São Valentim escrita por Carol Bandeira


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/803323/chapter/1

— Você só não curte o dia porque não está namorando!

Era a resposta que Sara invariavelmente ouvia quando afirmava não dar a mínima para o dia dos namorados. Não só em Las Vegas, mas em todas as cidades onde morou, e não importava a idade dela, as pessoas a sua volta adoravam dizer isso a ela. A morena não se importava muito, embora soubesse que poderia haver um pouquinho de verdade naquela frase.

Parecia maldição, mas os poucos relacionamentos que tivera aconteciam sempre antes ou depois do famigerado dia. Mas Sara sabia que não era só o fato de invariavelmente estar solteira aquela época. Na verdade, ela ansiava por mais. Sara Sidle era uma “romântica enrustida”. Dentro dela havia aquela menina que ansiava por receber flores com um recado amoroso, ou ter alguém para ligar após o trabalho para poder conversar, ou alguém a seu lado na cama para espantar os sonhos ruins e compartilhar de bons momentos debaixo dos lençóis. Mas nenhuma vez essa voz pedia por presentes caros, jantares à luz de velas em restaurantes chiques ou uma noite em um motel com espelhos no teto- como sugeria todo o marketing voltado para aquela época do ano.

Não, o dia dos namorados não era sobre isso. Era um dia para celebrar o amor, Sara havia decidido isso há muito tempo, e era esse pensamento o qual não a desanimava toda vez que se oferecia para trabalhar no dia, para que seus colegas pudessem desfrutar do dia com suas pessoas queridas. A bem da verdade, a única pessoa que ela queria dividir aquele dia também sempre trabalhava naquele turno. E este ano não seria diferente.

Com esse pensamento em mente, na véspera do dia dos namorados, Sara se dirigiu ao trabalho com um sorriso no rosto. No carro, encontrou uma estação que acabava de anunciar um ganhador de um par de convites para o concorrido show de Jonh Legend em um dos Cassinos mais chiques de Vegas. “ Casal sortudo”, pensou, mas logo se distraiu com a seleção de músicas de amor que tocaram depois.

Seu bom humor a levou rapidamente até o vestiário do laboratório, onde ela deu de cara com Greg.

—Greg, o que faz aqui? Você não tem uma mulher para encantar hoje?

—Ah, esse era o plano mas- o amigo elevou os ombros e comentou- Você sabe como são os planos né...

—Está tudo bem com você?- ela ficou genuinamente preocupada com o amigo. Ele andava tão feliz com a tal moça, não queria ele decepcionado.

—Tá tudo bem... é que a Sandy teve de voltar para casa... seu pai precisou ser internado de urgência. Ela saiu um caco daqui.

Greg falou desolado. Era nítida a preocupação dele com a jovem.

—Sinto muito, Greg. Você já ligou para ela, para saber como está? Tenho certeza de que ela vai apreciar se você o fizer.

—Vou esperar até amanhã. Ligar em um horário mais apropriado. E eu pedi a ela que me ligasse se precisasse falar, não importa o horário. Mas e você?- Greg a olhou de cima a baixo- Tem algo diferente, está arrumada para um encontro?

Sara sorriu e abriu seu armário, agora segura de que seu amigo estava bem. Ao guardar sua bolsa e o casaco, ela respondeu ao amigo:

—Você me conhece, Greg. Meu encontro logo mais vai ser com um bom livro.

—Nah! Você está muito bonita para quem vai para casa depois! Conta para o seu amigo aqui, vai... eu to precisando de uma boa notícia hoje!

Sara riu e fechou o armário, no mesmo segundo em que Grissom apareceu na porta.

—Sara, que bom, já está aqui!- ele a cumprimentou, a voz animada.

Sara e Greg se viraram para a porta e viram Grissom parado ali, com um sorriso no rosto, provocando uma resposta idêntica ao rosto de Sara. Greg, que de bobo não tinha nada, reparou na troca de olhares entre os dois e quis curtir um pouco com os apaixonados.

—Boa noite, chefe! Também estou aqui, viu!?

Grissom retirou os olhos de Sara rapidamente, aparentemente tendo levado um susto com a fala do rapaz.

—Ah, bom, Greg- de repente ele se lembrou que o jovem perito deveria estar de folga – Você não tinha dois dias de folga não?

—Sim, mas eu não consegui suportar a ideia de passar o dia dos namorados longe da Sara aqui!- ele falou enquanto passava o braço pela cintura da morena.

Levou logo uma cotovelada de Sara. Ela não gostou nada da brincadeira na frente do chefe.

—Acho que entendi o motivo de sua namorada escolher passar o dia longe de você, palhaço!

—Bem, quando os dois estiverem prontos, venham buscar os casos da noite- Grissom disse e partiu rapidamente, sem dar tempo a Sara de perceber se as travessuras de seu amigo fizeram algum estrago no humor do chefe.

—Bom, senhorita... me acompanha até a sala de descanso? - Greg ofereceu o braço a ela, e por mais que às vezes quisesse matá-lo, ela não conseguia ficar brava com seu amigo por muito tempo.

—Vamos, Romeu. O dever nos chama.

Para o alívio de Sara, ao chegar à sala foi recebida por Grissom com o bom-humor que vinha sustentando já havia alguns meses. Tal atitude por parte do sisudo supervisor levantou muita fofoca nos corredores. A mais comentada era a de que ele arranjara uma namorada. Tal situação teria levado Sara as lágrimas não fosse o fato de Grissom ter passado muito desse tempo reconstruindo a forte amizade deles. E assim Sara sabia da verdade.

Quando os recém-chegados se serviram de café e se sentaram à mesa, Grissom abriu a pasta com os casos da noite. Somente duas cenas para investigar. Grissom olhou para cada um de seus investigadores presentes ali. Sofia, Greg e Sara. Rapidamente decidiu por deixar Greg investigar sozinho a cena de um assalto a uma loja de produtos naturais e optou por levar Sara para investigar um suicídio. Sofia ficaria encarregada de algo que surgisse durante o expediente, enquanto trabalhava em seu caso em aberto.

Deste modo, Sara e Grissom partiram na SUV do laboratório, Grissom tendo pedido a sua parceira para dirigir por hoje. “Antes não tivesse aceitado!” pensava Sara no meio do caminho. Pois diversas vezes ela percebera que Grissom não tirava os olhos dela. Era desconcertante. Um pouco antes de chegarem ao destino, ela não aguentou e perguntou:

—Vem cá, tem alguma coisa errada com a minha cara?- e se virou rapidamente para o chefe, a fim de ver sua reação. O homem pareceu confuso com a pergunta.

—Ah... não. Por que pergunta?

—Bem, você está meio que... me encarando- ela voltou a atenção ao transito.

—Ah... não é nada...- se ela continuasse a olha-lo, veria um tom vermelho surgir em seu rosto- É só que... você cortou o cabelo?

—Ah... sim, mas só aparei as pontas...

—Eu notei... está diferente...

—Eu fiz uma hidratação também... deve ser isso... tava na hora de dar um tapa no visual- ela brincou.

—Não que você precisasse, está sempre bonita.

Agora quem enrubesceu foi Sara. Ela já tinha uma ideia do que Grissom achava dela, fisicamente. Uma vez ele disse a ela que a achava bonita, mas de um jeito meio torto. Ela não queria o levar a sério na ocasião, ainda estava brava com ele. Mas ter aquilo confirmado assim, do nada... bem, valera muito a pena a grana que ela deixara no salão aquela semana. E o mais incrível, o corte fora tão singelo que ela nunca pensara que alguém notaria... ainda mais ele!

—Obrigada!

O GPS cortou o momento, avisando que eles chegaram ao destino. Menos mal, pois Sara não sabia o que falar agora. 

Para a sorte de Sara, o trabalho novamente chamou a atenção do supervisor e eles tiveram o resto de noite completamente normal. Os dois trabalhavam bem juntos, pareciam estar em sintonia. O caminho de volta foi ocupado com discussões sobre o caso e divisão de tarefas. Assim, quando os dois se separaram no laboratório o comportamento singular de Grissom saiu da cabeça de Sara.

Foi mais para o início da manhã que aconteceu. Sara havia procurado Grissom para discutir o andamento do caso.

— A autópsia irá nos dizer mais, mas Al me avisou que só conseguiria começar no próximo turno.

— Bom, então acho que podemos encerrar por aqui- Sara comentou- Não sei você, mas estou pregada.

—Sim...

Ao ver seu chefe lhe lançar novamente aquele olhar incisivo, Sara achou por bem ir embora logo.

—Então, até amanhã, Griss

Sara se levantou e chegou até o meio da sala antes de ser chamada por Grissom.

—Sara, espera aí...

A morena se virou para o chefe e encontrou nele uma expressão que pouco via em seu rosto... ele estava nervoso.

—Sim?

—É que... bem, próximo turno é a minha folga...

—Ah... tudo bem, não se preocupe. Eu posso dar conta disso sozinha.

—Eu sei... é que... você gosta do Jhon Legend, não?

—Ah... sim...

—Não sei se você viu, mas ele vai fazer um show hoje à noite no Mirage...

—Aham... a rádio tava fazendo um sorteio do par de ingressos.

—E se eu te dissesse que tenho esse par de ingressos?

—Uau, Grissom! Que maneiro.. quem vai ser a sortuda que vai levar?- o coração dela se apertou em seu peito... ela não queria pensar nele com outra mulher. Por que ele não poderia estar falando dela, poderia?

—Eu gostaria que fosse você...

Assim mesmo, do nada. A chance que ela esperava mas nunca achou que fosse ser dela. Entregue assim, casualmente.

—Ah... Grissom... eu adoraria mas... é um show do Jhon Legend... no dia dos namorados... você deve ter alguém que gostaria de levar não é? Não uma amiga...- Sara já sofrera muitas decepções em sua vida por conta desse homem, por isso não poderia acreditar facilmente nas palavras que saíam dos lábios dele.

Grissom olhou para baixo por um momento, recompondo-se. Olhou novamente para a mulher a sua frente e tentou mais uma vez.

—Não há mais ninguém que eu queira a meu lado no dia de São Valentim...

O coração de Sara queria sair pela boca, e por isso ela demorou a responder, deixando um Grissom atônito a sua frente.

—Eu...- não tenho roupa para isso!- Grissom...eu adoraria!

Ela nem entendia o motivo de sua mente querer negar o seu pedido. Só havia uma resposta plausível para isso. E a resposta fez o rosto de Grissom se abrir em um sorriso enorme. O homem se levantou da cadeira e por um instante ela achou que ele fosse a abraçar. Mas ele simplesmente se colocou a frente dela e pegou em sua mão. Deu um beijo delicado e falou

— Eu gostaria de te levar para jantar antes... você topa?

— Ah..sim...

—Ótimo! Então eu passo para te pegar as 19 horas... está bom para você?

—Sim...

Gil apertou a mão de Sara e com um sorriso voltou novamente para sua cadeira.

—Eu vou terminar esses relatórios para o Ecklie, mas já estou de saída... -Gil comentou ao ver a morena parada no mesmo lugar em que a deixara.

—Ok... então eu vou... até mais tarde, Griss

Sara fez o caminho até o vestiário meio que em transe. Então seria esse o motivo de Grissom estar tão estranho hoje? Ele precisava de coragem para convidá-la para sair! Sara sacudiu a cabeça, sem acreditar nos momentos que vivera. Mas enfim, ela teria o tão sonhado primeiro encontro com o homem de seus sonhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "São Valentim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.