Glass Humans escrita por Douglastks52


Capítulo 9
Ela


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo que vai sair na data certa! Boa leitura!



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Andrew levantou-se da cama lentamente e com alguma dificuldade. Qualquer tipo de movimento causava-lhe dor, apesar desta ser bem inferior em comparação aos dias anteriores: 

—Talvez esteja na hora de procurar outro trabalho. 

Ele sentou na sua cadeira à frente do computador e com calma começou a fazer pesquisas na internet, priorizando trabalhos que não envolvessem grande esforço físico. Ele já tinha entendido que o seu corpo não estava preparado para tais. Depois de dezenas de minutos e várias ligações frustradas, ele decidiu desistir por enquanto. Andrew saiu do seu quarto, lavou o seu rosto e dirigiu-se para a cozinha na intenção de comer algo. 

Ele avistou uma figura desagradável, mas a sua fome era maior do que o seu desconforto, era tarde demais para voltar atrás de qualquer forma: 

—Boa tarde, Andrew, só acordou agora? -Perguntou o seu pai terminando de almoçar. 

—Sim. -Respondeu Andrew abrindo a geladeira. 

—Tanto tempo livre está te fazendo mal, quando as tuas aulas voltam? 

—Em dois meses. 

—Tempo demais que vocês jovens claramente não sabem utilizar. Saia mais de casa, ficar todo o tempo trancado no teu quarto não te trás nada de novo. 

Andrew até entendia que aquelas palavras tinham algum fundamento, mas não era como se ele tivesse amigos ou algum lugar para ir. Ele manteve-se calado, tirou um iogurte de dentro da geladeira e voltou quietamente para o seu quarto. Ele sabia que tinha tempo livre demais e estava à procura de soluções, mas não conseguia encontrá-las. Todos os anos era a mesma coisa, sobreviver durante as férias de verão era uma missão exaustiva. 

A sua vida durante o resto do ano era preenchida completamente pela escola, mas sempre que o verão chegava, ele não sabia o que fazer. Mas superando as expectativas dele, esse verão conseguiu ser ainda pior. O sabor amargo de ter falhado a um exame não saía da sua boca e qualquer tempo livre era arruinado pelas memórias do seu irmão. Entendendo que estar parado significava ficar insano, ele retornou ao seu computador e continuou à procura de trabalhos. 

Após mais algumas tentativas, alguém finalmente atendeu: 

—Boa tarde, meu nome é Andrew, eu estou ligando para saber sobre o trabalho que estava disponível no vosso website. -Disse ele acostumando-se ao nervosismo de fazer ligações. 

—Ah, sim, eu vou ser sincero contigo, Andrew, de momento não precisamos de ninguém, mas posso anotar o teu nome e contacto para te ligar caso uma oportunidade surja. -Respondeu a pessoa do outro lado da linha. 

—Sim, tudo bem. -Disse ele decepcionado. 

Aquilo já era melhor do que nada e ele ainda tinha algum dinheiro do seu último trabalho, com sorte ele seria chamado nas próximas semanas. Mas mesmo tendo uma perspectiva positiva sobre a situação, ele decidiu continuar procurando por alguma outra coisa até obter uma resposta. Novamente acabou por não conseguir nada. A possibilidade de pedir ajuda aos seus pais finalmente começou a passear pela sua cabeça, mesmo que ele preferisse evitá-la. 

Andrew acabou por adotar ler como um passatempo e desde o começo do verão já tinha lido alguns livros. Mas não era como se ele realmente estivesse aproveitando estes momentos. Até agora, as obras que ele tinha lido não pareciam ter alguma utilidade para o seu futuro, talvez apenas não tivesse achado um gênero literário que o satisfizesse. A sua mãe bateu à porta do seu quarto e ele entendeu que estava na hora do jantar. Desceu sem pressa até à cozinha, sentou-se à mesa, serviu-se e começou a comer. 

O seu pai e mãe conversavam sobre os mais variados assuntos, mas ele, com alguma dificuldade, conseguiu fazer a sua voz ser ouvida: 

—Eu estava procurando por trabalhos na internet, mas não estou conseguindo achar nada. -Expressou Andrew a sua vontade de uma forma bem ambígua. 

—Eu posso perguntar a conhecidos meus se você quiser. -Respondeu a sua mãe. 

—Isso ajudaria muito, mãe. -Respondeu Andrew. 

—Você acha que sequer tem as competências para manter um trabalho? -Perguntou Sérgio. 

—Eu vou tentar pelo menos. -Disse Andrew tentando terminar a sua refeição, afinal, ele já tinha atingido o seu objetivo e podia retornar ao seu quarto. 

Levantou-se, pôs o seu prato na pia, despediu-se e subiu as escadas de volta ao mais próximo que ele podia chamar de conforto. Algumas horas passaram-se e ele percebendo que os seus pais já dormiam, decidiu iniciar a sua típica caminhada noturna. Sem pensar muito nas consequências das suas ações, fumar havia se transformado em um hábito. Mas esse era o menor dos seus problemas. 

Aquilo trazia-lhe um estranho conforto e de alguma forma servia de recompensa para os seus longos dias. Andrew retornou à casa e conseguiu dormir após alguns minutos. Os seus sonhos foram interrompidos mais cedo do que o habitual com algumas batidas na sua porta, ele demorou alguns segundos para recuperar a consciência e entender o que estava acontecendo: 

—Sim...? -Perguntou ele ainda bastante sonolento. 

—Andrew? Eu falei com a Nora e ela disse que conseguia te arranjar trabalho em um restaurante aqui perto. -Explicou a sua mãe. 

—Ah...obrigado... -Respondeu ele voltando a dormir. 

Algumas horas mais tarde quando a sua sonolência decidiu finalmente deixá-lo, ele abriu os seus olhos e decidiu ir discutir com a sua mãe o assunto de mais cedo. Ela informou-o que tinha falado com a dona do restaurante e ela havia pedido que Andrew aparecesse lá amanhã para avaliar as suas habilidades. Os seus sentimentos acerca da situação eram confusos, ele estava feliz de ter achado um outro trabalho, mas um tanto nervoso por ter quase certeza que decepcionaria mais pessoas. 

Deixando as suas emoções de lado, mais uma manhã teve início e junto da sua mãe, ele foi até o tal restaurante. Logo no caminho as coisas pareciam estranhas, as ruas eram familiares e quando Andrew avistou o lugar onde ele havia trabalhado uma semana atrás, ele teve certeza de onde estava: 

—Calma...Eu já vim nesse restaurante antes... -Disse ele. 

—Claro que sim, já viemos jantar aqui algumas vezes com o seu pai. -Respondeu Laura. 

—Eu quis dizer recentemente, semana passada eu vim almoçar aqui. -Comentou ele. 

—Sim, é um lugar agradável e se eu não me engano a filha da Nora trabalha aqui, é por isso que ela deve ter conseguido te arranjar o trabalho. Então por favor faça o teu melhor... 

—Sim... -Suspirou Andrew. 

Eles rapidamente chegaram ao local e a memórias de ter adormecido na mesa retornou à sua mente. O lugar estava um pouco vazio, mas não deixava ter uma atmosfera receptiva. Eles caminharam em direção ao caixa e Andrew reconheceu aquela pessoa. Os seus cabelos pairavam a cima do seu uniforme de trabalho e a mistura de cores fazia a sua presença se destacar: 

—Bom dia, Charlote, esse é o meu filho, Andrew. Eu vim aqui trazê-lo para uma entrevista de emprego. -Disse a sua mãe explicando a situação. 

Ela pareceu surpresa em ver Andrew novamente, mas rapidamente retomou uma postura profissional: 

—Bom dia, a chefe está lá dentro, se vocês avisaram que vinham então não deve ter nenhum problema em entrarem. -Respondeu Charlote com um sorriso no rosto. 

—Muito obrigado.  

Aquela mulher entrou na zona que ficava por detrás do caixa sem muitas cortesias, praticamente arrastando Andrew que não sabia como agir e sentia-se bastante constrangido com a situação. Uma mulher de aparência mais velha e braços fortes cozinhava algo em um grande tacho metálico no que só podia ser a cozinha daquele restaurante: 

—Ah, vocês já estão aqui. -Disse ela um pouco surpresa. -Meu nome é Wanda, você deve ser a amiga da Nora e você...Andrew, não é mesmo? 

—Sim... 

Por algum motivo, Andrew sentia que estar perto da sua mãe fazia com que a sua habilidade de se expressar ficasse mais limitada do que o habitual: 

—Bom, eu acho que meu trabalho está feito. -Disse Laura. -Eu vou embora então, boa sorte e um bom dia de trabalho para vocês. 

Ela saiu tão rápido quanto tinha entrado e de um segundo para o outro, apenas Andrew e Wanda estavam naquele cômodo: 

—Nora não me deu muitos detalhes, mas você tem experiência de trabalho em restaurantes? 

—Não. -Respondeu Andrew diretamente. 

—Tudo bem, nada disso é muito complicado, hoje é um dia que não costuma ter muito movimento então vamos ter poucas pessoas trabalhando, aproveite isso para aprender a fazer um pouco de tudo, se não souber algo pergunte. -Explicou Wanda usando palavras carinhosas, mas uma postura rígida. -Entendeu? 

—Sim. 

—Tudo bem, vamos lá então, eu vou te ensinar algumas coisas. 

Andrew estava tendo que absorver uma quantidade muito grande de informações, mas isso era definitivamente mais fácil do que trabalho físico intenso. A sua timidez o impedia de fazer todas as perguntas que quisesse, mas o dia chegou ao fim sem grandes problemas. Charlote mostrou-se como uma pessoa bastante confiável, ajudando-o sempre que precisava, com uma postura muito positiva e tendo paciência para aceitar os seus erros. 

As portas do restaurante finalmente fecharam, apenas Wanda e um outro homem permaneceram lá dentro para preparar o necessário para o próximo dia. Andrew esticou os seus braços e observou o pôr do sol. O seu corpo estava exausto, mas a sua mente estava satisfeita: 

—Quem diria que o rapaz que tentou ir embora sem pagar iria começar a trabalhar no restaurante. -Sorriu Charlote se aproximando. 

As suas bochechas foram tingidas por um leve tom de vermelho enquanto ele percebia que Charlote ainda se lembrava daquilo: 

—Eu...estava bastante cansado aquele dia... 

—Acontece. Você mora aqui por perto?  

—Há uns cinco quilómetros daqui. -Respondeu Andrew. 

—A sua mãe vai vir te buscar? 

—Sim, mas ela está atrasada, acho que tenho que ligar-lhe. 

Charlote não respondeu e caminhou até o parque de estacionamento, alguns minutos mais tarde, ela voltou trazendo a sua bicicleta: 

—A sua mãe ainda não chegou? 

—Não, ainda não. 

Ela encostou a sua bicicleta à parede do restaurante e acendeu um cigarro: 

—Acho que vou te fazer companhia até ela chegar então. 

A imagem que Andrew tinha acerca da sua personalidade e aquela atitude colidiram, fazendo com que ele não conseguisse conter a sua surpresa: 

—Você fuma? 

Ela riu: 

—Eu pareço que não fumo? 

—Sim...você parecia alguém bem...responsável... 

—Os dois não são mutuamente exclusivos. -Respondeu ela achando aquela situação um tanto engraçada. 

Ele pensou um pouco e numa tentativa confusa de gerar assunto disse: 

—Eu também fumo... 

—Tudo bem...? -Riu ela novamente. 

—Não...eu quis dizer que... -Continuou ele tentando consertar a situação. 

—Está tudo bem. -Sorriu ela. -Eu entendi. 

Ela abriu o seu maço de cigarros e apontou-o na sua direção: 

—Suponho que você queira um? 

—Não era bem isso...mas se você está oferecendo, eu não vou recusar. -Respondeu ele. -Você pode me emprestar um isqueiro? 

Charlote estende a sua mão com um isqueiro: 

—O que era então? 

—Não sei se tinha uma intenção... -Responde ele aceitando o isqueiro e acendendo o seu cigarro. -Acho que só queria dizer que tínhamos algo em comum... 

—Entendi. -Respondeu ela com uma expressão séria. -Mas você devia carregar sempre um isqueiro com você. 

—Eu não esperava fumar hoje...mas porquê? 

—Existe uma hierarquia dentro do mundo das pessoas que fumam, coisas como não fumar um cigarro até o filtro ou não ter um isqueiro te fazem perder pontos. 

—Sério? -Pergunta Andrew bastante chocado com aquela informação. 

—Claro que não! -Ri Charlote. -Você realmente acreditou naquilo? Não pode ser... 

—Eu não sei...você deve fumar há mais tempo do que eu e você estava com uma expressão super séria! 

Charlote continua a rir: 

—Não, era só uma brincadeira. -Ela muda a sua expressão descontraída para um olhar preocupado enquanto aponta para longe. -Aquela não é a tua mãe? 

Andrew imediatamente jogou o seu cigarro no chão, estremeceu os seus ombros e arregalou os seus olhos enquanto procurava-a: 

—Onde? 

Charlote riu como se estivesse tendo o melhor momento da sua vida e parecia que ela nunca fosse parar. Andrew demorou alguns segundos para entender a situação, mas quando a verdade finalmente atingiu o seu cérebro, as suas bochechas coraram e ele virou o seu rosto para longe: 

—Ah, agora acho que é ela mesmo... -Disse Charlote limpando as lágrimas que tinha de tanto ter rido. -Bem, com sorte, se a chefe gostou de você, devemos nos ver de novo. 

—Não sei se é sorte ou azar... -Diz Andrew ainda envergonhado. 

—Não fique triste, vou implicar menos com você daqui em diante. -Afirma ela pegando na sua bicicleta. -Bem, adeusinho! 

—Tchau... 

A mãe de Andrew estaciona o carro e ele entra depois de abrir a porta: 

—Como foi o dia? 

—Bastante melhor do que eu esperava, todos foram gentis comigo. 

—Acha que vai ficar com o emprego? 

—Acho que sim. 

—Tudo bem, isso é bastante bom. Você falou com a Charlote? 

—Sim, ela é...uma boa pessoa...apesar de ter um senso de humor estranho... 

—Ela é uma menina bastante madura para idade dela. Charlote também estuda na mesma escola que você. 

—Sério? -Perguntou Andrew. -Nunca tinha a visto por lá... 

—Acho que ela é um ano mais velha que você, talvez seja por isso. -Respondeu Laura. -De qualquer forma, vamos para casa, já estou tendo boas ideias para o jantar.  


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Notas finais do capítulo

Finalmente vemos um pouco mais da personalidade de Charlote! Andrew aparentemente conseguiu um emprego fixo, como será que as coisas vão progredir?



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