri meu melhor sorriso para os velhinhos que saíam alegres para o caixa. Alice com certeza iria se entreter em uma conversa com eles. 

— Bella, estava tudo ótimo, como sempre. Obrigado. – Edward disse. Sorri, olhando para seus lindos olhos verdes. 

— Fico feliz que tenha gostado. Posso pedir para Rosalie entregar seu pedido? – Perguntei. 

— Claro. – Ele concordou e me entregou a sacola ainda morna com o post it colado. Eu sabia o que era aquilo e achava extremamente romântico. Edward mandava todos os dias comida para a namorada, junto com um bilhete. – Eu preciso voltar para o hospital. Nos vemos amanhã? 

— Claro, estaremos aqui. – Eu disse e ele sorriu para mim.

— Arrivederci, Bella. 

— Arrivederci, Edward. – Falei e ele saiu pela porta. Entreguei à Rosalie o pacote, que saiu para fazer a entrega. Suspirei, enquanto acompanhava, de dentro da loja, Edward atravessando a rua até o hospital New Amsterdam. 



No dia seguinte, já passavam das duas e meia da tarde e Edward não tinha aparecido para o almoço. A cantina estava se esvaziando e apenas uma jovem terminava seu almoço. Quando ela se levantou e foi até Alice no caixa, saí da cozinha e fui até Rosalie, que logo falou. 

— Acho que o bonitão não vem hoje. A namorada vai ficar sem almoço. – A loira riu, meio diabólica. 

— Uma pena. – Dei de ombros. Assim que a jovem saiu pelas portas, Alice saiu do caixa, desamarrando o avental. 

— Bella, posso sair mais cedo? Eu preciso ver umas coisas do pré-natal. – Ela perguntou. Sua barriga já começava a apontar, crescendo cada dia mais. 

— Claro. Você vai sozinha? – Perguntei, preocupada. 

— Não, a Jessamine vai comigo. Ela conseguiu uma dispensa do quartel hoje. – Alice disse, com os olhos brilhando. Ela e a esposa estavam tentando há meses uma inseminação artificial, e, quando iam desistir, Alice engravidou. O celular dela começou a vibrar em sua mão. – É ela. Deve ter chegado. 

— Pode ir. – Eu disse, e a mulher, que mais parecia uma fadinha com sua pequena barriga de grávida, saiu pelas portas do restaurante. – Rose, você pode ir também. Eu fecho tudo. 

— Tem certeza? Não precisa de ajuda? – Ela perguntou. – Se quiser, te ajudo a fechar. 

— Tenho. Pode ir. Sei que você tem coisas para estudar. – Eu sorri para ela. 

— Eu sempre tenho. – Ela falou, pegando sua jaqueta no balcão e seu capacete. – Até amanhã, Bella. 

Dispensei o resto das meninas que trabalhavam como garçonetes e fui para a cozinha, até que ouvi o tilintar do sino da porta. 

— Bella? 

Ao sair para o salão, dei de cara com Edward, ainda de pijamas cirúrgicos, com uma feição que parecia um tanto quanto esgotada. 

— Muito tarde para o almoço? – Ele perguntou. 

— Nunca é tarde para uma comida boa. O que você vai querer hoje? 

— Acho que dois canelones. Um para levar. – Edward disse e se sentou no bar, no lugar de sempre, onde ele podia me observar cozinhando. Desde quando ele começou a atender no New Amsterdam, há um ano atrás, ele vem todos os dias aqui, religiosamente. De um cliente fiel, acabou virando um amigo querido. 

— Cirurgia? – Perguntei enquanto preparava os canelones. 

— Sim. Dessa vez era uma criança. Alto grau de complexidade. 

— Imagino. Mas deu tudo certo, né? 

— Sim. Ainda bem. – Ele disse, aliviado. – Mas minha barriga está roncando. – Ele falou, olhando para o relógio. 

— Está quase pronto. 

— Bella, acho que não vai dar tempo de comer aqui. Você pode embalar os dois? Um você pede para entregar na casa da minha namorada e outro eu levo para o hospital e como lá. – Ele explicou. 

— Ah, Edward. Temos um problema. Quando você chegou, eu estava fechando o restaurante. Eu já dispensei a Rosalie. Não tem ninguém para entregar essa encomenda além de mim… A menos que eu a entregue. – Falei. 

— Você faria isso? – Ele perguntou. – Eu te agradeceria por todos os dias da minha vida. 

Pensei bem. Eu queria descansar, mas não custaria nada fazer um favor a um amigo. 

— Tudo bem. Só anote o endereço e o nome dela aí. – Eu disse e sorri para ele, enquanto embalava os canelones. 

 

Nos despedimos na rua, enquanto ele segurava as sacolas e eu fechava as portas do restaurante. 

— Bella, eu nem sei como te agradecer. Grazie? – Ele disse. 

— Pode ser. – Eu ri.

— Preciso ir. Mas você vai adorar conhecer a Irina. Tenho certeza. Espero que ela não esteja muito ocupada e vocês possam conversar. – Ele disse. 

— Ela faz o que? – Perguntei, curiosa. 

— Ela é arquiteta, projeta casas. Ela fica tão imersa em projetos que esquece até de comer. Às vezes, fica o dia inteiro sentada na frente do computador. Por isso eu sempre mando comida. – Explicou Edward, e eu pude finalmente entender sua atitude. 

— Entendi. Bela atitude da sua parte. Bem, eu vou indo para não esfriar. Até amanhã, Edward. 

— Até, Bella. Obrigado, mais uma vez. Não sei o que seria do meu estômago sem o Bella Itália. – Ele sorriu e colocou as mãos sobre o coração, e sorri de volta. 

Eu também não saberia o que seria da minha vida sem aquele pequeno pedaço da minha terra. 

 

Entrei no carro e coloquei o pacote com os canelones no banco do carona. Conectei meu celular ao som e dei partida. Estava cantando Zitti E Buoni do Måneskin a plenos pulmões em minha língua materna quando o aleatório resolveu acabar com minha alegria, trocando para Cover Your Tracks, de um artista pouco conhecido chamado A Boy and His Kite. Eu não ouvia aquela música desde quando tinha me separado de Alec. Ele foi, inclusive, a pessoa que me apresentou a ela. Eu deveria tê-la excluído da minha playlist de favoritas. Troquei de música, com raiva, e o som do Måneskin voltou a dominar o carro, mas já não era a mesma coisa. 

Afastei aqueles pensamentos quando parei bem na frente do prédio de Irina. Era relativamente perto de minha casa, a alguns minutos apenas. Desci e peguei a sacola. Entrei no saguão e me identifiquei ao porteiro, que não fez menção em me anunciar para a mulher. Ele apenas acenou e disse um "vai lá". Dei de ombros e peguei o elevador, que rapidamente parou no trigésimo andar. 

Toquei a campainha e a porta demorou um pouco para se abrir, mas não consegui esconder minha surpresa quando vi um homem seminu, enrolado apenas em um lençol, parado na minha frente. 

— Amor, sua comida. – O homem disse, gritando para dentro do apartamento, e logo a mulher loira de cabelos escorridos apareceu. Ela era bonita, muito bonita, mas algo nela me fez odiá-la naquele mesmo instante. Ela também estava enrolada em lençóis. 

— Ah. Que ótimo. Já estava estranhando a demora. – Irina falou, e pegou a sacola das minhas mãos, sem nem balbuciar um mero "obrigada". Naquele momento, quis que ela engasgasse com o primeiro pedaço de canelone que colocasse na boca. 

 

Saí do prédio desnorteada. Eu não sabia o que fazer, estava confusa. Eu tinha certeza que tinha batido no apartamento certo, pois ela mencionou a demora do prato. Mas aquela cena… Aquilo tudo me lembrou… Alec. Alec e Heidi – minha ex melhor amiga –, ambos, me traindo debaixo do meu próprio teto. Todas as memórias daquele momento vieram com força total. Naquela época, eu havia ido à Itália para visitar minha família e ir ao casamento de uma amiga de infância, mas Alec disse que não poderia ir. Acabei adiantando meu voo e cheguei um dia antes do previsto, e peguei os dois juntos, meu noivo e minha melhor amiga, transando na minha cama. Na minha casa. Eu só queria morrer. Terminei tudo, amizade e noivado, e nunca mais os vi. Mudei de vida, de casa e segui minha vida. Mas o que eu vi hoje me chocou. Edward não poderia viver sendo enganado dessa forma. 

 

Fui direto para casa, mas estava inquieta. Ficava andando de um lado para o outro, sem o que fazer. Tentei ler um livro, mas as letras se embaralhavam na minha frente. Quando estava nervosa, eu começava a limpar minha casa freneticamente até nenhum pó estar à vista. Limpei de cima a baixo, de dentro dos guarda roupas até às panelas da cozinha. O tempo não passava. Às sete, resolvi ligar para Rosalie, que atendeu no terceiro toque. 

— Oi Bella. Está tudo bem? 

— Oi Rose. Está. É que eu descobri uma coisa, e eu precisava contar antes de amanhã. – Falei. 

— Eita. Fofoca. Fala, mulher! – Ela disse, esbaforida. 

— Tem que ser pessoalmente. Preciso contar para a Alice também. Preciso da opinião de vocês. 

— Não seja por isso. Eu acabei de mandar mensagem para ela. Ela disse que ela e a Jessamine estão nos convidando para jantar. Elas descobriram o sexo do bebê e querem nos contar. Eu já estou pronta. Te vejo em meia hora. – Rose avisou, quase como num ultimato. Eu apenas concordei, e dentro de meia hora, estava na casa das Brandon-Whitlock. 

 

— É uma menina! – Alice anunciou, com a mão na barriga e um sorriso no rosto. Jessamine também sorria, tão diferente de quando estava em seu uniforme militar. 

— Nossa Summer. – A esposa de Alice disse, e lhe deu um beijo na testa, fazendo um carinho em sua barriga. – Vou tirar o peixe do forno. – Jess falou e saiu para a cozinha com o pano de prato nos ombros. 

— Tá bom, Bella. Agora conta o que você descobriu. – Rosalie falou, como sempre muito curiosa. Alice ainda parecia meio perdida. 

— Depois que vocês foram embora, o Edward apareceu lá no restaurante. – Comecei a falar. 

— Hm, sei. – Rosalie disse, dando um risinho malicioso. 

— Ei, escuta. – Eu ri junto e continuei a contar. – Nós conversamos um pouco e ele pediu dois pratos, como sempre. Só que como não tinha ninguém para levar, eu levei até o endereço da namorada dele. 

— E aí? Mas isso eu faço todos os dias. – Rose disse, sem entender. 

— Deixa ela terminar! – Alice falou. 

— Daí que eu peguei a namorada dele, Irina, com outro. 

— Mentira. – Alice falou, incrédula. 

— Não duvido. Aquela ali tem cara de biscate. – Rosalie disse. 

— Credo, Rose. Cadê a sororidade? – Alice disse. 

— Foi pelo ralo quando ela nem sequer agradeceu quando eu entreguei as comidas dela. – A loira falou e deu de ombros. – Tá, Bella, mas você tem certeza que esse cara que tava com ela era um amante? 

— Considerando que os dois estavam enrolados em lençóis e que ele chamou ela de amor, sim. – Eu disse. 

— Quem era amante de quem e quem tava enrolado em lençóis? – Jessamine, com cara de confusa, chegou com uma travessa com um peixe extremamente cheiroso. Expliquei brevemente a história para ela enquanto nos servíamos. 

— Chocada. – Ela disse. – E o que você vai fazer? – Jess perguntou. 

— É exatamente isso que eu vim perguntar a vocês. Eu sinto que preciso contar a ele. Não posso deixar que ele seja feito de bobo. – Eu disse. 

— Eu não sei, Bella. Entendo seu sentimento por tudo o que aconteceu com você, e por você ser amiga dele, mas acho que você deve ter cuidado ao contar isso pra ele. – Alice disse. 

— O bonitão não vai ficar nada feliz em saber disso. O lado bom é que você vai poder consolar ele, amiga. – Rosalie disse, rindo. 

— Rose! Eu não vou consolar ninguém. 

— Conta outra, Isabella. Você é louca para dar uns pegas no doutor. – Rosalie disse, e minha imaginação fluiu rapidamente. Tentei afastar aqueles pensamentos.

— Eu concordo que a Bella tem que contar, mas ela não pode fazer isso sem um embasamento. – Jess falou. 

— Isso é essencial. – Rosalie completou. – E eu já sei o que você vai fazer. – A loira abriu um sorriso lindo e diabólico. 

 

No dia seguinte, eu, Rosalie e Alice chegamos no restaurante praticamente juntas. As outras garotas ainda não tinham chegado, então podíamos conversar livremente. 

— Seguinte. O plano é a Bella dar um jeito de ver se esse cara lá é comum. Porque se ele chamou ela de amor, é que eles já tem um caso mais duradouro. – Rosalie falou. 

—  E como ela vai descobrir isso? Você esteve lá todo esse tempo e nunca viu ele. – Alice falou. 

— Mas às vezes eu não subia. Eu vi a cara da vaca poucas vezes. Eu deixava com o Joshua… É isso! – Rosalie deu um tapa na mesa, que assustou a mim e Alice, que quase pulou da cadeira.  – Como era o porteiro que estava lá ontem? – Ela perguntou para mim. 

— Ele era alto, magro e usava bigodes. Ele assistia a um jogo de futebol americano no celular e nem sequer olhou para a minha cara ou me anunciou quando eu falei que ia entregar comida. – Expliquei. 

— Ah, esse é o John. Chato… Então hoje é o Josh. Você vai adorar ele. E vai por mim, ele vai te contar tudo. É só mencionar meu nome na conversa que ele abre o bico. – Rose disse. 

— Como assim? – Alice perguntou. 

— Ah, ele é meio que apaixonado por mim, mas eu já disse que não ia rolar nada. Na época eu estava saindo com a Eleanor, aí depois veio o Michael, a Louise e qual foi o outro mesmo? – Ela começou a divagar. – Enfim, mas ele é fofoqueiro. Vai falar se esse cara fica lá e quando. Fala que você é minha amiga e ele te passa o relatório completo. 

— Entendi. – Falei, assimilando todas as ideias na cabeça. – E depois disso? 

— Bem, se ele for direto lá… É só a gente fazer com que o Edward pegue os dois juntos. – Rosalie falou. – Vai ser lindo aquela vaca caindo do pedestal em que ele a coloca .

— Credo, Rose. Às vezes você é meio diabólica. – Alice falou. 

— Alicinha, eu só torço para que o mal que ela faz volte para ela. O Edward não merece isso. Olha o que ele faz por ela. Vem aqui todos os dias, compra comida, escreve um bilhete fofo e manda entregar no apartamento dela. Vocês já leram aqueles bilhetes? O cara é um poeta. – A loira falou. 

— Você já leu? – Eu e Alice quase gritamos, em uníssono. 

— É claro. Eu sou curiosa. Aliás, mais que curiosa. Eu sou fofoqueira. – Ela piscou.

— Eu não quero que o Edward sofra. – Falei, cabisbaixa. 

— Bella, mas isso será impossível. Não vai ser sua culpa, a culpa é daquela oxigenada falsificada. Nem loira de verdade ela é! A única coisa que você pode fazer é ajudá-lo a superar isso. – Ela disse. – E não, não precisa ser do jeito amoroso. Amigos também ajudam uns aos outros. – Ela tocou meu braço e sorriu. 

— Eu só quero o bem dele. – Eu disse. E eu realmente só queria vê-lo bem. Ele não merecia passar por aquilo e ter sua confiança traída daquela forma. 

— Acho que no fim ele vai te agradecer, Bella. – Alice disse, pegando minha mão. 

— Eu espero.

 

Mais tarde naquele dia, o restaurante estava uma loucura. O salão estava cheio e a todo momento pedidos chegavam, até que a pessoa que eu mais esperava cruzou o salão em direção ao bar. Ele acenou para mim, enquanto uma das garçonetes anotava seu pedido. Não tínhamos muito tempo para falar. Eu precisava preparar tudo rápido e pensar nos próximos passos. Preparei o prato de Edward e o despachei. Chamei Rosalie na cozinha e saí do campo de visão de Edward para conversar com minha amiga. 

 

— O bonitão chegou. Já fez o pedido e tudo mais. – Enquanto Rose falava, eu tirava meu domo e passava para ela. – O que é isso? 

— Hoje você vai ficar no meu lugar. 

— Bella? Você tá doida? 

— Nunca estive tão certa em toda a minha vida. – Eu disse, e ela pegou a vestimenta da minha mão. 

— E se eu errar? E se eles não gostarem da minha comida? E se eu não der conta, Bella? – ela começou a disparar milhares de perguntas, nem parecia aquela Rosalie que eu conhecia, toda determinada. 

— Você é a pessoa mais capacitada que eu conheço. Primeiro, eles vão amar sua comida. Você cozinha bem, faz gastronomia. Já está na hora de você sair de lá de fora. – Falei, colocando as mãos em seus ombros. – E Hale… hai sangue italiano nelle vene (“você tem sangue italiano em suas veias”). 

— Se você diz. – Ela deu de ombros e vestiu o domo. Peguei um avental qualquer e fui para o salão. Hoje Rosalie prepararia o prato de Irina e, considerando o ódio que minha amiga nutria pela namorada mal caráter de Edward, era bem provável que ela teria uma refeição um tanto quanto apimentada. 

— Desistiu de cozinhar? – Ouvi uma voz atrás de mim. Edward. 

— Ah, não. Estou treinando a Rosalie. Ela vai ficar comigo agora na cozinha. – Expliquei. 

— Bem, mas se você está treinando ela, não deveria estar lá dentro? – Edward perguntou, rindo. 

— Deveria, mas eu vou precisar sair. Ela sabe se virar. – Eu sorri para ele, meio sem graça, coçando a cabeça. Ele percebeu, pois logo disse: 

— Eu estava brincando. Bem, hoje os pedidos serão para levar. – Ele levantou as sacolas –  Tenho várias consultas. Até mais, Bella. – Ele disse, deu um beijo no meu rosto que amoleceu meu coração e foi para o caixa. 

Assim que ele saiu pelas portas do estabelecimento, fui até Alice. 

— Alice, o pedido do Edward. – Eu pedi, com as mãos estendidas, e ela prontamente me entregou a sacola com a comida ainda bem quente. 

— Cuidado, Bella. – Alice disse. – Você não conhece essas pessoas. Não sabe com quem está mexendo. Pode ser perigoso. – Ela disse, com o modo mãe entrando em ação. Sorri para a pequena mulher do outro lado do caixa. 

— Eu vou tomar cuidado. Prometo, Ali. – Mandei um beijo no ar para ela. – Preciso ir antes que a comida da víbora esfrie. 

 

Chegando ao prédio, refiz os mesmos passos do dia anterior, mas mudei minha estratégia ao chegar na portaria. Ao notar que os porteiros tinham sido trocados, resolvi tentar ser simpática. 

— Oi! Tudo bem? Você é o Josh, acertei? – O homem deu um dos  sorrisos mais lindos que eu tinha visto na vida, completamente contagiantes. 

— Sou eu! Como sabe?

— A Rosalie me disse que você estaria aqui hoje. Eu sou amiga dela. – Falei exatamente como ela tinha mandado, e logo seu sorriso abriu mais ainda, como se fosse possível. 

— A Rose… Como ela está? Por que não veio? Ela está bem? E você, como se chama? Me desculpe, nem perguntei. – Josh riu. 

— Eu sou Bella. – Não consegui mentir meu nome, pois não conseguiria disfarçar meu sotaque italiano. Mas, para minha sorte, ele pareceu não fazer nenhuma conexão entre meu nome e o nome do restaurante estampado na sacola do restaurante. – E sim, a Rose está bem. Eu só estou fazendo as entregas no lugar dela agora. Ela foi promovida. 

— Ah, que maravilha! – Ele bateu palmas, e senti que ele realmente ficou feliz por Rosalie. – Ela sempre comentava o quanto queria ir trabalhar na cozinha. 

— Sim… É… Josh, eu preciso ir no apartamento 1303… Eu só esqueci o nome do proprietário. – Tentei essa tática. 

— Ah, não é proprietário. É proprietária. Irina Denali é o nome dela. – Ele fez uma cara de poucos amigos, mas logo a desfez. –  Pode subir. Não preciso nem avisar, ela sempre pede comida. 

— Ah, sim. – Sorri, meio sem graça. Bola fora, Bella. – Obrigada. 

Subi até o décimo terceiro andar e novamente dei de cara com o homem no apartamento de Irina. Dois dias seguidos… Teríamos um padrão? Não sabia se podia perguntar para Josh de cara. Dentro do elevador, ainda pensava se perguntava a Josh sobre o homem ou não. Decidi perguntar. Eu não tinha nada a perder. 

— Josh. – Cheguei no balcão da portaria e o homem me recebeu com o mesmo sorriso de minutos atrás. 

— Olá, Bella.  Precisa de algo? 

— Não. Só queria deixar com você esse vale compras do restaurante. – Entreguei o cartão que milagrosamente lembrei que tinha colocado no bolso aquela manhã. – É por conta da casa. Você vai adorar a comida. 

— Meu Deus! Mulher, você é um anjo! Eu estava procurando um lugar para almoçar aqui no aplicativo! – Ele mostrou o celular. 

— Aposte no Bella Itália. – Eu pisquei. – Você não vai se arrepender. – Josh… Posso te fazer uma pergunta? 

— Até duas! Depois disso aqui? – Ele mostrou o voucher do restaurante. 

— Ótimo! É para ajudar um amigo meu e da Rosalie. – Quando mencionei o nome de minha amiga, seus olhos brilharam e ele até se aproximou mais de mim. Seria tão fácil assim? – Quando eu fui no apartamento da Irina eu notei um homem lá. Você sabe quem ele é? 

— Ah, aquele é o James. É assistente dela. Por que? – Josh perguntou, curioso. Respirei fundo. 

— Ah, nada. É porque nosso amigo queria saber se ela tinha namorado. Ele está interessado nela. – Menti. 

— Namorado ela tem. – Josh falou. – Mas não sei não, viu Bella. Acho que esse rapaz não deve passar na porta sem abaixar. 

— Você acha que…? 

— Se eu acho? Todo mundo nesse prédio acha, Bella. Aliás, aqui ninguém vai com a cara dela. – Ele olhou para os lados e comentou baixinho. – Ela é extremamente soberba, mimada, sem educação. Não dá nem bom dia, passa direto. Eu acho que ela tem um caso com esse James, que se diz assistente dela. Ele chega aqui de manhã, e às vezes vai embora pra lá da meia noite, e nunca está aqui quando o Edward, o namorado dela, está. Para mim, isso cheira a traição. 

— E como o namorado dela é? – Perguntei, como se eu não soubesse o quanto ele é incrível. 

— Ele é um cara bacana. O completo oposto dela. Chega aqui, comprimenta todo mundo, bate papo, pergunta da vida da gente, fala de esporte e tal. Inclusive é ele que manda comida para ela todos os dias. Coitado dele se descobrir que está sendo corno. – Ele disse, e eu compartilhava desse sentimento. Eu só queria que Edward fosse feliz. 

— É. Coitado. Ele não merece isso. 

— Não mesmo. 

— E esse James vem aqui todos os dias? – Perguntei. 

— Sim! Todo santo dia esse cara tá aqui. Ele só não vem quando o namorado dela tá aqui, como eu disse. Mas o namorado dela sempre avisa quando vem, porque é quando ele está de folga. Ele é médico e trabalha num hospital lá no centro. – Josh contou. 

— Então se ele aparecer aqui de surpresa ele pega os dois no pulo? 

— Se os boatos forem reais, sim. – Josh sorriu. – Ah, isso eu queria ver.

Quem sabe verá, Josh. 

— É. – Ri. – Preciso ir. Nos vemos depois, Josh. Bom trabalho! 

— Para você também, Bella! 

 

Cheguei no restaurante e ele estava quase vazio. Fui direto para a cozinha, com Alice atrás de mim. 

— E ai? O que você descobriu? – Rosalie perguntou, enquanto mexia duas panelas ao mesmo tempo. Coloquei outro domo e fui ajudá-la. Alice pegou um protetor para cabelos e prendeu seus fios curtos, se aproximando de nós. 

— Tudo. O Josh simplesmente contou tudo depois que eu dei um voucher do restaurante pra ele. Rose, você devia dar uma chance para ele. O Josh é um cara legal. – Eu disse. 

— É, mas você deveria ter dito isso a uma hora atrás. Agora eu marquei um encontro com o Emmett. 

— Seu ex? – Eu e Alice falamos juntas.

— De vez em quando um replay faz bem. – Ela riu, sem graça. – E nunca se sabe quando nós podemos voltar. É sempre bom deixar as cartas na mesa. – Ela falou e tirou o macarrão da panela, montando o prato com maestria. Eu deveria tê-la tirado das entregas antes. 

— Sobre o Josh… Ele me contou que todo mundo lá no prédio acha que a Irina trai o Edward. E que aquele cara que estava no apartamento é assistente dela. Ele se chama James. 

— Mas pode ser que não seja nada? – Alice perguntou. 

— Poder pode, mas… Nem ele mesmo acredita nisso. – Eu disse. 

— Conta mais. – Rosalie disse, voltando do bar. 

— Bem, o Josh disse que o James nunca está lá quando o Edward está. Parece que o Edward avisa quando ele vai, e o James vaza. O Josh me contou que às vezes o James sai de lá de madrugada. – Contei. 

— Nossa. Haja energia. – Alice disse. 

— Pois é. – Concordei. 

— Tá. Enfim. Eu quero saber como é que nós vamos fazer para o Edward pegar os dois com a boca na botija. – Rose falou, animada. 

— Ah, gente. Eu não sei. Eu não quero fazer o Edward sofrer. – Eu disse. Já tinha passado por aquilo, já sabia como era. Não era fácil. 

— Bella, mas vai ser necessário. Você está fazendo um favor a ele, o livrando desse relacionamento maldito. – Alice falou, tentando me ajudar. 

— Se você não fizer, eu faço. Ele tem que ser avisado. Não pode continuar sendo feito de trouxa. Ele não merece isso, Bella, e você mais do que ninguém sabe disso. – Rosalie disse, mais incisiva. 

Eu sabia que minhas amigas estavam certas, mas meu coração ainda estava relutante em contar para ele e destruir o que, para Edward, era perfeito. Antes de conhecê-la, naquele dia no qual ficamos sozinhos aqui, fiquei completamente encantada com o jeito que Edward falava de Irina. Tudo o que eu desejava era um relacionamento como aquele. Mas depois de saber de tudo, o que eu queria era distância. Eu realmente precisava fazer algo. 

 

No fim da tarde, eu, Alice e Rosalie estávamos em meu apartamento. Alice preparava um chá enquanto Rosalie se embebedava com um vinho francês que eu tinha trago da minha última viagem. 

— Bella, manda essa mensagem logo. – Ela disse. 

— Eu estou com a Rose. – Alice disse, levanto a xícara com o líquido fumegante à boca. – Se você realmente quer livrá-lo disso, tem que tomar a iniciativa logo. 

Nós tínhamos pegado o número de Edward no registro do restaurante mais cedo, e eu estava decidindo se mandava ou não mensagem para ele. 

— Tá! Vou mandar. – Apenas apertei o enviar. A mensagem estava ali parada, já escrita há mais de cinco minutos. 

 

Bella: Oi, Edward. Aqui é a Bella. Espero que você não tenha achado estranho eu ter pegado seu número do nada. Peguei nos registros de entrega do restaurante. Queria saber se você está livre amanhã na hora do almoço. Eu preciso conversar com você. 

 

Dois minutos depois, eu tinha uma resposta brilhando na tela do meu aparelho. 

— Ele respondeu! – Gritei, e Rosalie quase pulou em cima de mim. 

 

Edward: Oi, Bella! Tudo bem? Não se preocupe, não achei estranho. Na verdade, não sei porque ainda não tinha seu número. Enfim. Amanhã estarei livre de 11h às 14h. Desmarcaram uma cirurgia, então nós podemos conversar tranquilamente. Posso aparecer no restaurante quando quiser. Estou salivando por um carbonara! 

 

— É, você vai sentir bem o sabor do carbonara ao molho do chifre. – Rosalie disse, rindo. 

— Credo, Rosalie. – Alice começou a rir com a piada da loira, e eu comecei a rir por causa da risada estridente de Alice. 

— Agora já foi. Não tem jeito de voltar atrás. – Suspirei, e comecei a digitar uma resposta a ele. 

 

Bella: Tudo bem. Nos vemos amanhã, então. Até lá! 

 

— Então temos que repassar o plano. – Rose disse. 

— Nós não temos um plano, Rose. – Alice disse, passando a mão na barriga. 

— Então nós criaremos um. – A loira falou. – O que você pretende fazer, Bella? – Ela me perguntou, porém não sabia responder. 

— É… Bem… Eu ia perguntar para ele quem era aquele cara. – Respondi. 

— Assim, na cara dura? – Alice perguntou. 

— Não, claro que não. 

— Ah, bem. Você é meio doida. – Ela disse. 

— E o resto? Se ele disser que sim? – Rose perguntou. 

— Eu iria contar o que vi. Simplesmente. Eu sei que ele não ia acreditar em mim, mas eu iria até lá com ele para mostrar se fosse necessário. Não foi só uma vez que peguei os dois juntos. – Falei. 

— Entendi. – Rose disse. – Pode ser que dê certo. 

— Isso é meio estranho. Estamos traçando um plano para desmascarar uma pessoa. Isso não entra na minha cabeça. – Alice balançou a cabeça, em sinal negativo. 

— O problema é que na sua cabecinha todas as pessoas são boas, Alice. – Rose disse. – Só que no mundo real elas podem ser cruéis. As pessoas são capazes de fazerem as piores atrocidades para se darem bem. Mas, no fim, nós três vamos ajudar o Edward. 

— Eu só espero que ele não fique chateado comigo. – Disse, colocando a cabeça entre as mãos. Esse pensamento me rodeava mais do que o normal. 

— Ele não vai. Ele vai entender seus motivos, Bella. Tenho certeza. – Rosalie disse, mostrando-me apoio. Era o que eu mais precisava. 

 

No dia seguinte, eu estava um caco. Não tinha conseguido dormir nada durante a noite. Meus pensamentos estavam todos em Edward e na nossa conversa. Eu parecia uma adolescente ansiosa com o primeiro encontro, mas com uma pequena diferença: eu não era adolescente e isso não era um encontro. Era uma conversa que iria decidir boa parte da vida de alguém que eu gostava muito. 

Rosalie foi direto para a cozinha naquele dia, e agora aquele seria o lugar dela. Alice estava de frente para mim, no caixa, me lançando olhares de apoio. Minhas mãos suavam, e a todo momento eu olhava para o outro lado da rua, quando as portas automáticas do hospital abriam para ver se o médico de cabelos acobreados vinha em direção ao restaurante. Depois de alguns minutos passados das 11 horas, ele finalmente entrou pelas portas do Bella Itália, com seu sorriso arrebatador se sempre. Mal sabia ele que provavelmente era o último que ele daria naquele dia. 

— Oi, Bella! – Ele disse, animado, estendendo os braços e me puxando para um abraço. – Como você está? 

— Tudo bem. – Forcei um sorriso, mas não saiu como planejado, pois ele percebeu. 

— Tem certeza? Eu sei bem quando uma coisa não está bem. Médicos sabem quando as pessoas mentem, Bella. – Ele cruzou os braços, mas manteve seu sorriso leve nos lábios. 

— Não é nada. – Ah, Bella. Pare de desconversar. – Quer almoçar? Hoje a comida é toda obra da Rose. – Eu sorri. 

— Claro. Dois carbonaras. – Ele piscou para mim, enquanto uma das minhas garçonetes anotou o pedido dele. Meu estômago se revirou ao ter que ir entregar aquele segundo prato. Aquilo não ia dar certo, mas eu não podia dar para trás. Não agora. 

— Mas me diga, Bella. O que você queria conversar comigo? – Ele perguntou, enquanto nós esperávamos seu prato. Meu Deus. Eu não tinha pensado nessa parte. 

— É… Ok. Edward. Eu vou te falar de uma vez. – Eu disse, sentando-me à sua frente. Ele me lançou um olhar preocupado. O olhando daquela forma, eu simplesmente não conseguia falar. As palavras ficaram presas em minha garganta. Respirei fundo. 

— Você está bem? 

— Estou. – A imagem de Alec e Heidi voltaram à minha mente. 

— Edward… Antes de tudo, eu quero que você saiba que eu gosto muito de você. Caso contrário, eu não estaria fazendo isso. Não me sinto bem nessa posição, mas eu preciso te contar uma coisa. Você pode não acreditar em mim, mas eu ainda assim sinto que é meu dever te falar o que vi e ouvi no dia que fui entregar a comida da sua namorada. – Soltei o que estava engasgado, e ele continuou a me olhar preocupado, porém ele estava ficando vermelho. Eu não sabia o que estava acontecendo, e minhas mãos suavam. 

— Continue, por favor. 

—  Eu fui entregar o seu pedido para a Irina, e encontrei um homem com ela. Os dois estavam juntos. Ah. – Abaixei a cabeça, com vergonha. Eu devia estar mais vermelha que um pimentão, lembrando daquela cena e de James chamando Irina de amor. – Ele chamou ela de amor. Os dois estavam… seminus. Desculpa. – Olhei para ele, que tinha os olhos um pouco marejados, mas eles continham uma expressão de ódio. – Me desculpe por contar assim. Mas eu sinto que deveria… – Ia falando, mas ele se levantou e simplesmente saiu da mesa. 

            – Eu vou atrás dela. – Ele disse.

— Edward, espera. – Eu disse, segurando o braço dele. – Por favor, não faça nada de cabeça quente. 

— Você quer que eu fique parado, sendo feito de palhaço, Bella? Não, não dá. Isso já é demais. Eu vou tirar isso a limpo. – Edward falou, e soltou seu braço da minha mão num solavanco. Corri atrás dele, atravessando a rua sem olhar e entrando no estacionamento do hospital. 

— Edward, calma. Eu sei que é difícil ouvir isso, mas pensa direito. – Eu disse. – Você não pode sair dirigindo nesse estado por aí. 

— Calma? Você me pede calma? Bella, você simplesmente jogou uma bomba em cima de mim que destruiu a minha vida e me pede calma? Quer que eu sorria também? 

Edward falou, nervoso. Aquelas palavras bateram mais forte em mim do que eu achei que fossem capazes. Senti o arrependimento fluir da cabeça aos pés. Eu não queria estar ali, naquele estacionamento. Não queria ter tido aquela conversa com ele, nem queria ter levantado aquela manhã. Se eu soubesse que fosse assim, sequer teria levado aquele bendito canelone para aquela mulher. 

—  Me desculpe, mas eu não consegui deixar você acreditar numa farsa. – Eu disse, e ele entrou no carro. Não tive forças para me mover dali, e quando seu carro saiu do estacionamento, senti uma lágrima cair por meu rosto. 

 

— E aí, Bella? O que aconteceu? – Rose perguntou, preocupada, ao ver meus olhos vermelhos. 

— Ele ficou com raiva. Foi tirar satisfação com a Irina. – Falei.

— E por que você está chorando? – Ela perguntou, encostada na bancada da cozinha e abraçada comigo. 

— Eu acho que o magoei. Ele disse que eu acabei com a vida dele. – Eu disse. Sabia que ele estava nervoso, de cabeça quente, e no direito dele. Eu o entendia perfeitamente, sabia que ele precisava de tempo e espaço para processar tudo aquilo, mas realmente me doeu. 

— Bella, se ele não for capaz de enxergar o bem que você fez para ele o tirando desse relacionamento, ele é um tonto. Ele só precisa de tempo. Ele estava de cabeça quente. Vai dar tudo certo. Nós fizemos a coisa certa. – Ela disse e me abraçou. Aninhei minha cabeça em seus ombros, e fechei os olhos, permitindo que as lágrimas caíssem como quisessem. 

 

Uma semana depois do acontecimento, eu não tinha tido mais notícias de Edward. Ele não tinha mais vindo almoçar e nem não havia mandado nenhuma mensagem, mas mesmo assim ele não saia da minha cabeça. Eu pensava nele todos os dias. Queria saber como ele estava. Meus dias não eram os mesmos sem nossas conversas animadas. 

— O bonitão sumiu né. – Rose disse, apoiada no bar. 

— É. – Eu disse, olhando para as portas do New Amsterdam, talvez, na esperança de vê-lo saindo de lá. 

— Por que você não manda uma comida para ele? – Rosalie perguntou, e eu olhei para ela como se ela fosse uma louca. 

— Ele já deve estar me odiando, e vou lembrá-lo do que ele fazia para a namorada? – Falei. 

— Não, querida. Você vai ressignificar. Vai ser uma bandeira branca. 

— Rose, isso vai dar certo? – Eu perguntei, desconfiada. 

— Vai por mim. – Ela piscou. 

 

Joguei na panela um penne. Ele nunca comia essa massa, mas quis diferenciar. Ele precisava de coisas novas na vida. Inovei também no molho, usando ingredientes que nem estavam nas receitas do restaurante, mas que eu lembrava de minha avó colocando em seus molhos. Embalei a massa. Peguei um post-it, o maior que eu tinha, e escrevi. 

 

"Edward, 

Espero que você esteja bem. Não tive a intenção de bagunçar sua vida, mas achei necessário intervir nela pelo seu bem. Não sei se fiz certo, mas eu acredito que sim. Peço desculpas caso tenha causado algum transtorno. Tenho sentido sua falta em nossos almoços. Eles não são os mesmos sem você, mas entendo que precise de um tempo para assimilar tudo o que aconteceu, e respeito isso. Quando quiser voltar, estaremos de portas abertas. Espero que goste do nosso penne. Resolvi mandar uma nova massa, representando uma novidade em meio à turbulência. Meu espaço está acabando. Arrivederci,

Bella." 

 

Senti um leve pulsar no meu coração quando Victoria, a nova entregadora, entrou no New Amsterdam com o pacote em mãos. Em breve, ele estaria com Edward e ele leria o bilhete. Como ele se sentiria? Minhas mãos começaram a suar. Resolvi voltar à cozinha. 

— E aí? Enviou? – Rose perguntou, enquanto mexia uma panela com um talharim com molho branco. 

— Sim. A Victoria acabou de ir entregar. – Eu disse, balançando as mãos. – Estou nervosa. 

— Calma, mulher. Não vai dar um piripaque. – Ela falou, enquanto passava a massa para o prato. – Mesa 6! – Ela falou para o bar. – Ele vai gostar, confia. – Ela piscou.

— Bella. – Victoria colocou a cabeça para dentro da cozinha. – Entregue. 

— Em mãos? – Perguntei, ansiosa. 

— Não, tive que deixar com a recepcionista. Ele estava em cirurgia. – Ela disse. 

— Ah. Obrigada, Vic. 

— Por nada. – A garota ruiva sorriu e saiu para fazer mais entregas. 

 

Um tempo depois, com o restaurante quase vazio, estava com Rosalie checando a quantidade de vinhos no bar quando reconheci a voz estridente de uma pessoa que eu preferia não ter que ver mais. 

— Você. A entregadora. – Ela apontou para mim, num tom de acusação. – Quem você pensa que é para se meter na minha vida? Se meter no meu relacionamento? 

— Primeiro. – Eu disse, pacientemente. – Irina. Pare de gritar dentro do MEU restaurante.  Segundo… 

— Ela é minha amiga. E ela só queria o meu bem, diferentemente de você. – Edward disse, aparecendo do nada, como se ele tivesse simplesmente surgido ali. 

— Edward? Você vai defender essa mulher? Ela acabou com nosso noivado! – Irina disse. 

— Irina, você acabou com o nosso noivado no momento em que você começou a me trair. A única coisa que a Bella fez foi abrir meus olhos para a sua falsidade. E sou eternamente grato a ela por isso. – Ele disse. Fiquei sem palavras, parada, no meio do restaurante, com a boca aberta. As mãos de Rosalie em minhas costas me tiraram do transe. 

— Irina, você já se humilhou o bastante por hoje, pode se retirar. Está atrapalhando o funcionamento do restaurante. – Eu disse. Não aguentava mais olhar para a cara daquela mulher na minha frente, nem muito menos ouvir sua voz. 

— Sabe, Edward… Você é um tonto. Um belo de um idiota. Acredita em qualquer palavrinha bonita que sai da boca de qualquer um. Eu não posso fazer nada por você, mas um dia você vai ver o quanto perdeu, me deixando dessa forma. Espero que você esteja feliz, italianinha de merda. – Irina falou, com uma expressão de nojo. – Fique com o resto. – Ela falou e saiu pisando duro. 

— Ah, mas essa vaca não vai sair falando de você assim não… – Rosalie amarrou o cabelo que tinha soltado do coque e saiu atrás de Irina, mas consegui impedi-la antes que ela chegasse perto da mulher. 

— Não, Rose. Não vale a pena. – Eu disse. 

— Você viu a cara que ela fez quando te chamou de italianinha de merda? Bella, como você vai aceitar isso? – Rosalie dizia, descontrolada. A nossa sorte era que os poucos clientes que estavam no salão na hora já estavam pagando a conta. Estava torcendo para Alice usar o voucher de promoção, pelo transtorno. 

— Eu não ligo para o que ela disse, Rose. Eu sou italiana sim, com muito orgulho. Ela não vai usar minha nacionalidade para me diminuir. – Falei e ela pareceu mais calma.

— Ok. Eu vou deixar vocês dois sozinhos. Vocês têm muito o que conversar. – Rose disse e nos deixou sozinhos. 

— Acho que eu te devo um pedido de desculpas. – Edward disse, sem graça. Ele sorriu, e pude ver pequenas covinhas aparecendo em suas bochechas.

— Está tudo bem, Edward. O que eu escrevi naquele bilhete ainda está valendo. Acho que você precisa de um tempo para assimilar tudo. 

— Sim, eu sei. – Ele disse, e baixou a cabeça, meio com vergonha. – Mas se não fosse por você… eu estaria até agora sendo feito de otário. – Ele riu, mas era uma risada triste. Eu sabia que aquilo abalava ele, mas Edward tentava levar a situação da melhor forma possível. 

— Eu sei. É complicado. Mas eu fiz na melhor das intenções. 

— E eu te agradeço imensamente. – Ele disse e o telefone dele começou a tocar. – É do hospital. Acho que preciso voltar. Obrigado, mais uma vez. E me desculpe por tudo o que eu disse naquele dia. Estava fora de mim, e não sabia como reagir. 

— Está tudo bem, Edward. Eu sei como é se sentir assim. – Eu disse e ele me puxou para um abraço. – Estarei aqui se você precisar de um ombro amigo. – Eu disse, e recordei o exato momento em que Rosalie e Alice me disseram as mesmas palavras quando eu contei que Alec tinha me traído com Heidi. 

— Eu acho que vou precisar. – Ele riu, mais uma vez, triste. Senti que precisava fazer alguma coisa para animá-lo. Olhando bem, ele estava claramente abatido. As olheiras profundas, a pele mais pálida. Era como se ele não dormisse nem comesse direito há dias. Ele cuidava dos corações alheios, mas agora não havia ninguém para cuidar do dele. 

 

……..

 

Todos os dias, Edward cruzava as portas dos Bella Itália, mas eu via que sua felicidade se esvaía cada vez mais. Era como se sua vida não tivesse mais cor, não fizesse mais sentido. Meu coração se apertou. Eu precisava fazer alguma coisa, não podia deixá-lo daquela forma, principalmente porque fui a causadora de tudo aquilo. Às vezes eu pensava se tinha feito a coisa certa… 

— Oi, Bella. – Ele me deu um abraço rápido. – Tudo bem? 

— Oi, Ed. Eu estou. – Eu disse. Mas você parece que não. – E você? – Perguntei, mesmo sabendo que ele ia mentir. 

— Estou indo. – Ele baixou a cabeça, meio desanimado. Bem, não mentiu dessa vez. Ele se sentou no bar, no mesmo lugar de sempre. 

— Vai querer o que? – Perguntei. 

— Não sei. – Ele disse, desanimado. – Estou sem fome. Acho que vou ficar numa salada hoje. 

— Posso almoçar com você? – Perguntei, de súbito. 

— Bella, você é a dona do restaurante. – Ele riu, alto. Era a primeira vez que ria daquele jeito em semanas. – Sabe que pode fazer o que quiser. Eu adoro sua companhia. – Completou, e minhas borboletas se eriçaram no estômago. 

— Um minuto. Eu já trago nossa refeição. – Pisquei para ele. Chamei Angela, uma de nossas garçonetes e pedi que reservasse uma mesa que ficava na varanda, perto do nosso pequeno jardim. Ali, não passavam carros, ônibus nem toda a loucura de Chicago. Era apenas um jardim de inverno, rodeado de flores. Um lugar para descansar e apreciar a natureza, dar um respiro. Não sei como nunca tinha pensado em levar Edward lá. 

 

— Bella, que lugar é esse? – Edward disse, olhando ao redor, encantado com o pequeno local. Era como uma criança perdida. – Isso é lindo. Como nunca me mostrou? 

— Bem… Eu nunca pensei nisso. Só costumo abrir esse espaço para jantares românticos dos meus clientes. – Disse, e ele olhou estranho para mim, mas logo emendei. – Porém, achei que você pudesse gostar de sair um pouco da loucura da cidade. E eu realmente gosto daqui, então abriremos uma exceção aos jantares românticos. Você sabia que todas as flores daqui foram plantadas pela minha avó? 

— Sério? – Ele perguntou, observando algumas mais de perto. – Elas são lindas. 

— Sim. Esse é o jardim dela aqui. Eu só o mantenho. Sempre que ela vem aqui, gosta de cuidar das plantas. 

— Ela mora na Itália? – Ele perguntou. 

— Sim. Na verdade, toda minha família mora lá. Eu sou a única aqui nos Estados Unidos. – Eu disse, enquanto olhava para as roseiras de minha avó e lembrava dos enormes jardins de sua casa de veraneio, na Sicília. Eu sempre passava minhas férias lá, e nós duas, quando não estávamos cozinhando, estávamos no jardim, cuidando das plantas. Ela me ensinou tudo o que sei. Uma pequena lágrima brotou no canto do meu olho, e afastei o pensamento rápido. Eu sentia muito a sua falta, por mais que nos falássemos quase todos os dias. Edward percebeu, pois ele passou o braço por meu ombro e me abraçou. 

— Você sente falta deles, não é? – Ele perguntou, mesmo já sabendo da resposta. 

— Sinto, mas eu sou feliz aqui. Tenho meu restaurante, meus amigos. Vocês são praticamente uma segunda família para mim. – Sorri, e pude ver que seus olhos se iluminaram. Ele sorriu também. 

— Eu fico feliz em saber disso. – Ele disse, e eu apenas sorri para ele. Meu coração estava palpitando um pouco, e eu não sabia muito bem o que falar. Ele ainda me abraçava, e eu tinha certeza que seu perfume grudaria em mim. 

— Vamos comer? – Perguntei. – Preparei a melhor salada. Tenho um molho especial. Receita da vovó Liz. – Eu pisquei para ele, e nós nos sentamos para comer. 

Eu ainda pensava em minha família na Itália quando um questionamento me veio à mente: e a família de Edward? Ele nunca tinha falado nada sobre eles. Curiosa, resolvi perguntar. 

— Edward? 

— Sim? – Ele disse, despreocupado. Sua expressão estava um pouco mais leve, seus olhos um pouco mais alegres, mas eu sabia que sua tristeza ainda estava ali, dentro dele. Ela não sairia tão fácil. 

— E a sua família? Você nunca a mencionou. – Falei, esperando não estar sendo muito invasiva. 

— Ah. – Ele deu uma risada. – É complicado. Eu acabei me afastando muito deles por causa da Irina. Eles não aprovavam nosso relacionamento. – Ele disse, remexendo o fim da salada com o garfo, sem olhar para mim. – Enfim, é difícil. – Ele largou o garfo e se levantou. – Bella, estava ótimo. Eu adorei esse lugar. Obrigado por isso, pelo almoço e por sua companhia. Eu tenho que voltar para o hospital. 

— Tudo bem. – Sorri. –  Eu que agradeço. Você volta amanhã? 

— Claro. – Ele disse, e me deu um beijo na bochecha. Meu coração palpitou um pouco. 

O acompanhei até a saída. O local que ele beijou ficou formigando até ele atravessar as portas do New Amsterdam. 

 

— O que vocês conversaram? – Alice perguntou, enquanto tomava seu chá. Eu, ela, Rosalie e Jessamine estávamos reunidas em meu apartamento, sentadas no chão. 

— Falamos um pouco das nossas famílias. Descobri que ele é afastado da família dele por causa da Irina. Parece que eles não aprovavam o relacionamento e o Edward se afastou, mas agora ele está arrependido. – Expliquei. 

— Dá para entender. Pelo visto, essa mulher fez a cabeça dele. – Jessamine falou, e Alice concordou com a esposa com a cabeça. 

— Aquela mulher é uma cobra. – Rosalie disse. – E como ele está? 

— Abatido. Ele não está bem, e eu estou preocupada. Me sinto um pouco responsável por isso, mesmo sabendo que eu fiz o que fiz só pelo bem dele. – Eu disse, tomando o último gole da minha taça de vinho. 

— Ele vai superar, mas isso só vem com o tempo. – Alice disse. 

— Bella, porque você não o convida para sair? – Jess sugeriu. – Você disse que se sente responsável, e acho que se você quer ajudar ele, isso pode ser uma boa. 

— Ah, Jess… Eu não sei. Será que ele não vai achar estranho? – Perguntei, e minha cabeça já começou a fervilhar. 

— Estranho por que? – Rose perguntou. – Vocês são amigos. Amigos se convidam para sair. 

— É. Pode ser. Eu vou pensar nisso. Quero fazer algo para ele se sentir bem. 

— Então, Bella. Isso vai ser perfeito. Vocês saem, se divertem. Ambos estão precisando. – Alice falou, e as outras mulheres concordaram. Não pensei muito, e apenas digitei uma mensagem para Edward. 

 

— Quando você disse que ia me mostrar uma coisa italiana, eu não achei que fossemos tomar sorvete. – Edward disse. Ele estava lindo, de óculos escuros e roupas bem diferentes daqueles pijamas cirúrgicos verdes menta horrendos que ele usava. Seus cabelos brilhavam ao sol, meio dourados e acobreados. Eu não sabia distinguir muito bem nem reagir a sua beleza. 

— Você achou que fosse o que? – Eu perguntei, parada na frente dele, com as mãos na cintura. Estava calor, e eu tinha colocado meu vestido favorito. Ele era florido, azul escuro. – E outra coisa. Gelato não é um sorvete qualquer. É O sorvete. 

— A senhorita vai me explicar a diferença? Porque assim… Pelo que eu estou vendo… As pessoas estão tomando sorvete. – Ele riu, e eu comecei a rir também, olhando as pessoas sentadas nas mesas da calçada da gelateria. 

— A diferença é no modo de fazer. O gelato tem menos gordura que o sorvete normal. E é mais gostoso. Tudo que é italiano é mais gostoso, Edward, aprenda isso. – Eu disse, e ele levantou uma de suas sobrancelhas. Eu o puxei para dentro do estabelecimento, e ele simplesmente se deixou levar por mim e pelo mundo dos gelatos.

— Qual você vai escolher agora? – Eu perguntei, depois de Edward pegar o terceiro gelato. Eu ainda estava no meu segundo. 

— Não sei. Talvez frutas vermelhas? Ou pistache. Já sei. Menta. – Ele disse, e a garçonete anotou o pedido e foi até o balcão pedir. 

— Bella, isso é viciante. – Ele disse. 

— Eu sei. É maravilhoso. Você tem que ver os da Itália. É de tomar rezando. – Eu disse. 

— Eu devo entrar de férias daqui há alguns meses. Agora estou começando a cogitar conhecer seu país. – Ele riu. 

— Você vai amar. Eu dou todo o apoio. – Disse. – Eu sinto saudades de lá. Não volto para meu país desde… – Comecei a falar, e as lembranças vieram como um mar de lava, incendiando minha mente. Não voltava à Itália desde Alec e Heidi. Tudo me lembrava daquela cena horrível. Absolutamente tudo. 

— Desde? – Edward perguntou. 

— Ah. Acho que tem uns quatro anos. Estou há todo esse tempo sem ver minha família. – Eu disse, desanimada, olhando para o copinho de gelato vazio. Eram essas pequenas coisas que me aproximavam deles, das minhas raízes. Senti um nó na garganta. Minha visão embaçou, e senti a lágrima descendo pelo meu rosto. Edward segurou minha mão. 

— Se eu for à Itália, eu vou precisar de uma guia turística. 

— Você quer dizer que…? 

— Claro! Não conheço uma pessoa melhor para me mostrar o país do que uma italiana legítima! – Ele apertou minha mão, e eu afastei a lágrima com a outra, sorrindo. A ideia de viajar com Edward me fazia ter borboletas no estômago. 

— Nós podemos pensar nisso. – Eu disse, e vi a animação em seu olhar. Se aquilo de alguma forma fosse ajudá-lo, eu iria com ele até a Lua se fosse preciso. 

— Ah, não te contei. Ontem eu liguei para os meus pais. Eu vou jantar com eles hoje. – Edward disse, animado. 

— Sério? – Agora era minha vez de ficar animada. Fiquei tão feliz que quase pulei da cadeira. – Ah, Edward. Que maravilha. 

— Sim. Tudo graças a nossa conversa daquele almoço, claro. Bella, você é um anjo que foi enviado pelos céus para ajeitar minha vida! – Ele riu, levantando a mão para o céu azul. 

— Não sou nada. – Eu dei de ombros. – Mas eu realmente fico feliz que vocês possam se reaproximar. Claro que é só o começo, mas eu sinto que vai dar certo. – Eu falei e a mulher parou ao nosso lado para entregar os gelatos. 

— Sim. Eu me arrependo muito de ter me afastado deles. Não deveria ter sido assim. Mas pretendo recuperar o tempo perdido. – Ele disse, e deu uma colherada no gelato de pistache. – Meu Deus, isso é muito bom! 

— Eu disse que tudo que é italiano é bom. – Dei de ombros e continuei a comer. 

Continuamos a conversar, ele se mostrava ainda mais animado. Andávamos pelo bairro, em direção a minha casa, quando viramos a esquina da minha rua, e encontramos Rosalie e Alice, paradas na porta do meu prédio, cheias de sacolas. 

— Eu não acredito. – Murmurei, e soltei um riso. Eu tinha comentado que iria sair com Edward, e conhecendo minhas amigas como conhecia, sabia que elas estavam sedentas para saber como tinha sido o "encontro". 

— O que foi? – Edward disse, virando-se para mim. 

— Nada. 

— Olha eles aí. – Rose falou. 

— Olá, Rosalie, Alice. Tudo bem? Alice, como vai a pequena? – Edward perguntou, interessado. 

— Ela está ótima. Cada dia crescendo mais. – Ela falou, passando a mão na barriga mais saliente. 

— Vamos entrar? Eu estou com fome. – Rosalie falou, sem cerimônia. – Eu trouxe donuts da Carlo's. 

— Claro. – Eu peguei minha chave dentro da bolsa e olhei para Edward. – Ed, você nos acompanha? 

— Ah, fica para uma próxima. Tenho aquele compromisso daqui a pouco. Não quero me atrasar. Mas foi ótimo ver vocês. Até amanhã, meninas. – Ele nos deu um beijo no rosto e nos esperou entrar para ir embora. Quando eu estava no elevador, uma mensagem dele chegou em meu celular. 

 

Edward: Obrigado por hoje. Você faz muito por mim. Eu nem sei como agradecer. Na falta de um italiano melhor, fique apenas com um "grazie"

 

— Ih, esse sorriso pra tela do celular… Sei não hein. – Rosalie falou. 

— Deixa ela, Rose. – Alice riu. 

— Deixo nada. Quero saber o que rolou nesse encontro. Beijou ou não beijou? – Rosalie brincou, encostada na parede enquanto eu abria a porta do meu apartamento. 

— Rose, nós somos só amigos. – Infelizmente, pensei. Edward era bonito, simpático e uma boa pessoa, mas para ele, eu não passava de uma amiga. 

— Ah, sei lá. Às vezes, amigos se beijam. – Ela deu de ombros, abrindo a caixa de donuts e mordendo um de chocolate. 

— É, Bella, pensando por esse lado… A Rose está certa. Eu era amiga da Jess antes de nós começarmos a namorar. – Alice refletiu, sentada no sofá com os pés para cima. 

— Nem vem. Para ele, eu sou a Bella amiga. – Expliquei, pegando um donut na caixa e fui me sentar ao lado de Alice. 

— Então vocês fizeram o que hoje? – Rose perguntou, com a boca cheia e os lábios sujos de calda de chocolate. 

— Fomos tomar gelato. 

— Nossa. Zero animação. Bella, o cara acabou de sair de um relacionamento merda e você vem com esses programas de casal? – Rosalie questionou. 

— Um sorvete cairia bem agora, né?  – Alice murmurou, para ela mesma, como se falasse com Summer. 

— Tem na geladeira. – Eu pisquei para ela e a mulher levantou como um furacão. – Você queria que eu fizesse o que, Rosalie? – Voltei minha atenção para minha amiga, que estava devorando o quarto donut. 

— Sei lá. Um show? Um jantar, uma feira… É isso! Bella! – Ela largou o donut em cima da caixa e veio correndo até mim com o celular na mão. Alice voltava da cozinha com um pote de Ben & Jerry's na mão. – Todo ano tem o festival italiano aqui na cidade, e o próximo já está marcado, é mês que vem. Eu inclusive vi o evento no Facebook. E você não vai acreditar! Esse ano, adivinha quem vem tocar aqui? – Rosalie disse, animada. 

— Quem? – Eu perguntei, sem nenhuma ideia na cabeça. 

— Nossa nova banda favorita, o Måneskin. Ah! Eu mal posso esperar! – Ela deu um grito e levantou os braços. – Nós vamos. Você vai levar o Edward. Ele vai amar. 

— Meu Deus, Rosalie. Não brinca com uma coisa dessas! – Meu nível de animação subiu para 110%. Seria uma ótima oportunidade para eu me divertir e Edward também. 

— Vocês sabem se o Edward curte rock? – Alice perguntou, enquanto comia seu sorvete, sentada como uma bolinha no sofá, rodeada de almofadas. 

— Até quem não curte rock curte a banda. Eles são perfeitos. – Rosalie falou. 

— E se ele não for pela banda, ele vai pela comida. Eu conheço o Edward. Quando eu mencionar o fato das massas, doces, outras comidas, gelatos, vinhos… ele vai esquecer até de mim. – Eu ri. 

— Liga pra ele. – Rose instigou. – Já faz o convite. 

— Não. Ele está ocupado agora. – Olhei o horário em meu celular. Se eu estivesse certa do horário, Edward estaria indo para a casa de seus pais. 

— Ocupado com o que? – Alice perguntou, curiosa. 

— Ele vai jantar com os pais. – Eu disse, e expliquei toda a situação para minhas amigas. 

— Meu Deus do céu. Aquela sanguessuga oxigenada tirou até a família dele. Ela é completamente doida. Ainda bem que você apareceu na vida dele. – Rose disse, e Alice começou a rir pelo apelido dado à Irina. 

— É. Pelo menos ele vai recuperar o tempo perdido. Vou deixar ele em paz. Amanhã falo com ele sobre isso. – Conclui. 

 

O mês passou voando. Edward não pôde ir ao restaurante todos os dias, mas sempre me mandava uma mensagem pedindo o almoço. Para manter a tradição, eu sempre mandava um bilhete junto, e ele sempre os respondia. Na sexta antes da feira, ele apareceu no restaurante. 

— O bom filho a casa torna. – Ele disse, abrindo os braços. – Eu estava com saudades. – Edward sorriu, com uma aparência bem melhor do que a dos dias anteriores. Ele estava visivelmente cansado, mas não aparentava mais tristeza. Meu coração se alegrou. 

— Achei que tivesse me abandonado. – Eu disse, apoiada no bar. 

— Jamais. Com quem mais eu iria trocar bilhetes? – Ele sorriu. 

— Você mandava bilhetes para a Irina. – Eu disse, meio receosa. Ele nem se abalou. 

— Eu mandava, mas não recebia nada em troca. Você me dá algo em troca. – Ele disse, fitando-me com seus lindos olhos verdes. Meus batimentos ficaram descompassados. 

— Melhor do que bilhetes, agora, te darei comida. – Eu disse. – O que vai querer para o almoço? 

— Sabe aquela massa que você fez, e que me mandou aquele dia no hospital, depois de tudo o que aconteceu? Com aquele bilhete enorme? Vou querer aquela. – Ele sorriu e se sentou em seu lugar de sempre. 

— É pra já, dr. Cullen. – Pisquei e entrei na cozinha, com meu coração batendo mais forte. 

 

Voltei com seu prato fumegando. Modéstia parte, o cheiro estava ótimo. Eu deveria inserir aquela receita no cardápio do restaurante, mas, por enquanto, ela seria só nossa. Minha e de Edward. 

— Aqui. – Coloquei o prato na sua frente. 

— Isso está lindo. E cheiroso. Você é perfeita, sabe disso, né? – Ele disse, sorrindo. 

— Besteira. – Eu dei de ombros, e me sentei junto a ele. – Ed, você não me contou como foi o jantar com seus pais.

— Hm, verdade. Não tivemos tempo de conversar direito durante esse tempo. – Ele disse, de boca cheia, apontando para o prato. – Isso está muito bom. 

— Obrigada. – Sorri. 

— Eu estava sempre correndo. Mas foi muito bom. Eles gostaram de saber que eu me separei da Irina. – Ele sorriu, parecendo bem. Será que ele realmente estava bem ou só queria se mostrar forte? – Falei de você, inclusive. – Ele falou, e continuou a comer. 

— O que? – Meu coração parou por um segundo, e ele começou a rir da minha cara. 

— O que foi? 

— Como assim você falou de mim? – Perguntei. 

— Falando. – Ele deu de ombros, como se fosse uma coisa normal. – E meus pais querem te conhecer. – Ele completou. – Querem saber quem foi a pessoa responsável por me tirar daquele limbo. – Ele gargalhou. – Palavras da minha mãe. 

— Eu não acredito nisso Edward. – Eu disse, incrédula. – Seus pais querem me conhecer? Mas… e se eles não gostarem de mim, eu sou só… 

— Bella, para! Você é incrível. Deixa disso. Meus pais vão te adorar. – Edward falou, passando sua mão por cima da minha. Senti um arrepio dos pés à cabeça, e seus olhos pareciam amorosos. – Posso marcar um jantar lá em casa? 

— Tudo bem. – Eu falei. Com ele me olhando daquele jeito, eu não conseguiria dizer não mesmo se eu quisesse. 

— Fique tranquila. Vai dar tudo certo. – Ele apertou minha mão e afastou a dele, para continuar a almoçar. Eu fiquei parada, meio sem reação. 

— Edward, você está livre amanhã? – A lembrança do festival passou pela minha cabeça. 

— Eu vou trabalhar de manhã, mas largo o plantão às 13h. Por quê? – Ele perguntou. 

— Porque vai acontecer um festival italiano aqui perto e eu queria que você fosse comigo. Na verdade, a Rosalie, a Alice e a Jess vão também, mas, com você lá, vai ser melhor. – Eu sorri. – Além disso, vai ter muita comida boa, minha nova banda favorita e muito gelato. 

— Se tem gelato eu vou. Estou dentro. – Ele falou, rindo. 

— Como é fácil te agradar. – Eu falei. 

— Claro que eu vou por você e sua presença, mas o gelato faz diferença. – Ele pegou mais uma garfada do prato e colocou na boca. 

— Tudo bem então. Nós vamos sair às 16h. As meninas vão para o meu apartamento, então se você quiser aparecer por lá… Está convidado. – Eu disse. 

— Ótimo. É bom, vai dar tempo de eu dar uma descansada. Te ligo e passo na sua casa. – Ele falou. 

— Vou esperar. Preciso ajudar a Rose com algumas coisas. Até amanhã, então. – Eu disse e me despedi de Edward com um beijo no rosto. 

— Até amanhã, Bella.

 

No dia seguinte, eu passava o rímel enquanto Rosalie me observava, encostada na parede.  

— Você está bonita. – Ela deu uma risada. – Você é bonita, mas hoje… – Ela bateu palmas. – Está de parabéns. 

— Obrigada, Rose. – Eu me virei, parando na frente de Alice e Jess, que estavam sentadas na minha cama. – Estou bem? 

— Claro! Você está sempre linda, Bella. – Alice disse. 

— Se o Edward não tomar uma atitude, ele pode pular fora. – Rosalie murmurou, rindo. – E eu entro no lugar dele. – Ela riu. 

— Rose! – Jessamine riu. – Quer furar o olho do Edward assim? 

— O mundo é dos espertos. – Ela falou. – Pense nisso, Bella. – Ela piscou para mim. 

— Você é terrível, Rosalie. – Eu falei. 

— Eu sei, estou brincando. Você sabe que eu sou a maior apoiadora de Beward. – Ela falou, me deu um abraço e foi para a cozinha. 

— Beward? – Eu, Alice e Jess falamos em uníssono. 

Meu celular vibrou, indicando uma mensagem. 

— É ele? – Jessamine perguntou. 

— Sim. Ele está lá embaixo. – Falei, olhando o celular. – Podemos ir? 

— Ah. Vamos. – Alice falou, e fez algumas manobras para descer da cama. Como sua barriga estava maior a cada dia, fazer algumas atividades comuns estava um pouco mais difícil. Jess a pegou pela mão. 

— Já vamos? – Rosalie apareceu na porta do quarto com uma garrafa de água na mão. Se o conteúdo da garrafa era água mesmo, eu nunca iria saber. 

— Vamos. O Edward está lá embaixo. – Eu disse, e descemos até o térreo. Ao chegarmos, dei de cara com um Edward banhado pelos dourados raios solares que já estavam se despedindo do dia, no meio do céu. Ele estava lindo, vestido com um suéter caramelo que ornava perfeitamente com o verde brilhante dos seus olhos. 

As meninas passaram por ele, mas ele parecia não perceber, pois ele mantinha seus olhos focados em mim. 

— Olá, Bella. – Ele sorriu, me puxando para um abraço. – Você está linda. Não que não seja, mas hoje está mais. – Ele disse, com o corpo ainda colado no meu. 

Eu não sabia como reagir, pois tremia da cabeça aos pés. Sentia as borboletas no meu estômago, bailando como loucas. 

— Obrigada. Você está bonito. Como sempre. – Eu disse, sorrindo. – Preparado para uma imersão no meu país? 

— Se estiver ligado a você, é claro que eu vou estar. – Ele disse, e sorriu. – Olá meninas. Como vão? E Alice, como vai nossa pequena garotinha? 

— Dando algumas cambalhotas aqui. – Alice e Jess riram, e Rosalie apenas olhava para mim com um sorriso diabólico. Ela arqueou as sobrancelhas quando olhei para ela. 

Ao chegarmos na feira, Alice e Jessamine foram procurar um lugar para estacionar. Eu, Edward e Rosalie fomos andando até as ruas em que o evento acontecia. A feira italiana era em um espaço aberto, e acontecia em várias ruas, que tinham o trânsito fechado e ficavam abarrotadas de gente. 

— Eu quero ir pro lugar onde vai ser o show, mas imagino que vocês vão querer aproveitar a comida, então eu espero vocês lá? Vou pegar um lugar bom para a gente. – Rose falou, já com a ideia toda armada para me deixar sozinha com Edward. Ele pareceu não perceber, e apenas acatou. 

— Tudo bem. Você me manda uma mensagem? Eu não quero perder esse show por nada. – Eu falei para ela, que balançou a cabeça e me empurrou para o outro lado da rua com Edward. 

— O que você quer comer? – Eu perguntei para Edward. – Ou quer conhecer alguns vinhos? 

— Acho que os vinhos podem ser uma boa ideia. – Ele falou, e eu o guiei pela rua, que estava começando a encher de gente. Por todos os lados, haviam barraquinhas com algumas comidas típicas, outras com suvenires, camisas e bandeiras da Itália. Mais ao fim da rua, chegamos perto dos locais de alimentação, cheio de cadeiras e mesas, todos separados de acordo com a especialidade de cada estabelecimento. Meu restaurante já tinha participado daquela feira, mas às vezes eu preferia apenas aproveitá-la como visitante. Estar ali era muito difícil, e eu trabalhava demais durante a semana. 

— Ali. Aquela vinícola sempre tem os melhores vinhos. Conheço o dono dela. Ele é amigo dos meus pais. A fazenda dele é do lado da nossa. – Expliquei para Edward. 

— Você tem uma fazenda? – Ele perguntou, curioso. 

— Tecnicamente não é minha, e sim dos meus pais. Mas sim, nós temos. Não temos plantação para produção, nem nada. Só pomar para nossa cozinha mesmo. – Expliquei para ele, enquanto nós nos sentávamos a mesa. 

— E você não vai me convidar para conhecer essa fazenda, Bella? Que péssima amiga você é. – Ele cruzou os braços e bufou como uma criança. Ri com aquela situação.

— Você não me deixa terminar. – Falei. – Você não quer que eu seja sua guia turística? Pois bem. Eu ia colocar a fazenda na rota. Meus pais iriam adorar conhecer você, eles amam receber as pessoas lá. Meu pai, então, nem se fala. – Eu disse, e na mesma hora o garçom chegou e nos entregou a carta de vinhos. 

— Bem vindos ao Spaccio. Gostariam de uma indicação de vinho? Já conhecem a nossa carta? – O homem perguntou, com um sorriso simpático para nós. 

— Bella, alguma sugestão? – Edward perguntou, olhando a carta e passando para mim. 

— Esse é muito bom. – Eu apontei para um da safra de 1965. – Experimente. 

— Confio em você. – Ele sorriu. 

— Por favor, traga um Brunello Gauggiole 1965. – Eu pedi e o garçom saiu. 

— Cozinha bem, entendedora de vinhos… Mais quantos segredos você esconde de mim? – Edward perguntou, bem humorado. 

— Hm, deixe-me ver… – Pensei. Talvez o fato que eu tenha uma queda por você? É isso. – Acho que nada. Você sabe tudo sobre mim, e o que não sabe, é só perguntar. – Eu falei. 

— Tudo bem. Vou pensar em mais alguma coisa que eu queira saber sobre você. – Ele disse, e o garçom chegou com a garrafa de vinho. Continuamos a conversar animadamente, até que Edward ficou sério. 

— Bella. – Edward chamou. 

— Sim? 

— Aproveitando que estamos aqui, eu queria te agradecer de novo. – Edward disse, e fiquei um pouco surpresa. 

— Pelo que, exatamente? 

— Por tudo o que você fez por mim. 

— Ah, Edward. Não precisa agradecer. Sei que você faria o mesmo por mim. – Eu disse, tomando o resto do vinho que estava na minha taça. 

— Sim, eu faria. Mas mesmo assim me sinto na obrigação de agradecer. Você não faz ideia do quanto mudou minha vida. – Ele balançou a cabeça. – Hoje eu consigo enxergar que meu relacionamento já era um fracasso antes mesmo de eu descobrir que estava sendo traído, mas eu não queria aceitar isso. 

— Você acha que não a amava? – Perguntei. 

— Acho que não. Eu estava confortável com ela. Era isso. Eu não queria enxergar nada além daquilo, era completamente viável para mim, estava na minha zona de conforto. Mas amor, mesmo, aquele amor que te faz sorrir quando vê uma mensagem, que faz o seu coração palpitar quando vê a pessoa… – Ele firmou seus olhos nos meus, como se quisesse me dizer alguma coisa que seus lábios não falassem. Meu estômago se revirou. – Isso eu não sentia. Nós íamos nos casar e iríamos passar a vida no tédio. Até que você apareceu na minha vida e tirou ela do eixo. – Ele sorriu e bebeu o resto do vinho. 

— E todos aqueles bilhetes? 

— Ah, aquilo. – Ele riu. – Eu sempre gostei de escrever. Acho legal, e sempre mando para pessoas que tenho carinho. Mandei vários para você, inclusive. Eu nunca tinha achado ninguém que me retribuísse, até você chegar. 

— Entendi. – Balancei a cabeça. – Eu acho fofo. 

— Acho que você não sabe como eu sofri durante esse tempo, mas seus bilhetes foram importantes para mim. Eles me ajudaram. Você foi essencial, Bella, e nem imagina. – Ele disse, e passou a mão por cima da minha. Naquele momento, aquilo não foi o que me impactou, mas sim o que veio à minha mente. A lembrança maldita. Alec e Heidi. A traição. Todo o sentimento. Eu não sabia lidar com aquilo direito. 

— Eu sei. – Eu disse, baixinho, de cabeça baixa. – Está aí, uma coisa que você não sabe sobre mim. Eu já fui traída. – Eu disse, baixo, apenas para ele ouvir, desviando o olhar. Um erro, pois meu olhar pairou exatamente sobre duas pessoas que eu preferia não ver nunca mais, justamente aquelas que assombravam boa parte dos meus pensamentos: Alec e Heidi, meu ex namorado e minha ex melhor amiga. Eles estavam há três mesas de nós, sentados juntos, olhando fixamente para mim. 

— Bella? – Senti a mão de Edward sobre a minha. 

Eu apenas virei meu rosto, e Edward percebeu pela minha expressão que havia algo errado. Ele olhou na direção do casal, que ainda olhava para nós. 

— Você os conhece? – Ele perguntou. 

— São eles. Ele é o cara que me traiu. Ela, a garota com quem eu fui traída. Ela era minha melhor amiga. – Eu falei num suspiro. Ele olhou para Alec e Heidi com um olhar de ódio, que eu só tinha visto em sua feição no dia que eu tinha contado que ele havia sido traído. 

— Você quer ir embora? – Ele apertou minha mão. – Nós podemos ir para outro restaurante, outra rua, encontrar as meninas ou ir para o show. Ou se você quiser eu posso te levar para casa. 

— Quero, se você não se importar. – Pedi, meio envergonhada. Eu detestava expor minhas feridas. Eu não sentia nada mais por Alec, isso era óbvio, mas eu o amei muito, e toda aquela situação foi muito difícil para mim. Terminar um relacionamento por traição é muito duro, pois há a quebra da confiança. 

— É claro que eu não me importo. Espere um minuto. – Edward pediu e saiu até o caixa para pagar o vinho. Rezei para que ninguém se aproximasse de mim, e, para minha sorte, deu certo. 

— Vamos? – Ao voltar, Edward questionou, e eu apenas concordei. Andei ao seu lado pelo restaurante, e ele pousou sua mão em minha lombar, fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Antes de sair, dei uma última espiada em Alec e Heidi, que ainda me olhavam como dois idiotas. 

A rua estava vazia quando saímos. Todos já deveriam estar no show, mas eu não tinha mais vontade nenhuma de me enfurnar naquela confusão. Eu queria tranquilidade. 

— Obrigada por me entender, Edward. – Eu disse. Sua mão ainda estava na minha lombar. 

— Não foi nada. Isso é o mínimo que eu posso fazer. – Ele disse, e subiu sua mão para o meio das minhas costas. – Você quer ir para o show? A Rosalie deve ligar daqui a pouco. 

— Ah. Sabe, eu desanimei um pouco. Tudo bem se nós andarmos por aí? Podemos conhecer mais algumas coisas. – Eu sugeri. 

— Você que manda. – Ele esticou a mão, e eu involuntariamente a segurei. 

Eu e Edward seguimos andando pelas ruas do festival, que já estava perdendo seu movimento. Ali, ainda haviam algumas pessoas bebendo e comendo, alguns casais namorando e uma mãe com um bebê comprando um suvenir. Olhei aquela cena por um tempo, e lembrei de todos os planos que eu havia feito, mesmo sem o apoio de Alec. Ele não era como Edward. Zero, nada parecido, nem chegava aos pés. Não tínhamos essa cumplicidade e amizade. Eu sabia que eu não tinha nada com Edward, mas ter ele ao meu lado me dava conforto para tentar fazer mais planos para o futuro e não pensar só no agora. 

— Algum problema? – Ele perguntou. 

— Não. – Sorri. – Só achei o bebê fofo. – Apontei. – Adoro bebês. 

— Eu também. Sempre quis ser pai, mas a Irina não queria. – Ele disse, rindo. – Vou ter que achar outra pessoa. – Ele olhou para mim. 

— É. – Eu disse, e comecei a andar. – Eu fazia muitos planos quando eu estava com o Alec. – Mas ele era um imbecil, pensei. 

— E você não faz mais? – Edward quis saber. 

— Faço. Mas agora é só por mim. – Sorri. – Quem sabe no futuro possa ser para mais alguém. Não dá pra saber. – Eu falei, e nós nos sentamos no fim da rua, num banco de pedra, perto de uma fonte. O céu estava estrelado, e estávamos completamente sozinhos ali, pois todos já estavam no show. Eu senti meu celular vibrar na bolsa, mas ignorei. Eu e Edward ficamos ali, apenas olhando para o céu. 

— Posso te fazer uma pergunta? – Edward quebrou o silêncio. 

— Pode, claro. – Eu disse. Ele estava inquieto, olhando para mim. 

— Como você se sentiu quando viu o Alec e aquela moça? Sua ex amiga. – Ele perguntou. 

— A Heidi. – Completei, e pensei no sentimento. Eu não sentia ciúmes, de modo algum, mas aquele ressentimento ainda existia dentro de mim. – Edward, eu ainda lembro do que aconteceu. Não há como apagar o que eu vi. Isso não vai sair da minha mente nunca. Mas isso não quer dizer que eu não tenha superado. – Dei uma pausa, e ele me olhava atentamente. – Respondendo à sua pergunta, eu me senti incomodada. Por isso que quando você sugeriu que saíssemos de lá, eu aceitei. Não queria me torturar e ficar no mesmo lugar com duas pessoas que eu confiava cegamente e que traíram minha confiança da forma mais covarde. 

— É que eu vi você daquele jeito e eu não consegui não me comparar comigo mesmo. Eu simplesmente não senti nada quando eu vi a Irina aquele dia no restaurante. É como se ela não fosse nada, ninguém para mim. Eu estava muito mais preocupado com você. – Ele se virou totalmente para mim, pegando minha mão. 

— Comigo? – Eu perguntei, surpresa. Minha mão começou a formigar, e meu coração acelerou. 

— Sim. Quando você me mandou aquele bilhete, eu vi que tinha sido muito injusto com você. E na verdade, eu não tinha parado de pensar no quanto eu tinha sentido sua falta naquela semana. Eu estava mal, sim, mas quando vi a Irina lá, e ela falando aquelas coisas com você… meu instinto foi de te proteger. Eu não sei explicar. – Ele riu. – Desculpe se isso soou estranho, mas eu acho que… esquece. 

— Edward. Começou agora termina. – Falei. 

— Eu… acho que eu sinto alguma coisa por você. Algo além da nossa amizade. – Ele disse.  – Sei que isso pode parecer loucura e que você me vê só como um amigo, mas eu acho que eu estou apaixonado por você... – Ele riu. – Eu sei que isso o que estou falando é chocante porque eu acabei de sair de um relacionamento estável de um jeito muito traumático, mas eu nunca senti o que eu estou sentindo Bella, nem quando eu conheci a Irina foi assim…– Ele parou, olhando para mim. Eu não sabia como reagir. Estava petrificada no banco, olhando para ele, com a mão entrelaçada na minha, ambos iluminados pela luz que vinha dos postes e pelo luar. –  Eu nem sei explicar. Eu não consigo ficar um minuto sem pensar em você. Bella, me desculpe. Estou jogando isso tudo em cima de você, que certamente deve estar me achando um maluco. – Ele se levantou, puxando a mão da minha. Ele se virou para mim. – Nós não precisamos mais falar sobre isso. Eu me equivoquei, sei que você tem outros planos e…

— Edward! – Eu me levantei e parei em sua frente. Eu não sei o que deu em mim, mas, naquela hora, alguma vontade eletrizante e uma força maior me puxou contra ele. – Por favor. Cale a boca. 

Juntei meus lábios aos dele. Edward não esperava por aquilo, eu tinha certeza, mas beijá-lo era tudo o que eu mais desejava nos últimos tempos. A princípio, o beijo começou lento, mas aos poucos ele foi tomado pela urgência. Ambos queríamos aquilo, só não tínhamos coragem de expressar. Edward, ainda de olhos fechados, encostou sua testa na minha. 

— Depois disso, eu posso dizer que o que eu sinto por você não é loucura? – Ele abriu seus lindos olhos verdes para encontrar os meus. Olhei para a Lua que nos iluminava. Nem nos meus melhores sonhos aquela cena seria daquela forma. Então, eu disse:

— Pode. Porque se fosse loucura, estaríamos ambos loucos. 

 

Eu estava deitada, relembrando os momentos que passei com Edward. Depois do nosso primeiro beijo, mais diversos vieram. Eu perdi a conta de quantos. Nós ficamos andando pelas ruas do festival, vazio, apenas aproveitando a companhia um do outro. No fim da noite, ele me deixou em casa, e eu nem tinha notícia das meninas, que deveriam ainda estar no show. Eu estava nas nuvens. Não sabia que poderia me sentir tão feliz quanto estava. Edward me fazia bem, e, pelo visto, eu fazia bem a ele. Era uma troca perfeita. 

Ouvi três batidas fortes na porta do meu apartamento. Imediatamente, pensei em Edward, mas minha razão logo tomou as rédeas da minha cabeça. Era impossível ele estar à minha porta. O porteiro do prédio teria o anunciado pelo interfone. Pensei que poderia ser um vizinho, e abri a porta sem pensar. 

— Eu espero que você tenha um ótimo motivo para desistir do show  e não atender minhas ligações, Isabella. – O furacão loiro estava parada de braços cruzados e cara de poucos amigos. 

— Você nem imagina, Rose. – Sorri e a puxei para dentro do meu apartamento. 

Minha amiga se sentou no sofá e tirou as botas. Eu não sabia como ela aguentava passar tanto tempo em cima daqueles saltos. 

— Parla, Isabella. – Rosalie disse em italiano, esticando os pés. Eu ainda estava em pé, à sua frente. 

— Eu vi o Alec e a Heidi. – Falei, tentando controlar meu ataque de alegria. Por dentro, eu estava dando pulinhos. 

— Que merda. Eu sinto muito. Eu não sabia… – Ela começou a falar, mas eu a interrompi. 

— Não terminei. 

— Ah. E aí? 

— E aí que eu e o Edward saímos do lugar em que estávamos e fomos andar pela feira. E ele começou a falar umas coisas… e nós nos beijamos. Quer dizer, eu beijei ele. 

— QUE? – Rosalie gritou. 

— Sim! Nós nós beijamos, Rose. – Meu coração acelerou novamente só pela lembrança do beijo. Era como se eu estivesse com Edward novamente. 

— Não acredito. Meu casal finalmente aconteceu. Era só isso para melhorar ainda mais minha noite! – Rose deu soquinhos no ar, e eu ri dela. – Ok, você está perdoada por ter perdido o show, o que foi uma pena, porque foi muito bom, mas haverão outras oportunidades. 

— Sim. Ah, Rose… – Eu me sentei ao seu lado. – Eu estou tão feliz. 

— Eu sei. E quero saber de tudo. 

— Vou te contar. 

— Eu estava pensando. Foi loucura eu ter vindo aqui agora. Imagine se vocês dois estivessem aqui? Não queria empatar a foda. – Rose disse, rindo. 

— No mínimo você ia tomar o chá de espera lá fora. Porque não iríamos te atender. – Eu ri. 

— Mas já que eu estou aqui e não ele, posso dormir aqui? Estou com preguiça de voltar para casa. Está tarde. 

— É claro. Eu ia te convidar mesmo. Além disso, a conversa ainda vai render muito. – Eu disse, e dei a ela algumas roupas para ela tomar banho. Depois, comecei a contar como tudo aconteceu, agora, com detalhes, e acabamos virando a noite. 

 

No dia seguinte, acordei com Rosalie adormecida ao meu lado e refleti se tudo o que eu tinha contado para minha amiga fora real. Antes mesmo que eu pudesse desbloquear meu celular, ouvi a campainha do meu apartamento. Rose nem se mexeu, e fui atender à porta. 

— Bom dia. Entrega para Isabella Swan. – O entregador leu o nome no papel. 

— Bom dia. Sou eu. – Sorri para ele, que segurava uma cesta de café da manhã. 

— Está aqui. Obrigado. – Ele me entregou a cesta. 

— Obrigada. – Eu o agradeci e ele saiu. 

Peguei o cartão, endereçado a mim dentro da cesta. Se eu tinha dúvidas de que o que acontecera ontem fora real, eu já não tinha mais, pois Edward tinha tratado de me relembrar. 

 

Bella, 

Você sabe como gosto de escrever bilhetes, e escrevo este para te dizer que já estou com saudades. Pode parecer estranho, mas é a mais pura verdade. Gostaria de te ver hoje, e, se possível, apresentar a mulher que amo a meus pais. Me ligue quando acordar e quando receber este bilhete. 

Com amor, Edward. 

 

— O americano é meio emocionado, né? – Rosalie falou, atrás de mim, e eu dei um pulo. 

— Meu Deus, mulher. Você parece um fantasma. – Falei, com a mão no peito, me recuperando do susto.

— Desculpa. – Ela me abraçou. – Mas é verdade, vai. 

— Rose, você é americana. – Eu ri. 

— Querida, eu sou americana de nascença, mas meus genes são cem por cento italianos. – Ela jogou os cabelos para trás, e eu comecei a rir. – Tenho dupla nacionalidade. 

— Ok, ok. Mas isso foi fofo. – Eu apontei para o bilhete. 

— Foi. Mas eu estou interessada mesmo é no que veio junto com o bilhete. – Ela foi em direção à cesta, que estava intocada na mesa, e começou a mexê-la. 

Olhei mais uma vez para o bilhete, e as borboletas começaram a voar como loucas em meu estômago. A sensação de estar apaixonada era boa. 

 

— Gente, é o décimo sexto vestido. Eu não aguento mais. – Eu disse, me encostei na parede e escorreguei para o chão. 

— Eu gostei do rosa bebê. – Jessamine disse. 

— Eu prefiro o vermelho. Passa um ar mais mulherão. – Alice riu. 

— Se fosse eu, iria com o preto. É básico. – Rosalie disse. 

Nós cinco – se contássemos com a bebê de Alice – estavamos em meu closet, cada uma jogada em um canto, no meio dos meus vestidos jogados no chão. Eu simplesmente não conseguia escolher uma roupa decente para conhecer os pais de Edward. 

— Eu simplesmente não sei. Estou parecendo uma adolescente. – Reclamei. 

— Bella, qual é o seu favorito? Você tem que ir com o que se sente melhor, mais bonita. Não interessa se ele já te viu nele, e sim em como você se sente na peça. – Jess falou. 

— Bem… Olhando por esse lado, eu acho que é o azul marinho. – Eu falei, Pegando o vestido que ainda estava no cabide. Eu ainda não o tinha experimentado. 

— Então é esse! – Alice decretou, bocejando. Ela ultimamente tinha muito sono. 

— Vocês acham que eles vão gostar de mim? – Perguntei, insegura, olhando minha imagem no espelho. 

— Bella, claro que vão. Você é incrível, inteligente, independente… – Alice começou falando. 

— E sem contar que tirou o filho deles daquele relacionamento horrendo com a demônia oxigenada. – Rose completou. 

— Bella, fique calma. Seja você. Eles vão gostar, você não tem que se preocupar com isso. – Jessamine completou, e eu fiquei um pouco mais tranquila, de modo que suas palavras de apoio ecoaram na minha mente até a hora que Edward chegou à minha casa.

 

— Você está linda. – Ele disse, e me beijou. Eu ainda não estava acostumada com a ideia de beijar Edward. Meu cérebro ainda não tinha processado a informação de que eu e ele sentíamos a mesma coisa um pelo outro. Era loucura. 

— Você também. Eu estou ansiosa. Mal consigo ficar parada. – Eu disse, com sinceridade. Ele pegou uma mecha do meu cabelo e colocou atrás de minha orelha. 

— Fique tranquila. Meus pais vão te adorar. – Ele disse e abriu um sorriso. – Não preciso se preocupar. Eles não mordem, nem nada do tipo. 

— Isso é bom. – Eu ri com ele, e fomos até seu apartamento. 

No caminho, meu estômago doía. Eu tentava respirar fundo e me controlar. Edward mantinha sua mão junto à minha, enquanto dirigia. 

Quando chegamos, a primeira coisa que vi foi a mãe de Edward, junto de seu pai, ambos sorrindo para mim. Eles pareciam ter saído de uma revista de moda, de um comercial de margarina ou de um filme hollywoodiano, pois eles eram simplesmente perfeitos. A mulher era morena, baixa, com os olhos ternos e rosto em formato de coração. Ela sorria para mim. O homem era alto e loiro, e a única coisa que me passava era segurança. 

— Pai, mãe, essa é a Isabella, Bella. A mulher que eu falei para vocês que eu estava apaixonado. – Edward sorriu, e eu senti que fiquei vermelha na mesma hora. 

— Bella, esses são Esme e Carlisle, meus pais. – Edward os apresentou. 

— Muito prazer. – Eu disse. 

— Piacere di conoscerti, Bella. – A mãe de Edward falou, num italiano perfeito. Sorri para ela. 

— Grazie, Esme. 

— O Edward contou que você é chefe de cozinha. Espero não decepcioná-la, mas hoje tivemos que pedir comida. – Esme riu. 

— Ah, não tem problema nenhum. Eu não ligo para essas coisas, não se preocupem. – Sorri. Ela parecia ser uma ótima pessoa. 

— Você trabalha onde, Bella? – Carlisle perguntou. 

— Eu tenho um restaurante. É em frente ao New Amsterdam. – Expliquei. 

— Meu Deus! Que incrível. E você parece ser tão jovem. – O pai de Edward falou. – Parabéns. Quando poderemos ir experimentar as delícias feitas por suas mãos? 

— Qualquer dia! Vocês estão mais do que convidados. – Eu disse, e Edward assentiu. 

— Bem, podemos comer? Antes que a comida esfrie! – Carlisle falou e nos levou até a mesa. 

O jantar foi tranquilo, conversamos algumas amenidades e pude conhecer mais dos pais de Edward. Carlisle também era médico e Esme era arquiteta, e ambos não escondiam a felicidade de ter o filho novamente próximo deles. 

— Bella, eu não sei bem a relação que você tem com meu filho, mas sei que, apesar de tudo, são muito amigos. – Carlisle começou a falar, e Edward pegou em minha mão por baixo da mesa. – Fico feliz que você esteja trazendo alegria para a vida dele, e também fico muito satisfeito por ele estar mais presente. 

— A Bella só quer o meu bem. Sei disso. – Edward disse, sorrindo, e eu olhei para ele, encontrando seus olhos verdes fixos nos meus. Ali, eu já tinha a certeza que não queria mais ninguém a não ser Edward. 

Um pouco mais tarde, quando o pai e Ed estavam juntando os pratos na cozinha, Esme se aproximou de mim, enquanto eu observava os livros dispostos na estante da sala. 

— Bella, gostaria de trocar algumas palavras com você. – Ela falou, com uma expressão serena, mas mesmo assim meu estômago se revirou e minhas mãos começaram a suar. 

— Claro, Esme. 

— Eu imagino que você saiba que eu e meu marido não aprovávamos o namoro do Edward com aquela mulher. Ele se afastou de nós, e isso mexeu muito com nossa família. Quando nós soubemos do que aconteceu… Ficamos estarrecidos, mas ao mesmo tempo ficamos aliviados. O Edward precisava se livrar dela, e a vida nos fez esse favor. Ela nos mandou você. – Esme disse, com os olhos cheios de lágrimas. – O meu filho é a coisa mais importante da minha vida, e eu não aguentaria vê-lo sofrer, por isso, eu te peço, mesmo sabendo que você já o fez e está fazendo: cuide do coração dele. 

— Eu vou cuidar. Pode ter certeza. – Eu disse, quase chorando. Eu era uma manteiga derretida, não conseguia ver ninguém chorando. 

— Sei que você é uma pessoa boa. Eu vejo em seus olhos e em suas ações que você o ama. Você é diferente, Bella. Ele te ama. Isso vai dar certo. – Ela disse, e me abraçou. Algumas lágrimas caíam pelo seu rosto. – Saiba que eu e Carlisle gostamos muito de você. Considere-se da família. – Ela falou e sorriu para mim. Quando me soltou, vi Edward voltando para a cozinha de relance. Ele não queria atrapalhar o momento. 

— Obrigada, Esme. – Eu disse, e algumas lágrimas caíram pelo meu rosto também, mas não lágrimas de tristeza, e sim de alívio e alegria. 

 

No dia seguinte ao jantar, o restaurante estava calmo, alguns clientes já tinham feito seus pedidos, outros ainda pensavam no que escolher. 

— Então quer dizer que a sogra já aprovou? – Rose perguntou. Eu tinha acabado de contar para ela sobre a noite passada. 

— Bem, parece que sim. Ela foi incrível. – Eu disse, mexendo o molho na panela e relembrando o abraço de Esme. 

— E o pai dele? – Rose perguntou. 

— Também. Ele é mais reservado, mas disse que apoia. – Sorri para ela, que ia entregar um prato. 

— Pelo menos problema com a família você já não vai ter. – Ela riu, e seu celular tocou estridente na cozinha, fazendo com que ela desse um pulo. – Oddio! – Ela gritou, em italiano, me fazendo rir. – Vou atender lá fora. – E saiu. 

— Ma che… – comecei a pensar alto. Rosalie não era de atender o telefone longe. Ela mesmo falava que não tinha nenhum segredo a guardar de mim. Achei estranho, mas deixei aquilo para lá. 

Terminei a montagem do meu prato e fui levá-lo até o balcão para que uma das meninas o pegasse e levasse para o cliente. Avistei Rose conversando com Alice no caixa antes dela voltar para a cozinha, e quando ela entrou no recinto, meu celular vibrou no bolso, e, mesmo sem olhar, eu já sabia que era uma mensagem de Edward. 

Edward: Bella, desculpe, mas não poderei ir almoçar hoje. Vou ter uma cirurgia de emergência. Devo comer algo aqui mesmo. Estou com saudades. Nos falamos mais tarde? Quero te ver. 

Bella: Claro. Quando terminar, me ligue. Espero que corra tudo bem. Beijos, amo você. 

— Saíram todos os pratos. Hoje está tranquilo. – Rose disse, lavando as mãos. 

— Sim, eu estou até achando estranho. – Ri, e ela riu também. Nesse momento, Alice chegou na cozinha. 

— Bella, você pode me fazer um favor? – Ela perguntou. 

— Claro, se estiver ao meu alcance. – Eu disse. 

— É que eu preciso ir fazer a ultrassom da Summer, mas a Jess não vai poder ir, e eu não queria ir sozinha. Você pode ir comigo? – Ela perguntou com uma carinha manhosa, e eu não pude dizer não. Nem se eu quisesse eu diria não, jamais deixaria minha amiga sozinha naquela situação. 

— Claro. Vamos ver como está nossa menininha. – Eu falei, colocando a mão em sua barriga. No momento em que pousei minha mão em seu abdômen, senti um chute. – Olha, ela gostou de saber que a tia Bella vai acompanhar. – Eu sorri e Alice também. – Rose, você aguenta as pontas aí? 

— Sim senhora. – Ela disse. 

— Eu só vou trocar de roupa e então nós vamos. – Eu disse para a pequena mulher que já me esperava, com a mão pousada na barriga. Peguei minha bolsa e fomos até a clínica onde Alice tinha feito o procedimento de fertilização. De acordo com o exame, a filha de Alice estava crescendo cada dia mais e completamente saudável. 

— É um alívio saber que ela está bem. – Alice disse, ao sairmos de lá. 

— Sim. Ela é forte igual às mães. – Eu disse, a abraçando. – Venha, vou te deixar em casa. Você pode tirar o resto do dia de folga. Hoje o movimento foi bem tranquilo, vou deixar a Angela no caixa. 

— Se você acha melhor, eu não vou reclamar. – Ele riu e entrou no carro. – Ei, viu isso? – Ela estava com um post it na mão, e me entregou. – Estava colado no vidro. 

— Não. – Eu peguei o papel e o li. 

 

Primeiro passo. Espero que goste de surpresas. 

Arrivederci. 

 

— O que diabos é isso? – Eu virei o papel, para ver se estava assinado. Nada, nem sinal. Não era uma letra conhecida. Pensei em Edward, mas nessa hora ele estaria em cirurgia. Comecei a ficar apreensiva. Dei partida no carro. – Acho melhor sairmos daqui. 

— Calma, Bella. Isso deve ser uma brincadeira de alguém, querendo pregar uma peça em você. 

— Pode ser. Muito estranho. – Eu disse, indo em direção à casa de Alice. 

Ao chegar lá, ela me convidou para tomar um café, e eu aceitei. Conversa vai, conversa vem, ela lembrou que tinha deixado o exame dentro do carro, e dei minha chave a ela para que pudesse pegar. Quando ela voltou, decidi ir embora, e ela me levou até a porta. Conversávamos no jardim quando um entregador chegou com flores. 

— Senhorita Swan? – Ele perguntou, e eu achei muito estranho ele estar ali, na casa de Alice, perguntando por mim. 

— Sou eu. 

— Entrega para você. – Ele me entregou um buquê de rosas vermelhas com um envelope. 

— Obrigada. – Sorri para o homem e ele nos deixou lá, sozinhas, embasbacadas. – Isso só pode ser coisa do Edward. – Eu falei. 

— Amiga, mas ele está em cirurgia, não está? Como ele iria mandar flores para você aqui e agora? – Alice perguntou, e eu abri o envelope. Dentro, tinha um post it. 

 

Segundo passo. Espero que não tenha se assustado comigo, mas gosto de brincadeiras. Espero também que goste de rosas vermelhas, elas combinam com esse seu vestido azul. 

 

Alice essa pessoa está me vigiando. Como ela ou ele sabe que eu estou de vestido azul? – Comecei a olhar desesperada para todos os lados da rua, tentando achar alguém. Sem sucesso. – Realmente, não pode ser o Edward. Ele não me viu hoje. Não sabe que eu estou com essa roupa. 

— Calma, Bella. Volta pro restaurante. Lá você vai poder… sei lá, ficar mais segura? – Alice tentou. 

— E vou deixar você sozinha com esse maluco? E se ele tentar alguma coisa com você? 

— A Jess já está chegando. Fique calma. Pode ir. – Ela sorriu para mim. 

— Tem certeza? 

— Tenho. 

— Se tranca em casa. Vou te ligar quando chegar. Quando a Jessamine chegar me ligue. – Eu disse indo para meu carro, olhando todos os cantos da rua, completamente paranóica. Joguei minha bolsa e o buquê no banco do carona e quando notei mais um post it colado no volante. 

 

Terceiro passo. Ótimo! Você quase me achou! Mal posso esperar para que você chegue ao meu encontro. 

 

— Oh mio Dio! Aiutami! – Eu pensei alto e fui o mais rápido para o restaurante, sem saber o que esperar daquela loucura toda. 

Ao chegar no Bella Itália, encontrei a porta fechada. Por fora, não havia ninguém a vista no salão, e a porta estava destrancada. Contrariando toda minha razão, entrei no estabelecimento mesmo assim. Ele estava iluminado apenas pelas luzes do sol, que entravam pelos vidros. a cozinha estava vazia, sem nenhum sinal de Rose. Me aproximei do bar, e encontrei mais um post it. 

 

Penúltimo passo. Finalmente você veio até mim. Não fique com medo. É só uma brincadeira. Vá até o jardim. 

 

 

Um arrepio me subiu pela coluna, mas mesmo assim fui ao jardim. Lá, encontrei uma mesa posta para dois, porém não havia mais ninguém além de mim.  

— Bu. – Edward falou no meu ouvido, e eu quase desmaiei de susto. 

— Oddio! Edward! Stronzo! – Eu o xinguei, e ele começou a rir descontroladamente. 

— Eu não entendi nada do que você disse a não ser o meu nome, mas foi muito engraçado. – Ele continuou a rir. 

— Hahaha. Muito engraçado. O que você está fazendo aqui? Você não tinha uma cirurgia, Dr. Cullen? – Eu perguntei. 

— Talvez eu tenha mentido sobre isso. – Ele deu um sorriso. 

— E esses bilhetes aqui… – Eu peguei todos os post its que eu tinha recebido aquele dia. – São obras sua? 

— Sim, assim como o almoço de hoje. – Ele mostrou a mesa. – Claro que eu contei com a ajuda da Rose e da Alice, sem elas eu não ia conseguir nada sozinho. – Ele dedurou, e contou todo o plano. Desde a ligação mais cedo até o exame de Alice, os post its meticulosamente colocados no carro e o florista. 

— Eu sabia. – Eu ri. – Desconfiei de você mas não tinha como provar! 

— Eu achei que você fosse desconfiar mesmo, mas quis fazer a surpresa. Achei que pudesse gostar. 

— Eu adorei. – Eu disse, jogando meus braços em seus ombros. 

— Mas tem um post it que você ainda não leu. – Ele falou no meu ouvido, e ele o tirou do bolso. Eu o peguei na mesma hora. 

 

Bella, 

Você trouxe a tormenta para a minha vida, mas trouxe a calmaria que ela precisava. Arrancou o band-aid, mas curou o machucado. Já cansei de te agradecer por isso e de te dizer que te amo. Por isso, decidi mudar um pouco a expressão. Falarei de uma maneira diferente. 

Isabella, ti amo. Vuoi sposarmi? ("Isabella, eu te amo. Quer se casar comigo?") 

 

Ao ler aquelas palavras, eu já nem tinha mais controle sobre os meus pés. Pulei em Edward, e apenas gritei um "Sì!" estridente, sem me preocupar em falar a língua dele, mas acho que ele entendeu. Nosso amor é tão grande que nenhuma língua é capaz de ser empecilho. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal! Espero que tenham gostado dessa história que eu particularmente amei escrever. Eu tive essa ideia há muito tempo, e mal acreditei quando vi a oportunidade perfeita de mostrar ela para o mundo. Ah, aproveitando que hoje é 13 de setembro, parabéns, Bella ♥