Triste, Louca, Ou Má escrita por Cloto


Capítulo 1
Ela desatinou




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 Triste, louca ou má

Será qualificada, ela, quem recusar

Seguir receita tal, a receita cultural

Do marido, da família, cuida, cuida da rotina

Só mesmo rejeita bem conhecida receita

Quem não sem dores, aceita, que tudo deve mudar

 

Ele venceu a guerra graças a ajuda de Tywin Lannister, e então pensou que tudo havia acabado, que sua vitória resolveu todos os assuntos e magicamente todos esqueceriam que ele causou uma guerra.

Ele chegou cheio de pompa e circunstância, se achando o próprio Conquistador.

Ela quase sentiu pena dele quando a realidade batesse em sua cara de lagartixa albina.

Rhaegar entrou no castelo e foi até ela, fazendo seu beicinho de menino mimado que acha que merece ganhar um presente da mãe.

—Elia.

—Diga.

—Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo. Mas o dragão tem três cabeças. Você não pode me dar mais filhos e eu amo Lyanna. Me casei com ela na Ilha Das Faces e anulei meu casamento com você. Ela vai me dar as Três Cabeças De Dragão.

—Bom para ela e bom para mim também. ‐Elia disse, lixando as unhas.

—Eu sinto muito mas o reino está sangrando e precisa se curar. Não posso deixar você ir com Rhaenys e Aegon e enfrentar outra rebelião. Mas vou providenciar para você um bom casamento, com um bom Lord, talvez Lord Jon Arryn.

—Não. -ela disse, terminando de lixar as unhas.

—O que? -Rhaegar estava espantado. Elia estava lhe dizendo não? Sua doce e obediente Elia?

—Não você não vai me separar dos meus filhos. E você não vai me obrigar a me casar com ninguém. Você vai me deixar sair dessa cidade de merda com os dois. Você vai dar a independência de Dorne como pagamento pelos dorneses que morreram para colocar uma corôa na sua cabeça e na cabeça de Lyanna. Você vai fazer com que todos os Lordes jurem diante do Alto Septão nunca atacar Dorne por garantia. E você vai esquecer de mim, das crianças e de qualquer dornês para sempre. E você vai repetir essas palavras que estou dizendo em público, para o povo e para os nobres.

—O que te faz pensar que vou te obedecer?

Ela se levantou, calmamente pegou uma corôa murcha de rosas azuis. Rhaegar arregalou os olhos.

—Você ama sua querida Lyanna e o filho que ela espera, não ama?

Ele ficou pálido.

 

Ela desatinou, desatou nós, vai viver só 

Ela desatinou, desatou nós, vai viver só

Eu não me vejo na palavra:

Fêmea, alvo de caça, conformada vítima

Prefiro queimar o mapa, traçar de novo a estrada

Ver cores nas cinzas, e a vida reinventar

 

Elia fez sinal para um guarda, que fez outro sinal para trás dele e homens entraram no quarto com Arthur, Oswell e Gerold nus e ensanguentados, jogados no chão em frente a Rhaegar.

—Seu primeiro erro foi usar Dorne como refúgio para regar o ventre de Lyanna com seu sêmen. Seu segundo erro foi ter escolhido dentre todos os lugares a torre da bisavó Daella. Seu terceiro erro foi pensar que a família Dayne fosse ser tão leal a você quanto esse verme aqui. -Arthur gritou de dor quando Elia pisou em sua cabeça com força -Seu quarto erro foi acreditar que Dorne não estaria preparada para uma traição sua quando vencesse a guerra. E seu último erro foi achar que eu ficaria sentada, com um sorriso idiota, enquanto você anula nosso casamento, bastardiza seu filhos legítimos, me separa de meus filhos, me casa com um homem que não quero e nos usa como reféns por que sabe que não há outro jeito de manter Dorne presa a você!

—Elia...

—Lady Lyanna Stark está na doce companhia de meu irmão Oberyn enquanto falamos. Ele está pronto para arrancar partes de Lyanna e te mandar pedaço por pedaço se eu assim mandar.

 Ele não consegue acreditar no que ouve. Essa não é sua doce esposa, mas uma estranha.

—Elia você mataria Lyanna e o bebê? Você teria coragem?

—Eu? Não. Oberyn por outro lado... 

—Elia essa não é você! Você é bondosa, compreensiva, altruísta.

—Eu era. Até você nos deixar para definhar nas mãos do seu pai e depois mexer com o futuro e a segurança dos meus filhos. Meu irmão Doran apenas deu o mínimo do mínimo para lutar por você e seu pai. Quando Tywin Lannister entrou na luta pelo seu lado foi a oportunidade perfeita para o verdadeiro exército de Dorne tomar a cidade.  Se quiséssemos você já estaria morto e Aegon no trono. Mas eu decidi que não.

—Se você podia tomar o poder por que não o fez?

—De que serviria? Para Aegon ser o rei de gente que nunca se importou? Que zombaram de nós três enquanto você estava dentro da sua cadelinha lobo? Ser obrigado a zelar e cuidar dessas pessoas? Não. Pode ficar com sua corôa Rhaegar, com seus reinos, suas profecias e com sua vagabunda nortenha e o bebê dela. Mas Dorne e meus filhos você não leva. 

—Eu... Eu não te reconheço!

—Você nunca quis me conhecer de verdade.

A satisfação com o anúncio e o rosto de incredulidade e desagrado com a saída de Dorne dos Sete Reinos fazia o momento valer a pena.

Elia foi até o navio, para finalmente ir embora.

Com Rhaenys na mão e Aegon no colo, se preparou para zarpar.

Rhaegar a olhava com tristeza.

—E Lyanna?

Elia deu um assobio, que foi respondido com alguém escoltando Lyanna para fora.

—Pode despejar Oberyn, não quero o navio com pulgas dessa mulher.

Rhaegar a olhou com espanto. Esse olhar a acompanhava desde o fatídico confronto que selou seus destinos.

—Lyanna estava aqui na capital o tempo todo.

—Sim.

—Mas você a usou para me obrigar a fazer uma promessa diante do Alto Septão para Dorne ser livre e não sofrer nenhuma retaliação.

—Sim.

—Você me fez de bobo. Fez todos nós de bobos.

—Sim.

E ela não se arrependia.

—Se você queria uma esposa submissa, curvada e quebrada deveria ter procurado em outro lugar!

O navio começou a se afastar.

Ela pensou em como entraria para a história depois com que fez.

Triste, louca ou má.

Essas eram as três opções sobre como Elia Martell provavelmente seria vista pela história. Mas a verdade é que ela cansou das besteiras dos homens a sua volta.

Alguns a achariam triste, a pobre esposa dornesa abandonada por uma mulher mais jovem e que saiu humilhada da situação.

Outros a achariam louca por se atrever a impor a independência de Dorne e ir embora, em vez de mansamente se deitar no chão e sorrir para Rhaegar e Lyanna enquanto os dois a pisoteiam.

E outros a achariam má, pois como ela se atrevia a ser um obstáculo entre dois apaixonados? Claro, se seguissem a lógica de que foi Rhaegar quem a procurou para se casar com ela e que foi Elia quem ficou sozinha com os filhos nas mãos de um maníaco enquanto Rhaegar estava se divertindo em sua terra natal com outra mulher talvez vissem que ela não tinha a intenção de se colocar entre ele e sua lady inocente de olhos arregalados como um esquilo que "não pretendia fazer nada de mal e não sabia que poderia estourar uma guerra" (inserir aqui uma voz bem fina de menina-moça hiper ingênua).

Ela não entendia as pessoas.

Odiavam e desprezavam os dorneses, mas os deixavam quietos e em paz? Não! Queriam os manter por perto para lutar por suas batalhas mesquinhas.

Mas aquilo acabou, e ela como Dorne se libertou.

—Fogo! Fogo na Fortaleza!

Pelo visto acharam a surpresa que Elia deixou por último. Um pouco de fogo nos seus cômodos e no berçário das crianças, afinal ela não queria deixar nenhum vestígio seu para trás.

Elia sorriu vendo as chamas ao longe.

Que fiquem com os destroços e as cinzas, pois o mais importante ela levava consigo.

Livre finalmente, ela jurou a si mesma uma promessa.

Nunca mais irá se submeter, nunca irá se curvar para ninguém e nunca quebrará. 

Por que ela era Elia Nymeros Martell, ela era seu próprio lar.

 

E um homem não me define

Minha casa não me define

Minha carne não me define

Eu sou meu próprio lar

E o homem não me define

Minha casa não me define

Minha carne não me define

Eu sou meu próprio lar

 

FIM


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