Era mais um dia comum e gelado em Londres. O sinal havia tocado e os alunos passeavam pelos corredores do colégio, conversando sobre qualquer coisa ou procurando seus amigos.

 

No meio da multidão era capaz de encontrarem um garoto com estatura mais alta que o comum, seu suéter de lã bege e calça jeans já faziam parte de seu corpo junto com um copo cheio de café quente e uma barra de chocolate em sua mochila, ele era reconhecível para qualquer um de seus melhores amigos.

 

 - Eai Moony - o garoto alto recebeu um soquinho leve e logo olhou para seu lado, encontrando James ali, seu melhor amigo que possuía cabelos pretos bagunçados, óculos redondos com lentes grossas e uma vontade inexplicável de sair com Lily Evans.

 

Bom, inexplicável não era já que Lily era uma das garotas mais bonitas da turma, além da mais inteligente também, mas não era de sair tanto, apenas aparecia em algum show ou outro da banda dos garotos pois era arrastada pela melhor amiga Marlene e sua namorada Dorcas, as três eram meio que inseparáveis.

 

— Vai para o ensaio hoje, certo? - Potter perguntou animado, arrumando sua guitarra nas costas, Remus percebeu o instrumento e franziu as sobrancelhas

 - Onde está sua mala? 

 - No armário - o menor respondeu dando de ombros

 - Amanhã temos um trabalho - Lupin explicou o óbvio tentando entender o raciocínio do garoto

 - Minha parte é fácil, até amanhã eu consigo ensaiar com vocês e estudar as minhas falas para história, não é complicado - ele disse didaticamente de forma calma - e, se tudo der certo, chamar Lily Evans para sair 

 -  Você não cansa, não? - Remus perguntou virando o corredor, olhando o grande refeitório 

 - Não consigo! E eu tenho certeza que ela sente o mesmo, mas não admite já que ela é toda certinha e…. - ele foi interrompido pelo melhor amigo que continuou sua frase

 - E você está numa banda de rock, sim eu sei - o mais alto disse de forma entediada indo até uma das mesas - de qualquer forma acho que deveria dar um tempo, já conseguiu alguma composição nova? 

 - Algumas, mostro mais tarde pra vocês - James piscou sorrindo, os dentes brilhantes e bonitos que fariam qualquer garota cair por ele, antes de levantar e ir buscar comida.

 

Enquanto via o garoto ir até a fila do restaurante, Remus pegou sua comida na bolsa que havia trazido de casa, sua mãe não era a maior adepta a ideia de trazer comida para a escola, mas o Lupin mais novo não queria gastar tanto assim em casa.

 

 - Olha ele, que novidade não estar com um livro na mão - ele ouviu uma voz familiar e logo um corpo se juntar ao seu lado no banco, ele olhou para o garoto ao seu lado e sorriu junto com Sirius

 - Olá senhor destrambelhado, ou devo dizer atrasado? A aula já acabou, por que não apareceu? - o mais alto disse colocando uma colherada na boca enquanto olhava o menor. Antes de responder, Black parecia parar um pouco para tentar formular uma resposta ou uma possível mentira, seu rosto indicando como se ele houvesse visto uma cena que não lhe agradou, mas antes que Remus pudesse perguntar, o sorriso cafajeste de Sirius estava de volta

 - Acordei atrasado, ontem a noite fiquei maratonando qualquer coisa - ele disse dando de ombros de forma calma encarando Remus comer, antes que falassem outra coisa, foram interrompidos por outra voz 

 - Que ótimo, Padfoot chegou, vamos para o ensaio logo - James chegou e se sentou, comendo rapidamente o que havia pego 

 - Coma mais devagar, ainda temos tempo - Lupin disse terminando sua comida e olhando o amigo comer apressado - vai te dar soluço

 - Tenho certeza que ele vai correr até o ponto de ônibus da Lily e chamá-la casualmente para ir ao ensaio - Black disse colocando os pés em cima dos joelhos de James por debaixo da mesa preguiçosamente, rindo ao receber um olhar irritado e um tapa em sua canela

 - Idiota - Potter revirou os olhos balançando as pernas para que Sirius tirasse os pés dali - mas eu vou fazer isso mesmo, inclusive quero carona 

 - Sinto muito Jamezinho mas vou furar com você - o mais baixo se levantou, falando num falso tom de tristeza - Remus já me pediu carona e você sabe o que houve quando tentamos andar nós três na moto

 - Eu não quero lembrar sobre isso - o mais alto disse guardando seu pote na mala e a jogando por cima dos ombros enquanto se levantava, James revirou os olhos com um sorriso no rosto, negando com a cabeça

 - Vou de bicicleta mesmo então, encontro vocês lá - ele disse voltando a comer e acenando para os dois que rapidamente saíram do refeitório, andando até a entrada da escola

 

Rapidamente chegaram até a moto estacionada e colocaram seus respectivos capacetes antes de subir no automóvel e SIrius dar partida. Remus odiava motos, mas nunca iria negar o quanto ele gostava de andar em uma quando era Black quem dirigia. A forma que os cabelos compridos balançavam com o vento mas continuava lindo depois de tirar o capacete, a sensação de liberdade que a expressão do moreno passava enquanto olhava as ruas atentamente e, o mais importante: ficar abraçado ao garoto enquanto passavam por tantos lugares abertos, era algo difícil de acontecer, então ele aproveitava o quanto podia.

 

Assim que chegaram, Remus desceu e tirou o capacete, passando os dedos pelos cabelos loiro-escuros tentando arrumá-los enquanto observava Sirius fazer o mesmo, balançando os cabelos compridos que iam até perto de seus ombros enquanto ainda se mantinha sentado na moto. Seus olhares se encontraram e Black o lançou um sorriso divertido antes de olhar em volta.

— Eu estou esperando o que você me prometeu nas mensagens mais cedo - ele disse abrindo os braços e em alguns segundos, Remus se encaixou ali.

Lupin o encarou enquanto abraçava seu corpo, juntando seus lábios algumas vezes rapidamente em selinhos rápidos que causaram sorrisos largos em ambos os rostos antes de juntarem suas bocas em um beijo mais longo e lento, as mãos grandes do mais alto indo se entrelaçar nos cabelos escuros e macios.

 - Você não imagina o quanto eu esperei isso - Lupin disse ainda perto dos lábios alheios - a manhã inteira parecia durar a eternidade

 - Você sabe que não importa quanto tempo leve, no fim sempre me terá no final - Sirius disse ainda brincando com os fios da nuca do mais alto

 - Quem sabe um dia meu namorado não se torne meu marido e eu não precise esperar? - Remus disse fazendo uma cara pensativa e dando um sorriso fraco, fazendo Sirius sorrir também

 - Estou esperando ansiosamente por isso - o mais baixo disse e um raio de sol iluminou os garotos, fazendo Sirius reclamar alto e tampar o rosto

 - Ei, vampirinho é só o sol - Remus brincou e desencostou do garoto que andou até a sombra 

 - Vim andando pelo sol hoje e me deu um pouco de dor de cabeça - o moreno reclamou e então percebeu o olhar preocupado do mais alto - ei, relaxe okay? Está tudo bem, fui dormir tarde, deve ter sido isso. - ele disse segurando a mão de Remus 

 - Okay, teimoso. Mas se sentir mais alguma coisa pode me avisar e nós vamos ao hospital ok? - Sirius quase tremeu com a ideia de ir ao hospital e chamar os responsáveis

 - Relaxe, lobinho. É só uma dor de cabeça

 - Lobinho? - Remus perguntou rindo fraco e inclinando a cabeça

 - É, lobos cuidam muito da própria matilha - ele disse sorrindo e ficou nas pontas dos pés roubando um beijinho do namorado - e é exatamente você, sabia?

 - É? - Lupin perguntou rindo antes de voltar a beijar o namorado.

 

Alguns momentos depois, James e Frank chegaram com as chaves da casa e interromperam o momento do casal com piadas e provocações com os dois antes de iniciarem o ensaio.

A banda “The Marauders” havia sido uma ideia mirabolante de James e Sirius no começo do ensino médio, obviamente os dois arrastaram Remus e Frank, seus melhores amigos e juntos eles continuaram desde então. James era o vocalista principal, Sirius comandava a guitarra, Frank ficava na bateria e Remus tocava o baixo. Mesmo que Potter tomasse conta das letras e vocalização, todos os quatro cantavam e escreviam, era algo totalmente compartilhado entre eles.

 

Já Remus e Sirius tinham outra história. No início do ensino médio, depois de muitas descobertas sobre sexualidades e hormônios, os dois acabaram juntos. Havia sido um caminho complexo, cheio de problemas e confusões. A principal sendo a família de Black, sempre sendo antiquada e tradicional demais, nunca aceitaria o namoro dos dois, mas em contrapartida a mãe de Remus, Hope Howell Lupin, não tinha problema com os dois. As tardes depois dos ensaios na casa dos Lupin 's eram mágicas e reconfortantes que cheiravam a biscoitos recém feitos com o cheiro de incenso natural serpenteando pelo ar. Era onde os dois se sentiam em casa.

 

Conforme o tempo passou, os dois decidiram que namorariam em segredo do resto dos alunos no colégio para não correr risco de chegar nos pais de Black, e apenas James, Frank, Marlene, Dorcas e Lily sabiam, e para eles já estava de bom tamanho.

 

Remus observou Sirius durante todo o ensaio e o garoto parecia estar meio fora de órbita mesmo que acompanhasse as músicas e as letras e Lupin sabia que tinha algo errado. Todas as vezes que tentou falar com Black, sempre tinha a mesma resposta vaga como ‘’não se preocupe, lindo. Eu estou bem” ou “viajei em alguns pensamentos agora, tô de volta para o ensaio!” e outras variações que não enganavam Lupin.

 

Conforme o ensaio foi ocorrendo, Lily, Marlene e Dorcas apareceram para apreciar os músicos, além de chamá-los para ir até o parque ficar conversando e comendo algum fast-food até dar o horário de voltar para casa.

 

 - Desculpem senhoritas, mas terei que faltar - Sirius disse se levantando da poltrona que havia na garagem e pegando sua jaqueta, fingindo não ver as expressões confusas dos amigos 

 - Qual é você é o mais rolezeiro daqui, o que tá rolando? - Mckinnon perguntou amarrando sua camisa xadrez na cintura

 - Nada, hoje tem um jantar lá em casa, vocês sabem como é - Black andava de um lado para o outro pegando suas coisas que haviam se perdido durante o ensaio, passando para deixar um beijo na testa de Remus que segurou sua mão antes de se levantar e ir com ele até o lado de fora, o moreno acenando para todos.

 - Tem certeza que não aconteceu nada? - Lupin perguntou num tom preocupado, segurando a mão pálida do namorado que forçou um sorriso fraco e envolveu o seu rosto antes de selar seus lábios

 - Tenho certeza, respire - observou-o respirar fundo e o beijou de novo - vá com eles até o parque eu sei que você gosta. Me mande fotos e zoe bastante a Marlene por mim 

 - Isso parece uma despedida

 - É uma despedida até amanhã. Aí você me conta como foi, okay? - Sirius perguntou e abraçou o mais alto ao vê-lo assentir, sentindo seu cheiro antes de se afastar 

 - Até amanhã, lobinho

 - Até amanhã, estrelinha

 - Estrelinha? 

 - Você age como o centro das atenções e brilha muito. Não é só o seu nome que é uma estrela

 

Black sorriu com o comentário e colocou o capacete, afivelando-o em seguida. Subiu na moto e mandou um beijo para o namorado antes de ligar o automóvel e dar partida enquanto Remus o observava ir embora.

 

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Quando voltou pra casa, Remus olhou seu celular esperando encontrar diversas mensagens de Sirius reclamando sobre o tal jantar, mas encontrou sua conversa vazia e apenas com a última troca de mensagens entre ele e o namorado na noite passada. Alguns pensamentos começando a aflorar em sua mente sobre  o motivo daquilo, sem conseguir chegar num resultado exato e tendo seu raciocínio desmanchado por uma voz doce atrás dele.

 - Você chegou! - a voz feminina e suave chegou aos seus ouvidos, causando um sorriso imediato no rosto de Remus - como foi o ensaio hoje?

 - Foi bom, o de sempre na verdade. As meninas apareceram por lá e a gente foi no parque, por isso eu demorei um pouco mais - ele explicou andando até a sala e se sentando no sofá, vendo a matriarca se sentar ao seu lado 

 - E Sirius, como está? 

 - Ele foi para um jantar da família dele, mas estou achando esquisito…

 - O que está matutando, Remy?

 - Não sei… pode ser só coisa da minha cabeça… - ele começou, suspirando - mas ele estava esquisito no ensaio, e quando acontece esses eventos na casa dele, ele fica me mandando várias mensagens reclamando, debochando e essas coisas, mas agora não tem nada

 - Talvez ele esteja em um dia ruim, e os pais dele tenham obrigado ele a falar com alguém e essas coisas - Hope disse calma, afagando as costas do filho carinhosamente - amanhã você fala com ele, sim? 

 - Sim… 

 - Por que não vai tomar um banho antes de jantar? Vou fazer lasanha hoje

 - Quatro queijos? - Remus perguntou com um sorriso animado no rosto e ela assentiu, sorrindo para a animação do mais novo que comemorou 

 

No fim, Lupin nem pensou muito sobre Black até a manhã seguinte.

 

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A manhã seguinte não foi exatamente o esperado. Foi bem caótica na verdade.

 

Tinha passado um pouco do horário de dormir com sua mãe numa maratona de Brooklyn 99 e perdeu a hora quando acordou, para melhorar tudo, logo na primeira aula, tiveram prova surpresa de História, e mesmo que Remus fosse estudioso, isso não queria dizer que ele adorasse provas, ele as odiava. Fazia que sua ansiedade disparasse e a pressão o deixasse para baixo.

 

Após o desespero da prova, houve aula no laboratório de química e, por engano, James não desligou o fogo de sua experiência, e ser um dos mais inteligentes da turma, não impediu seu bécker de explodir em sua bancada, assustando a todos inclusive à professora.

 

Mesmo no meio do caos, durante o intervalo, Lupin teve um momento para respirar e colocar tudo em ordem. Foi quando se lembrou que não usou seu celular a manhã inteira, não conseguindo ver se Sirius havia mandado alguma coisa sobre o tal jantar, ou o que havia feito. 

 

Mas, o ápice de esperança que tinha se espalhado por seu peito, havia sumido quase tão rápido quanto havia aparecido, apenas deixando um vazio e aquela sensação fria e vazia em seu interior.

 

 - Nossa eu só consegui sair agora, sinceramente. - uma voz apareceu ao seu lado e o tirou de seus devaneios - perdi a aula de educação física pra ficar limpando o laboratório. Não que eu esteja certo em não querer limpar, mas aposto que a quadra estava mais divertida

 -  Nós jogamos queimada, não foi legal - Remus disse tirando seu lanche da mochila, comendo seu misto frio, olhando a decepção no rosto do amigo sem muitas cerimônias

 - Mas queimada é a mais legal! - Potter resmungou exasperado se ajeitando no banco e finalmente olhando para o amigo e percebendo seu desânimo - o que foi?

 - O dia mal começou já está péssimo - Lupin suspirou passando a mão no rosto e respirou fundo - teve a prova, a explosão lá no laboratório, e Sirius não me mandou nenhuma mensagem hoje 

 - Nenhuma?

 - Desde ontem depois do ensaio

 - Ele não tinha um jantar com a família? - James questionou comendo seu lanche enquanto pensava

 - Ele costuma me mandar mensagens zuando tudo o que acontecia nesses jantares, ou simplesmente reclamando, mas não teve nada dessa vez 

 - Talvez tenha sido só essa vez - Potter disse calmo, olhando o amigo encher o pulmão enquanto respirava fundo, tentando se acalmar - mais tarde tentamos falar com ele okay?

 - Okay… Obrigado 

 

Novamente, naquela noite não houve mudança.

 

Nem naquela noite, nem nos próximos dias.

 

A cada dia que se passava sem notícias concretas do namorado, Remus se sentia afundando num poço de agonia. Ele não imaginava o que poderia ter acontecido, será que algo tinha acontecido com Sirius? Ele estava bem? Por que aquele sumiço repentino?  Ele não vinha mais às aulas ou aos ensaios, todos estavam preocupados.

 

Dias se transformaram em semanas, semanas viraram meses. O baile de formatura havia chegado e Remus nunca esteve tão esquisito. Ele olhava o espelho, seu reflexo mostrando seus pequenos cachos bagunçados e um deles caindo em seu rosto que, graças à Lily, possuía alguns truques com maquiagem para esconder suas olheiras e aparência cansada que o perseguia pelos últimos tempos. O terno preto, alugado, cobria seu corpo magro e alto, o deixando elegante, era desconfortável, mas ele fazia aquilo por sua mãe e por que precisavam tocar com o The Marauders na festa.

 

Ah, a banda. Ninguém sabia nada sobre o sumiço do guitarrista, eles tiveram que se ajustar, já que receberam uma petição da turma para que tocassem no baile de formatura. Levaram um tempo até decidirem que, não conseguiriam simplesmente colocar outro músico no lugar mesmo que fosse apenas por algum tempo, era como se substituísse Sirius e também não seria a mesma coisa, decidiram então refazer as músicas escolhidas mas sem a guitarra.

 

Demorou para Remus conseguir cantar e tocar os solos de Black, ele sentia falta do namorado.

 

 - Você está tão lindo, querido - a voz calma de sempre o tirou de seus pensamentos, os braços de sua mãe rodeando sua cintura e seu queixo apoiado no ombro do mais novo - meu garotinho já está tão grande…

 - Para mãe - ele disse de forma manhosa, rindo fraco - não quero ir chorando, Lily me mataria, ela passou umas coisas no meu rosto que tenho certeza que acabariam se eu chorasse

 - Deixe sua mãe ficar orgulhosa, garoto - Hope deu um tapinha e disse divertida - como você vai pra festa?

 - James vai me dar carona, Frank vai com a mãe dele no carro pra levar a bateria

 - Certo. Tomem cuidado, okay? - ela disse num tom preocupado porém ainda leve, ficando na ponta dos pés para deixar um beijo na testa do filho que fechou os olhos apreciando o ato - amo você 

 - Também te amo, mamãe - ele sorriu e foi pegar seu baixo que já estava dentro de sua case, a colocando nos ombros e descendo para a sala, esperando James chegar, o que não demorou muito. Após se despedir de Hope e passar pela porta, ele ouviu sua mãe chamá-lo novamente, se virando para ela 

 - Promete que irá aproveitar a noite e não só pensar nele? - ela perguntou calma, sabia que o filho não parava de pensar no namorado, mas queria muito que ele aproveitasse a noite. Remus suspirou, mas sorriu fraco para ela e assentiu

 - Prometo tentar - Lupin disse calmo antes de acenar e entrar no carro e ir para a festa.

 

O caminho até lá foi normal, Remus ficou escutando como James estava animado e sobre as músicas que tocariam ou como Lily estaria linda num vestido de festa, não podia negar que também estava nervoso, mas eram muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, teria que esquecê-los e focar na apresentação. Daria tudo certo.

 

Chegaram na escola e agradeceram Euphemia Potter pela carona, indo até a sala perto do ginásio onde seria o local que eles iriam se aprontar para o show. Tocariam até metade da festa e depois, descansariam e aproveitariam sua formatura. Frank já estava no palco arrumando sua bateria e os dois recém-chegados foram até lá.

 

O salão estava vazio quando chegaram, mas rapidamente encheu-se de alunos e convidados. A mãe de Remus não iria, já que ela não gostava de festas e ele entendia aquilo, não havia problema ou ressentimento ali, estava tudo bem.

 

Perto das oito horas da noite, eles começaram o show. Fizeram alguns covers como “Off To The Races” da Lana del Rey, “11 Minutes” da Halsey e Yungblud e “Daddy Issues” do The Neighborhood. O público cantava junto e os aplaudia, era sensacional. De suas músicas eles cantaram “Slow Hands”, escrita por Frank quando começou a gostar de uma garota e “Dear Society”. Esta havia sido escrita por Sirius, seu significado era claro e ele falava em como a sociedade o machucava e o fazia mal, era intensa, mas os quatro, principalmente Remus, sabiam que não se tratava de uma revolução musical sobre a forma da atual sociedade.

 

Falava sobre a própria família.

 

A apresentação foi um sucesso, todo o público aplaudiu de pé e apenas não continuaram pois a diretora entrou no palco e começou a dar um discurso sobre a longa caminhada feita pelos alunos e o extenso caminho da vida adulta. 

 

Enquanto ela falava, os três conseguiram ficar no camarim improvisado até que o discurso acabasse e eles voltassem para a festa. Como Lupin não era o mais adepto a festas, ficou um tempo na mesa, conversando com Dorcas que havia se sentado um pouco após ficar pulando ao lado de Marlene no show da banda, ele riu envergonhado.

 

Música vai, música vem, já eram quase nove da noite e ainda teriam 2 horas de festa. Remus havia decidido e, com decidido leia-se arrastado pelos amigos, até a pista de dança. Ele não sabia dançar, mas com a animação de Lily, Marlene, Dorcas e James, parecia divertido apenas se movimentar no ritmo da música.

 

Ele tinha conseguido não pensar em Sirius a noite toda, o que era uma conquista pequena e pessoal para si mesmo. Após se divertir, foi até a mesa e se sentou, um pouco cansado de dançar. Decidiu olhar o celular para ver se sua mãe tinha mandado alguma mensagem para ele.

 

Seu coração disparou ao ver que a notificação vinha da conversa com Sirius.

 

Piscou algumas vezes para confirmar se não havia lido errado ou confundido nenhum contato, mas era ele. Lá estava a notificação do contato que ele não teve coragem de mudar: Sirius com o emoji de um cachorro e um coração roxo. Clicou o mais rápido possível para abri-la e ler o que tinha mandado.

 

Inicialmente, ele achou que era uma brincadeira, mas infelizmente, não era. Apenas tinha sua conversa com Black, olhando todas as mensagens que ele mandava diariamente perguntando-o se algo havia acontecido ou se ele tinha desistido de tudo sem avisá-lo.

 

Remus apenas percebeu que não estava mais no salão de festas quando o ar gelado da noite passou por seu rosto molhado por lágrimas quentes que ele mal sentiu caírem. O momentâneo som da música abafada que tocava na festa voltar a ser alto antes de, segundos depois, soar como se tocasse a milhares de quilômetros dali, indicando que alguém havia passado pela porta.

 

 - Remus? - ele ouviu a voz de Lily, algumas outras também que ele não prestou atenção, provavelmente James estava ali também com Frank, Dorcas e Marlene.

 

Lupin estava num certo estado onde tudo parecia ter parado, não havia nenhum som além do zumbido em seu ouvido que parecia aumentar gradativamente. Ele voltou à realidade quando sentiu duas mãos fortes chacoalharem seu corpo, sua visão e mente voltando à realidade, mas mesmo assim, a angústia que ocupava seu peito naquele momento, somado à sensação de vazio.

 

Marlene tomou o aparelho de suas mãos enquanto James ainda tentava falar com o melhor amigo, as garotas se uniram ao redor da  morena, lendo a mensagem na tela.

 

Ninguém gostou do que viu.

 

Sirius

Não me procure nunca mais.

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E Remus nunca mais procurou. 

 

A última coisa que Lupin queria era se lembrar daquela noite, mas insistentemente ela se passava por sua mente mais vezes do que ele gostaria, porém o desejo de Sirius foi seguido, mesmo que doesse como o inferno em seu peito.

 

Os meses se passaram e aos poucos, as coisas mudaram, mas não exatamente para melhor.

 

Dois meses depois da formatura, James recebeu uma ligação no meio da noite de Remus. Quando atendeu mal conseguia entender o que o garoto dizia, parecia que suas palavras não saíam de acordo com sua respiração e a movimentação bagunçada no outro lado da linha não ajudava.

 

No fim, a chamada se ajustou e uma voz feminina tomou o celular de Potter, era uma enfermeira explicando que Remus tinha tido um acesso de pânico e precisou ser sedado, mas ao James ouvir a resposta sobre o motivo da crise do garoto ele queria não ter perguntado.

 

Lupin tinha passado os últimos momentos com sua mãe na maca de hospital, e ela havia falecido enquanto ele cochilava segurando sua mão.

 

James foi correndo até o hospital indicado, procurando pelo melhor amigo nos quartos até que o encontrou sentado em uma poltrona grande e confortável, com uma enfermeira ao lado dele.

 

— Ele está sob efeito de morfina, não está tão consciente. - a moça de cabelos pretos que iam até os ombros disse calmamente, Potter agradeceu e a enfermeira olhou para Remus antes de sair

— James! - o mais alto chamou alto, vendo o amigo ali - você viu? Sirius está aqui!

— Onde?

— Ele acabou de sair do quarto! 

 

James olhou para a porta, onde a enfermeira passava pelo corredor indo assistir algum outro paciente, reconhecendo que os cabelos negros da garota eram, de fato, muito semelhantes aos de Sirius. Potter sentiu o peito pesar e soltou um suspiro pesado, se abaixando em frente ao mais alto, pensando em algo para falar. Sabia que Remus havia sofrido pelo repentino sumiço de Black, ainda mais com sua última mensagem, mas o moreno também se sentia abandonado, Sirius era quase um irmão para ele e repentinamente foi abandonado… 

 

Ele fechou os olhos e respirou fundo, ignorando todos os pensamentos de sua mente e ergueu seu olhar para Remus, um sorriso fraco e calmo no rosto.

 

 - Você precisa ir pra casa, venha - ele se levantou, vendo que o garoto ainda se mantinha sentado.

 

Naquela noite, James cuidou de Remus com toda a paciência do mundo. Como o irmão que o mais alto representava para ele e que Potter nunca teve, e quando o efeito da morfina passou, chorou com o garoto até que se acalmasse e caísse num sono pesado, compensando o que não dormiu nas últimas semanas com Hope doente.

 

Conforme os meses se passavam, Lupin vivia um dia de cada vez. Foi assim por alguns meses depois da morte de sua mãe, não parecia terminar nunca.

 

Durante todo esse tempo, Remus pensava muito, mais do que o normal. Pensava em momentos que teve com sua mãe, mas tentava não ficar muito naquela área pois, assim que se lembrava que não teria mais aqueles momentos, o sentimento parecia piorar. Pensava em James, e como o garoto tinha sido paciente e atencioso com ele durante esse período conturbado de sua vida, ou como Lily aparecia semanalmente em sua casa para dar barras de chocolate. Pensava em Marlene que, não sabia como lidar com o luto de alguém com palavras, então deixava todos os dias um bilhete decorado (provavelmente por Dorcas, já que decidiram morar juntas) com um pedaço de brownie enfeitado com gotas de chocolate. Ele fingia não saber de quem era, mas tinha certeza que eram delas, e ele adorava. E ainda, nos momentos que pegava os doces e fingia procurar pela rua quem poderia ter feito aquilo, nem tinha percebido que a casa ao lado da sua se preparava para receber outro morador.

 

Ele pensava em Sirius, pensava em como tudo seria caso o moreno estivesse ali. Será que Black teria ficado com ele no hospital? Cuidaria dele naquele momento? Brincaria com sua mãe na maca, para distrair os dois daquele sentimento incômodo e ruim que o ambiente hospitalar trazia? 

 

Será que Sirius o amaria em seu pior momento?

 

Questões como essas passavam pela mente de Remus várias vezes, mas então ele decidiu que precisava sair do lugar. Ele sempre gostou de estar em uma rotina, e aquela sensação ruim e vaga como longas férias tediosas sem motivação ou algo para fazer estava o degradando ainda mais. Então, decidiu lutar contra seu próprio momento de desânimo e tristeza, e começou a arrumar sua vida.

 

De início, ele escolheu arrumar a casa, demorou mais do que o esperado já que a cada cômodo e arrumação, uma memória era despertada e ele voltava a chorar. Tentou colocar uma música alegre, algum pop latino ou até músicas de outras línguas que ele não conhecia. Ajudou, mesmo que minimamente.

 

Levou quase duas semanas, mas ele organizou a casa que tinha se tornado um caos de sujeira, roupas bagunçadas e louças sujas. Durante algum tempo, ele se perguntou se deveria vender a casa, se mudar e começar do zero, mas ao mesmo tempo sentia como se  estivesse simplesmente abandonando sua mãe, aquilo parecia egoísta demais pra ele.

 

Eram muitas perguntas e muitas possíveis respostas, ele precisava de tempo.

 

                                                                 x

 

Um ano havia se passado do baile e Remus sentia que todo o problema envolvendo seu luto começava a passar, ele já tinha um pouco mais de ânimo para fazer as coisas e parecia ter mais disposição para sair de casa.

 

Ele sempre gostou de rotinas e, criar uma fazia que ele se sentisse motivado. Toda a questão de horários, lettering e listas o deixava mais agitado com força de vontade para fazer aquelas coisas em sua meta da semana. Foi ali que ele se encontrou para fugir um pouco da gradativa sensação que o puxava para baixo.

 

Uma de suas caixinhas de listas para fazer, indicava visitar a Beer&Coffee, uma cafeteria nova em seu bairro, o dono parecia misturar café, cerveja e livros, como uma biblioteca que você agarra um copo de bebida e passa a tarde lendo.

 

Parecia uma ótima ideia ir lá e talvez pegar algum livro, também fazia tempo que ele não bebia ou algo do tipo.

 

Pensou em ligar para alguém ir com ele, sua mente vagou para James, mas mesmo que gostasse de ler, Potter estava ocupado trabalhando como garçom no restaurante de seu pai, juntando dinheiro para conseguir pagar sua própria faculdade de arquitetura. Lily provavelmente estaria estudando para uma prova de sua faculdade, ela tinha decidido embarcar para os vestibulares logo em seguida da escola, então já estava no meio de seu segundo semestre na faculdade de letras. Marlene e Dorcas haviam decidido fazer um mochilão pela África do Sul, então não estavam exatamente disponíveis…

 

De qualquer modo, ele tinha que aprender a aproveitar sua própria companhia, não é mesmo?

 

Remus trocou de roupa, colocando uma calça jeans e um moletom bege com uma grande faixa branca, “grateful heart” escrito formando um coração no centro do blusão, ele agradecia Lily sempre que o vestia, era tão aconchegante quanto um abraço quentinho.

 

Pegou seu celular, carteira e chaves, saindo de casa e andando até o local, não era longe então decidiu apenas caminhar até lá, alguma trilha sonora de “The Greatest Showman” soando em seus fones de ouvido.

 

Assim que chegou, observou a fachada, possuía uma parede grande formada por vidro, que o permitia ver o interior da loja. Grandes letras blocadas com serifa escreviam “Beer&Coffee” no topo da fachada, alguns tijolos pintados de verde-água aparentes atrás das letras.

 

Ele tirou os fones e entrou no estabelecimento, uma música ambiente invadindo seus ouvidos junto com o calor do ambiente que, estava totalmente fechado e aconchegante o suficiente para separar o frio londrino daquele local. Algumas velas estavam cuidadosamente espalhadas e o aroma leve de café transpassava o local.

 

Decidiu então, ir pegar a fila para pedir uma bebida. Como o bom amante de chocolate que era, tinha decidido pedir um achocolatado grande e olhava o espaço, procurando algum lugar para ler e beber tranquilamente. Por sua visão periférica, viu que a fila havia andado e era sua vez de pedir, continuou olhando o espaço enquanto fazia o pedido.

 

— Boa tarde… vou querer um achocolatado grande por favor - Remus não olhou para o balcão, mas isso não impediu o atendente de olhar para ele, um sorriso surgindo no rosto alheio enquanto pegava o dinheiro estendido pelo mais alto

— Certo - ele anotou, sua voz era aveludada e gostosa de escutar, mas Lupin sentia conhecê-la de algum lugar… - gostou da decoração? Foi pensada por um amante de livros que adora beber enquanto lê.

 

Remus piscou algumas vezes, desviando o olhar da decoração para o homem em sua frente, determinado em descobrir de onde conhecia aquela voz, mas acabou se lembrando no momento que os olhos âmbar caíram no atendente.

 

Ele tinha o rosto angulado e uma pele clara, a blusa cinza de manga comprida demarcava seu corpo pequeno porém bem contornado, os cabelos negros presos em um meio-coque e a barba por fazer. E os olhos….

 

Lupin não queria admitir, mas sentia tanta falta daqueles olhos… Cinzas como uma manhã nublada em Londres, mas intensos como uma tempestade de verão, porém, agora, parecia estar diferente, não pareciam mais tão intensos como ele se lembrava mas algo a mais parecia se esconder atrás das íris coloridas.

 

Remus passou tempo demais decorando cada detalhe de Sirius durante o colegial (detalhes esses, que sua mente não deixou-o esquecer) para não reconhecer. Céus, ele reconheceria Black de olhos vendados, apenas tocando seu rosto.

 

E então, com tantas memórias o atingindo, finalmente sua mente decidiu dar o tiro final: lembrá-lo de seu último contato com Sirius, a mensagem sobre nunca mais procurá-lo e todo o tempo que precisou do moreno mas não o teve.

 

Sentiu suas mãos tremerem e suarem, sua respiração tornando-se ofegante e seus punhos abrindo e fechando, sentindo suas unhas curtas levemente tocarem sua palma e afastarem-se da derme, num ritmo rápido como se tentasse lembrar como se usava sua própria mão.

 

— Sirius? - ele murmurou, baixo demais para que algum leitor do local ouvisse, mas suficiente para que o moreno escutasse. O atendente franziu o cenho e tombou a cabeça para o lado, uma expressão confusa em seu rosto.

— Meu nome é Arcturus - ele disse num tom calmo, preocupado tentando entender a situação - o senhor está bem? Quer se-

 

Remus não escutou o fim da frase, apenas recuou alguns passos até esbarrar numa moça que entrava na loja antes de sair dali, parando na calçada, olhando a rua e tentando respirar melhor, fechando os olhos para organizar todo o caos de pensamentos que corria em sua consciência.

 

Sua consciência parecia conturbada como se ele fosse bombardeado por milhares de sentimentos ao mesmo tempo, ele não sabia o que fazer. Como Sirius poderia ter largado-o sem mais nem menos e agora, depois de tanto tempo, simplesmente aparecer daquele jeito? Ainda mentir para ele sobre seu nome de forma tão… simples? 

 

O momento confuso de Remus foi interrompido por um toque leve em seu ombro, os olhos âmbar levemente arregalados olhando o dono da mão em seu braço.

 

— Licença.. - A voz aveludada invadiu seus ouvidos novamente, deixando o coração de Lupin ainda mais abalado - o senhor está bem? Precisa de ajuda? - os dedos finos envolvendo seu ombro e no próximo momento, o mais alto desviava de seu toque como se estivesse o queimando. Arcturus recolheu a mão com um olhar preocupado, abrindo a boca para falar algo, mas Remus começou antes

 

— Não. - ele exclamou, se afastando e passando as mãos pelo rosto, respirando fundo - depois do que você fez… - ele negou com a cabeça, voltando a olhar o rosto alheio, que continuava numa expressão perdida, novamente, tentou falar mas foi interrompido - o que você ganhou durante todo esse tempo? Me deixando sozinho no pior momento da minha vida e então aparece, dois anos depois fingindo que não me conhece?! Que merda! - Remus esbravejou, olhando o atendente 

 - Olha… - o moreno disse franzindo as sobrancelhas grossas, as íris focadas na imagem de Lupin, respirou fundo e voltou a falar lentamente - não sei se você está me confundindo com alguém, ou sei lá o que, mas eu não faço ideia de quem você seja, e eu sinto muito pelo o que essa pessoa te fez - ele disse firme, estremecendo levemente após um vento frio passar por ali e sua blusa fina de manga comprida não o aqueceu. Arcturus então abraçou seu corpo, acenou com a cabeça para Remus e voltou para dentro do local.

 

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— Estou te dizendo, era ele - Lupin disse com seriedade pelo celular

— QUE DIABOS? QUEM COLOCOU A PIMENTA NO LUGAR DO SAL?! - ele afastou o celular da orelha, mas não podia reclamar, tinha ligado bem no horário que James estava trabalhando - você tem certeza?

— Tenho. Era a voz dele, o cabelo dele, os olhos dele - Remus disse suspirando. Sabia que se fechasse os olhos, conseguia ver a imagem do dia anterior. Ele ouviu o suspiro pesado de James

— E você quer fazer o que com essa informação? - Potter perguntou calmo, alguns ruídos soando no fundo da ligação - depois de gritar com ele, sei lá. Você vai voltar lá?

 

Aquela pergunta pegou Remus de surpresa, ele não fazia ideia do que faria. Claro que a vontade dele era ir até a livraria, abraçar o garoto e descobrir o por que do sumiço repentino.

 

Mas ele também tinha a parte confusa e raivosa, não fazia sentido Sirius sumir por tanto tempo e então, aparecer de novo fingindo não conhecê-lo, certo? Não fazia sentido algum. Conhecia o garoto e ele não era do tipo que fugia de um problema, o que causava várias brigas em casa e detenções na escola.

 

Também tinha a questão vergonhosa do momento. Remus estava tão atordoado no momento que se lembra de seu tom de voz aumentar e ele provavelmente ter parecido um maluco gritando no meio da rua. Pelos céus… como ele falaria com o moreno de novo depois daquele show?

 

Decidiu então, que já tinha perdido muito tempo de sua vida e todo o transtorno com sua mãe o ensinou a fazer as coisas que sente ser certo pois pode ser tarde demais. Depois de um banho rápido com músicas altas e cantorias para ajudar em sua coragem, Remus colocou uma calça moletom e uma blusa de lã por cima de sua camisa branca lisa, calçando seus tênis comuns e seus inseparáveis fones de ouvido.

 

Caminhou até lá e parou em frente, observando a fachada exatamente igual ao dia anterior e se aproximou para olhar pelas grandes vidraças, observando o local por dentro e varrendo-o com seus olhos. Suas íris caíram novamente no balcão, vendo Sirius, ou melhor, Arcturus rir de alguma coisa que o cliente havia lhe dito.

 

Droga, era lindo vê-lo sorrir.

 

Remus tinha voltado a ser um adolescente idiota e apaixonado.

 

Lembrou-se de quando tinha começado a gostar de Sirius, ele fazia parte de seu grupo de amigos, então passava boa parte do dia o olhando de longe, apreciando como adorava a forma que ele passava a mão pelo cabelo e piscava para as garotas, arrancando suspiros e sorrisos fáceis.

Por alguns meses, era dele quem Black roubava sorrisos fáceis e suspiros sonhadores.

 

Remus endireitou sua postura e respirou fundo, mas ao invés de se virar e entrar no estabelecimento, foi para o sentido contrário e voltou para casa.

 

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Foi assim por vários dias, ele se arrumava, ia até lá e quando via o garoto ali.... tudo ia abaixo.

 

Durante quase duas semanas ele fez o mesmo processo, até que em um dos dias, sua insônia o atormentou demais, o que ocasionou quase apenas 3 horas de sono, apenas fechou os olhos às 5 da manhã e acordou às 8. Mal olhou o relógio, se arrumou e novamente foi para o estabelecimento.

 

Remus chegou lá e ficou confuso ao ver as portas fechadas, checou o celular e era uma segunda feira… O que tinha acontecido?

 

Quando se virou e deu um passo para voltar para casa e tentar mais tarde, sentiu uma bebida gelada esparramar em sua roupa, o dando um arrepio pela temperatura baixa tão de repente.

 

— Oh! Eu sinto muito! - ele ouviu, aquela voz aveludada novamente invadindo seus ouvidos, enquanto ele assistia o moreno se abaixar para pegar seu copo e canudo de aço inox que voaram com o esbarrão. Ele se levantou rapidamente e usou o próprio moletom para tentar limpar a bagunça rosa que a blusa branca de Lupin havia virado

 

Espera… Sirius de moletom? A única vez que havia visto aquele milagre foi numa noite extremamente fria quando Black se entregou aos moletons quentes do (ex) namorado 

 

— Eu sou tão desastrado! - o moreno resmungou, negando com a cabeça e continuando a esfregar a blusa de Remus, que riu fraco pelo desespero do mais baixo, segurando o pulso fino, o rosto de Arcturus levantando-se para encarar Lupin

 

— Não tem problema, eu posso lavar - ele disse baixo, lutando contra a vontade de abraçar seu corpo magro - relaxa

— Deixa eu colocar para lavar na lavanderia da livraria, eu insisto - ele disse firme e antes que Remus falasse algo, o mais baixo o puxou até uma entrada lateral na fachada.

 

Lupin engoliu todo e qualquer nervosismo que passou por seu corpo em relação a Sirius e se deixou ser puxado até lá. 

 

Esse era um corredor mais rústico, os tijolos eram pintados de preto e apenas algumas lâmpadas iluminavam o local estreito. Deu uma olhada rápida no ambiente apertado e logo voltou a olhar Arcturus, o observando puxar sua mão e andar rapidamente até o fim do corredor.

 

— Okay, me dê sua blusa - o menor disse entrando num cômodo um pouco maior, contendo uma máquina de lavar e colocando sabão em pó ali, pegando o moletom assim que colocado em sua mão e o deixando dentro da máquina, a ligando e vendo o ciclo começar. Ele se virou e apoiou a lombar no tanque ao lado dali - então… você parece melhor desde a última vez que eu te vi - ele começou com um tom leve, testando o assunto e vendo se era seguro, Remus sentiu seu rosto esquentar

— Certo, estou melhor - Lupin deu um riso nervoso e envergonhado - desculpe pelo outro dia, foi… um momento com emoções demais - o garoto assentiu, compreensivo e estendeu sua mão 

— Arcturus Tonks - o moreno disse se apresentando, um sentimento esquisito passando pelo peito do mais alto

— Remus Lupin - eles apertaram as mãos e o moreno amarrou seus cabelos em um coque bagunçado - posso te fazer uma pergunta esquisita?

— Pode - Tonks disse rindo e franzindo as sobrancelhas 

— Você tem certeza que seu nome é esse? - Remus perguntou se arrependendo em seguida, mas não havia volta 

Arcturus franziu as sobrancelhas novamente, como se revirasse sua memória atrás de algum outro nome que um dia já fora chamado, mas então o sorriso doce voltou ao seu rosto e ele negou com a cabeça

— Tenho… Sou chamado assim desde que me lembro - ele encolheu os ombros e colocou as mãos nos bolsos do moletom

— Você não tem que abrir a livraria? - Remus perguntou lembrando-se da fachada ainda fechada do estabelecimento. Arcturus deu de ombros

— Não preciso, eu faço isso mais por hobby, mas hoje vou apenas usar o local para benefício próprio 

— Que egoísta - Lupin riu fraco e Finneas arqueou a sobrancelha

— Não é egoísta se você estiver lá comigo 

 

Remus não estava esperando aquilo. Definitivamente não, mas isso não impediu de sorrir tímido e sentir seu rosto esquentar.

 

— É, talvez você esteja certo - ele riu fraco e o sorriso no rosto do moreno aumentou - aceito

— Aceita uma taça de vinho? 

— São quase 9 da manhã

— E tem hora pra beber? 

 

Seja lá o que tenha acontecido ali, se aquele fosse realmente Sirius com um nome falso ou o que fosse, parecia que mesmo depois de tanto tempo, nada tinha mudado e Remus ainda estava apaixonado por Black.

 

Só faltava entender se ele realmente era Sirius.

 

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— E então meu irmão disse que não ia dormir porque ia ver o filme sozinho. Algumas horas depois ele me acorda todo enrolado na coberta com medo de dormir sozinho - a risada alta de Arcturus soava no local vazio da livraria enquanto os dois conversavam e tomavam vinho.

 

Apenas sentaram em um dos puffs ali e passaram horas conversando, rindo e de repente Remus não se sentia mais tão nervoso com a presença do moreno. Talvez fosse a bebida em seu organismo o deixando mais solto, mas estava sendo agradável ali.

 

Remus havia deslizado para sentar-se no chão e suas costas ficaram encostadas no objeto preenchido com pequenas bolinhas de isopor, já Finneas continuava sentado com suas pernas cruzadas perto do puff do mais alto, segurando sua taça.

 

— Nunca vi você por aqui… de onde você é? - o moreno perguntou e Lupin mordeu o interior de sua bochecha, as memórias o deixando confuso por um momento

— Sou daqui mesmo, nasci e cresci em Londres - ele respondeu calmo

 

Remus olhou para o garoto depois de finalizar sua bebida, o álcool deixando seu corpo quente e mais alegre que o normal. Olhava o moreno falar e algumas vezes se perdia em pensamentos analisando as características dele, seu cabelo estava amarrado ainda num coque bagunçado e, durante a conversa ele percebeu que o garoto tinha os fios da nuca raspados, mas não perguntou nada sobre aquilo, talvez fosse algum corte diferente. As bochechas rosadas pelo álcool dando um contraste com a pele clara e os olhos bonitos e brilhantes olhando diretamente para ele.

 

— Posso te perguntar uma coisa? - Arcturus perguntou deixando sua taça no chão 

— Fique a vontade

— Quando você me viu… há algumas semanas, você me chamou de Sirius… - o moreno começou calmamente - por que?

— Há alguns anos… eu namorei um garoto durante o nosso ensino médio… e nós tínhamos esse plano do futuro sobre casar e tal… mas um dia ele foi embora, sumiu e desapareceu. Ele se chamava Sirius, e a aparência dele era igual a sua, sem mudança nenhuma, quando eu te vi, pensei que fosse ele.

 

Finneas franziu as sobrancelhas e ficou quieto, um silêncio se instalando entre os dois. 

 

Remus o observou enquanto o tentava ler o pensamento alheio, obviamente, não conseguindo. Demorou alguns momentos para que algum dos dois decidisse se mover ou falar algo, o moreno se levantando rapidamente e recolhendo as taças.

 

— Está tarde, você deveria ir - ele disse deixando as taças na pia atrás do balcão. Remus se levantou, confuso e o seguindo com o olhar

— O que? - Remus perguntou confuso, eles estavam conversando e então estava sendo convidado a ir embora - foi algo que eu falei?

— Não, Remus, relaxe - o castanho disse calmo - mas já é quase 17 hora agora, você deveria ir almoçar

— Você também

— Eu vou pra casa, meu irmão deve estar preocupado - o acastanhado disse suspirando, terminando de lavar as taças e sorrindo fraco para Lupin - Pode vir aqui amanhã, prometo que estará aberto para você - ele piscou dando um sorrisinho

— Certo, posso pelo menos levar você até sua casa? Ou você poderia ir comer comigo em casa

— Quem sabe outro dia

 

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Aquele foi só o começo, mas não foi de todo ruim. Na verdade não tinha sido nada ruim, tinha conseguido conversar com o garoto sem parecer um maluco que só gritava. 

 

Remus reorganizou sua rotina e colocou ir ao Beer&Coffee como parte dela. Por que ele sentia que precisava ir lá todos os dias. Talvez fosse toda a questão com SIrius, ou melhor, Arcturus, ou talvez não, quem o julgaria não é mesmo?

 

Com essa nova rotina, ele e Arcturus começaram a se conhecer mais e, aos poucos Lupin conseguiu ir separando toda a questão de Sírius e, aos poucos, mudando de opinião.

 

Conforme saía com Finneas, ele percebia que realmente ele tinha alguns pontos parecidos com Sirius além da aparência, mas no geral, era como uma pessoa diferente.

 

Arcturus adorava ler, odiava sons muito altos, festas e às vezes tocava violão, além de não ser o exato fã de couro na maior parte do tempo, já que era muito apertado e um pouco desconfortável.

 

De vez em quando, Remus via seus pensamentos fluírem em algo como “e se Sirius realmente tivesse trocado seu nome mas aprendido a gostar (e desgostar) de algumas coisas?” mas então, desistia daquilo, era absurdo demais.

 

Encontros vão, encontros vem, Lupin e Finneas decidiram se encontrar fora da livraria, com algum tempo livre eles costumavam caminhar sem rumo antes de repararem a noite cair e decidirem voltar para casa.

 

Continuaram conversando e caminhando enquanto a noite caía sob Londres, assuntos leves e piadas perpetuavam o assunto, tal como livros e opiniões sobre determinados clássicos.

 

Quando passaram por uma rua mais movimentada, ouvia-se uma banda de rua tocando alguma música alta, Remus identificou o cover de “Bring me to Life” do Evanescence, gostava daquela música, mas quando olhou para Arcturus, viu o garoto andar mais rápido, as mãos tampando suas orelhas como se odiasse a música.

 

 - Achei que não gostasse de guitarra mas não sabia que era tanto - o mais alto comentou divertido, ainda sendo possível escutar a banda tocando alto

— Músicas altas me dão enxaquecas fortes - Finneas disse sério, seus cabelos antes amarrados de forma frouxa, caindo em seu rosto, Remus o olhou preocupado

 - Quer um remédio? Já foi ao médico ver isso? 

 - Meu irmão está terminando a faculdade de medicina, ele me ajuda com isso

 - Certo, vou te levar até lá então, onde vocês moram?

 - Não tão longe daqui - ele disse repentinamente ofegante, fazendo Lupin franzir as sobrancelhas para ele 

 - Você está bem?

 - Estou, vamos

 - Você não parece bem

 

O moreno não respondeu, apenas continuou a andar apressado, o que não deu muito certo já que a respiração ofegante dele o fez parar alguns passos depois e se apoiar na parede de uma loja qualquer, momentos antes de cair inconsciente nos braços de Remus, que o segurou paralizado.

Lá estava Remus de novo, encarando a parede branca de um hospital, esperando notícias. Tinha sido assim com sua mãe, agora estava sendo com Arcturus. Ele se perguntava quantas vezes teria que passar por aquele momento angustiante que era ficar num ambiente hospitalar.

 

— O que está fazendo aqui? - uma voz soou o tirando de seus pensamentos, e fazendo Lupin levantar o olhar do chão branco até a fonte de voz

— Regulus? - ele perguntou surpreso - o que você está fazendo aqui? - questionou igualmente 

— Não interessa - Black respondeu sério, o jaleco branco indicando que ele provavelmente estava em algum estágio ou aula laboratorial 

 

Antes que Remus respondesse, um outro médico apareceu, chamando-os para entrar e o mais velho questionou-se do porquê Regulus ser incluído ali mas não verbalizou seu questionamento, apenas andou até o quarto.

 

 - Ele está bem, apenas teve uma queda de pressão e em breve irá acordar - o médico disse calmo - apenas preciso lembrar que os exames neurais em breve devem ter feitos, não se esqueça, Regulus - ele finalizou olhando o mais novo e saiu

 - Exames neurais? São de rotina? - Remus perguntou preocupado e olhou o mais novo, que passou as mãos pelo rosto - Regulus o que está acontecendo?

 - Já aconteceu, não está acontecendo - ele resmungou olhando seriamente para o mais alto, que se sentou na cadeira - tudo começou um dia antes que ele começasse a faltar às aulas. Você conhecia nossos pais e como eles pegavam no pé dele por qualquer pequena coisa, mas aquele dia teve uma discussão que eu não estava lá quando começou e então nunca soube o motivo, eu estava estudando no meu quarto e então ouvi alguns gritos e o som de alguns vidros quebrando. Obviamente corri até lá e quando cheguei encontrei Sirius caído no que era o nosso armário de pradarias - ele contou, parando e suspirando enquanto olhava o garoto adormecido na maca - eu o tirei de lá e o levei até um hospital mais afastado para não precisarem chamar os responsáveis. Lá disseram que ele tinha sofrido uma concussão e que estava em coma, e assim ficou por alguns meses até que ele acordou. Só que ele não se lembrava de muita coisa, não lembrava do nome, de quem era ou quem conhecia, depois de tanto tempo meus pais se mudaram para a França e eu completei 18, então me tornei responsável por ele desde então. Como era um hospital pequeno, consegui pagar para eles trocarem o nome dele para Arcturus Finneas para no caso de eles voltarem atrás de nós, Arcturus é meu nome do meio e Finneas era um antigo primo nosso que sumiu no mundo - Black mordeu o interior de sua bochecha, observando Remus com uma expressão totalmente surpresa - vendi a antiga casa e usei o dinheiro para comprar uma outra casa, que inclusive é ao lado da sua, se não me engano, mas não faço ideia de como contar isso para ele, então eu venho ajudando ele com tudo isso.

 

Remus não sabia o que fazer. Não sabia o que pensar ou o que dizer, era como se todo o seu raciocínio lógico tivesse desaparecido de sua mente. 

 

Levou alguns momentos para que ele tivesse qualquer reação, apenas olhando o garoto na cama, porém Regulus continuou

 

 - Em alguns momentos, em casa, eu chamava ele de Sirius sem querer e ele estranhava, então eu o disse que era um apelido meu e dele apenas. Não sabia que ele poderia encontrar com um de vocês - ele explicou se referindo ao grupo de amigos do irmão

 - Mas… se ele estava em coma esse tempo todo, quem mandou a mensagem para mim? - Lupin questionou, curioso sobre o verdadeiro motivo de seu sofrimento por meses

— Fui eu. Mandei aquilo pra você pois eu sabia que era namorado dele e meus pais conheciam você, pensei que se um dia voltassem, procurariam por você ou algo do tipo, foi a melhor forma de escondê-lo que eu achei.

— Quando eu o vi pela primeira vez, chamei ele de Sirius e quando ele questionou, depois de eu explicar ele pareceu… atordoado - o mais alto franziu as sobrancelhas, sentindo sua perna balançar enquanto pensava

 - As vezes ele tem alguns flashes de memória - Black explicou - além de ser o nosso apelido entre eu e ele, teve algumas vezes que ele me perguntou sobre alguém que ele tinha desenhado e quando fui ver era você 

 

Puta que pariu.

 

Sirius não tinha esquecido dele, então? Como seriam dali para frente? 

 

— Eu posso tentar contar para ele - Remus disse baixo, pensando em como faria aquilo - explicar sobre como era antes e você explica sobre o que aconteceu - ele propôs, mas antes que Regulus falasse algo, uma voz baixa e rouca soou

— Explicar o que? - o garoto recém acordado murmurou, coçando os olhos calmamente - onde eu estou?

 - Está no hospital, Sirius. Remus trouxe você aqui depois que desmaiou - ele disse calmo acariciando o rosto do irmão enquanto Lupin observava - como você está?

— Estou bem… - o paciente murmurou olhando para o mais alto - sinto muito pela confusão

— Não tem problema - ambos deram um sorriso fraco

— Do que vocês estavam falando? O que iam explicar para mim? - ele questionou olhando os dois que se entreolharam e suspiraram

 

Regulus respirou fundo e então, juntos, eles contaram toda a verdade para o garoto que ouviu atentamente e ficou quieto olhando os lençóis brancos sem ter uma reação. Enquanto isso, assim que terminou, o Black mais novo teve que se retirar pois estavam chamando-o na área em que ele estagiava, ficando apenas Remus e Sirius.

 

 Lupin olhou para o garoto na maca e ele continuava encarando os lençóis em seu colo, os dedos finos entrelaçados. O mais alto tocou seu ombro, apertando levemente com um sorriso fraco

— Vou esperar lá fora, acho que você tem muita coisa pra pensar - ele disse baixo, se afastando da cama

— Espera - o moreno o chamou, fazendo-o parar e girar em seus calcanhares - posso te perguntar uma coisa? 

— Fique a vontade

— Como era? - o menor questionou, as sobrancelhas grossas franzidas em dúvida, pensando em como perguntar aquilo - Como era… a gente? - ele soou calmo, sem saber como se referir ao antigo relacionamento, Remus suspirou e sentou-se na maca ao lado dele

— Era… como um sonho - ele disse olhando para qualquer lugar, se lembrando das memórias que ele tentou sufocar durante os dois últimos anos - nós tínhamos como maior problema a sua família, que era muito tradicionalista. Então decidimos que seria algo meio escondido da escola e só nossos amigos saberiam, nós estávamos em uma banda com mais dois amigos, você me escrevia músicas e eu fazia o mesmo…

— Eu estava em uma banda? - o moreno perguntou surpreso e ouviu o riso alheio

— Estava, e você tocava guitarra

— Guitarra?

— Era uma banda indie rock

— Não acredito - a fala do moreno fez Remus rir mais um pouco, e seu riso provocou um sorriso do paciente 

— Acredite, você também era o garanhão da escola que usava jaquetas de couro, andava de moto e era a paixão de muitas garotas

— Céus… - o moreno riu, o rosto pálido sendo tingido por um tom carmesim enquanto ele o cobria - eu detesto couro, é tão apertado!

— Você ficava lindo de couro - Lupin disse e então percebeu o que havia dito, sendo sua vez de corar - e-eu… ah esquece - ele gaguejou

— Talvez eu tente voltar a usar 

 

Os dois ficaram sorrindo de forma boba por alguns instantes, antes do mais alto lembrar de algo importante

 

— Você não precisa responder agora, mas qual nome você prefere? - o garoto pensou um pouco por alguns minutos

— Eu gosto de Sirius… Não conte ao Reg, mas eu nunca adorei muito Arcturus Finneas - ele disse entortando os lábios e rindo, Remus riu também inclinando-se para frente por causa do riso.

 

E então, de repente, eles estavam se encarando. Perto demais, detalhes demais. E ambos estavam hipnotizados um pelo outro, novamente.

 

Sirius ofegou baixo como se voltasse à realidade e envolveu o rosto do mais alto com as mãos, o puxando para si até seus lábios se conectarem num beijo. Remus sentiu a emoção de estar beijando pela primeira vez. Era ele ali, Sirius, o beijando com as mãos envoltas em seu rosto como ele costumava fazer, as mãos grandes de Lupin repousando no pescoço do moreno, brincando com os fios macios.

 

Eles se separaram mas apenas para desconectarem seus lábios, suas testas encostadas e suas respirações se misturando.

 

— Do que você me chamava? - Sirius perguntou olhando as íris âmbar de perto - nós tínhamos… um apelido?

— Na última vez que eu te vi, você me chamou de lobinho por que eu era muito protetor e eu te chamei de estrelinha por causa do seu nome e como você gostava da atenção em você 

 

Black repentinamente se afastou, levantando a manga de sua blusa comprida até o cotovelo, expondo uma tatuagem em seu antebraço. Era o desenho da pata de um lobo, rodeado de pequenas estrelas, Remus se apaixonou por ele mais uma vez.

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Depois daquele momento, pareceu que tudo começou a melhorar.

 

Sirius teve alta naquela mesma noite e os três foram para casa juntos já que eram vizinhos e nem ao menos sabiam.

 

Todas as manhãs, Black batia na porta de Remus para perguntar sobre algo que eles costumavam saber e o mais alto não se importava em contar.

 

Isso ocorreu durante alguns dias, até que James apareceu preocupado dizendo que não tinha notícias do melhor amigo há alguns dias, mas então viu Sirius sentado no sofá e quase caiu de joelhos.

 

Naquele dia, Remus deixou que o próprio Sirius contasse sua história, do jeito dele e que se resolvesse com Potter. Contou a ele também que tinha desenhado o garoto em um de seus "flashes" de memória, James abraçou forte o mais baixo como tinha sentido falta de fazer.

 

Aos poucos, Black foi se reapresentando ao seu antigo grupo de amizade, Lily chorou vendo o garoto em sua frente mas deu um tapa em sua cabeça em seguida pelo caos que causou (se desculpando milhares de vezes depois de escutar a história dele), Marlene e Dorcas o abraçaram por quase cinco minutos cada uma e McKinon puxou seu cabelo apenas por querer zoá-lo como nos velhos tempos. Frank apareceu com sua namorada Alice e, mesmo com a garota ali, ele também se emocionou ao finalmente ver o moreno ali, mas negou qualquer um que afirmasse tê-lo visto chorar.

 

Após algumas semanas e todos conversando normalmente, decidiram marcar uma saída no parque com direito a fast-food para relembrarem suas saídas depois da escola.

 

 - O que está fazendo? - Remus chegou, vendo Sirius sentado na calçada, olhando a rua. Logo sentou-se ao lado do moreno e fez o mesmo 

 - Gosto de olhar a rua, é calmo - Black disse calmo, sentindo uma leve brisa bater em seu rosto - você ainda canta? Ou tem algo guardado da banda? - Lupin levou a mão até seu bolso, pegando o celular e mexendo nele rapidamente enquanto o olhar alheio o observava animadamente

 

Remus colocou para tocar o áudio da última música que ele gravara, na época da banda ele treinava sua voz, então gostava de apostar em notas mais altas, mas não se sentia totalmente seguro em tentar em shows e apresentações.

 

"Never Forget You" (Nunca vou te esquecer) tocava no celular e Sirius a escutava atentamente, prestando atenção na voz do garoto e na letra, ambos deitando-o arrepiado. 

 

A música falava sobre a falta que alguém fazia a Lupin e como ele tinha certeza que, na primeira vez que se viram, soube que amaria-o até seu último dia de vida.

 

Remus estava falando dele. Aquela música era para ele, para Black.

 

Ao fim da música, ambos se olharam, o coração de Sirius batendo forte no peito pela sensação de ter ouvido uma música escrita para ele, e Remus sentindo as batidas fortes dentro de seu peito na ansiedade da reação do garoto à música. 

 

— Ela é linda - ele disse sorrindo, e revirou seus bolsos atrás de algo - não sei exatamente como, mas de uns dias pra cá eu escrevi essa letra para você 

 

E então ele estendeu um papel amassado em sua perna para que ambos pudessem ler, a caligrafia rebuscada de Sirius escrevendo "On Purpose" no topo da página e, Lupin novamente sentiu borboletas no estômago ao ver como ele tinha retratado a repentina atração ao vê-lo na cafeteria a primeira vez e, como pareciam ter se apaixonado de propósito. 

 

— Continua talentoso, meu garoto - Remus disse baixo e emocionado, acariciando o rosto de Sirius

 

 - Você sabe que não importa quanto tempo leve, no fim sempre me terá no final

 

Black sorriu e os dois selaram os lábios devagar, aproveitando o momento em sua própria bolha onde não havia mais ninguém nem nada.

 

Apenas eles.