Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 4
Capítulo 4




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— Por que você não falou? – Jay arqueou a sobrancelha, confuso.

Gil mexeu no próprio prato, nervoso.

— Não sei. Só achei que... Que seria melhor se você tivesse presente. Uma relação assim vai exigir muitos acordos e... Não achei que ia ser legal se a gente fizesse esses acordos sem você por perto. Ia parecer maldade.

Jay não pôde evitar um meio sorriso e pôs a mão sobre a do Gil, se sentindo estranhamente feliz pela importância que o loiro dava para sua opinião.

— Certo, então... Cadê ele?

— Sei lá.

Os dois suspiram quase ao mesmo tempo e voltaram à atenção para as montanhas de comida em seus pratos. Jay vinha tentando maneirar na carne desde que começou o namoro com Gil, mas, ainda assim seu prato estava com um enorme filé. Em contrapartida, o prato de Gil era uma tigela de ratatouille e macarrão com molho de tomate

Quando estavam quase acabando de comer, Harry Gancho apareceu em sua antiga jaqueta de couro vermelha longa.

— O que os dois cães velhos querem? – perguntou, parecendo irritado enquanto se sentava ao lado de Gil, roubando as uvas que o garoto tinha na bandeja.

— Ei!

— Boa tarde, Gancho. – Jay revirou os olhos, com o cinismo marcando sua fala. Era impressionante a capacidade que a simples presença de Harry tinha de irritá-lo.

— A gente quer te pedir em namoro. – Gil declarou sem rodeios, a boca cheia e o molho escorrendo pelo queixo.

Harry fez careta olhando para o marujo e pensando em como a aparência dele era de fato deplorável. Voltou o olhar para Jay que, mesmo de boca cheia estava um pouco mais apresentável. Mesmo assim, fez careta.

— Até você? – arqueou a sobrancelha.

Jay sentiu seu rosto ficar quente e deu de ombros, tentando manter a pose de confiante de sempre.

— Claro, por que não?

Harry semicerrou os olhos.

— A gente gosta de você, Gancho. – declarou por fim. — Eu gosto de você.

— E eu também. – Gil acrescentou, falando um pouco alto demais.

Novamente, Harry olhou de um para o outro, com aqueles olhos de miosótis antes de dar um longo suspiro.

— É bom... Por algum castigo dos deuses do mar, eu também gosto de vocês dois então... Como isso vai funcionar exatamente? – questionou, soando estranhamente hesitante, os olhos na mesa.

Gil e Jay trocaram um olhar longo, como se conversassem em silêncio. Harry se mexeu desconfortável em seu lugar observando os dois. Eles estavam juntos já tinha um tempo, percebeu. Já eram íntimos e... Harry se sentiu repentinamente com medo de acabar sendo um intruso na relação. Com certeza não conseguiria ter o mesmo nível de intimidade com os dois e... E só esse pensamento foi capaz de fazer seu coração disparar.

— Nada de flertar com outras pessoas. – Gil começou, soando estranhamente sério. — Nem de ficar com outras pessoas. É só nós entre nós, ok?

— E também nada de ficar mandando e tomando decisões só. – Jay acrescentou, no mesmo tom que o Gil. — Não é uma coisa com líder, Gancho. É sério. Qualquer problema é pra todo mundo conversar, tá?

— Bom, acho que me acostumei com não ser líder desde que entrei pra trupe da Uma, então...

— Não! – Jay interrompeu, o olhar quase feroz. — Não tô falando só de não ser líder. É não mandar em ninguém, nem por o Gil pra fora quando ele falar algo errado ou que não te agrada e nem nada do tipo. Me entendeu?

Harry cerrou os lábios.

Então, era uma relação ao estilo Auradon.

Ele achou estranha a forma como Jay ficou tão defensivo sobre como tratava Gil, mas, preferiu não fazer comentários a respeito. Os olhos de Jay, normalmente tão relaxados e suaves, pareciam quase selvagens naquele instante.

Jay respirou fundo, se ajeitando na cadeira novamente e passando a mão pelos cabelos compridos, tentando se acalmar. Gil estendeu a mão sobre a mesa e apertou a mão do namorado antes de voltar-se para Harry.

— E você vai viajar com a gente! – declarou sorridente, era incrível a semelhança do loiro com um Golden Retriver. — E a gente tem que falar sobre tudo, tá? Sem segredos, nem tramóias, nem nada... Só... Conversar. É bom resolver as coisas assim, mais fácil do que duelo de espadas.

— Duelos são legais. – Harry opinou.

— São mesmo. – o loiro concordou. — Mas, assim dá mais certo. A gente testou.

Jay riu baixinho apertando a mão de Gil que repousava sobre a sua, olhando sorridente para o garoto.

— Uau... Mais alguma coisa?

— Você e eu temos algumas coisas para passar a limpo, Gancho. – Jay suspirou, soltando a mão de Gil mexendo nas luvas sem dedos. — Mas, podemos cuidar disso depois. Hã... Eu não tô sempre por aqui então, se vocês quiserem se divertir sozinhos...

Enquanto Gil ria, Harry bateu o gancho na mesa, assustando os dois.

— Oh, então vocês estão me chamando só pra ser o brinquedinho sexual quando você não estiver disponível, Jay? Que. Graça.

Jay estava com a testa franzida. — Não foi isso que eu disse.

— Ficou bem claro.

— Gancho, eu só...

— Harry, para com isso. – Gil suspirou, colocando a mão sobre o gancho de Harry, timidamente. — Nós dois gostamos de você. Você não é um brinquedo. Você sabe que eu gosto de você, né?

Harry estremeceu.

Ele não estava acostumado a ouvir Gil falando com tanta confiança.

Assentiu hesitante.

— O que eu estava falando... – Jay retomou a fala, olhando de testa franzida para Harry Gancho. — É que se vocês quiserem sair por Auradon, os shoppings, as estufas, os parques e as praias sem mim, tá tudo ok. Mas, já que você quis levar o assunto pra isso, tudo bem também!

Harry rangeu os dentes e levou a mão ao cabo da espada por reflexo.

— Chega vocês dois! – Gil olhou irritado para ambos. — Jay...

O filho de Jafar respirou fundo. — O que eu tô dizendo, é que... Harry, você me irrita muito, de um jeito que você nem tem noção.

— Jay...

— E mesmo que você me irrite tanto assim, sempre que eu tenho tempo eu venho aqui, e eu procuro o Gil e eu procuro você também e te ofereço vagas para participar de programas que, por um acaso, eu que supervisiono, porque se você aceitar... Eu iria te ver mais. E eu não faço isso porque eu quero passar mais tempo tendo que aguentar suas provocações irritantes, eu faço isso porque eu quero poder te ver com mais freqüência, porque eu gosto de você do mesmo jeito que eu gosto do Gil. Então, se você interpretou errado o que eu disse há pouco, foi mal, mas não é nem um pouco isso.

Harry engoliu em seco se permitindo perder-se por um instante nos olhos castanhos afáveis e gentis, encantar-se pela teia de cortejos gentis e a voz aveludada que lhe dizia palavras de afago.

— Ah... – foi só o que conseguiu verbalizar.

Jay revirou os olhos.

— Então, acho que agora dissemos tudo, né? – Gil sorria, animado.

— Não. Você sabe... – começou, um tom de hesitação na voz enquanto girava o gancho na mão. — Que ainda temos que falar com a Uma.

— Espera aí, por quê? – Jay questionou, olhando os dois confusamente enquanto Gil grunhia e escondia o rosto na mesa.

— Piratas não namoram piratas sem a permissão da capitã. – resmungou contra a madeira.

— Namorar não piratas sem permissão, tudo bem, ela não tá nem aí. Namorar outros piratas? Tá achando que isso é um circo?

— Que vida é essa que vocês escolheram e por quê? – Jay praticamente gritou, irritado.

— Bom, nem todos tivemos a sorte de cair nas graças da filha da Malévola, então tivemos que nos juntar a outras gangues e... – Harry revirou os olhos.

— Você bem tentou cair nas graças dela, não é? – o filho de Jafar interrompeu, acidamente.

— Eu vou falar com a Uma. – Gil decidiu se levantando e ajeitando as luvas amarelas. — E vocês dois... Tentem não se matar, tá?

— Claro.

— Vamos tentar.

Gil revirou os olhos saindo.

Se tudo desse certo, pensou, no fim do dia teria dois namorados lindíssimos.

Se algo desse errado, bom, ainda teria um namorado lindíssimo.

Um é melhor do que nada.


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