Laços de Esperança escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 6
Capítulo 6




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Marguerite definiria aquele domingo em uma só palavra, e essa seria perfeição. O clima estava agradável, o mesmo sol que os presenteava com iluminação fantástica também os aquecia na quantidade certa. O lugar escolhido por Roxton para o piquenique só vinha acrescentar ao mágico momento. Uma árvore majestosa lhes oferecia sombra às margens de um pacífico lago. Os campos verdes completavam a harmoniosa paisagem. Além da satisfação por estar ali, na presença de John e de sua amada Abbie, Marguerite sentiu despertar dentro dela uma motivação adormecida, sentiu-se mais uma vez inspirada.

John e Abigail brincavam com Bartolomeu alguns metros longe, ela permanecia sentada sobre a toalha xadrez observando o divertido jogo dos três, era impossível não se encantar. Permitiu-se fechar os olhos, aguçando seus outros sentidos e assim desfrutar daquelas sensações como se fizesse parte daquilo. Seus pés, agora descalços, tateavam a maciez da grama ao lado do tecido, provocando uma troca única de energia revigorante. Ouvia as gargalhadas de Abbie impulsionadas pela voz incentivadora do pai, vez ou outra o latir animado de Barty, ao fundo podia escutar a melodia mantrica da água calma, o cantar dos pássaros e o barulho das folhas sopradas pelo vento. Ela também sentia brisa tocar suavemente sua pele morna, na boca ainda reinava o saboroso gosto da torta de ameixa que comera e seu olfato inalava o aroma frutado do excelente vinho de sobremesa que Lorde Roxton a servira. Estava tão feliz que inconscientemente sorriu.

—Conheço um sujeito que ofereceria muito dinheiro em troca de saber quais pensamentos causaram um sorriso tão lindo neste belo rosto._John se aproximara sem que ela notasse sua presença.

Ela abriu os olhos e o sorriso chegou, então, ao seu olhar.

—Ele se decepcionaria ao saber que o sorriso é justamente motivado pela ausência de pensamentos._ se ajeitou virando-se para ele que se acomodava na toalha junto a ela._Estava apenas sentindo o momento, sem me preocupar em pensar._explicou.

—Parece bom.

—E é._afirmou ela, em seguida, com muita sinceridade completou._Obrigada.

John franziu o cenho confuso.

—Pelo que?_quis saber ele.

—Por me incluir… _ela percebeu que estava se aventurando em um assunto que não estava preparada para discutir_… pelo convite._corrigiu-se rapidamente. Depois, achou que estava sendo indiscreta e tentou se justificar e ficando um pouco nervosa._Bem… tecnicamente que me convidou foi a Abbie e…

—Eu teria feito._declarou sem reservas._A verdade é que Abbie foi mais rápida que eu._ deu uma leve gargalhada que a contagiou também._ nós é que deveríamos lhe agradecer…

—Pelo Créme Brulè clandestino?_brincou ela arrancando uma riso mais forte dele.

—Também._disse entre sorrisos, então, desviou olhar dela para observar a filha correndo alegremente com o ativo beagle_olhe Abbie, às vezes acho que não sou o suficiente._ confessou um medo que não revelara nunca antes. Evitou pensar porque se sentia a vontade para falar disso com a, embora adorável, desconhecida._Ela realmente se apegou a você… acho que sente falta de uma figura feminina._ Sua expressão era agora sombria.

Marguerite se condoeu com o sentimento de incompletude dele. John era de longe o melhor pai que já conhecera, era injusto sentir-se inseguro. Espontaneamente tocou a sua mão tomando novamente sua atenção.

—Você é um excelente pai, nunca tenha dúvidas disso.

Seu sorriso agora tornou-se de agradecimento. Retribuiu ao gesto colocando sua forte mão sobre a dela. Houve um instante infinito no qual perderam-se um no olhar do outro. John juntava-se a ela na ausência de pensamentos e na plenitude das sensações. O perfume, a cor cristalina de seus olhos, a pele quente entre suas mãos… não souberam por quanto tempo estiveram naquele transe, porém, o chamado de Abbie mostrando que Barty lhe trouxera o graveto interrompeu a situação como um projétil deflagrado sobre um balão d’água, inundando-os de suave constrangimento. Marguerite recolheu sua mão e rapidamente olhou a menina acenando. Inevitavelmente John fez o mesmo.

Demorou-se algum tempo, sem contato visual, para que Lorde Roxton finalmente investir na retomada do diálogo abordando um assunto mais trivial.

—Você gostou do lugar?

—É lindo._inalou o puro ar_Sinto-me inspirada.

—Gostaria de saber que coisas a inspiram… quero dizer, uma escritora de livros infantis._acrescentou rapidamente antes que a conversa migrasse para o âmbito do constrangimento novamente. Entretanto, não podia negar que gostaria de saber o que a inspirava, o que a enlouquecia e descobrir lentamente o que a excitava.

Ela não notou as intenções implícitas nas palavras dele e inocentemente respondeu.

—As mesmas coisas que inspiram todas as pessoas, acredito eu… nunca parei para pensar em algo específico que me trouxesse inspiração. As vezes está em uma comida saborosa_apontou para os pratos expostos diante deles_ em um bom vinho_ergueu a taça._em uma paisagem esplêndida_ abriu os braços abrangendo o espaço._ e principalmente em uma companhia agradável._não pode evitar piscar para ele, porém não havia malícia no gesto. Ela estava sendo genuína_Enfim, as vezes na combinação de tudo isso e em qualquer coisa que lhe traga paz de espírito.

—Você sente paz de espírito aqui? Conosco?_quis saber ele já orgulhoso de manifestar tal sentimento nela.

—Como a muito tempo não sentia.

John sorriu, mas sua mente se corroeu por uma curiosidade que ele não tinha certeza se podia perguntá-la. Marguerite notou algo nos olhos dele, uma inquietação com notas de dúvida, despertando nela o interesse em saber o que seria.

—Você quer me perguntar algo, não quer?

—Bem… na verdade sim… ontem, você mencionou que A girafa Mafalda foi sua última história antes de sua vida se transformar… o livro foi publicado há seis anos._fez uma pausa quando ela baixou o rosto evitando-o. Buscou sua face e percebeu que haviam lágrimas escorrendo por ela. Ele teve vontade de abraçá-la, protegê-la, mas algo lhe dizia que mais que isso, ela precisava se abrir_O que aconteceu, querida?

—Uma parte de mim morreu… minha felicidade, meus sonhos.

Ele sucumbiu ao seu desejo e a abraçou, dando-lhe o conforto e a segurança que ela necessitava para falar mais.

—Há cinco anos eu era casada… acreditava ser feliz, realizada na minha carreira e na vida pessoal… estava vivendo a maior magia que uma mulher tem o privilégio de viver, eu estava grávida… esperava gêmeos, meu coração se enxia de amor e esperança a cada movimento, cada nova descoberta, mas era tudo ilusão._ela fez uma pausa e um soluçar a atingiu. Suas lágrimas se tornaram mais densas e a vazão quase incontrolável. John apertou ainda mais os braços em torno dela que sentiu seu calor e podia perceber que a água que brotava dos seus olhos agora encharcavam o tecido da camisa no peito dele. Ele parecia não se importar já que sua mão afagou suas costas encorajando-a a libertar-se do que a oprimia._houve um acidente… eu estava ao volante._um novo soluço_não pude fazer nada para impedir… eles se foram… foram tirados de mim, pra sempre.

John afagava seus cabelos permitindo que ela chorasse. Agora ele sabia que assim como ele, Marguerite tinha a alma atormentada pela culpa e pela dor de perder a quem amava. Isso explicava a empatia imediata e a confusão de sentimentos que ela lhe causava. Ninguém o entenderia melhor que ela, sabia sobre sofrer tanto quanto ele, ou talvez pior pois ainda tinha a Abbie que iluminava seus dias e lhe trazia alegria. Sem raciocinar sobre o que dizia ou fazia, ele passou a mão pelo rosto dela num gesto de extremo carinho e intimidade.

—Eu sinto muito… já passou, e eu estou aqui.


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