I

Sábado 11:39

O azul do céu em plena primavera era o que mantinha Gina Weasley do lado de fora do castelo em todo o tempo livre que ela tinha. Era onde conseguia tirar da cabeça tudo o que a atrapalhava durante o sono: os NOM’s a guerra iminente, as tragédias que vinham acontecendo, mas a única coisa pela qual esperava não pensar era a que mais pensava.

Duas coisas, na verdade. Com nome, sobrenome, cabelo, boca, olhos, e até cheiro - cheiro este que Gina parecia sentir constantemente, como se magicamente as flores em volta tivessem pego o cheiro de erva doce e perfume de baunilha, e intercalassem com bala de menta e chocolate quente. 

E quando esses odores se misturavam, a cabeça da garota doía mais ainda. 

— Eu não posso mais ficar assim. — ela disse para si mesma enquanto encarava as nuvens que se movimentavam rápido logo acima, sentindo a textura da grama e, provavelmente, algum inseto que subia em seu braço esquerdo. 

Ela reflete em como foi parar naquela situação, como em um dia ela estava bem. Bem como sempre esteve, conseguindo olhares de muitos e muitas pelos corredores, bem consigo mesma sem pensar em se apaixonar e com a certeza de que estava longe desse tipo de situação, falando dos encontros que ela marcava com x e y pessoa para Hermione e Dino e, sem ver de onde e como, um trem a acertou e agora ela chora no colo dos mesmos amigos por estar apaixonada por não só uma, mas duas pessoas.

Não conseguia entender como isso tinha acontecido, mas só queria parar logo.

— GINA! — a ruiva ouve uma voz fina chamá-la ao longe, e se recusa a perceber como seu coração acelerou e seu estômago se revirou.

‘’Se controlem’’ ela pensou.

Apoiou-se nos dois braços e virou a cabeça para trás há tempo de ver a figura loira que usava uma saia solta e regata azul escuro, que realçava seus olhos. Luna Lovegood vinha correndo em direção à ela com um sorriso largo no rosto e uma cesta de piquenique, e então Gina se lembrou quando foi que isso pela amiga começou.

LUNA

Você me transmite felicidade e esperança

— E você disse o que? — Luna perguntou para Gina enquanto dividiam um bolinho de framboesa do lado de fora da Casa de Chá da Madame Puddifoot.

— Que não queria nada, ué. Ele chega gritando comigo exigindo coisa sendo que saímos só duas vezes? — Ela colocou um pedaço do bolo na boca e falou com a boca cheia. — E foi até bom, pois senão não estaríamos passando o dia juntas de novo. O preço que se paga por ser requisitada é grande, Luna. 

— Engula primeiro, fale depois. — A loira limpou a roupa. — E você é muito egocêntrica, não sei porque ando com você. 

— Porque somos melhores amigas.

— Esse é exatamente o ponto que não entendo. 

— Porque tudo precisa de equilíbrio, eu dou equilíbrio pra sua vida e você para a minha. 

— Isso já faz mais sentido. 

— É como um pêndulo que precisa se manter de uma forma equilibrada para sobreviver e conviver, nada de exagero é bom para uma vida controlada. — Weasley viu as sobrancelhas da amiga levantarem em espanto. — O que? Eu sei algumas coisas das quais você gosta, por mais que não saiba muito. 

— Achei bonitinho você falar sobre o pêndulo, mesmo que no contexto errado. — Luna deu uma risada com a cara de frustração da garota a sua frente — Mas eu entendi o que você falou e aceito a explicação, pois você se esforçou. 

Elas ficaram algum tempo em silêncio. 

As duas eram amigas há algum tempo e sempre passaram o tempo livre juntas - e as vezes em momentos não tão livres, como quando estudavam juntas - mas, conforme Gina foi ficando cada vez mais interativa na área dos romances, os passeios, em principal, se tornaram mais raros. Mas elas sempre reservavam um dos dias para passarem juntas experimentando roupas, entrando na loja de pegadinhas, bebendo algo com os amigos no Três Vassouras e depois comendo algo na Casa de Chá enquanto a ruiva julgava as pessoas que passavam e a outra brigava com ela por isso. 

Gina Weasley sempre tentou ser o mais independente possível. Filha única em meio a seis irmãos protetores e dois pais também protetores, ela sempre precisou se provar livre e segura de si mesma para conseguir a confiança e respeito que precisava deles, e isso fez com que se tornasse alguém forte, que não aceita ofensas para si ou para aqueles com quem se importa (o que fazia com que ela sempre entrasse em brigas). Nunca precisou de alguém ao seu lado para se sentir bem, e não achava que sentira algo perto de paixão, embora se envolvesse com várias pessoas - tinha seus amigos e isso era mais do que o necessário para ficar bem.

E, em principal, tinha Luna Lovegood, que era quem precisava estar quando tudo parecia estar desmoronando dentro de sua cabeça, quando precisava de um abraço ou quando precisava de alguém que falasse tanto quanto a ouvisse sobre qualquer besteira e não a pressionasse para falar sobre sentimentos ou a situação do mundo - Hermione gostava muito de debater tudo, o que era bom, mas às vezes era muito para aguentar. 

Então, Luna era o seu ponto de calma e descanso.

— Ei, Harry! — Gina saiu dos próprios pensamentos quando ouviu a amiga falar novamente. Olhou para o lado e lá estava o único par de olhos capazes de tirar seu sossego e sorrisos idiotas.

— Oi, gente! O que fazem aqui fora? — Ele abriu um sorriso enquanto olhava para Luna. ‘’Parece que ele tá evitando me olhar.’’ a Weasley pensou.

— Ginny desmarcou o encontro da vez, então hoje é o nosso dia juntas. — A loira cutucou a amiga com o cotovelo, indicando para ela participar da conversa.

— E Gina tem muitos encontros, han? Esses dias perguntei se poderíamos treinar juntos e ela disse que estava ‘’ocupada’’, será que foi isso? — Harry deu um sorriso de lado. 

— Ela tem alguns sim… mas nesse dia acho que era dia de ficarmos juntas. Mas por que o interesse? Quer que eu cheque a agenda dela?

Nesse momento Gina percebeu o que estava acontecendo e tentou parar a amiga, que continuava a falar sobre a agenda de encontros da amiga falando coisas como ‘’mas por você eu consigo ajeitar um horário melhor’’ e provavelmente se não a parasse a situação teria ido ainda mais longe. 

— OOOOK! Ela só tá brincando, não tem agenda nenhuma. — Tentou não corar enquanto tapava a boca da amiga, que tentava morder a mão da ruiva. 

— Então você está livre? — Harry perguntou sério.

— Bom… hoje não, mas esses dias vou estar pros nossos treinos, você tem sido péssimo, Potter, precisamos acertar isso. — Gina disse, o que não era mentira, mas também não era verdade, porém o fato dele estar perguntando se ela estava livre a encheu de arrepios. Ela e Harry estavam com uma relação muito próxima desde o último ano, e era legal passar tempo falando de quadribol, ou maldições com ele, mas encontros? Sem condições.

Harry riu.

— Bom para você, Weasley, e para seus encontros. Tem de aproveitar mesmo. — Ele piscou para ela — E fique tranquila, não vou comentar nada com Ron, sei como ele é um maluco. Mas ainda preciso treinar com você, então temos de marcar um horário fora dos dias de encontros, para eu melhorar como você. — Ele acenou para as duas e entrou na loja.

Gina esperou estar segura e longe da loja para soltar a amiga - o que significa que andaram por bastante tempo com Luna como refém, e a sorte de Ginny é que era forte por conta dos treinos de quadribol.

— VOCÊ TÁ DOIDA? — A ruiva começou a falar para a amiga que agora olhava para ela brava.

— VOCÊ É QUEM ME PRENDEU COMO REFÉM, GINERVRA, EU É QUEM TINHA DE PERGUNTAR ISSO. 

— VOCÊ É QUEM COMEÇOU A FALAR DOS MEUS ENCONTROS PARA HARRY POTTER, LUNA. E SE ELE CONTA PRO MEU IRMÃO?

— VOCÊ SABE QUE ELE NÃO FARIA ISSO VOCÊS SÃO AMIGOS AGORA, E NÃO VIU COMO ELE QUERIA TE CHAMAR PRA SAIR? 

— VOCÊ ESTÁ DOIDA MESMO.

— POIS QUEM NÃO ACEITOU QUE AINDA SENTE COISAS POR ELE E É COVARDE DEMAIS PRA IR ATRÁS É VOCÊ. — Luna viu que ainda gritavam e algumas pessoas as olhavam. — Eu só quero dizer que faz algum tempo que você e Dino terminaram, e apesar de tudo vocês estão bem e eu te conheço, sei o que Harry quer dizer na sua cabeça e que não é completamente você saindo por aí com um bando de gente em que 90% das vezes você nem gosta. 

— Harry não me vê assim, Luna. E eu já aceitei isso há muito tempo. — Luna ergueu uma sobrancelha — Ok, ele talvez ainda tenha algum efeito em mim, mas algo como ‘’Oh, você foi o primeiro garoto que gostei e que me salvou de uma Câmara Secreta para a morte eminente.’’ nada como ‘’vamos casar, ter três filhos e viver felizes até o final de tudo.’’

— Os Weasleys são incapazes de ter apenas um filho? — a loira perguntou. 

— Sim, nosso DNA não aceita esse tipo de coisa.

— Bom, considerando que todos vocês são bonitos, eu acho certo passar a genética à frente.

— Obrigada, Lulo. Mas ainda estou brava.

— Eu sei, você só me chama assim quando está brava. — Luna a abraçou com um dos braços. — Me desculpa, só queria acelerar o processo para vocês dois, sabe?

— Não precisa acelerar nada, Luna, eu tô bem. Sério. — Gina retribuiu o abraço e as duas começaram a andar dessa forma. — Mas obrigada por se preocupar, vou começar a te usar para arrumar encontros. 

— Eu só uso meus poderes para o bem, e esse bem seria Harry Potter. 

— Algum dia minhas opções vão acabar e vou ter de sair num encontro com você ou Mione, e, sinto lhe informar, mas você vai ser a minha escolhida. — Gina deu um beijo na bochecha da amiga. 

— Pois você vai ter de lutar muito, Ginevra. Eu não sou de ser agradada facilmente e sabendo da sua fama? nunca me entregaria facilmente. 

— Por Merlin… — ela colocou uma mão no peito e soltou a amiga fingindo-se de ofendida. 

— Eles estão ali. 

E Luna saiu correndo em direção ao Neville, Dino e Simas que saíam do Três Vassouras deixando Gina sozinha, pensando no formigamento que sentia em seus lábios após encontrar a pele suave de Luna. 

‘’Pare agora, Gina Weasley. Por esse caminho não.’’ Ela pensou, mas o sentimento que a fez acordar durante a noite e procurar Hermione para conversar não era novo. A ruiva sentia isso todos os dias em que passava com Luna, ou lia algo dela, e isso já fazia algum tempo.

— Então é essa a sua coisa. — Hermione disse. Era por volta de 4 horas da manhã, e Gina havia acordado a amiga para contar o que estava passando pela sua cabeça, visto que não conseguiu fechar os olhos nem por um minuto enquanto repassava toda a cena com Harry e os pensamentos sobre Luna. 

Flashes do sorriso e risada dela; do cheiro suave; do jeito que ela falava sobre as coisas que gostava e que mesmo que Gina não entendesse tentava acompanhar; como era preocupada com todas as pessoas ao seu redor e não gostava de injustiças e maldades acontecendo; a forma como desenhava e pintava paisagens, pessoas e sentimentos mostrando como enxergava todo o mundo; e até mesmo a forma como seu cabelo loiro e olhos azuis combinavam com qualquer cenário possível. 

Enquanto isso uma paz invadia a garota que logo pensava ‘’o que é tudo isso?’’

— Que coisa? — Gina estava sentada no chão em uma almofada em frente a Hermione. 

— Você se apaixona por quem tem algum tipo de proximidade. Com Harry, com Dino, e, agora, com Luna. 

— Não me apaixonei por você. 

— Não que você saiba, às vezes só tá escondido aí e eu preciso mexer um pouco. 

— Nah. — Gina fez uma careta, ao passo que a amiga se fez de ofendida e jogou uma almofada — E Harry foi só um momento de pré-adolescência.

— Sim, deve ser por isso que você não consegue olhar nos olhos dele até hoje, ou que começa a ficar nervosa só de ver ele chegando perto, ou que cora quando ele fala com você.

— Não entendi, te chamei aqui pra lidar com uma crise e você decide jogar coisas na minha cara?

— Certo. Luna. — Hermione se ajeitou e respirou fundo. — Olha, Ginny, eu não sei. Você e Luna são muito próximas e eu não quero ser a tonta que fala ‘’você pode estar confundindo os sentimentos’’ mas como você está nervosa… você pode estar confundindo. 

— É… pode ser isso. — Gina abraçou os joelhos. 

— Mas… 

— Sem mas. Você já deu a opinião e só pode uma por vez. — Gina apontou para a garota à sua frente. 

— MAS… você tem mania de estrangular qualquer mínimo sentimento que tem. Fez isso com Dino por um tempo até admitir que gostava dele, faz isso com Harry e, bem, pode estar fazendo isso com Luna há um tempo. — A garota juntou os cachos e fez um coque — Tem certeza que nunca sentiu ou pensou nada do tipo sobre ela?

— É claro que já, Mione. Alguns momentos como Neville falar algo sobre e eu concordar e ficar admirando, ou eu estar sobrecarregada e precisar de um abraço e a primeira pessoa que vem em minha cabeça ser ela, mas sempre tentava tirar isso da cabeça falando: ‘’amigas verdadeiras’’. 

— Então não é o mesmo que sente por mim ou Neville?

— Nem de longe. — Gina disse isso com um sorriso por ter lembrado de como é estar com Luna e logo arregalou os olhos — Ah não. Não. Não. Não. Hermione me enfeitiça agora, eu tô pedindo. 

— Eu não vou fazer isso, sua doida. Você precisa enfrentar isso e descobrir o que realmente tá sentindo. 

— Nada. 

— Para de graça, Ginevra! É só… bom, não sei como fazer isso, mas dá seu jeito. E quando souber, fala com ela, é o melhor. 

— E por que você não faz o mesmo com meu irmão? — Gina deu sorriu de lado.

— E por que você nhenhenhe — Hermione fez uma voz fina e jogou outra almofada na amiga — E quem é você pra falar alguma coisa? Você tá apaixonada por duas pessoas.

— Eu não tô apaixonada por Harry Potter. 

— Então admitiu que está pela Luna, pronto.

— Na próxima eu chamo Neville.

As duas deitaram no chão uma ao lado da outra encarando o teto. 

— Sabe, Ginny… — Hermione começou.

— Lá vem. 

— Se algum dia você se apaixonar por mim eu te dou uma chance, deve ser bom te namorar. 

— Cala a boca.

— Eu tô falando sério. E tem o bônus que irritaríamos seu irmão, sinceramente, as vantagens só aumentam. 

— Esse é um jeito de me dizer que você gosta de mim? Olha, Mione, eu te amo, mas não desse jeito.

— Você acabou de me dar um fora sem eu ao menos te pedir alguma coisa? Agora foi demais pra mim, amanhã contarei pro Harry sobre a página de ‘’Senhora Potter’’ que você fez no segundo ano e até hoje guarda naquela caixa de recordações que basicamente tem coisas dele. — A garota deu risada depois da amiga dar um tapa em seu braço.

— Você é uma idiota. 

— Você vai preparar um ‘’Senhora Lovegood’’? CALMA EU TÔ BRINCANDO! — Hermione disse em meio a risadas e dos tapas que recebia da amiga.

Depois de um tempo elas voltaram à mesma situação e ficaram em silêncio. Decidiram ficar pelo Salão já que não conseguiriam dormir tão facilmente e estavam aproveitando a conversa.

— Tá pensando? — Hermione perguntou.

— Sim. — Gina respondeu e olhou para ela. — Nunca esperei ficar assim, quero dizer, Luna é uma das pessoas que mais gosto nessa vida e eu sei que sempre senti algo diferente por ela, mas não esperava algo desse tipo. Parece que tem algo me consumindo e se eu não abraçar ela nesse momento vou me desfazer. — Ela respirou fundo e olhou para cima de novo — E só de lembrar mais cedo em como eu beijei a bochecha dela, me encho de arrepios e fico pensando no ‘’e se eu tivesse beijado um pouco mais para o lado?’’

— A orelha dela? 

— Você é uma idiota.

— É que nunca beijei.

— Não sabe que é na boca que beija? — a amiga respondeu balançando a cabeça em negativa. — Pois tenho dó de quem te der o primeiro beijo então.

— Eu sei como é ruim sentir isso por… bem, um melhor amigo. Sinto muito.

— E o pior é ter quase certeza que não vai ser recíproco, sabe? Eu não tô acostumada com isso, e colocar tudo em risco só por sei lá o que é esse sentimento me deixa com mais dor de cabeça ainda. 

— Eu posso te oferecer um abraço, se quiser. 

— Obrigada, Mione. 

As duas ficaram deitadas no chão do Salão e acabaram adormecendo, sendo acordadas com Rony olhando para as duas e perguntando o que havia acontecido. Elas se levantaram assustadas e responderam com ‘’assuntos de mulheres’’ para evitar mais perguntas. 

Quando Gina levantou viu que Harry estava um pouco mais atrás observando-a, mas assim que seus olhos se encontraram ele desviou o olhar e entregou duas xícaras de café para Hermione, que passou uma delas para a amiga.

Ela se despediu dos três e, ao invés de ir para o quarto, foi encontrar Luna embaixo da árvore que sempre passavam a tarde. Enquanto ia se aproximando, viu a loira ao longe e aproveitou para apreciar todos os detalhes que havia comentado antes com Hermione. Luna estava comendo alguma fruta enquanto lia algum livro, e, como que sentindo a presença de Gina, levantou a cabeça em sua direção e acenou sorrindo. 

Aquele gesto fez o coração de Gina acelerar.

— Encontrei Ron no refeitório e ele disse que você e Hermione estavam dormindo na Sala Comunal, o que houve? — Luna perguntou quando ela chegou perto o suficiente para conversar.

— Nada demais, problemas que precisávamos resolver às 4 da manhã. 

— As vezes agradeço por ser de outra casa e não ser a que é acordada de madrugada para resolver qualquer coisa que seja.

— Você me odeia, fale a verdade.

— Pelo contrário, gosto de você cada dia mais. Mas tudo tem limite. — A loira riu e ofereceu a fruta que estava comendo para a amiga, que aceitou. — Fiquei pensando no que disse ontem e em como você movimenta minha vida, sabe? Você bem lembra o que todos pensam de mim por aqui e como muitas vezes me tratam, e você sempre toma a frente por mim e me ensina como me mostrar e falar. É bom te ter comigo, Ginny. Você me inspira todos os dias, me ensina o que é ser corajosa e determinada.

Gina ficou pensando naquelas palavras por um tempo. 

Falar o que estava sentindo para Luna era arriscar aquilo que construíram, era arriscar uma amizade em que Lovegood se sentia segura - e até ela mesma que era difícil de se abrir, teve um processo mais rápido com a amiga. E, embora parecesse que seu coração fosse explodir ao mínimo toque entre elas, e, agora que expusera tudo à Hermione se tornou muito mais real, ela não poderia arriscar colocar tudo à prova.

Não era justo com nenhuma das duas. 

Então apenas lidaria, e, iria falar com Hermione quando sentisse que iria explodir. 

Nada valeria a pena se isso significasse ter a melhor pessoa que já conheceu longe de si. 

— Você também me inspira, Lu, cada dia ao seu lado é um novo sentimento e aprendizado. — Luna sorriu para a amiga, que retribuiu o sorriso enquanto sentia todo seu corpo se eletrizar — Você me transmite felicidade e esperança, Luna Lovegood, e é por sua causa que eu acredito que haverá um futuro.

A outra esticou a mão e tocou no joelho de Gina, as duas ficaram se encarando por um tempo e depois olharam para o horizonte à frente. 

Não importava o que acontecesse, faria de tudo para manter Luna ao seu lado.

II

Sábado - 11:42

— Encontrei o Harry no caminho para cá e ele disse que você começou a falar uma língua estranha e no final jogou café nele, falou que ia buscar uma toalha, e que faziam 20 minutos que você tinha sumido. — Luna se sentou do lado da amiga — Você tá bem?

— Sim, só estava meio nervosa. Acho que as provas e tudo.

— E por isso você jogou café quente nele?

— Sim. Não faz sentido?

— Nenhum pouco, mas vou deixar passar pois você parece cansada. — A loira mostrou uma barra de chocolate que trouxe — Como oferta de bondade irei te dar a barra toda. 

— Você é um doce mesmo, né? Me dá aqui. — Gina se ajeitou e abriu o pacote para começar a comer. 

Ficaram algum tempo em silêncio enquanto Ginny sentia o olhar de Luna nela, e isso só aumentava o seu nervosismo com toda a situação Luna e Harry - o único assunto que rodava sua cabeça nas últimas semanas. A garota passou por muitas noites em claro, reclamações para os amigos e tentativa de ser natural perto dos dois - coisa que nem sempre dava certo e, conforme Luna foi percebendo algo diferente, começou a pressioná-la até tudo voltar ao normal. 

Gina havia parado com os encontros pois nos últimos que havia tido tentava achar alguma coisa dos dois nas pessoas a sua frente -  Dino havia se oferecido para dar um beijo nela para ver se tudo aquilo ia embora, Situação que rendeu uma briga entre ele e Simas e ficou decidido que essas brincadeiras não iriam mais acontecer - o que em partes estava sendo uma boa oportunidade para passar todos os seus dias na biblioteca estudando para as provas ou do lado de fora do castelo praticando algo. 

Sua relação com Harry também havia mudado, o garoto agora estava mais aberto e próximo do que no começo do ano e, além de se encontrarem e conversarem bastante durante os treinos conjuntos e sozinhos que tinham, algumas vezes se encontravam no Salão Principal ou na Sala Comunal e conversavam por horas sem perceber o quão tarde estava. 

— Então… quer me contar o que tem rolado entre você e Harry? — Luna quebrou o silêncio e deixando Gina assustada.

— Treinos de quadribol, ué, o de sempre. — Por favor não fique vermelha, por favor não fique vermelha.

— Você acha que me engana, Ginevra? Eu sei que é algo além disso. 

— E você sabe de tudo por um acaso? 

— Sei. Eu e meu pai sempre treinamos a intuição, basicamente não se pode esconder nada de mim. — Luna cruzou as pernas e endireitou a coluna — Então acho bom começar a falar por bem ou por mal.

— É só… eu tenho muitos sentimentos confusos, Lu, e tô tentando desvendar todos eles ainda então não tem o que te falar por agora. 

— Tem certeza? Sabe que eu estou disposta a te ouvir e ajudar com tudo, por mais complicado que pareça. 

Mesmo se eu te disser que um dos sentimentos é como não consigo deixar de pensar em beijar sua boca? E de segurar sua mão? E de poder me afundar no seu abraço quando eu quiser como algo a mais do que apenas amiga? E se eu disser que penso o mesmo pelo Harry? E se eu falar que o que eu mais queria era poder saber que no final do dia eu poderia beijar vocês dois, e me afundar em vocês sem as preocupações de culpa e desespero e nervoso de saber que estou apaixonada por vocês dois? Pois é, Luna Lovegood, eu estou apaixonada não só por você, minha melhor amiga, como também por Harry Potter. Que coisa, não? Agora vamos voltar para dentro que está quase na hora do almoço!

— Nah. Nada demais… — Gina percebeu que a amiga estava disposta a insistir um pouco mais, e embora isso a irritasse, também achava fofo pois sabia que ela estava preocupada (e também poderia ser a vontade por uma fofoca) — Certo. 

— Eba! — A loira se aproximou e bateu palmas animada. 

— Eu tenho pensado muito… em Harry. De forma romântica, mas eu não queria, então acabo brigando comigo mesma por isso. 

— Calma, é por isso que você parou de sair com as pessoas? Por Merlin, GINA ISSO É GIGANTE! 

— Luna, não é nada demais…

— É CLARO QUE É!

— PARA DE GRITAR!

—Certo. — Luna controlou a voz mas o sorriso ainda era grande em seu rosto — É que é Harry e você, algo grande demais pra minha cabeça… IMAGINE O SEU CABELO COM OS OLHOS DELE!

— Merlim. Luna, me escuta: só você, Mione, Neville e Dino sabem disso, ok? E provavelmente Simas, mas meu irmão NÃO pode saber. E nem o assunto disso aqui. 

— Você voltou a escrever ‘’senhora Potter’’ no caderno? 

— Eu te odeio. — Gina foi se levantando.

— Você ainda vai fingir que vai casar com ele e pedir pra sua mãe costurar um véu? — Ela continuava falando para a amiga.

— O erro foi deixar você conhecer a minha mãe e convencer a Hermione que tudo bem vocês conversarem. 

— Oh, e você vai planejar o nome do filho de vocês? OH OH OH se você tiver uma menina pode dar meu nome para ela? — Luna começou a se levantar conforme a amiga ia andando.

— Eu vou te enfeitiçar.

— Que mau humor! Pessoas apaixonadas costumam serem felizes com as coisas. — Lovegood fez uma careta, e ia continuar mas Gina a cutucou quando percebeu assunto da conversa das duas se aproximando com Ron e Hermione. 

— Finalmente apareceu! Pensei que tinha acontecido alguma coisa! — Harry havia trocado a camiseta de mais cedo, Gina notou. 

— Você ficou doida de vez? — Ron perguntou para a irmã.

— Se eu tivesse ficado doida teria ido atrás de você te elogiar ou coisa assim. 

— Pode até tentar me convencer que não gosta de mim, mas sei que é mentira. — Ele abriu os braços indicando que iria abraçá-la, o que conseguiu mesmo com a tentativa de fuga dela.

— Estamos indo almoçar… — Gina falou no meio dos braços de Rony — Ronald! Alguém pode me ajudar?

Foi socorrida por Harry que o puxou e perguntou se poderiam ir junto delas. Luna não pareceu ter objeção alguma (e ignorou os olhares da mesma que iam rapidamente de um para o outro, como se estivesse formulando toda a vida deles naquele momento), então seguiram em frente conversando. Gina permaneceu quieta perto de Hermione, e, no momento de confusão para a entrada no Salão conseguiu contar a amiga o que falara para Luna.

Percebeu que a mesma segurou uma risada, e mesmo assim levou um soco no braço em resposta. 

Para surpresa da Weasley, Harry sentou ao seu lado, enquanto Luna foi para junto da mesa da corvinal. Seu nervosismo aumentou quando suas mãos se encostavam diversas vezes - e não parecia mais ser apenas um acidente. Em um momento estava sentindo Potter olhando para ela com o canto do olho, no outro se deu conta de que estava tendo de se segurar para não pegar o rosto dele e beijá-lo ali mesmo. 

Droga! 

Sentiu suas bochechas ficarem quentes apenas com os pensamentos que estava tendo, e que trouxeram junto Luna. Suas mãos começaram a suar e mesmo respirando fundo - o que não dava certo quando sua boca estava cheia de batatas - conseguia seu coração ainda acelerado. 

DROGA, HARRY POTTER!

HARRY

Você está bem? Tá toda vermelha.

— GIN! — Harry gritou do alto das escadas — GINNY! — A ruiva já havia se virado para ver o garoto, mas mesmo assim ele continuou gritando — GINEVRA WEASLEY! — Nesse ponto ela já havia fechado os punhos por eles ter chamado-a assim — GINA!

— Eu escutei você no primeiro grito, Potter! — Ela falou quando Harry chegou perto o bastante para receber um soco no braço.

— AI! — Harry esfregou a mão no braço direito que a garota havia batido — Eu não sei se você tem consciência do quão forte é… 

— Tenho desde os meus 5 anos quando consegui bater em Rony e ele falou: ‘’você bate mais forte que o Gui’’ e eu me senti elogiada pois quem havia me ensinado aqueles golpes havia sido o Gui.

— Por que toda história da sua infância envolve você brigando com Ron?

— Porque é assim que eu demonstro meu amor por ele! 

— Por favor, nunca me ame assim. — ele deu uma risada abafada e ao perceber o que havia falado começou a corar e gaguejar — Não que eu… não é… amor… não é isso o que eu. 

— Eu entendi, Potter. Relaxa, foi uma piada. — Ficou aliviada de não sentir as bochechas queimarem. 

— Certo… Pronta para o treino de hoje? 

— Nem um pouco. Tenho dormido pouco e mal então estou com nada de energias. 

— Hm.

— O que? — Gina perguntou com uma das sobrancelhas levantadas. 

— Apenas uma ideia mas… nós dois estamos indo bem nos jogos e eu pensei que talvez pudéssemos fazer alguma coisa diferente como, não sei, comer alguma coisa juntos. — Ela se forçou a continuar andando pois seu cérebro começou a gritar: ‘’PARE PARE AGORA ELE ESTÁ TE CHAMANDO PARA UM ENCONTRO! HARRY POTTER! ATENÇÃO TODOS! HARRY POTTER ACABOU DE CHAMAR GINA WEASLEY PARA UM ENCONTRO!’’ — Gina?

— Sim? 

— Você ficou quieta. Se achar que temos de ir treinar podemos, só pensei em um dia de folga. — Ele colocou uma mão atrás da cabeça e sorriu.

— Não! Eu acho uma óóóótima ideia. — Gina retribuiu o sorriso — Mas, sabe, não podemos sair daqui.

— Bom, podemos pegar algumas comidas da cozinha e fazer um piquenique aqui fora. O que acha? 

— Acho que você é cheio de boas ideias, Harry Potter. 

— Eu faço meu melhor.

Os dois foram até a cozinha e pegaram algumas poucas coisas. Como era perto do horário do pôr do sol foram para um local mais alto no qual poderiam ver o horizonte e ali ficaram conversando e admirando a paisagem. 

— Traz muitas garotas para cá, Potter? — Gina jogou uma uva para cima e pegou no ar. 

— Você parece Mione falando. — soltou um riso fraco — Não, Weasley, não trago. Por incrível que pareça não sou tão popular entre as garotas assim. 

— Pois eu sou. 

— Eu sei da sua fama, perigo de quem um dia cair na sua conversa. 

— Eu sou encantadora, é quase impossível não cair no que falo. Se eu estivesse usando meus truques agora você estaria apaixonado por mim já. — Ela deu de ombros com um sorriso malicioso no rosto. 

— Tenta a sorte.

— Não vim pronta para isso. — Ela desconversou quando viu Harry se aproximar — além disso, imagina se você acaba sentindo algo por mim? Meu irmão vai ser obrigado a te matar. Ou eu vou ser obrigada a socorrer ele de um infarto, alguma das duas opções.

— Acho a segunda mais provável. 

— Eu também. — Ela falou fazendo uma careta, o que levou Harry a rir. 

Ficaram algum tempo em silêncio de frente um para o outro, evitando que os olhares se encontrassem, mas sempre olhando-se quando viam que o caminho estava livre. Era engraçado como o sentimento que ela tinha por ele era o mesmo pela Luna, mas ao mesmo tempo eram tão diferentes. A alegria que sentia era diferente, embora igual; e aquela ansiedade do que iria acontecer seguia no mesmo caminho, tal qual a paz e a liberdade.

Isso tornava tudo mais difícil de se entender ou até de tomar alguma decisão. 

— Tem saído com alguém? — Harry a trouxe de volta dos próprios pensamentos.

— Nah. Por agora não, dei um tempo de toda aquela correria…

— Hermione comentou. Mas só porque eu perguntei, não porque ela me conta da sua vida sem mais nem menos… — Ela levantou uma sobrancelha e ele voltou a se explicar — perguntei porque um amigo queria saber se você estava livre então tive de consultar ela. 

— Sim. Um amigo. — Ela sorriu pensando: ‘’O que está acontecendo?’’ — Bom, pode avisar ele que eu estou livre e com a agenda sem compromissos pois não sou mais aquela garota! Estou tomando jeito na vida, como diria minha mãe. 

— Já estava na hora, como diria Ronald Weasley.

— E eu lá ligo pra esse aí. Só de lembrar que ele fica irritado me dá vontade de voltar para aquela rotina. 

— E Luna? — Ele perguntou.

O QUE

— O que tem ela? — Gina tentou manter a calma e não tentar pensar no porquê ele perguntaria de Luna no meio da conversa sobre seus interesses amorosos.

— Faz algum tempo que não converso com ela. Ela está bem? 

— AH! — O alívio tomou conta de seu corpo. — Tá sim! Acho que a Luna não tem um dia que não está bem. Às vezes ela não está TÃO bem, mas está bem.

Harry riu e olhou para o céu que já estava escuro. 

— Fico feliz. — Ele suspirou — Vocês já tiveram alguma coisa?

Ela cuspiu a água que estava bebendo. 

— Você tá bem? — Harry perguntou assustado.

— Tô sim, só foi um susto. Mas, não. Nunca tivemos nada. — Gina falou rapidamente — Ei, é melhor irmos indo, não?

— Ah, sim! Vamos sim. 

Eles começaram a juntar as coisas e se puseram a caminho do castelo - caminho esse percorrido em completo silêncio. A cabeça de Gina mostrava mil imagens com o fundo de ‘’Vocês já tiveram alguma coisa?’’ e as vezes as quais ele ficou nervoso perto dela. Seria possível que estava imaginando coisas ou Harry poderia estar dando em cima dela? 

Você está alucinando de vez.

Mais uma noite acordada, e provavelmente com Hermione ao seu lado. Não era como se ele sentisse algo por ela, certo? Ela era Gina e ele Harry, não era possível algo do tipo. 

Lembrar de Luna embrulhou seu estômago. Como ela se envolveria com alguém sabendo que seu coração se derrete pela amiga também? Não havia como isso acontecer. 

Muitas perguntas e nenhuma resposta.

Essa noite vai ser longa.

Sem perceber, os dois já estavam na porta do castelo e conseguiam ver os alunos andando para a Sala Comunal, se preparando para o jantar. O barulho das risadas e conversas conseguiam deixar os pensamentos altos de Gina quietos.

— Ei. — Harry chamou a atenção da garota. — Obrigado por hoje. Foi muito legal mesmo e, bem… é muito bom passar um tempo com você dentro ou fora do campo. 

Ele respirou fundo e continuou. 

— Espero que não seja a última vez que faremos isso, Gin. Estar com você é algo muito bom. 

— Você já disse isso.

— É que quero deixar claro o muito. — Ele sorriu e Gina viu que ele se aproximou um pouco. 

— Eu também gosto de passar um tempo contigo, Harry, e realmente, hoje foi bom e inesperado. Podemos fazer mais coisas como essas. — Ela sorriu de volta pois realmente queria que aquilo acontecesse mais vezes (e quem sabe algo mais). 

— Certo! — O rosto dele se iluminou e ele arrumou o óculos empurrando-o para cima. — Vou ir trocar de roupa antes do jantar, mas nos vemos mais tarde. 

— Tud… — Gina não conseguiu terminar a frase pois o garoto deu um beijo em sua bochecha e saiu apressado, deixando ela ali parada pensando: ‘’foi apenas um beijo na bochecha, você já foi muito além disso, Gina.’’ e ao mesmo tempo ‘’MERLIM! HARRY POTTER ME BEIJOU! ELE ME BEIJOU!’’

Ficou por mais alguns momentos parada na mesma posição absorvendo o que havia acontecido até que Neville parou em sua frente e perguntou:

— Você está bem? Tá toda vermelha. Tá passando mal ou coisa assim?

 

III

Sábado - 17:10

— Você tem alguma coisa para me falar? — Luna parou com os braços cruzados a frente de Gina.

— Pensei que a hora das confissões haviam acabado. — A ruiva não levantou os olhos do livro à sua frente. — EI!

Luna havia puxado o objeto e forçado a amiga olhar para ela. 

— Ginevra Weasley eu estou te dando a oportunidade para me contar qualquer coisa agora mesmo, sem julgamentos e sem reações exageradas. 

Gina conhecia aquele olhar. Era o olho de eu já sei de tudo de Luna. Mas o quê ela sabia exatamente? Não era possível que ela soubesse aquilo. Ou era?

— Do que você tá falando? 

— Você sabe bem e eu tô te dando a chance. Vamos. — Ficou impaciente e começou a bater um dos pés.

— Você não sabe de nada. 

— Sei sim.

— E o que você sabe? 

— Quero ouvir da sua boca antes.

— Não é assim que funciona. 

— VAMOS, GINEVRA!

— O QUE VOCÊ QUER?

— Eu sei que você está gostando de mim. — Luna abaixou o tom da voz.

Provavelmente ela não havia percebido - ou havia - que Gina paralisara em sua frente.

Weasley sentiu seu mundo cair em câmera lenta, repassando o que a garota acabara de falar. Tudo aquilo que escondeu estava ali e era sua chance de falar algo e fazer algo mas nada saía, nem mesmo o seu cérebro que sempre fora ativo em momentos de pânico como esses dava algum sinal. Provavelmente ela estava morrendo, uma morte cerebral e não precisaria enfrentar aquilo. 

Mas é óbvio que não era tão fácil assim. 

Luna começou a chamar pela amiga que ainda não conseguia reagir a vontade de responder algo e não permanecer parada como alguma doida logo ali, apenas encarando com a boca meio aberta. 

Pouco tempo depois começou a ser sacudida pela mesma que falava alto seu nome atraindo olhares para elas.

— Para com isso! Estão olhando! — Gina conseguiu falar.

— Então me responde! — Luna a olhava com aqueles grandes olhos azuis. 

— Eu estou tentando me adaptar ao que você acabou de me falar, Luna. Não é algo tão simples assim. Preciso descobrir se é agora que me declaro e tenho meu coração despedaçado ou se dou alguma desculpa. — Ela explicou juntando o cabelo e prendendo os fios em um rabo.

— Por que você é tão drástica?

— Então você sente algo por mim?

— Ginny…

— Aí está. 

— Me escuta. Por favor. — Luna pediu que ela se sentasse — Eu te amo, muito mesmo.

— Luna, você falar que me ama como amiga é pior do que uma facada.

— E como irmã? Ok, péssima hora para piadas. 

— Continua.

— Ginny, eu sinto muito por não sentir algo como você sente. Mas eu nunca nunca nunca gostaria que você mudasse comigo, ou se afastasse. — Luna sorriu — Sabe, de uma forma egoísta se me permite ser, eu até me sinto bem de ter alguém sentindo isso por mim…

— Alimentei o seu ego então? Fico feliz, pois isso tudo — Gina fez um movimento com a mão em círculos — Só me trouxe insônia. E choros. E dor no estômago. 

— Sinto muito, nunca foi minha intenção. — Luna olhou preocupada para a amiga. 

— Luna, é claro que não foi, sua tonta. Você não fez nada de errado. Se tivesse feito eu nunca teria me apaixonado por cada detalhe seu, e quando eu falo que você é uma das melhores pessoas da minha vida, como no top 5 dela, eu falo sério. 

— Você não tá sendo imparcial por causa dos seus sentimentos? 

— Talvez um pouco, mas eu finjo que não. — Ela deu de ombros, o que causou uma risada na loira. 

— Quando eu fiquei sabendo eu não sabia o que fazer além de vir te perguntar sobre isso, sabe? Quero dizer, explica TANTA coisa desses últimos meses que até fico aliviada. Em alguns momentos comecei a desconfiar que você me odiava ou algo assim.

— É claro que não. — Gina falou — Inclusive, como você ficou sabendo? 

— Ameacei o Neville. 

— É claro. 

— Ele estava conversando com Dino e ouvi o meu nome, o seu, insônia, e paixão. Pressionei ele até falar tudo, no caminho ameacei ele e o coitado do Trevor, mas no fim consegui o que queria e pedi desculpas ao sapinho. 

— Ao Neville não? 

— Depois eu peço.

— Faz sentido. — Gina sorriu — Você não vai quebrar meu coração? 

— Espero que não.

— E nem deixar de ser minha amiga?

— Nunca faria isso, Ginny. Você me dá equilíbrio. — Luna suspirou — Eu só quero que me avise caso eu ultrapasse algum limite, sabe? Não quero também te fazer algum mal.

— Fique tranquila, no máximo eu começo a chorar de madrugada. — Gina riu e recebeu um empurrão de Luna. — Mas eu sei que você não faria nada de propósito, Lu, como nunca fez. Basicamente tudo isso é inteiramente baseado em expectativas minhas, com cenários que criei na minha cabeça. 

— Que cenários são esses? 

— Esse assunto é para outro dia. 

— Tipo você imaginava nosso primeiro encontro? — Gina bateu a cabeça na mesa — Nosso primeiro beijo? OH OH OH VOCÊ PENSOU EM NOME PRA CRIANÇAS?

— De repente assim tudo acabou e você voltou a ser somente minha amiga chata. 

— Foi meu olho claro que te enfeitiçou? É isso, você tem paixão por pessoas de olhos claros. — Luna jogou bateu as mãos — Ou foram meus cabelos loiros voando contra o vento. 

— Sim, foi um combo disso tudo. 

— Sério?

— E eu lá vou saber, o dia que percebi que tava gostando de você eu passei a madrugada acordada reclamando pra Hermione. — Gina deu de ombros. 

— AAAAH foi esse dia. Que divertido ser o motivo de nervoso de alguém nesse sentido, acho que é a primeira vez que alguém sente algo desse tipo por mim. — ela disse sorrindo.

— Pois não vai ser a última, confie em mim. Qualquer um que gostar de você e ficar contigo vai ser sortudo demais. — Gina retribuiu o sorriso, já sentindo suas bochechas corarem. 

As duas ficaram em silêncio. A biblioteca, por sorte, era vazia aos sábados então no máximo a bibliotecária ouviu a conversa delas - o que achava difícil pois não ouviu nenhuma reprimenda enquanto falavam alto, então as chances de nem ela estar por ali eram altas. 

Quando Gina ia sugerir de saírem de lá e irem procurar os amigos Luna continuou:

— E tem Harry… Você realmente não presta, Gina Weasley!

— O que tem ele? 

— Você gosta de nós dois! — a garota colocou uma das mãos no peito — Por Merlim! Eu posso facilmente me sentir ofendida agora mesmo. 

— Você é uma tonta. Meu caso com Harry é completamente diferente do que tenho com você, e também foi inesperado. 

— Oh sim, você e Harry muito inesperado. Só se for pra você e pro seu irmão mesmo. 

— E é como você e eu, não é como se fosse acontecer alguma coisa entre nós dois. 

— Você é muito sonsa, é impressionante, de verdade. 

— Podemos mudar de assunto? Minha cabeça está doendo de pensar em tudo isso e francamente acho que quando pensei em você descobrindo o que eu sentia imaginei uma cena dramática com beijo e declarações em troca. — Gina recolheu os livros e foi se levantando. 

— Você é uma romântica em segredo, adoro saber disso. Eu tenho certeza que você tem uma caixa de memórias pra mim e para o Harry. — a loira acompanhou a amiga que revirava os olhos — Que honra dividir o coração da tão disputada Gina Weasley com Harry Potter, uma das minhas maiores conquistas. 

— Merlim! Quando você vai esquecer isso? 

— Nunca. Estaremos adultas e contarei essa história para todas as crianças. Ia falar nossas crianças mas teria duplo sentido. 

— Vou pensar como seria uma junção das nossas características mesmo isso sendo impossível. 

— Se eu casar com um dos seus irmãos, não. 

— Você não ousaria. 

— Não mesmo, você é a melhor deles. Talvez perca só para o Carlinhos. — Luna colocou as mãos na cintura. 

— Todos nós perdemos pro Carlinhos em qualquer categoria. — Gina sorriu.

Elas começaram a ouvir as vozes altas dos colegas mais a frente e pararam por um momento. Ficaram olhando para frente, e Gina teve a impressão que a amiga estava nervosa, talvez estivesse recapitulando tudo que havia acontecido na última meia hora. Eram informações novas muito importantes.

— Você tá bem? — a Weasley quebrou o silêncio. 

— Então você imaginou eu descobrindo e logo depois um beijo, certo? — Luna perguntou ainda olhando para sua frente. 

— Luna, para de pensar nisso, por favor. 

— É que não dá.

— Ok, mas s… — Gina não conseguiu terminar a frase (de novo). As pessoas tinham que parar de interromper ela com um beijo.

BEIJO?

LUNA LOVEGOOD  ESTÁ ME BEIJANDO? 

NA BOCA? 

EU ESTOU BEIJANDO MINHA MELHOR AMIGA?

OK, acho que estou tendo um início de infarto. Meu deus por que a boca dela tem gosto de amora? Que coisa mais horrorosa. Mas na verdade, não, é exatamente o que eu pensei que teria gosto. Como pode ela ser tão… assim? 

Por que ela não para de me beijar? 

Após mais alguns segundos Luna se afastou de Gina, que estava paralisada com um bico na boca e completamente vermelha, ainda sem entender o que havia acontecido e pensando se deveria aproveitar ou ficar assustada. 

— E aí? — Luna perguntou com um sorriso. 

— Eu… — Gina ainda estava paralisada. 

— Foi ruim? Eu nunca beijei uma menina antes. Ou qualquer um também. — Luna deu de ombros. 

— Você… eu.... Ok, eu estava em choque, pode fazer de novo pra agora eu aproveitar? 

— HAHA! Você bem quer mesmo. 

— Sim, eu quero. 

— Não. Apenas uma vez para ser legal com você porque já que não teve reciprocidade, teve o beijo. 

— Tá, mas eu não entendi quando estava acontecendo, agora eu estou pronta. — Gina explicou e a amiga começou a andar. 

— Desiste, Gina. Eu te disse uma vez que você teria de lutar muito pois você não tem desafios.

— Por que você me odeia? 

— É óbvio que eu não te odeio. Mas não se pode ter tudo, e pelo menos você foi meu primeiro beijo e você me deu um beijo. Nós duas ganhamos. — Ela se virou para a amiga. 

— Não estou… — Gina falou soinha pois a amiga havia acenado para Neville, Dino, Hermione, Ron, Simas e Harry e eles já haviam começado a conversar. 

Neville engoliu em seco quando viu que Gina estava junto, e a garota lhe lançou um olhar bravo e falou sem emitir som ‘’Depois conversamos’’. Todos se cumprimentaram e Harry olhava para a Weasley, que perguntou se tinha algo de errado na cara dela, ao passo que o garoto ficou nervoso e começou a gaguejar - Gina gostava quando isso acontecia. 

Luna se aproximou dele e disse para não deixar a garota o irritá-lo, e começaram a andar lado a lado entrando no salão, enquanto a ruiva ficou de longe observando os dois. Lovegood olhou para trás e gritou pela amiga que acordou dos próprios pensamentos, pensando como era sortuda, mesmo com todos os conflitos, de estar apaixonada pelas duas melhores pessoas que conhecia.

Harry se virou e sorriu de volta, complementando o sorriso doce de Luna. 

‘’Serão longos meses pela frente.’’ Gina pensou antes de apreciar a cena por mais um segundo e correr em direção a eles.