Glass Humans escrita por Douglastks52


Capítulo 3
Perturbação


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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—Não foi nada demais para ser sincero. -Explicou Andrew. -Estava na escola, me senti meio tonto, acabei por vomitar e desmaiei. Mas está tudo bem comigo, o doutor disse que provavelmente foi só o calor. 

Matthew exalou fumaça mais uma vez pela janela: 

—Isso tudo parece um pouco estranho. Não faz muito sentido ter sido só o sol. Você estava dentro da escola, a temperatura lá dentro nem é tão alta assim. E se fosse o calor, teria sido algo gradual, você não teria simplesmente desmaiado de um segundo para o outro. 

—Onde você está querendo chegar? -Perguntou Andrew. 

—Sei lá, só estou tentando entender o que realmente aconteceu porque estou preocupado com você. -Respondeu Matthew. -Onde você estava quando desmaiou? 

—Estava indo para a minha próxima aula, quando eu tentei abrir a porta, tudo começou a girar a minha volta. 

Matthew exalou mais uma vez fumaça pela sua janela e apagou o seu cigarro: 

—Bem estranho mesmo. -Disse ele sentando-se a uma cadeira próxima de Andrew. -Mas já que você está aqui, vamos aproveitar essa oportunidade para conversar. 

Aquele jovem começou a aproximar-se ainda mais com um sorriso estranho no seu rosto: 

—Você está me assustando... -Falou Andrew se afastando. 

—E as namoradinhas? -Riu Matthew. 

—Não comece com essas conversas estranhas. Você sabe que eu não tenho uma. 

Matthew recuou um pouco: 

—Duvido que você se importe também, você é muito focado nos teus estudos.  

—É o que precisa ser feito, tenho metas a atingir.  

—De certa forma, eu te admiro por causa dessa atitude. -Sorriu Matthew. 

—Me admirar? Porquê? 

—Porque você consegue lidar com toda a pressão dos nossos pais e continuar se esforçando. 

—Para mim é totalmente o contrário. -Retrucou Andrew. -Eu te admiro por fazer aquilo que quer sem se preocupar com a opinião dos outros. Eu não sei o que fazer quando as pessoas me julgam com o olhar.  

Matthew riu enquanto colocava a mão na cabeça do seu irmão e bagunçava os seus curtos cabelos negros: 

—O que é engraçado? -Perguntou Andrew tentando parar a mão do seu irmão. 

—A vida. -Respondeu ele sorrindo. -É bom podermos aproveitar esses momentos por enquanto, em breve, eu devo sair de casa. O nosso pai talvez não vai deixar você me visitar e eu não sei se vou voltar aqui tão cedo então devemos ficar algum tempo sem nos vermos. 

—Você realmente vai? -Perguntou Andrew um pouco receoso. 

—Já estava na hora, né? Já tenho quase vinte e três anos e mesmo não gostando, ainda moro na casa dos meus pais. É um pouco vergonhoso. Mesmo que eles não acreditem, eu agradeço a tudo o que eles me deram. Mas eu quero viver a minha vida do meu jeito e perto deles, eu sei que não vou ser capaz de fazer isso. 

—Entendo... -Respondeu Andrew meio cabisbaixo. -Mas e dinheiro? Está conseguindo ganhar algum dinheiro com a tua banda? 

—A música é o meu sonho, mas por enquanto eu não consigo me sustentar com ela. Eu estive trabalhando em vários lugares, juntando dinheiro e pretendo continuar fazendo o mesmo. Eu vou dividir uma casa com o resto do pessoal da banda.  

—Eu já consigo imaginar... a vossa casa completamente bagunçada e vocês sobrevivendo a base de comida enlatada... 

—A parte triste é que você está certo. -Riu Matthew. -Somos um bando de desajustados, mas eu tenho certeza que vai ser divertido.  

Matthew levantou-se e abriu a porta do seu quarto: 

—Foi bom falar com você, mas eu sei que você tem que estudar e eu também preciso fazer as minhas coisas. 

Andrew levantou-se e caminhou para fora: 

—Até a próxima então. 

—Ah, uma coisa, podia devolver a borracha, por favor? É a única que eu tenho... 

Andrew riu, caminhou até a porta do seu quarto e fechou a porta: 

—Eu gostava daquela borracha... -Suspirou Matthew.  

Mesmo tendo perdido algum tempo, Andrew sentia-se verdadeiramente feliz em ter esses momentos com o seu irmão. Ele retornou à sua mesa e concentrou-se nos seus estudos até a hora do jantar. A sua mãe chamou-o como sempre e ele dirigiu-se para a cozinha. Sem Matthew, o clima daquele lugar era bastante pesado. O seu pai e a sua mãe perguntaram-no se ele se sentia melhor e ele apenas respondeu que sim. 

Andrew tentava comer o mais rápido possível para regressar ao seu quarto e dar continuidade ao que fazia antes. Enquanto isso os seus pais conversavam sobre acontecimentos recentes: 

—Andrew, lembra daquela menina que uma vez veio aqui em casa? A filha da Nora? -Disse Laura. 

—Sim... -Respondeu ele sem prestar muita atenção na conversa. 

—Eu não sei o que aconteceu exatamente, mas pouco tempo atrás a Nora encontrou-a inconsciente e ensanguentada na banheira. -Continuou ela. -Ela foi levada ao hospital e agora já está melhor, mas a Nora estava bastante abatida. 

O outro homem na mesa imediatamente suspirou com desgosto: 

—É difícil para mim ver a próxima geração de adultos desistir tão facilmente assim, me deixa um pouco apreensivo acerca da sociedade que estes jovens criarão. 

—Não podemos chegar imediatamente nessa conclusão, Sérgio, a vida da Nora e da sua filha não foi nenhum mar de rosas.  

Sem interesse no que era discutido, Andrew apenas pediu licença, levantou-se e começou a caminhar em direção ao seu quarto. Os seus pais desejaram-lhe boa sorte e ele mergulhou mais uma vez naquilo até adormecer. O jovem acordou um pouco mais cedo do que o normal. Ele levantou-se e decidiu tomar um banho. Andrew saiu do seu quarto e seguiu até o fim corredor, passando pelos quartos dos outros membros da sua família e as escadas que levavam ao térreo. 

À sua esquerda havia o banheiro que apenas ele e o seu irmão usavam já que o quarto dos seus pais era uma suíte. Era um cómodo pequeno e simples, à direita havia uma pia com um espelho por cima e um vaso sanitário. Na frente da pia ficava dois pequenos armários com toalhas e produtos de higiene. E no fundo existia uma porta de vidro que dava acesso ao chuveiro. Andrew despe-se, liga a água e começa a tomar banho. 

Ainda molhado, ele pisa em cima de um tapete no chão e começa a procurar por uma toalha. Enquanto se seca, os seus olhos acabam por encontrar o espelho. Um jovem de dezesseis anos de pele escura e olhos negros. O seu cabelo negro se fosse mais longo talvez ficasse encaracolado, mas com aquele tamanho não era possível saber. O seu corpo é magro e a sua altura é normal para a sua idade. Mesmo sozinho, os seus olhos parecem carregar alguma hesitação. Ele coloca novamente os seus óculos e caminha para fora do banheiro. 

Andrew retira uma calça de moletom cinza, uma cueca com uma estampa infantil, uma camiseta azul com padrões branco e um casaco vermelho com zíper e touca. Ele não estava atrasado e sentia-se menos cansado do que o habitual, o dia tinha começado bem. Mas a sua pequena felicidade ficou por aí. Na sua primeira aula, ele foi obrigado a fazer um trabalho em grupo, uma das atividades em que ele se sentia menos confortável. As suas capacidades de interação social medíocres faziam os seus trabalhos em grupo nunca serem acima da média. 

Grupos eram lentamente formados e por alguma razão desconhecida, Renato, um aluno da turma, decidiu convidar Andrew. Se recusasse, ele acabaria por ter que formar um grupo com as outras pessoas que haviam sido excluídas, o que verdadeiramente não era uma boa ideia. Ele respirou fundo, tentou forçar um sorriso e respondeu: 

—S-sim...eu aceito. 

—Perfeito então! -Disse Renato puxando uma cadeira e sentando-se perto de Andrew. 

Ele tinha pele clara, olhos azuis e curtos cabelos castanhos penteados com gel. Renato usava calças jeans azul escuro com uma camiseta de manga cumprida branca. Ao lado dele senta-se uma menina morena com longos cabelos negros encaracolados que usa calças jeans azul escuro rasgadas, uma camiseta preta e uma camisa xadrez por cima: 

—Essa é Aline. -Comenta Renato. 

—Olá, Aline... -Responde Andrew percebendo que mesmo estando há vários meses nessa turma ainda não sabe o nome das outras pessoas. 

—Olá. -Responde ela brevemente. 

Na frente de Andrew senta-se outra jovem, esta tem tom de pele claro, mas um pouco mais acentuado do que Renato e usa calças jeans com uma camisa branca e um sobretudo castanho: 

—E eu sou Daniela, prazer em te conhecer. 

—Olá, Daniela... -Diz Andrew bastante inquieto. 

—Já agora, qual é o teu nome? -Pergunta ela. 

—Andrew.  

O resto do grupo parece prestar atenção dando a entender que nenhum deles sabia o nome de Andrew: 

—Andrew...tudo bem. -Repete ela. 

A data limite de entrega do trabalho estava há um mês de distância por isso todos trabalhavam com alguma calma. Daniela parecia ter alguma habilidade em coordenar e liderar grupos, enquanto Andrew, mesmo que com muitas dificuldades, fazia o seu melhor para contribuir para o trabalho. 

Apesar das suas expectativas negativas, até o momento tudo estava indo bem. E assim, mais um dia de aulas chegou ao fim. Andrew retornou à casa e prosseguiu os seus estudos, apenas fazendo algumas alterações no seu calendário de modo a incluir o trabalho de grupo.  

Vários dias passaram-se sem nenhum acontecimento significativo e a data de entrega do trabalho começou a aproximar-se. Andrew achava que seria melhor começar a fazer o trabalho o quanto antes. Então após vários dias de tentativas falhadas, ele conseguiu fazer a sua voz ser ouvida e o seu grupo marcou de se reunir após as aulas na biblioteca: 

—Então...alguma ideia de como podemos fazer o trabalho? -Pergunta Renato girando uma caneta na sua mão. 

—O objetivo do trabalho é analisar um ecossistema e descrever as interações entre os diferentes seres vivos que existem lá, não é? -Diz Daniela. -Então porque não estudamos aquele lago que tem aqui perto da escola? 

—Eu li em algum lugar que existem um monte de bactérias nas nossas bocas então isso deve contar como um ecossistema. -Interfere Renato. -Porque não fazemos o nosso trabalho sobre a boca humana? 

—Isso era nojento, Renato. -Critica Aline. 

Andrew respira fundo, se prepara mentalmente durante alguns segundos e participa na conversa: 

—Eu...acho que a ideia da Daniela é boa... 

—Temos duas pessoas a favor da minha ideia então. -Afirma Daniela. -Alguém tem alguma outra ideia? 

—Hmnnn, porque não fazemos sobre a lua? -Sorri Renato. 

—Se você não vai dar ideias de verdade, por favor, não diga nada. -Comenta Aline. 

Renato a abraça: 

—Eu estou tentando ajudar não seja má comigo. 

—Sim... -Suspira Aline. -Tudo bem... 

—Vou assumir que ficamos com a minha ideia então. -Continua Daniela. -Vocês querem dividir o trabalho como? 

—Eu prefiro fazer alguma coisa que envolva atividade física, não sou muito bom com essas coisas de estudar. -Responde Renato. 

—O mesmo para mim. -Adiciona Aline. 

Andrew mantem-se calado com vergonha de responder até que Daniela foca a sua atenção nele: 

—E você, Andrew? 

—Ah...eu...qualquer coisa está boa para mim... 

—Tudo bem... -Responde ela pensando durante algum tempo. -Minha proposta é: Renato e Aline, vocês vão ao lago e exploram aquela área. Tiram fotos dos animais e plantas que acharem. Eu vou pesquisar na internet e reunir toda a informação que achar necessária. E você, Andrew, faz o PowerPoint que vamos usar para a apresentação do trabalho. O que acham? 

—Por mim tudo bem. -Responde Renato. 

—Para mim também. -Diz Aline. 

—Igualmente. -Acrescenta Andrew. 

—Tudo bem, eu acho que isso era tudo o que precisávamos fazer por hoje. -Diz Daniela tirando um caderno da sua mochila e anotando o que foi discutido. Ela em seguida olha na direção de Renato e Aline. -Tentem não começar o trabalho muito tarde, por favor. 

O seu aviso parece ter sido ignorado já que os dois discutem sobre um assunto completamente diferente: 

—Fofa, você quer ir almoçar no Mcdonalds? 

—Eu comi lá recentemente, não sei se quero. -Responde Aline. 

—Então que tal Burguer King? Posso pedir para o meu pai levar-nos lá. 

Ela aproxima-se dele e beija a sua bochecha: 

—Yey, isso é uma boa sugestão. 

Os dois levantam-se e caminham na direção da saída. Andrew permanece sentado sem saber o que fazer enquanto Daniela faz algumas anotações. Ela termina de escrever o que queria, guarda o seu caderno e também se levanta: 

—Bem, eu também vou embora. Até a próxima, Andrew. 

—Tchau... 

Andrew não entende porque ainda continua sentado e finalmente levanta-se. Ele definitivamente não teria sido capaz de lidar com aquela situação se Daniela não estivesse lá, mas com as coisas progredindo numa boa direção, ele podia pelo menos descansar a sua mente. Andrew retorna para casa e percebendo que tem algum tempo livre decide adiantar o que consegue do trabalho. Uma semana mais tarde, após o fim das suas aulas do dia, ele esperava o ónibus passar quando é abordado por uma figura conhecida: 

—Olha, que bom te encontrar por aqui. -Diz Renato aproximando-se com Aline. -Cara, eu realmente precisava falar contigo. Meu pai está tendo uns problemas no trabalho dele então eu estou indo ajudá-lo depois da escola. Isso me deixou bastante sem tempo, você não acha que conseguia ir adiantando a minha parte e a parte da Aline do trabalho? 

Andrew conseguia entender como isso podia ser uma justificativa para Renato não ter tempo de fazer a sua parte, mas a parte de Aline não parecia ter envolvimento algum com aquela situação. Ele permanece calado enquanto tenta pensar numa resposta: 

—Você consegue fazer isso para mim? -Pergunta Renato de novo. 

—Mas...porque também a parte da Aline? 

—Ela também está ocupada ajudando a mãe dela no trabalho, sabe como é, as coisas são complicadas. -Continua Renato. -Mas pelo o que eu ouvi outras pessoas dizerem você é inteligente, não deve ser muito trabalhoso para você. 

Andrew não consegue transmitir o seu desconforto em palavras: 

—É só durante essa semana, depois disso eu faço o resto. 

—Tudo...bem... -Cede ele. 

—Muito obrigado! Você não tem noção de como isso ajuda. -Diz Renato seguindo o seu caminho. -A gente se vê por aí. 

Andrew suspira decepcionado consigo mesmo e com Renato: 

—Devo ter algum tempo livre para conseguir fazer isso... 


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Notas finais do capítulo

Um trabalho de grupo? E Andrew tem que lidar com outras pessoas sendo folgadas? Como será que isso vai se desenrolar?



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