Regime Fechado escrita por Fushigikage


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, olá! q

Segue mais uma fanfic de qualidade duvidosa aqui! Dessa vez, apresento a minha primeira contribuição para o desafio Doctor Who as Sertanejo (proposto pelo Theo-kun no Twitter). Essa história foi levemente ~baseada na música Regime Fechado de Simone & Simaria (vocês podem ouvir a música pelo link na descrição da Coleção).

Enfim, prometo melhorar rs
E, se tiver alguma coisa errada (que VAI TER, pois eu não dormi a noite e.e), me avisem pra eu poder corrigir :3

Bem, é isso. Boa leitura!~


12/Missy, 12/River



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Quando crianças, sonhavam em explorar o mundo e mudar seu próprio destino ─ ocasionalmente, levando caos por onde quer que fossem, apenas por diversão. Os anos passaram, quase como se arrastassem, como um clamor do Universo para que mudassem de ideia. Contudo, nada poderia tirá-los de seu caminho. Com nada além de travessura nos bolsos, abraçaram o que o Destino havia separado para eles. 

  

Eram adolescentes quando fugiram de casa naquele pequeno vilarejo afastado; dois jovens sem rumo e sem identidade, deixando o curto passado que tinham para trás em troca de um perigoso e incerto futuro. De furto em furto, roubo em roubo, conseguiram moldar a imagem que gostariam de passar para quem os olhasse ─ aquele misto de malícia e ingenuidade, como se fossem invencíveis e o mundo ao redor não tivesse importância. 

  

Entre falsos sorrisos e palavras repletas de gentileza distorcida, a dupla seguiu sem caminho sem maiores problemas. Donos de uma esperteza sem igual, fugir da polícia era como brincadeira de criança; nas páginas policiais, sequer conseguiam um retrato falado da dupla. E, verdade seja dita, a razão para que não tivessem um rosto para procurar era muito simples: aqueles pequenos delinquentes eram exímios na arte de sumir no meio da multidão como fumaça. 

  

Não importa onde estivessem, com quem estivessem ─ bastavam os materiais certos e eram como se estivessem se transformado em alguém totalmente diferente, seja homem ou mulher. Com peças de roupa roubadas e documentos falsificados, fugiam sem levantar suspeitas ou arranjar problema ─ isto é, até seu próximo ataque. Alguns jornais chamavam a dupla de “Bonnie e Clyde modernos” ─ para desgosto da jovem mulher, que agora aproximava-se dos trinta anos e considerava a alcunha péssima, uma vez que sua dupla com seu parceiro era infinitamente superior a Bonnie e Clyde. 

  

Ainda que se divertissem furtando, roubando e causando todo tipo de confusão possível, o peso dos anos começou a se aproximar. Pouco a pouco, os velhos amigos começaram a se sentir distantes demais, separados demais ─ ainda que dividissem a mesma cama toda as noites, era como se houvesse uma parede entre eles. O riso começou a desaparecer, o prazer tornou-se amargura e quando menos esperavam, tornaram-se estranhos um para o outro. 

  

Foi em uma noite chuvosa e repleta de lágrimas que, enfim, resolveram separar a dupla. Deixando sua vida de crimes para trás e adotando uma nova identidade, despediu-se de sua antiga amiga, confidente e companheira de anos almejando um futuro diferente, um recomeço. Escolhendo um nome comum, John Smith tinha pouco mais do que trinta anos quando desembarcou em Cardiff, em busca de um emprego igualmente comum. Seu talento para disfarçar sua própria aparência fez com que se tornasse um ator de sucesso em pouco tempo ─ em apenas cinco anos de trabalho, já tinha a agenda cheia e uma casa grande repleta de prêmios e troféus pelas paredes. Casou-se com sua colega de profissão e par romântico em uma série, River Song, e com ela teve dois filhos.  

  

Com o passar dos anos, seu passado parecia estar cada vez mais e mais distante. Ainda assim, pegava-se observando o céu sem estrelas em noites chuvosas, desejando em seu íntimo saber como estaria sua antiga companheira. Amava sua família, sua nova vida ─ mas algo dentro dele clamava por liberdade. Ele era assim, afinal de contas: alguém que não havia nascido para estar preso em rotina. Era estranho olhar-se no espelho todos os dias, percebendo as marcas da idade enquanto via os filhos crescerem ─ até que saíssem de casa para construir a própria vida. River era um doce de mulher, John realmente gostava dela, ainda que seu coração pertencesse a outra pessoa que ele insistia em manter enterrada junto ao seu passado criminoso. 

 

Aquela era uma manhã ensolarada, coisa que o homem detestava com todo o seu ser. Sentou-se à mesa para tomar o café da manhã sem pressa; não tinha nenhuma filmagem para aquele dia, o que significava que passaria o dia inteiro com sua esposa. Talvez saíssem para um passeio durante a tarde, mas ele pensaria nisso depois ─ no momento, sua atenção estava voltada para o jornal que tinha em mãos, que fazia parte de sua leitura matinal. Havia uma manchete chamativa que ele sequer se deu ao trabalho de ler, pois seus olhos estavam fixos na foto que estampava a capa do jornal: uma mulher de cabelo castanho preso em um coque bem feito, um longo vestido e batom marcante. Na descrição, lia-se um nome ─ “Missy”. 

  

─ Então, esse é o seu nome agora? ─ Deixou escapar quase como um sussurro. 

  

Uma leitura rápida mostrou que não havia dúvidas, era ela. Missy ─ como a estelionatária se auto intitulava agora ─, foi presa por um erro bobo; conhecia aquela mulher como a palma de sua mão e só havia uma explicação para aquela prisão: a mulher queria ser pega. Inventando um teste de última hora para justificar sua saída abrupta, John correu para pegar um táxi. Vestindo um terno impecável de veludo vermelho, dirigiu-se à recepção da delegacia e pouco depois estava seguindo um oficial mal humorado pelos corredores imundos da delegacia. 

  

A mulher foi acordada por um oficial magrelo que nada disse; algemada, acompanhou-o em silêncio até ser levada para uma sala.  

  

─ Seu advogado está te esperando. ─ Disse ríspido, enquanto afastava-se. 

─ Mas eu não tenho advogado, sequer solicitei um! ─ Respondeu, irritada. 

─ Ora, ora. ─ Uma voz conhecida soou atrás dela. ─ Tem certeza disso? 

  

Inconscientemente, um sorriso brotou em seus lábios. Não era preciso olhar para saber quem era o dono daquela voz tão marcante; não importa quantos séculos passassem, era incapaz de esquecer-se dele. Foi tirada de seus pensamentos ao ouvir a pesada porta bater a poucos passos dela.  

  

─ O que você está fazendo aqui? 

─ Estou aqui para responder ao seu recado. ─ Sentiu aquela mão firme, que conhecia tão bem, tocar seu braço, o que a fez virar instintivamente para encontrar aquela expressão de surpresa de que tanto sentia falta. ─ Foi por isso que você se deixou ser pega, não foi? 

─ Como você conseguiu entrar aqui? 

─ Eu sou seu advogado, oras! ─ O homem abriu um enorme sorriso, enquanto apontava para a própria roupa. ─ Disse que era seu advogado e me trouxeram para cá. 

─ Mas eu não pedi advogado algum. ─ Olhando-o com descrença, riu de si mesma. 

─ A questão, minha querida ─ e então ele diminuiu ainda mais a distância entre eles. ─ É que eles não sabem disso. 

  

Dedos hábeis tocaram seu pulso em busca das algemas, enquanto lábios frios tomavam os seus em um beijo quente e ardente. Aquele beijo trazia um misto de sensações, como a explosão de mil sóis e o nascimento de mil planetas; era assustador e acolhedor ao mesmo tempo. Era, finalmente, estar em casa. Quando o ar faltou em seus pulmões, Missy apoiou a cabeça no peito do homem que, apesar da “nova” aparência, ainda era o seu companheiro. Poucos segundos depois um click metálico foi ouvido. 

  

─ Doutor, ─ sua voz tinha um misto de surpresa e deboche. ─ Achei que tinha abandonado essa vida. 

─ É, eu também achei. ─ Deu de ombros, colocando as algemas no bolso de seu paletó. ─ Mas parece que vinte e cinco anos não são o suficiente para mudar a essência de alguém. 

─ De novo essa história? 

  

O homem não pôde conter o riso que teimou em sair alto e estridente, antes de tomá-la em outro beijo ainda mais intenso do que o anterior. Aquele encontro foi o suficiente para que finalmente entendesse o motivo de sua angústia: por mais que amasse River, seus filhos e sua família, aquele ali não era ele. Foi bom brincar de casinha por um tempo, porém agora era o momento de voltar a ser gente grande novamente.  

  

Aquele era um dilema que certamente deixaria uma ferida aberta ─ ainda assim, sua decisão estava tomada. A cada dois dias, visitava Missy fingindo ser seu advogado, para que planejassem sua fuga assim como haviam feito tantas vezes no passado. Esperando as festividades de fim de ano, fez com que aquelas fossem datas memoráveis para sua esposa e filhos. Tendo gravado esses momentos no fundo de seu peito, John Smith saiu de casa, com todos dormindo pesadamente, antes do dia amanhecer. 

 

O que realmente aconteceu é um grande mistério para todos ─ exceto, é claro, para o Doutor e Missy. Após três semanas de buscas, os destroços do carro de luxo do ator John Smith foi encontrado em um barranco afastado. Apesar da lataria destruída, alguns poucos pertences foram recuperados, assim como material genético suficiente que confirmava o falecimento do ator no acidente. Levou uma semana para que a família conseguisse lidar com toda burocracia que envolve uma morte como essa e, assim, poder marcar uma data para o velório e enterro. 

 

Em algum lugar próximo a Glasgow, um casal abastecia sua moto enquanto liam as manchetes que estampavam diferentes jornais. Em todas tinham detalhes como hora e local em que os restos mortais de John Smith seriam velados. Com um resmungo baixo, o homem aproximou-se de sua moto, sendo logo seguido pela mulher que tinha os cabelos castanhos caindo pelos ombros. Ambos usavam roupas de couro que combinavam com a moto. 

 

─ Pronto para partir? ─ Perguntou ela, já colocando o capacete. 

 

Assentindo com um aceno de cabeça, copiou os movimentos, porém não sem parar abruptamente ao olhar seu reflexo no retrovisor. 

 

─ Sinto falta do meu cabelo, não vou negar. ─ Lamentou, enquanto passava a mão esquerda na careca lisa. ─ Levou um tempo para ficar daquele jeito, sabia? 

─ Não se preocupe, meu bem, cabelo cresce. 

 

Sem responder a provocação feita por Missy, o Doutor deu a partida ─ indo cada vez mais longe. Estavam juntos novamente, prontos para viver ao máximo a liberdade que era estar nos braços um do outro.  


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