Golden escrita por Fanfictioner


Capítulo 1
Way too bright for me


Notas iniciais do capítulo

HELOU!!!

Mais um dia, mais uma fic! Essa foi minha primeira experiência escrevendo uma Dorlene e a verdade é que acredito fortemente que nenhum personagem da Era do Marotos pode experimentar felicidade por muito tempo. Eram adolescentes numa guerra, sabe? E isso sempre me pega...
Diferente de Wolfstar, que eu acho que, no canon, não foi feito para dar certo, Dorlene eu acho que poderia acontecer e ser lindo e duradouro... mas se tudo fosse diferente. Ainda era os anos 70 na Inglaterra, com o surto de Aids prestes a estourar, e ninguém via homossexualidade como bons olhos. Ainda havia uma guerra bruxa, e medo, e uma cacetada de coisas que impedem o amor de ser o suficiente.

Apesar disso tudo, acho que Marlene era a luz da vida da Dorcas, que deu sanidade a ela durante esse caos, e foi daí que nasceu Golden... especificamente do trecho Way too bright for me...

Espero que gostem!



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Dorcas Meadowes conheceu Marlene Mckinnon quando as duas entraram para a Grifinória, em 1971, e o primeiro pensamento dela foi sobre como Marlene parecia um galeão gigantesco, com pernas, braços e uniforme, por conta dos longos cabelos louros dela, que brilhavam dourados. E soube, como se aquilo não fosse importante, que nunca conseguiria esquecer a única garota do primeiro ano que acompanhava a liga de quadribol.

Marlene era uma caixinha de surpresas, um conjunto inesperado e alternativo. Era puro-sangue, a caçula de uma família tradicional e abastada, mas também era a garota que gostava das aulas de herbologia e de mexer na terra. Quando precisaram dissecar um sapo, para as aulas de Poções do segundo ano, Dorcas se lembrava de como Marlene tinha se voluntariado – e como depois tinha ficado sacudindo as mangas gosmentas de suas vestes sujas contra Mary e Lily, que davam risadas e fugiam, com nojo.

Eram aquela espécie de amizade que surge de repente, que gruda nas entranhas e, subitamente, as duas partes já são quase uma simbiose. A versão feminina de James Potter e Sirius Black, que davam nos nervos de Dorcas e viviam azarando pessoas pelos corredores. Dorcas achava Marlene o máximo, uma bruxa fenomenal, e era sempre tão doce e gentil que parecia brilhar.

E foi justamente por isso que Dorcas demorou a notar as coisas.

Demorou a notar como era diferente o jeito com que gostava de olhar o cabelo de Marlene acender dourado contra o sol, ou o jeito como gostava que ela deixasse um rastro sutil de perfume quando tirava o cachecol no dormitório. Era como se Marlene bagunçasse sua cabeça, suas ideias, mas do jeito mais incrível e viciante possível. Já era o último trimestre do sétimo ano quando passou pela mente de Dorcas o que realmente acontecia – e o pensamento a fez corar até as bochechas arderem. 

Estava apaixonada pela melhor amiga, há tempos, e adorava estar. Mais ainda depois que descobriu ser correspondida.

Queria que o mundo a visse com Marlene, que soubesse o quanto amava sua alma gêmea. Mas Marlene era brilhante demais, perfeita demais e, naquela realidade, naqueles anos, mulheres douradas e magníficas como Marlene não eram feitas para outras mulheres – que diria Dorcas, que era mestiça. As mãos que se entrelaçavam no dormitório, os dedos nervosos que se exploravam, as bocas que partilhavam sussurros afetuosos sob a coberta, tarde da noite, sabendo que beijos escondidos eram tudo que podiam sonhar em conseguir, eram as provas sensíveis do que sabiam que eram.

Devotamente apaixonadas uma pela outra. 

Todas aquelas emoções contidas eram como explosões, de cuidado, de preocupação, de amizade, convertidas em um amor tão genuíno que podia brilhar como uma Felix Felicis. Aquele tipo de coisa que fazia borboletas se agitarem no estômago, mãos suarem e sorrisos escaparem no silêncio da observação.

Marlene era a ‘lady’ delicada de Dorcas e, no entanto, rebatia balaços com intensidade contra o time da Sonserina, e tinha quebrado o nariz de Snape com um soco em uma oportunidade. Era forte por fora e dentro, e foram poucas as vezes em que Dorcas a vira chorar – o bastante para partir seu coração em cada ocorrência.

Sua menina dourada, delicada e intensa, perigosa e docemente atraente como uma chama.

Dorcas sentia que todas as suas melhores partes se fortaleciam pela forma com que Marlene usava sua luz para exaltá-la; sentia que, sem Lene, era uma bagunça divertida, mas, com ela, era também a bruxa corajosa que se juntava à Ordem da Fênix. Se fizessem uma poção polissuco de Marlene, Dorcas tinha certeza de que ela brilharia dourada, pura como tudo que sabia que a caçula dos Mckinnon era.

Por isso que, depois de uma noite inteira do choro mais desesperado que já se permitira sentir, Dorcas decidiu que o mundo só podia ser dourado, agora que Marlene se partira. A morte dos Mckinnon fora um dos acontecimentos mais brutais e devastadores da Ordem da Fênix, porque tinham perdido muitos amigos, ajudantes e bruxos leais à causa anti-Voldemort.

E, apesar da dor imensurável que se espalhava toda vez que pensava na única pessoa que amara romanticamente na sua vida, Dorcas se forçava para se segurar, focar, lutar e esperar, concentrada na coragem luminosa que tinha sido Marlene. Ela sempre soubera, dentro de si – no meio de sua visão devotada e abnegada, ansiosa e combatente –, que Marlene era brilhante demais.

Não só brilhante demais para ela, Dorcas, mas brilhante demais para o mundo.

Brilhante demais para existir num momento escuro e cruel como aquele que viviam, em que nada era certo, nem bom, nem feliz. Mesmo sem esperança, quebrada, ferida e destruída, Dorcas sabia que a única coisa que restava era continuar, continuar e lutar, confiando que Marlene a esperava além daquilo tudo, brilhando pelos céus. Fazendo a pele retinta de Dorcas se bronzear dourada.

Sentia todo o medo do caos e do inevitável, sentia a solitária vida que era lutar e se esconder, com o coração se partindo a cada dia mais por outro alguém que ia. Não queria ver-se só, porque parecia que perdia tudo e todos a todo momento. O fim prometia chegar a cada alvorecer, e Dorcas nunca sabia se era o da guerra, o de seus amigos ou o seu próprio.

Benjy Fenwick tinha sido encontrado mordido por lobisomens, semimorto, e Peter Pettigrew fora cercado por vários comensais há menos de duas semanas, no meio de agosto. Sabia Deus como ele tinha sobrevivido, e Dorcas não conseguia dizer, mas tudo aquilo a assustava. Assustava seu lado corajoso e destemido, seu lado aventureiro e duelista. Sem Marlene, era como estar às cegas, tentando reter fumaça nas mãos, disparando feitiços a esmo, ciente do erro.

E, quando foi a vez dela, quando os comensais a acharam, torturaram-na, quando ela usou todas suas forças e coragem para não desistir, não trair a causa, não perder mais ninguém, Dorcas pôde sentir. Quando a dor era tanta que implorar a morte parecia um beijo maternal afetuoso, houve segundos finais de lampejos de consciência e ela pôde sentir que nunca tinha estado sozinha.

Podia sentir ali a pessoa que tinha estado a seu lado desde que se entendia por gente, controlando-a para que suportasse até o fim, porque era o fim. De tudo que Dorcas sabia, sentia e conhecia, amar Marlene tinha o antídoto de sanidade e perseverança e, foi pensando nisso, que aceitou a morte como uma velha amiga.

A morte brilhava dourada e parecia bonita demais, brilhante demais, acesa demais.

A morte tinha a cara dos jardins de Hogwarts, e o medo inicial do desconhecido foi substituído pela serenidade. Porque se o fim brilhava dourado, era porque seu fim tinha sido com Ela. Marlene estava à sua espera, naquele lugar que só podia ser o céu, e toda luminosidade cor de ouro que ela tinha emanado até ali conduzira Dorcas ao seu destino. 

— Assusta, eu sei. Mas estou aqui, e tudo passou. – sorriu Marlene, com a voz mansa que Dorcas tinha passado o fim de sua adolescência ouvindo dizer que lhe amava. Os dedos dela eram mornos ao tocar o rosto de Dorcas.

— Não estou com medo. Estou com você, Lene. – sorriu, sentindo-se invadida por uma felicidade que não conhecia.

Do começo ao fim, Marlene e seus longos cabelos louros, a ‘lady’ de Dorcas, tinham sido seu gigantesco – condutor e consolador – farol dourado. 

Sua menina dourada.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês nos comentários, talvez? ❤❤❤