— Final: A esperada volta para casa

A certa distância do pequeno cercado de ferro que envolvia o jazigo de Mitsu, Arashi observava quieto os quatro amigos mais próximos do herói se despedirem dele. Respirou fundo, o sentimento de dever cumprido aqueceu seu coração. Reiwa e todos os seus soldados estavam presos, a liberdade estava sendo cantada em todos os cantos da Terra antes dominados por eles, os reinos do mundo estavam se rearranjando. Não deixaram nada por fazer. 

 A natureza saudava os responsáveis por aquela conquista, presenteava-os com um pôr do sol paradisíaco, as nuvens assumiram um tom de cor dourado que nem o mais competente dos artistas saberia escolher. Com uma suave brisa fria os parabenizava. Os passos dos companheiros de viagem do líder ariano esmagaram a grama, a chegada deles o lembrou que ele não estava sozinho ali. Ajeitou as mãos dentro dos bolsos da jaqueta preta jeans que vestia e acertou a postura. Chegava a hora de partir.

 Hirihito viu-os de longe. Sacou rápido que eles estavam de partida. Sabia também que Aname, Lila, Shiino e Daichi não gostariam de perder a oportunidade de se despedir deles, então chamou-os antes de ir até os arianos. Não tinha ideia de como agradecer Arashi pelo que ele fez por seu povo. Toda frase que pensava soava insuficiente. Tudo o que acabou fazendo, por fim, foi sorrir e estender a mão para o garoto. Shiino não deixou de notar que foi a primeira vez que o viu sorrindo. 

 — Transmita meus sinceros agradecimentos a senhora Keiko, a Kin e a todo o conselho do Reino de Órion. — Pediu, apertando com mais força a mão do guerreiro glacial. Uma mútua demonstração de respeito. 

Arashi sorriu e fez um leve aceno positivo com a cabeça. Passando por ele, Hirihito cumprimentou também os outros arianos. Parou para aguardar os quatro taurinos. Num gesto imprevisível, eles abraçaram Arashi e o trio que o acompanhava. Somente Aname manteve-se longe, olhando-os. Parecia feliz. Ali estava uma imagem que nunca pensou que veria: o sempre sério e diligente Shiino abraçando alguém daquele jeito. Por um breve momento, visualizou Mitsu entre os sete. 

Emocionou-se. Ninguém merecia estar ali mais do que Mitsu, festejando aquela vitória. As últimas palavras dele, seu derradeiro instante de vida, vieram-lhe a memória. Estranhamente, sem a raiva que costumeiramente as acompanhava. "Eu te amo", o guerreiro sussurrou para ela, já praticamente sem vida. Sentia-se livre. Viu a realização daquilo pelo que o amor de sua vida sacrificou a vida e batalhou por isso com todas as suas forças. Aos arianos devia não apenas a vida, mas a imensa paz de espírito que experimentava.

Enquanto Lila, Shiino e Daichi conversavam com Noriko, Toyotomi e Naruhito, Aname e Arashi se entreolhavam em silêncio. Eram muito mais iguais do que imaginavam, embora tivessem histórias tão diferentes. Apertaram as mãos. Aname olhou para baixo quando sentiu as lágrimas virem.

— Eu queria tanto que ele estivesse aqui. — Confessou, melancólica. — Não sei porque eu sinto que você me entende. Tem alguém que você gostaria que estivesse aqui, não tem?

— Sim. — Arashi não viu razões para mentir. — Se ela estivesse aqui, isso tudo teria acabado muito mais rápido. Mas ela não teria misericórdia do Reiwa. — Complementou, entre risadas.

Já que ele estava sendo sincero, Noriko o delatou: 

— É a namorada dele! O nome dela é Kin!

— Hein? Namorada? — Lila foi a primeira a levantar a voz depois dessa informação.

Hirihito, mesmo sendo de pouco brincar, não perdeu a oportunidade:

— Ih, olha só, acho que a Lila ficou decepcionada!

Vermelha como um pimentão, Lila tentava se explicar. Inutilmente. Após mais alguns minutos de conversa, Arashi achou sensato irem o quanto antes. A viagem de volta era mais demorada e mais perigosa do que a de ida. 

— Vamos indo, pessoal. Foi ótimo conhecer vocês. — Distanciou-se deles junto com seus colegas de nave. — Podem nos chamar quando precisarem. 

E então, durante os acenos de mãos de despedida dos cinco, os arianos se encaminharam pacientemente para a nave com a qual aterrissaram em Taurus. Estacionaram-na a mais ou menos dois quilômetros dali, porém não tinham pressa. Saindo no tempo que saíram, retornariam para Áries com tempo de sobra. Arashi só pensava que veria Kin em breve. Um estranho sentimento, de repente, desviou a rota de suas divagações, algo muito similar ao que sentiu quando foi possuído pelo poder macabro que o ajudou a derrotar Reiwa tão facilmente. Fosse o que fosse, algo lhe dizia que teria respostas quando chegasse em casa.