CHEER UP escrita por violet hood


Capítulo 1
U: cheer up, baby


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou aparecendo toda a semana do Pride com uma fic nova, e dessa vez minha primeira Dorlene ♥
Esse foi também o primeiro plot que pensei para escrever nesse Pride, queria escrever líderes de torcida rivais, mas não sabia muito como esse história iria acontecer. Porém, assisti um documentário na Netflix chamado Cheer que me deixou bem inspirada e terminei essa fanfic tem um tempinho já. Fui líder de torcida por um breve tempo, mas amei relembrar algumas coisas que vivi enquanto escrevia ♥
Mais uma vez obrigada todo mundo que está participando do Pride, em especial Trice por betar essa fanfic e Callie por fazer uma capa perfeita (espero que o dia que publicar um livro ele tenha uma capa tão linda assim!!)

Pequeno dicionário de Cheerleading:
Rotina - Tudo que acontece na apresentação do cheer (a junção de todos os movimentos)
flyer - a pessoa que fica sendo levantadas
all-star - times que não estão vinculados com instituição de ensino
tumblings - mortais, estelinhas e coisas assim feitas no chão
stunt - consiste nas laterais, flyer e traseira (normalmente duas laterais, e uma traseira, mas tb pode ser só uma pessoa na base ou ter uma frontal)
basket - basicamente jogar a pessoa pra cima kkkk

E aqui como imagino a apresentação do time de Hogwarts: https://www.youtube.com/watch?v=RJYbqDFlexk



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802879/chapter/1

1 MÊS ANTES DO CAMPEONATO NACIONAL

 

Marlene McKinnon nasceu para ser uma líder de torcida.

E ela sabia disso desde criança quando assistiu sua primeira competição na televisão. Estava zapeando pelos canais, sem nada melhor para fazer, quando parou em um canal amador de esportes. E, no momento em que viu aquelas meninas e meninos voando no ar, Marlene soube que aquele era o seu sonho.

Por isso dedicou toda a sua vida a ser uma líder de torcida, participou de times All-Star desde criança e, até mesmo, escolheu que faculdade queria entrar por conta disso. Hogwarts era conhecida por ter um dos melhores times da Inglaterra, e Marlene havia feito de tudo para estar ali — o diploma em administração ficava em segundo plano. E os dois primeiros anos de Marlene em Hogwarts tinham sido perfeitos, o time ganhou por dois anos consecutivos o Campeonato Nacional, mas Marlene queria que eles ganhassem por todos os quatro anos que ela estaria no time.

Contudo, Beauxbatons havia acontecido. E, no seu terceiro ano, Marlene havia perdido seu troféu para um time que no ano anterior não conseguia nem completar a rotina sem que alguém errasse e, à vista disso, sempre levavam o último lugar. Mas, então, no curto tempo de um ano eles haviam arranjado uma nova treinadora, Olympe Maxime, além de novos atletas, que ninguém imaginou que pudessem estar estudando em Beauxbatons. A faculdade tinha ido de último para primeiro lugar, e tirado Hogwarts do pódio, fazendo com que Marlene precisasse passar o restante do ano escutando todo mundo comentar como Beauxbatons havia feito o impossível, e como a era de Hogwarts chegara ao fim.

Entretanto, Marlene não deixaria aquilo acontecer. Sua vida era o Cheerleading, e ela não perderia no seu último ano para ninguém, muito menos para Beauxbatons. E principalmente não perderia para Dorcas Meadowes.

Dorcas era uma das novas atletas, uma flyer que havia treinado por muito pouco tempo, e todos diziam que ela tinha um talento natural para o esporte. E claro que sempre a comparavam com Marlene, que treinava como flyer praticamente a vida toda.

Marlene achava aquela comparação extremamente ofensiva e, por isso, havia feito questão de fazer Dorcas Meadowes a sua maior inimiga.

— Lene, você está muito tensa — comentou Lily Evans enquanto ajudava Marlene a se alongar, pressionando seu corpo para baixo.

— É nossa última competição, Lily — disse séria. — Não sei como você não está nervosa.

Marlene voltou para sua posição normal sentada no tatame, e Lily se sentou do lado dela.

— É claro que estou nervosa — recrutou a ruiva. — Mas também estou animada. É nossa última competição — repetiu com um tom mais animado. — Também é para ser divertido.

Marlene revirou os olhos.

— Não vai ser nenhum pouco divertido se a gente perder para Beauxbatons de novo.

Antes que Lily pudesse retrucar, a técnica do time, McGonagall, bateu palmas chamando a atenção de todos.

— Vamos tentar mais uma vez da pirâmide! — mandou. — Vocês precisam fazer direito, falta um mês para o campeonato.

Marlene e Lily foram até as suas posições no centro do tatame. E, quando o treino chegou ao fim, Marlene não estava nem um pouco satisfeita. Eles não conseguiram acertar nenhuma vez a rotina inteira, sabia que aquela era a rotina mais difícil que já havia feito, mas, ainda assim, precisava que estivesse tudo perfeito em um mês.

McGonagall também parecia bem frustrada, entretanto fora o melhor que conseguiriam naquela sexta-feira.

— Você precisa relaxar — comentou Lily para Marlene enquanto elas juntavam suas coisas. — E nem vem com essa de “não posso relaxar um mês antes do campeonato”, você sabe que precisa relaxar mais se quiser fazer isso direito.

Marlene sabia que Lily estava certa, ela andava estressada demais, o que resultava nela desequilibrando como nunca havia acontecido antes. Até mesmo tinha caído em cima do pobre Remus Lupin, que por sorte não quebrou o nariz.

Contudo, Marlene não sabia o que fazer para descontrair. Ela não era a pessoa mais relaxada do mundo, não conseguia ter foco para ler um livro ou assistir um filme, sua cabeça passava o dia inteiro pensando na mesma coisa: Cheerleading.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Lily sugeriu:

— Pode ir comigo para o Três Vassouras hoje, metade do time vai também.

Marlene se controlou para dizer que não entendia como um time que nem conseguia completar a pirâmide sem acidentes, poderia estar passando a sexta-feira bebendo em um bar com a consciência tranquila. Porém, ela sabia que tinha um limite para até quando Lily aguentaria seu mau humor e, Marlene não queria irritar uma das poucas amigas que possuía.

— Não sei se é a melhor distração para mim — disse, por fim.

Lily fez um bico.

— Vai, Marlene — insistiu. — A gente quase nunca sai juntas.

Marlene realmente não queria ir em um bar cheio de jovens adultos bêbados, além disso seu corpo estava completamente dolorido após o treino, ela só queria poder se deitar em sua cama e dormir até o dia seguinte. Mas Lily continuava a encarando com aqueles olhos verdes pidões e irritantes e, Marlene sabia que era uma péssima amiga, também uma péssima colega de quarto. Às vezes ficava dias sem dirigir mais de duas palavras com Lily, porque estava muito focada em seus treinos para conversar.

Decidiu que talvez pudesse ficar por pelo menos uma hora, depois inventaria uma desculpa para ir embora, ou sairia sem que Lily notasse.

— Tudo bem — aceitou fazendo com que a outra flyer pulasse de felicidade.

***

O Três Vassouras estava do mesmo jeito que Marlene se recordava da última vez que esteve lá, mais de um ano atrás. Lotado, escuro, barulhento e com cheiro de maconha. Porém, isso não impediu Lily de guiar Marlene pelo bar até uma mesa nos fundos.

As duas tinham voltado para o dormitório para tomar um banho e se arrumar, Lily vestiu um cropped vermelho, uma calça escura apertada e caprichou na maquiagem. Já Marlene, apenas vestiu uma blusa branca sem estampa e uma calça jeans que sempre usava para ir às aulas, não usava tanta maquiagem como Lily. Mas a colega de quarto havia feito questão de passar um pouco de batom rosa nos lábios dela, porque Marlene parecia um zumbi do jeito que estava, palavras de Lily.

O destino das duas era uma junção de várias mesas no fundo do bar, com uma parte das pessoas do time como: Remus Lupin, Emmeline Vance, Mary Mcdonald, Fabian e Gideon Prewett. E alguns outros amigos do time que Marlene não conhecia bem, tirando o namorado de Lily, James Potter, e o ex-namorado dela, Sirius Black.

Sirius e Marlene namoraram por um ano, com certeza o relacionamento mais longo que Marlene já teve. Ela não era muito boa em focar em relacionamentos, Sirius gostava de dizer — como brincadeira ou não —, que Marlene namorava o esporte e não ele, ou que o estava traindo com o Cheerleading.

Quando Sirius finalmente terminou, cansado de namorar alguém que não tinha tempo ou paciência para vê-lo, ele disse que nunca mais namoraria um líder de torcida. E, seis meses depois, ele estava namorando Remus Lupin. O que fazia Marlene pensar que o problema não era ser líder de torcida e, sim, ela. Porém, também não se importava o bastante para ficar magoada, relacionamentos nunca foram sua prioridade e ela só havia começado a namorar Sirius, porque ele estava interessado nela.

O relacionamento passado não importava mais para nenhum dos dois, agora mantinham uma amizade estável. Sempre conversavam quando se viam, no entanto, não tinha aquela obrigação de antes de terem que se encontrar todos os dias.

— É isso mesmo o que eu estou vendo? — questionou Sirius enquanto as duas garotas se aproximavam. — Marlene McKinnon em algum lugar que não seja o dormitório ou um ginásio?

Marlene revirou os olhos, por mais que fosse amiga de Sirius, não era muito fã dele fazendo piadas com ela. Todos fizeram caras exageradas de surpresa, como se nunca tivessem visto Marlene em outro lugar e ela já estava arrependida de ter aceitado sair.

— Ei! — exclamou Lily fingindo estar séria. — Não exagerem ou Marlene nunca mais vai concordar em sair.

Marlene sabia que nunca mais concordaria em pisar os pés no Três Vassouras, mas preferiu não dizer aquilo em voz alta. O grupo retornou para a conversa que estavam anteriormente, e Lily foi beijar o namorado, Marlene fez uma careta com a cena.

Sirius apareceu do lado dela bebendo em uma garrafa de cerveja.

— Soube que tentou danificar o lindo rosto do meu namorado hoje — comentou. — Você precisa me superar, Lene.

Tanto Remus quanto Marlene reviraram os olhos com a piada.

— Nem foi tão ruim — disse Gideon do lado deles. — Aquela vez que Emmeline desequilibrou e quebrou o nariz do Remus foi muito pior.

Remus fez uma careta com a lembrança.

— Meu olfato não funciona do mesmo jeito desde então.

Eles começaram a falar de acidentes no Cheerleading, o que era um assunto que Marlene entendia bem, já havia sofrido mais de uma concussão em seus anos no esporte, além de ter machucado aparentemente toda a parte do seu corpo. Todavia, logo o assunto mudou para as aulas da faculdade e quem estava saindo com quem, Marlene não tinha muito o que falar sobre isso.

No fim, decidiu que talvez pudesse ir pegar uma cerveja. Dirigiu-se para o bar fazendo o seu pedido e, assim que estava com a cerveja em mãos, não quis voltar tão cedo para aquela conversa. Resolveu que merecia alguns minutos sozinha.

Notou que alguém se sentou do seu lado no bar, mas não fez questão de ver quem era, provavelmente algum outro universitário que não conhecia.

— Não esperava te ver por aqui — disse uma voz levemente familiar.

Marlene não sabia se a pessoa estava falando com ela, havia muitas pessoas ali, contudo, por via das dúvidas, olhou para lado.

E lá estava ela, Dorcas Meadowes, sua maior inimiga. Infelizmente, Hogsmeade era uma cidade universitária e Hogwarts não era a única faculdade na região. Porém, o Três Vassouras era muito próximo ao campus de Hogwarts, então nunca imaginou que pessoas de Beauxbatons também o frequentasse.

Mais uma razão para nunca mais botar os pés naquele bar.

Dorcas não pareceu notar o desconforto no rosto de Marlene.

— Faz tempo que não te vejo — comentou sorrindo, um sorriso falso na opinião de Marlene. — Achei que a gente só fosse se encontrar no Campeonato.

Por que ela estava falando do Campeonato? Queria deixar Marlene ainda mais ansiosa? Algumas pessoas do time de Hogwarts eram amigos de pessoas de Beauxbatons, talvez alguém tivesse contado para Dorcas que eles não conseguiam finalizar a pirâmide. Pensar naquilo só deixava Marlene ainda mais irritada, e ela estava mais do que arrependida de não ter voltado para mesa quando ainda dava tempo.

— Sim, eu não saio muito — disse, fingindo educação. — E fiz uma péssima escolha em sair hoje.

— Por quê? — perguntou Dorcas, claramente fingindo estar preocupada. Marlene não aguentava o quanto ela era falsa. — Se tiver mal, talvez eu possa pagar uma cerveja para você.

Marlene não conseguia nem ao menos fingir um sorriso. Mas Dorcas não parecia se importar. Infelizmente, ela era muito bonita e Marlene precisava admitir isso. Com cabelos crespos escuros e volumosos, um vestido curto e colado e uma maquiagem brilhante que só ressaltava ainda mais os traços dela.

Decidiu que alguns goles de cerveja já não estavam fazendo bem para a sua sanidade.

— Não precisa — respondeu. — E eu tenho que voltar para mesa.

Marlene não esperou por uma resposta, saiu do bar abandonando a meia garrafa de cerveja. Porém, ela não tinha um pingo de vontade de voltar para a mesa, então decidiu ir para o seu dormitório e fingir que aquela noite nunca havia acontecido.

Mandou uma mensagem para Lily, dando uma desculpa que estava muito cansada por conta do treino — o que não era uma completa mentira —, a amiga nem ao menos visualizou. Provavelmente estava muito ocupada com a língua enfiada na boa de James para notar.

Assim que se deitou em sua cama, Marlene prometeu a si mesma nunca mais aceitar convites de Lily para sair. Precisava relaxar um pouco sim, mas seu foco também precisava ser cem por cento o Campeonato.

1 SEMANA PARA O CAMPEONATO NACIONAL

 

Marlene deveria ser a pessoa mais azarada do mundo.

Desde a noite no Três Vassouras, Marlene parecia esbarrar com Dorcas toda vez que saía do campus. Ela nem conseguia entender como aquilo era possível, Beauxbatons não era tão perto de Hogwarts, então por que Dorcas tinha que frequentar até o mesmo supermercado que ela? Tudo bem que era o único supermercado vegano de Hogsmeade e, como vegetariana, Marlene precisava preparar suas refeições ou lidar com todas as opções vegetarianas ruins do campus de Hogwarts. Porém, ela não sabia que Dorcas era vegana, o que, provavelmente, também explicava ter encontrado com ela nas três vezes que foi buscar comida em restaurantes veganos.

Dorcas sempre dava aquele mesmo sorriso falso quando esbarrava com Marlene, fingia ser educada e, até mesmo, convidava-a para comer com ela. E era claro que Marlene negava toda vez, dizendo que não tinha tempo e indo embora o mais rápido possível.

Pelo menos, tinha uma vantagem em esbarrar com Dorcas por todos os lugares. Marlene estava mais determinada que nunca a levar aquele troféu para casa. O sorriso de Dorcas só fazia com que ela tivesse certeza de que precisava ganhar para poder tirá-lo do rosto da outra menina.

E os treinos estavam melhores do que no mês passado, o time finalmente tinha conseguido fazer a pirâmide sem errar e acertar toda a rotina no tempo da música. Contudo, Marlene sabia que ainda tinham que melhorar. E eles possuíam uma semana para fazer aquela rotina de jeito que ficasse perfeito e os garantisse o primeiro lugar.

E graças às longas horas de treino todos os dias, Marlene se sentia mais cansada e acabada do que nunca. Assim que seu último treino acabou, ela procurou na mochila pelo spray para dor muscular que normalmente usava e soltou um xingamento baixo ao notar que estava vazio.

Poderia ir para o dormitório e pedir para Lily, que tinha saído antes dela. Mas a farmácia do campus não era tão longe e Marlene preferia ter seu próprio spray.

Assim que chegou foi informada que o último já tinha sido vendido, a atendente comentou algo como aquela faculdade tinha atletas demais. Marlene estava muito cansada para conversar, então só agradeceu e resolveu ir até a farmácia mais próxima fora do campus.

E evidente que Dorcas Meadowes estava lá. Marlene estava ocupada demais tentando decidir entre as marcas de spray para notar a garota se aproximando.

— Oi — cumprimentou sorrindo, fazendo que Marlene tomasse um leve susto. Ela estava suada, cansada e dolorida, a última coisa que queria era lidar com Dorcas. — Também vim comprar um desses.

Dorcas pegou um spray na prateleira de uma das marcas que Marlene estava na dúvida, então ela foi lá e pegou o da outra marca para ela.

— Por que está aqui? — perguntou seca, sem muita paciência para entrar no jogo de Dorcas de fingir ser educada.

A flyer rival havia claramente saído de um treino, estava com um short legging que era quase todo coberto por um moletom azul de Beauxbatons. A diferença das duas era que, enquanto Marlene parecia completamente morta e descabelada, Dorcas conseguia ficar linda mesmo suada e visivelmente cansada, o que só deixava Marlene ainda mais irritada.

Não tinha nenhuma farmácia perto de Beauxbatons? Por que ela tinha que ir tão longe para comprar um spray de dor muscular? Era como se Dorcas soubesse que Marlene estava ali e queria irritá-la.

— O estádio do meu time All-Star é aqui perto — explicou, sem se importar com o claro mau humor de Marlene. — Estava treinando.

Marlene sabia qual era o time All-Star que Dorcas fazia parte e, que era bem perto de Hogwarts. Mas não havia lembrado disso na hora. Ok, talvez Dorcas não estivesse a perseguindo para irritá-la, mas com certeza estava interagindo com ela por esse motivo.

Elas poderiam muito bem fazer suas coisas sem interagir, porém, Dorcas sempre insistia em parar tudo para falar com Marlene.

Querendo sair logo dali, Marlene acenou com a cabeça, mostrando que havia entendido e foi em direção ao balcão para pagar. E é claro que Dorcas a seguiu.

— 8 libras — informou a mulher do caixa.

Marlene abriu a mochila para pegar sua carteira e, depois de algumas reviradas, notou que tinha esquecido em seu dormitório. Ótimo, como se sua noite não pudesse ficar pior.

Estava prestes a informar que não iria levar, quando Dorcas apareceu do seu lado.

— Pode colocar os dois juntos, eu vou pagar — disse entregando o spray dela para a mulher.

— Não precisa... — começou Marlene.

— Não tem problema, sério — insistiu Dorcas, já passando o cartão na máquina.

E agora Marlene estava devendo dinheiro para a sua rival.

Assim que as duas saíram da farmácia, ela logo tratou de dizer:

— Me fale o seu paypal, posso transferir o dinheiro.

tudo bem — disse Dorcas, entregando o spray para Marlene e guardando o dela na mochila. — São só 8 libras.

Poderiam ser “só 8 libras” para ela, no entanto, para Marlene era como se estivesse devendo muito mais. Aquela não era Lily, Emmeline ou Mary, era Dorcas Meadowes, sua maior inimiga, que estava planejando acabar com sua vida em uma semana.

— Eu posso pagar — pediu. Ela queria muito pagar.

Dorcas pegou o celular na frente da mochila para conferir as horas, estava tarde e a rua quase deserta.

— Que tal a gente se encontrar mais vezes? Aceitarei isso como pagamento, já que insisti tanto em me pagar — sugeriu Dorcas sorrindo para ela. Marlene não entendia como aquilo poderia ser um pagamento, mas, antes que pudesse recusar, Dorcas acrescentou: — Tenho que ir agora, não posso perder o último ônibus. Mas a gente se vê depois, e boa sorte nos treinos!

E, em menos de um minuto, Dorcas já havia atravessado a rua em direção ao ponto de ônibus, deixando uma Marlene muito confusa para trás.

 

DIA DO CAMPEONATO NACIONAL

Marlene estava mais nervosa do que nunca.

Aquele era seu último campeonato da vida, não existia carreira para líderes de torcida depois da faculdade. Era o fim do que Marlene passou toda a sua vida se dedicando. E ela não aceitaria menos do que o primeiro lugar.

Sabia que o time estava preparado, eles tinham treinado muito para isso e, por algum milagre divino, ninguém tinha tido nenhuma lesão grave o bastante para que necessitassem fazer substituições.

Contudo, era impossível não ficar nervosa, principalmente quando Dorcas Meadowes parecia tão tranquila ao lado do seu time de Beauxbatons, rindo e conversando, além de o uniforme azul e branco do time ficar muito bem nela. Não que o vermelho e dourado de Hogwarts não ficasse bem em Marlene, mas ela tinha que admitir que gostava da simplicidade no de Beauxbatons.  

Marlene, também, ainda não conseguia entender o que a outra garota queria dizer com a conversa que tiveram há um mês. Porém, elas não se encontraram novamente depois daquela noite, e Dorcas não tinha tentado se aproximar de Marlene desde que os times chegaram no campeonato.

— Lene — chamou Lily, fazendo com que Marlene a olhasse. — Eu te chamei tantas vezes...

— Desculpa, estava distraída — disse rápido, torcendo para que Lily não tivesse notado em quem estava o olhar dela.

— Eu sei que está nervosa, mas a gente treinou muito para isso — falou confiante. — Vamos conseguir!

Marlene sorriu em resposta, por mais que ela fosse a louca competitiva do time, sabia que aquela competição era tão importante para o restante da equipe quanto para ela.

Levantou as mãos para apertar o cabelo preso no laço, tinha mania de ficar mexendo sempre que estava tentando se distrair do nervosismo das competições. Porém, Lily mal deixou que ela encostasse no cabelo.

— Não toque! — mandou, dando um tapinha de leve na mão Marlene. — Demorei um tempão para arrumar o seu cabelo.

Marlene respirou fundo, não teria muito no que mexer com Lily a vigiando. No entanto, antes que pudesse responder a amiga, ela acrescentou:

— Tenho certeza de que vamos ser a melhor equipe hoje e levar o troféu — começou. — E eu sei que você não quer ouvir isso. Mas, caso a gente não consiga o primeiro lugar, quero que você saiba que continua sendo a melhor líder de torcida que eu conheço — Marlene abriu a boca para dizer que eles iriam sim ganhar, mas Lily a conhecia bem demais — Shh! Nem começa. Se a gente perder quero que você se orgulhe de cada segundo da nossa apresentação, porque a gente vai arrasar.

Marlene sabia que Lily estava pensando no campeonato do ano passado. Quando eles foram chamados para receber o prêmio de segundo lugar, ela sentiu como se o seu mundo tivesse desabado, passou semanas revendo a rotina deles para entender o que havia dado errado. Contudo, no fim, Cheerleading era um esporte subjetivo, mesmo que nenhum time tivesse perdido pontos por erros, os jurados precisavam dar a pontuação baseada na rotina de cada time. E, naquele ano, os jurados do campeonato haviam decidido que a rotina de Beauxbatons era a melhor.

Sabia que não podia deixar sua competitividade arruinar seu último ano como líder de torcida e, embora Lily estivesse certa, era mais fácil falar do que fazer. Não estaria sendo sincera com a amiga se dissesse que conseguiria fazer isso.

Para sua sorte, Remus apareceu as chamando para o último treino.

Por algum motivo, essa última passada da rotina nunca dava certo, talvez fosse o nervosismo, mas sempre acontecia algum erro. McGonagall dizia que eles estavam errando ali para não errar na apresentação. E, em grande parte das vezes, eles não cometiam o mesmo erro de novo. Mas a pirâmide dar errado alguns minutos antes deles entrarem no palco, só deixava Marlene ainda mais nervosa.

E quando Hogwarts foi anunciada como o próximo time a se apresentar, Marlene sentia que o seu coração iria sair pela boca.

Assim que a música começou, todas as preocupações dela se esvaíram de sua mente, ela estava focada apenas naquele momento. E faria a melhor apresentação de sua vida.

A rotina não era fácil, tinha várias sequências de tumblings que Marlene fazia parte. Depois ela subia no stunt para os baskets e, no fim, a pirâmide. E, depois de dois minutos, todos se jogam dramaticamente no chão, com apenas Marlene em pé no centro.

Só quando tudo acabou que ela conseguiu notar a quantidade de pessoas que gritavam e comemoravam a apresentação. Marlene havia passado quase um ano inteiro se remoendo pelo Campeonato anterior, ela tinha esquecido de como o Cheerleading a fazia se sentir bem, de como todas as lesões em seu corpo pareciam sumir completamente naquele único momento que passou o ano todo treinando, aqueles dois minutos e quinze segundos.

Não pensou no troféu quando a rotina terminou. Lily estava certa, eles realmente arrasaram e ela se orgulhava de cada segundo.

E foi só o time descer do palco que Marlene notou o quanto chorava.

— Isso foi incrível! — exclamou Lily pulando em seus braços, ela nem conseguiu pensar direito antes de retribuir o abraço.

Em menos de um minuto, todos do time se abraçavam, enquanto choravam e comemoravam o que haviam feito.

Marlene sentiu alguém a cutucando nas costas e, logo se virou sorrindo, esperando que fosse mais alguém de Hogwarts. Contudo, a pessoa atrás dela era Dorcas Meadowes.

A rival sorria, parecendo tão feliz quanto os colegas de time de Marlene, o que era bem estranho.

— Você foi incrível! — exclamou animada.

Marlene não sabia muito bem como reagir. Não costumava acreditar nas falas educadas de Dorcas, mas não entendia o porquê de ela aparecer ali para parabenizar Marlene quando Beauxbatons ainda não havia se apresentado, aquilo não parecia ser uma provocação como nas outras conversas das duas.

— Obrigada — disse, ainda confusa.

O sorriso de Dorcas não vacilou, nem mesmo com a resposta sem emoção de Marlene.

— E aquela pirâmide? Não sei como vocês conseguiram fazer aquilo — comentou, muito animada.

Ainda sem entender o motivo de Dorcas parecer tão feliz por ela, Marlene só conseguiu assentir com a cabeça. Felizmente, alguém de Beauxbatons apareceu chamando Dorcas para passar a rotina deles pela última vez.

— Tenho que ir, mas a gente se vê depois — disse virando-se para ir embora, porém, Dorcas rapidamente se voltou para Marlene de novo e acrescentou: — Torça por mim. Vou ficar muito feliz se você torcer por mim.

Dorcas saiu atrás de seus colegas de time conseguindo deixar Marlene ainda mais confusa.

Lily se aproximou sem que ela notasse.

— Tenho pena da Dorcas — comentou. — Deve ser difícil gostar de você.

Marlene encarou a amiga com um misto de espanto e confusão no rosto.

— O quê?! — perguntou, tendo certeza de que só poderia ter escutado aquilo errado.

— Ela claramente gosta de você — disse como se Marlene fosse burra por não ter notado. Entretanto, Lily reparou pela expressão no rosto da amiga, que ela realmente não imaginava. — Dorcas sempre pergunta por você quando encontra alguém do nosso time. E ano passado ela também te elogiou depois do Campeonato.

Marlene se lembrava disso, Dorcas havia aparecido para elogiá-la depois que os resultados tinham sido anunciados, e claro que, para Marlene, aquilo foi só uma provocação, principalmente quando várias pessoas já cochichavam pelos cantos sobre Dorcas ser uma flyer melhor que ela.

Com certeza o elogio tinha sido só uma provocação, Marlene se sentia patética com sua medalha de segundo lugar, enquanto Dorcas, com a medalha de primeiro lugar no pescoço, dizia o quanto Marlene era incrível.

— Ela só estava me provocando — protestou. Dorcas não poderia gostar dela.

Lily riu.

— Porra, Marlene. Os olhos dela chegavam até a brilhar quando estava falando com você, ou sobre você — disse, logo em seguida deu um tapinha nas costas da amiga. — Espero que ela supere essa.

***

As palavras de Lily não saíam de sua cabeça. Dorcas realmente poderia gostar dela? Todas as vezes que Dorcas se aproximou de Marlene não era para deixá-la irritada?

Se Lily estivesse certa, então Marlene provavelmente era uma grande babaca por tratar Dorcas como uma rival, quando a visão dela de Marlene era o oposto disso.

Quando Beauxbatons entrou no palco, Marlene e grande parte da equipe estavam sentados no meio da plateia. A rotina deles era muito boa, e Dorcas brilhava sempre no centro de todas as partes. Hogwarts tinham muitos atletas que eram essenciais para o time — todo mundo que acompanhava Cheerleading conhecia Marlene, Lily, Remus, Emmeline —, mas com Beauxbatons era diferente. Aquela rotina não poderia existir sem Dorcas, ela era insubstituível.

Marlene sabia o quão Dorcas era boa, não a teria visto como rival se não fosse. Mas aquela havia sido sua última competição como líder de torcida, ainda queria muito ficar em primeiro lugar, porém havia notado que não precisava mais de uma rival.

Assim que a apresentação acabou, Marlene aplaudiu, sem nem perceber que estava aplaudindo. Contudo, sabia que Dorcas merecia isso.

Não demorou muito para que chegasse a hora do anúncio do time vencedor. Marlene não havia ido elogiar Dorcas pela performance, ela queria, mas também não tinha coragem. Aparentemente, Dorcas gostava dela e, Marlene nunca foi muito legal com a garota. Não queria parecer estranha por elogiá-la do nada.

Enquanto esperava pelo resultado, Marlene apertava a mão de Lily e de Mary, com os olhos fechados. Sabia que Dorcas estava na sua frente do outro lado do palco, fazendo o mesmo com o time de Beauxbatons.

— E o segundo lugar do Campeonato Nacional de Cheerlading vai para... — começou o apresentador fazendo suspense. Marlene conseguia ouvir o seu coração batendo, suas mãos também tremiam, mas não sabia se era ela ou as meninas do seu lado. — Beauxbatons!

Marlene sentiu suas pernas vacilarem, e Lily precisou segurá-la para que não ficasse de joelhos no chão. Hogwarts não comemorou a vitória, enquanto Beauxbatons ia até o centro do palco pegar o prêmio. Existia uma regra silenciosa no Cheerleading, que a equipe não podia comemorar a vitória antes que ela fosse anunciada oficialmente, para não ser desrespeitoso com o time que ficou em segundo lugar.

— E em primeiro lugar... — anunciou o apresentar. — Dez vezes campeãs nacionais... Hogwarts!

Confetes caíam por toda a parte enquanto o time de Hogwarts comemorava no meio do palco. Marlene tinha conseguido realizar o seu sonho de formar-se campeã nacional em seu último ano como líder de torcida.

Todos ainda estavam eufóricos com a vitória quando desceram do palco, eles haviam recebidos suas medalhas e os grandes anéis que eram distribuídos para cada um do time.

Dorcas não demorou muito para aparecer no campo de visão de Marlene. Ela não parecia triste e nem frustrada com o segundo lugar, muito diferente de como Marlene havia ficado no ano passado.

 — Parabéns! — exclamou sorrindo.

— Obrigada — disse Marlene dessa vez mais sincera e com um sorriso tímido no rosto. — Você também foi incrível hoje.

Dorcas pareceu um pouco surpresa com o elogio, como se não esperasse ouvir aquilo de Marlene. O que só fez com que ela se sentisse ainda pior pelo jeito com que havia visto Dorcas por um ano inteiro.

No fim, o sorriso da outra menina ficou ainda maior.

— Obrigada.

Marlene notou que aquela também era a última competição de Dorcas, que também estava no último ano do curso. Por mais que ela não tivesse dedicado sua vida toda à Cheerleading como Marlene, imaginava que o esporte também fosse muito importante para ela. Não tinha como Dorcas estar tão tranquila com o segundo lugar, deveria estar duvidando da capacidade dela, bem como Marlene duvidou de si ano passado.

Sem pensar muito, tirou o anel do dedo e estendeu para Dorcas. A outra a encarou sem entender. Até mesmo Marlene estava confusa com suas próprias ações, mas não tinha como voltar atrás agora.

— Você deveria ficar com ele — explicou. — Você foi muito bem hoje, Dorcas. Merece esse anel.

E Dorcas merecia aquele anel. Foi graças à derrota do ano passado, que Marlene se dedicou dez vezes mais e melhorou como atleta. Então, querendo ou não, Dorcas também era responsável pela sua vitória.

Talvez em uma realidade alternativa as duas estariam na mesma faculdade, fariam parte do mesmo time de líderes de torcida. Conseguia imaginar o quanto seria incrível estar na mesma rotina de Dorcas. Contudo, na realidade em que viviam, isso nunca iria acontecer e, depois daquele dia, elas nunca mais seriam líderes de torcida.

— Mas, Marlene... — começou Dorcas. — Você ganhou, eu não posso...

— Eu tenho dois desses já — disse, querendo mostrar que não tinha problema em dar o terceiro para Dorcas. Porém, logo pensou que pudesse ter parecido que ela estava se exibindo, por isso acrescentou: — Aceite, por favor. Você também merecia ganhar.

Aquilo pareceu ser o bastante para que Dorcas pegasse o anel da mão de Marlene. Ela sorriu ao analisar o objeto, como se não tivesse um praticamente igual em casa.

Marlene já havia notado como Dorcas era bonita, mas vê-la sorrindo para o anel que havia dado a ela, fazia com que a flyer sentisse seu coração bater mais rápido e que suas bochechas esquentassem.

Quando Dorcas a olhou novamente, Marlene foi pega de surpresa, torcendo para que a outra garota não notasse que a havia feito corar.

— Eu vou aceitar — disse, por fim. O sorriso no rosto de Dorcas havia mudado para um que parecia dizer que ela tinha outros planos em mente. — Mas preciso te agradecer de alguma maneira.

Marlene pensou em dizer que ela realmente não precisava, a rivalidade que tinha inventado na própria cabeça ajudou muito a fazer com que Marlene ganhasse. Todavia, não disse nada disso. Sabia o que Dorcas queria dizer com aquilo e, agora, conseguia entender o que ela quis dizer uma semana atrás na frente da farmácia.

— Talvez a gente possa se encontrar mais vezes? — sugeriu, lembrando-se das palavras de Dorcas.

— Sim — respondeu Dorcas, mais rápido do que ela esperava. — Eu iria adorar sair com você.

Com certeza, a Marlene do ano passado acharia que ela estava perdendo a cabeça por convidar Dorcas Meadowes para um encontro. Mas, a Marlene de hoje não se arrependia de absolutamente nada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Não deixem de comentar e na sexta tem mais fanfic minha!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "CHEER UP" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.