Enquanto todos saiam da catedral para a festa de coroação, Aziz puxou Sammy pelo braço.

— Você tinha que ir defender a garota que tava ajudando a Malévola? Sério?

— Ela é minha capitã!

— E daí?

Sammy uniu as sobrancelhas. — Lealdade é uma coisa boa, não?

— Lealdade ao bem.

— Ela não tinha culpa. Tava sobre influência do cetro. Igual a Audrey. – fez careta. — Ninguém se importou com aquele príncipe que ficou do lado da Audrey. Por que eu ajudar a Harriet é um problema?

Porque Auradon é hipócrita, Aziz quis responder, mas invés disso, apenas forçou um sorriso. — A maioria das pessoas não pensa bem de piratas, Sammy. Ainda mais quando estes estão com um cetro mágico que controla todas as forças do mal.

— Então... Bem é ajudar só quando as outras pessoas vão concordar?

— Hã, não. Tem razão, isso pegou mal. – Aziz umedeceu os lábios e respirou fundo. — Vem cá. Vamos pra festa. – suspirou levando-o até o tapete mágico.

— Eu ainda estou confuso. – Sammy resmungou subindo com ele. — Por que eu ajudar a Harriet é ruim?

— Eu disse, você está certo. Não é ruim. – Aziz suspirou se ajoelhando no tapete. — Só... Vão implicar um pouco comigo no jornal por isso, mas cê fez bem.

— Por que vão implicar com você se quem ajudou fui eu?

— Porque viemos juntos e amam implicar comigo.

— Por?

Aziz suspirou, coçando o nariz enquanto o tapete voava alto — Eu roubei um carro quando tinha quinze anos.

— Você o que?

— Eu não roubei na verdade, foi mais uma armação. Mas foi assim que noticiaram. – declarou por fim

— Como assim?

— Chad me entregou a chave da limusine da família dele para eu ir ao lago encantado quando meu tapete mágico adoeceu. Ele disse que Cinderela tinha deixado. Só que não tinha... E ele noticiou o roubo e eu acabei parado no meio do caminho até o Lago... Foi noticiado pra caralho. E como minha família já tem um histórico com roubo... – pausou, respirando fundo. — Bom, minha família quase foi deposta. E até a hoje a mídia me persegue... Bastante.

— Por que o Chad fez isso?

— Diz ele que era pra ser uma pegadinha. – deu de ombros novamente. — Enfim, quando eu comecei a namorar o Jay... O negocio de depor a minha família voltou com força, não pegou bem não. Nem um pouco.

— Hum...

— E eu só... Não quero que volte de novo. – Aziz suspirou, olhos perdidos nas aves que voavam próximo deles. — Não é justo cobrar que você aja de um certo jeito porque é o jeito que Auradon aprova mais, eu sei. Aprendi essa lição. Eu só... Não quero ferrar minha família... Mas, também não quero te fazer agir de outro jeito.

— Seria melhor pra você se não estivéssemos juntos então?

Aziz engasgou.

Sammy tinha os olhos sérios. Ele não estava perguntando por qualquer outra razão além de pura estratégia. A mídia era o problema então? Ok, e como a enganamos?

Ele era um pirata. O imediato. E Aziz percebeu que ele não tinha problema algum em olhar as coisas como um vilão encararia.

— Eu suponho.

— É o que você gostaria?

— Não.

— Eu deveria agir de outro jeito então? Como os príncipes daqui? Igual a Mal fez? Mudando as roupas e o cabelo...

— Não. Não precisa fazer nada que não queira por vontade própria. – Aziz sorriu de lado. O tapete começava a descer. Estavam chegando a festa.

— Não quero te prejudicar. – Sammy murmurou, sem saber o que mais sugerir.

Aziz sorriu. — Venha cá.

Sammy suspirou, abraçando Aziz. Encostou a testa no peito do príncipe, aproveitando os braços dele a sua volta.

— Acho que vamos ter que achar uma forma de mostrar a Auradon o quão incrível você é. – Aziz murmurou, encostando a testa no alto da cabeça de Sammy. — Um pouquinho assustador, mas muito incrível mesmo assim.

— E o quão você também é incrível, mesmo eu também te achando um pouquinho assustador.

Aziz deu risada.

***

— Se sente melhor?

— Sinto como se tivesse tirado um espinho do meu cérebro. – Audrey sorriu, de mãos dadas com Uma na carruagem real. — Acho que o Hades ter cortado o contato do Cetro com os demônios acabou cortando as influências sobre mim também.

— Acredito que sim. – Uma concordou. — Ben disse o que vão fazer com a chifruda?

— Ela está sendo levada para um dos alojamentos do Palácio da Fera. – respondeu. — Ainda estão decidindo o que vão fazer com ela... Tipo... O povo tá bem assustado, independente de qualquer coisa sobre ela ser do bem agora, isso não muda o fato de que ela traumatizou praticamente todo mundo em Auradon. Mal e Ben devem dar uma entrevista amanhã sobre essa questão. Mas, provavelmente ela vai passar um tempo em cárcere privado.

— Entendo. – Uma suspirou passando a mão pela saia de seu vestido azul e dourado enquanto a carruagem parava. — Bom, vamos deixar isso pra lá. Vamos curtir a festa, princesa.

— Com prazer, capitã!

Desceram da carruagem rindo, correndo até o palco no pátio traseiro de Auradon Prep. Outros alunos e ex-alunos já estavam lá. Luzes brilhavam e as pessoas riam, cantando e dançando alegremente, aliviados por não terem mais que se preocupar com vilões ameaçando seus reinos e eufóricos com a coroação de Mal como rainha de Auradon.

Mal e Ben estavam no centro do palco, dançando sorridentes um para o outro. Olhos brilhando. Corações disparados. A alegria de finalmente terem seu final feliz.

Audrey e Uma subiram no palco, rindo e entrando na dança, rodopiando de mãos dadas.

— O que acha de ir navegar comigo agora que não estamos correndo para salvar o mundo? – Uma perguntou.

— Eu adoraria. – sorriso de lábios perfeitos. — Para onde?

— Poderíamos fugir da loucura daqui, passar umas semanas na Terra do Nunca.

— Seria ótimo!

***

Jay e Gil chegaram na festa sozinhos. Harry tinha ido antes com CJ e Harriet. "Discussão de família" ele tinha dito.

Gil esquadrilhou por entre a multidão, buscando o vermelho do casaco de Harry entre a multidão festejante.

— Ali.

Harry estava sentado perto do palco, sozinho, girando o gancho na mão.

— Ei! – Jay chamou se sentando ao lado dele. — Tá tudo bem?

— Tá sim. – Harry sorriu fracamente se encostando nele e pegando a mão de Gil enquanto este se sentava do seu outro lado. — Acho que subestimei quanta raiva a Harriet tinha do papai. Foi essa raiva que o Cetro usou.

— Quando ela se juntou com a Malévola? – Gil perguntou, embora tivesse já sua própria suspeita.

— Logo depois da corrida de barcos. Parece que ela e Malévola se esbarraram na Ilha. – Harry suspirou. — A magia convenceu a Malévola de que era melhor entregar o cetro pra Harriet e Harriet usou a magia dele pra disfarçar ele como uma pulseira.

— O Cetro é muito inteligente. – Gil murmurou.

— Era. – Jay corrigiu. — Agora o cetro é só uma bengala velha. Enfim, Harriet tá bem?

— Tá sim. CJ achou melhor levá-la pra casa... – Harry comprimiu os lábios, pensativo. — Ela também vai começar com a terapia com as fadas. Igual meu pai. Pra... Lidar com a raiva e tal.

— Isso é bom. – Gil sorriu. — Vai fazer bem pra ela. Ela é muito brava.

Ele concordou com a cabeça seriamente. — Ah, ela também decidiu me dar o navio dela, então assim que acabarmos as aulas de verão poderemos viajar.

— Isso é incrível! – Jay sorriu apertando a mão de Harry.

— Você não parece feliz, Harry. – Gil observou.

— Só tô triste por não ter percebido tudo isso acontecendo com a Harriet.

— Vocês nunca foram muito próximos, amor. – Jay suspirou. — É normal você e CJ não terem percebido antes.

— Eu também tô com medo, acho. – admitiu baixinho.

— Medo do que?

— Das coisas mudarem com a viagem. Eu não tava com medo disso antes, mas graças a alguém... – ele olhou feio para Jay enquanto falava. — Eu só não quero que a gente mude, entendem?

Jay comprimiu os lábios pensando no que dizer.

Gil puxou o rosto de Harry, olhos calmos e sorrisinho no rosto.

— Fomos amigos na infância... E aí a gente se afastou por anos até virarmos piratas da Uma. E você e o Jay costumavam roubar e ficar juntos na Ilha e depois brigaram e agora estão bem. E eu e Jay nos esbarrávamos em Dragon Hall e até dávamos em cima um do outro... Mas aí ele veio pra Auradon. E você e eu saímos da Ilha juntos e Jay e eu flertamos no quebra gelo e aí você e eu voltamos pra Ilha e só saímos quando a barreira foi quebrada. E agora estamos todos juntos.

— Aonde você quer chegar? – Harry murmurou.

— As coisas sempre mudam. E apesar da gente se afastar, sempre acabamos juntos de novo. No fim, nós três estamos juntos. Você não precisa temer que as coisas mudem, porque mesmo se mudarem, vamos encontrar o caminho de volta como sempre fizemos. – Gil sorriu. — Eu sei que vamos, porque vocês dois são meu amor verdadeiro.

Harry sorriu, olhos afetados cheios de água enquanto se aproximava de Gil e deixava um selinho em seus lábios. Jay sorria, apertando a mão de Harry enquanto observava os dois.

— Tem razão. Eu te amo tanto... Amo tanto vocês dois. Acho que vocês são meu final feliz no fim das contas.

— Vocês não podiam deixar nada para eu falar? – Jay gritou, olhando feio para os namorados. — Qual é? Vocês ficaram com as melhores declarações!

Harry e Gil deram risada.

— Mas, é, eu concordo com vocês dois e desculpe ter te dado medo de viajarmos, Harry. Mas, eu confio no que nós três sentimos. Vamos ficar bem. – sorriu enquanto se levantava. Ofereceu uma mão para Gil e outra para Harry. — Agora que tal irmos dançar? Afinal, estamos numa festa.

Harry pendurou o gancho no cinto. Ele e Gil trocaram um sorriso, cada um segurando uma mão de Jay. Se juntaram a festa, dançando juntos, trocando sorrisos, flertes e beijos até o sol nascer. Compartilhando o sentimento de alegria de colegas e amigos, cantando, vendo os fogos de artifício nas cores de Auradon, amarelo e azul, mas também o roxo e verde da Ilha dos Perdidos.

E os três tinham a certeza que, apesar de quaisquer temores que o futuro pudesse guardar, haviam encontrado seu para sempre e não podiam esperar para descobrir o que os mares e oceanos reservavam para o futuro.