Coffee escrita por Lara


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Essa é a minha primeira história Jenlisa, então espero que peguem leve comigo. Coffee faz parte de um projeto de oneshots que estou fazendo chamado Letras e Melodias, onde serão postado diversas histórias de um universo, mas que são completamente independentes, então você não precisa ler as outras para entender o enredo. Serão 26 histórias com diversos casais, inspirados em letras de músicas. Espero que vocês se divirtam com a história e convido a todos para darem uma conferida nas outras histórias. Os casais e as músicas inspiração estarão nas notas finais junto com a playlist da série. Deem uma olhada! Boa leitura...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802720/chapter/1

 

"Ah e eu não bebo mais Macchiatos. Você sabe que eu comecei a beber Americanos por sua causa. Quando nós namoramos, eu me perguntava que tipo de gosto tinha, mas esse sabor frio e amargo faz sentido agora que você não está aqui, garota. Se eu fosse me acostumar a tudo isso, eu escolheria completos arrependimentos, brincaria com fogo. Nossas promessas sem coração. Incontáveis erros e outras coisas, nossas pequenas e indescritíveis feridas".

Coffee - BTS

 

•••

Um suspiro de alívio escapa dos lábios de Lisa ao notar que havia terminado de guardar as últimas coisas da mudança. Estava exausta por não ter descansado nada desde que chegou ao país, mas se sentia ansiosa pelo futuro.

Fazia apenas três dias que tinha deixado os Estados Unidos para trás para retornar a Coreia do Sul. Filha de mãe coreana e pai tailandês, Lisa havia nascido na Tailândia, onde morou até os três anos, antes da família se mudar para Seul, a capital sul-coreana, onde viveu até os vinte e dois anos. Por ter causa disso, Lisa sempre considerou a cidade o seu verdadeiro lar.

Não havia sido fácil passar quatro anos longe do país, mas foi necessário – ou pelo menos era o que dizia todos os dias para si mesma, na esperança de convencer seu coração, ainda que soubesse a verdade. No fundo, Lisa sabia que tinha sido covarde e que a ida para os Estados Unidos foi apenas uma desculpa para fugir de seus sentimentos.

Enquanto observava a decoração do minúsculo quarto do apartamento do primo com quem ela moraria pelos próximos meses até encontrar um lugar melhor para ficar, Lisa escuta seu celular vibrar sobre a penteadeira. Um sorriso se faz presente em seus lábios ao ver que havia recebido uma mensagem de Roberta, questionando como havia sido a mudança e como ela estava.

Durante os anos em que morou nos Estados Unidos, Roberta Pardo foi a primeira amiga que fez no país. Assim como ela, a mexicana era uma mulher estrangeira tentando sobreviver em uma cidade nova, sem qualquer nenhum contato.

Elas se conheceram na cafeteria em que Lisa trabalhou nos últimos quatro anos e desde então não se separaram. Roberta frequentava o estabelecimento todas as manhãs e sempre se divertia com a personalidade doce e solicita de Lisa. Apesar de não saber praticamente nada sobre a vida pessoal de Roberta, ela não se importava com isso e ainda a considerava sua melhor amiga.

Após responder Roberta, afirmando que estava tudo bem, Lisa deixa o celular de lado mais uma vez e se joga em sua cama, sentindo o cansaço tomar conta de si. Encarando o teto do quarto, Lisa relembra do motivo de estar de volta a Coreia do Sul depois de quatro anos.

— Lalisa Manoban! O que pensa que está fazendo deitando-se suja desse jeito na cama que eu acabei de arrumar? – Resmunga Jimin, dando um tapa de leve no joelho da garota, em um pedido mudo para que ela desse espaço para ele se sentar.

Fazia um bom tempo que Lisa não ouvia seu nome completo. Ela dá uma risada anasalada e permite que o primo se sentasse. Park Jimin era a pessoa que ela mais confiava no mundo e a pessoa que mais a ajudou com a mudança.

Lisa se vira para Jimin e o encara com um sorriso traquina, recebendo um resmungo mal-humorado em resposta. No entanto, não demora muito para que ele suspirasse e correspondesse ao sorriso, deitando-se ao lado da garota que ele tinha como irmã mais nova.

— Estou feliz que esteja de volta. Eu senti sua falta. – Comenta Jimin, virando-se para Lisa com uma expressão doce.

— Eu também senti sua falta. Obrigada por me deixar ficar com você, ainda que o apartamento mal tenha espaço para uma só pessoa. – Brinca a garota, recebendo uma risada anasalada em resposta. Ela aperta a mão do primo e suspira. – Será que ela vai aceitar me ver?

— Eu juro que eu não entendo você. – Resmunga Jimin, voltando a se sentar. – Por que foi embora se estava claro que você a ama?

— É complicado. – Sussurra Lisa, sentando-se na cama. Ela encara as próprias mãos e Jimin bufa. – Você não entenderia.

— O quê? Acha que eu não entenderia o fato de que você entrou em pânico depois de ter dormido com a Jennie e resolveu fugir para os Estados Unidos por simplesmente não ser capaz de lidar com o fato de você ter se apaixonado por uma mulher? – Ironiza Jimin, fazendo Lisa se encolher, completamente envergonhada.

Ela não era capaz de rebater as palavras do primo. Era verdade. Lisa se apavorou. Ela havia sido uma covarde que fugiu na primeira oportunidade que teve por simplesmente não conseguir aceitar os próprios sentimentos.

— Jennie continua trabalhando na cafeteria. – Continua Jimin, após dar um suspiro cansado. Ele se levanta ao ver que a prima talvez precisasse ficar sozinha para pensar. – Se quiser se encontrar com ela, você sabe onde ir. Agora se ela vai ouvir o que você tem para dizer, ai já é outra coisa.

— Como ela está? – Indaga Lisa com a voz baixa, chamando a atenção de Jimin, antes que ele deixasse o quarto.

Lisa conheceu Jennie através de Jimin. Os dois são amigos de longa data e mesmo depois de ter ido embora, ela sabia que eles continuavam a manter contato. Se tinha alguém que poderia ter alguma ideia de como ela poderia se aproximar de Jennie e a ajudaria, esse alguém seria Jimin.

— Antes disso, eu posso te fazer uma pergunta? – Questiona Jimin, encarando-a com seriedade.

— Você já fez. – Brinca Lisa, recebendo um olhar repreendedor em resposta. A garota suspira, dando-se por vencida. Ela arruma sua franjinha, em uma forma de tentar se acalmar, e finalmente encara o primo. – Tudo bem. O que quer saber?

— Por que voltou somente agora? – Pergunta Jimin e Lisa morde o lábio inferior, hesitando em responder. O rapaz a encara por alguns instantes, observando com atenção as reações da prima. Por fim, ele suspira. – Certo. Não precisa responder. Eu já entendi que você ainda não está pronta para falar sobre esse assunto.

— Obrigada. – Sussurra Lisa, aliviada.

— Respondendo a sua pergunta, ela está bem. A cafeteria está crescendo cada vez mais. – Responde Jimin, encostando no batente da porta com os braços cruzados. – E não. Ela não tem ninguém e acho que ela nunca foi capaz de te esquecer. Depois que você foi embora, Jennie se afundou de vez no trabalho. O fato de você ter fugido depois do que aconteceu a deixou bastante machucada. Então se planeja conquistar o coração dela de novo, terá que ser paciente.

— Eu sei. – Responde Lisa, consciente do que o primo queria dizer. Mas ela estava determinada. Foram necessários quatro anos até que ela entendesse seu coração e aceitasse quem ela realmente é. Ela já tinha ido muito longe para desistir tão fácil assim do coração de Jennie. – Eu não cometerei o mesmo erro duas vezes. Ainda que seja difícil, eu farei de tudo para conseguir o perdão de Jennie e conquistar o coração dela mais uma vez. Eu juro.

— Bom, eu amo vocês duas, então sempre me senti frustrado pela forma como tudo terminou. Espero que dessa vez, vocês encontrem o felizes para sempre de vocês. – Deseja Jimin, dando um sorriso encorajador. – Estarei torcendo por vocês.

— Obrigada, Jimin. – Lisa agradece, sentindo-se mais confiante com o apoio do primo. – E me desculpe por ter te decepcionado antes. Eu prometo que isso não vai se repetir e que farei Jennie feliz. Não fugirei mais.

Além de ter deixado Jennie para trás, um dos maiores arrependimentos de Lisa havia sido a forma como sua relação com Jimin havia sido afetada com a mudança repentina para os Estados Unidos. Sendo a pessoa justa que é, Jimin não concordou com a atitude da prima e passou meses sem conversar direito com Lisa.

Foi preciso muita paciência até que voltasse a conversar normalmente com o primo. Ainda assim, ela sentia que Jimin havia ficado bastante magoado com suas ações. Então, para a garota, ter o apoio do rapaz significava que não era tarde demais.

— Apenas cumpra com a sua promessa. – Responde Jimin, dando uma piscadela. Ele então dá um fraco sorriso. – Eu estou indo me encontrar com os rapazes. Talvez eu não volte hoje, então não espere por mim. Se precisar de alguma coisa, é só ligar para mim.

— Está bem. Obrigada.

Após se despedirem com sorrisos e acenos, Lisa observa Jimin ir embora. Ela permanece mais algum tempo deitada em sua cama, pensando em como deveria se aproximar de Jennie.

Quando finalmente toma coragem para se levantar, ela toma banho e se arruma para ir a cafeteria. Não adiantaria nada ficar deitada pensando em possibilidades. Nada mudaria se Lisa não tomasse uma atitude. Assim, sentindo-se mais animada e confiante, a garota se arruma e segue para a sua cafeteria preferida.

Felizmente, o apartamento que dividia com Jimin não ficava tão longe e em quinze minutos de uma confortável ela estava de frente a cafeteria que marcou permanentemente sua vida. De repente, Lisa sentia seu estômago se revirar em nervosismo ao pensar que depois da porta de entrada, ela poderia dar de cara com os olhos castanhos brilhantes como estrelas que rondam sua mente desde que os viu pela primeira vez.

Lisa respira fundo algumas vezes, observando a fachada que havia sofrido algumas alterações depois de quatro anos longe. O nome Blüte brilhando na placa de madeira permanecia o mesmo, mas as flores e a estufa construída em frente a cafeteria era algo que Lisa ainda não tinha visto.

Um sorriso se faz presente nos lábios da garota. Blüte, significando flor ou cerejeira em alemão, era um delicado e encantador café-jardim no qual Lisa amava frequentar enquanto ainda morava em Seul.

Assim como antigamente, as mesas externas permitiam delicados assentos no pátio sob a sombra das árvores e vasos de flores. Pelos janelas de vidro da cafeteria era possível ver que do lado de dentro havia flores pitorescas, todas recentemente florescidas e secas.

Embora não necessariamente confortável para vaguear pelo local e beber, uma pequena cabana de jardim ao lado do prédio principal dá ao lugar o aspecto de “amável”. Centenas de rosas amarelas penduradas no teto recriam uma cena do famoso drama coreano de 2003, Summer Scent, o preferido de Jennie.

Lisa se lembrava muito bem de cada detalhe daquela cafeteria e da importância dela para Jennie. Na época em que se conheceram, Lisa era viciada em Macchiatos, mas graças a barista, ela começou a beber Americanos. E não havia ninguém no mundo que fizesse cafés Americanos como Kim Jennie.

Mas além dos cafés deliciosos feitos por Jennie, Lisa se lembrava de todo o apoio que recebeu de Jennie depois da morte dos pais. As noites de chuva intensa costumavam ser solitárias e dolorosas desde o acidente de carro que os pais sofreram. O trauma de perder seus pais diante de seus olhos e a dor de estar sozinha permaneceu em seu coração por muito tempo até conhecer a garota de sorriso doce e personalidade calorosa.

Jennie trouxe luz para o coração sombrio de Lisa e aos poucos, reconstruiu o que estava danificado. Antes que se desse conta, ela era aquecida pelos cafés e conversas descontraídas de Jennie. As noites de chuva deixaram de ser tão incômodas e passaram a ser momentos únicos passado ao lado de uma amiga que a entendia melhor do que ninguém.

Em algum momento, ela acabou se apaixonando por Jennie. Foi inevitável. Como poderia resistir a doçura e as cores que a garota possuía? Mas isso também a assustou. Se dar conta que tinha se apaixonado por uma mulher foi demais para ela lidar. Ainda assim, ela permaneceu negando os sentimentos até o dia em que Jennie a beijou em um dia de chuva intensa.

O resultado foi se deixar levar pelo momento e acabar tendo uma noite de amor. Jennie foi carinhosa e a fez se sentir nas nuvens. Foi um momento mágico e algo que ela nunca foi capaz de esquecer. Mas no dia seguinte, quando acordou nos braços da garota e se deu conta do que tinha feito, Lisa foi incapaz de continuar a negar seus sentimentos.

Com medo do que veria a seguir e da rejeição que sabia que poderia sofrer da sociedade por amar outra mulher, ela fugiu. Durante os quatros anos que se sucederam, Lisa tentou de todas as formas esquecer Jennie, mas ninguém nunca foi capaz de balançar seu coração como a barista. No fim, Jennie sempre seria a única que a faria se sentir em paz.

Sentindo o coração acelerar e as mãos suarem de nervosismo, Lisa respira fundo e resolve entrar na cafeteria. Estava ansiosa para reencontrar Jennie e ao mesmo tempo temia a rejeição.

Ainda que estivesse determinada a encarar qualquer que fosse a resposta de Jennie, Lisa não podia evitar o medo de ser odiada pela pessoa que ela mais amava. Pior ainda, pensar que poderia ser esquecida era assustador. O ódio ela poderia reverter a uma sentimento positivo. Mas e se Jennie agora fosse indiferente a Lisa?

Ao contrário do que dizem, Lisa sabia muito bem que o ódio não é antônimo de amor. A indiferença é a verdadeira prova de que não hesite mais qualquer resquício de sentimento. E não há mais nada que se possa fazer para mudar a indiferença.

Ao pensar nisso, Lisa sente o corpo estremecer. Ela observa alguns clientes saírem da cafeteria e se lembra então que não poderia ficar a vida toda no lado de fora. Assim, reunindo todo o resquício de coragem que ela ainda tinha, Lisa respira fundo e adentra o estabelecimento.

Passando pelas mesas e as decorações em cor de rosa, com muitas plantas e flores, Lisa observa atentamente o café-jardim. Apesar de estar diferente desde a última vez que esteve no lugar, o ambiente ainda trazia uma certa nostalgia, que enchia de paz o coração de Lisa.

Sendo levada pelos velhos costumes, a garota segue pela cafeteria para onde costumava passar horas observando Jennie preparar verdadeiras obras de arte em xícaras de café. A elegância, beleza e as habilidades impressionantes da Kim sempre prendiam a atenção de Lisa.

Assim como quatro anos no passado, no instante em que a tailandesa coloca os pés no salão principal, ela reconhece Jennie de costas no balcão, concentrada na preparação de mais uma café. O ar parece desaparecer de seus pulmões por alguns instantes, enquanto a saudade gritava em seu peito ao ponto de lágrimas se formarem.

A saudade que sentiu quando esteve afastada foi torturante, mas estar diante de Jennie era ainda mais dilacerante. Sua vontade era de correr para os braços da mulher e a beijar até que o ar lhe faltasse; de ter os braços delicados e aconchegantes de Jennie em volta de si, trazendo toda a segurança que ela precisava.

Mordendo o lábio inferior e sentindo seu corpo tremer em ansiedade, Lisa se aproxima a passos cautelosos do balcão. Seu coração parecia a ponto de saltar pela boca, enquanto a respiração se tornava cada vez mais pesada.

Ainda que não conseguisse ver seu rosto, aos olhos de Lisa, Jennie não poderia estar mais encantadora. Era como se os anos só tivessem intensificado ainda mais a beleza e o brilho da barista.

— Só um instante, que eu já irei te atender. – Informa Jennie, sem virar para trás.

Lisa sorri ao notar que Jennie continuava com seus ouvidos afiados. Essa era mais uma das suas inúmeras qualidades. A mente de Jennie parecia funcionar em uma outra velocidade. Enquanto Lisa geralmente só conseguia focar em duas coisas por vez, a outra era capaz de trabalhar, prestar atenção em seus funcionários, conversar com seus clientes e notar a presença de novos ao mesmo tempo.

— No que eu posso... – Jennie se vira com um sorriso simpático em seu rosto, assim que termina de preparar o café, mas ele morre ao reconhecer a garota que estava a sua frente. – Lisa?

— Oi. – Cumprimenta Lisa, dando um sorriso nervoso. – O Blüte está ainda mais bonito desde a última vez que estive aqui. Gostei da mudança.

— O que você está fazendo aqui? – Questiona Jennie com seriedade. Apesar do tom contido e a expressão calma, Lisa sabia que tudo não passava de uma fachada e que ela estava muito mais alterada do que demonstrava.

— Eu... – Lisa suspira e morde o lábio inferior, passando a se aproximar com cautela. – Podemos conversar?

— Não temos nada para conversar. – Responde a Kim com frieza.

— Jennie, por favor...

— Se me der licença, eu preciso voltar ao trabalho. – Antes que Lisa começasse a implorar para que Jennie a escutasse, a barista coloca o café que havia preparado em uma bandeja e sai, indo entregar o pedido.

A reação de Jennie fez o coração de Lisa se comprimir, mas ela ainda reagiu melhor do que o esperado. Assim, determinada a conversar com a proprietária do Blüte, a tailandesa se senta em uma das mesas de frente para o balcão da cafeteria e passa a observar Jennie trabalhar, assim como fazia no passado.

Como a profissional que era, Jennie continuou a trabalhar e ignorar a presença de Lisa, como se a garota não existisse. Isso machucava seu coração, mas Lisa conhecia a outro o suficiente para saber que aquelas reações significavam que a barista estava furiosa e magoada, o que de certa forma ainda era melhor que a indiferença.

Ao fim do dia, um dos funcionários de Lisa solicitou que ela se retirasse, pois o café estava fechando. Sabendo que fazer uma cena seria pior, Lisa se conforma com a situação e volta para casa, determinada a retornar no dia seguinte.

E essa mesma rotina permaneceu por mais sete dias. Como tinha dinheiro o suficiente para se sustentar pelos próximos quatro meses, Lisa ainda tinha algum tempo até precisar realmente de um emprego, então todos os dias, assim que o Blüte abria, Lisa ia para o café e só retornava para casa quando era expulsa por algum dos funcionários de Jennie. Ela estava determinada a ir até a cafeteria todos os dias se fosse preciso até o momento em que Jennie finalmente concordasse em conversar com ela.

No oitavo dia, Jennie parecia que estava um pouco mais conformada com a presença de Lisa. Ela tentava ao máximo se manter neutra, sem esboçar o quanto estava afetada, mas ainda assim, para quem a conhecia, era evidente o quanto ela estava diferente do seu jeito habitual.

— Até quando vai continuar a fingir que não se importa com a situação? – Questiona Jimin a Jennie, enquanto observava a prima sentada em uma das mesas de frente para o balcão, enquanto pegava o pedido dos dois. – Você a conhece melhor do que eu e sabe que Lisa não vai embora até que você escute o que ela tem a dizer.

— Você não pode pedir para ela ir embora? – Resmunga Jennie, suspirando cansada em seguida. Ela entrega os dois copos de Americano para o amigo e observa sua expressão frustrada. – Por favor, Jimin. Eu sei que ela vai te escutar se você falar com ela.

— Eu até faria isso se não soubesse que você também sente falta dela e só está agindo assim por causa do seu orgulho. – Responde o outro, dando de ombros. Ele bebe um pouco do delicioso café e sorri de forma encorajadora. – Eu sei que Lisa te machucou muito e que é difícil para você acreditar nela, mas que tal ao menos ouvir o que ela tem para dizer? Você tem esperado por explicações desde aquele dia. Se as palavras dela não forem o suficiente para você aceitar, então diga a ela que é tarde demais e segue em frente. O que não dá é para ficar ignorando o problema.

— Eu... estou com medo. – Confessa Jennie em um sussurro audível apenas para Jimin. – E se eu me machucar de novo?

— Eu não vou te dizer que ela não vai te machucar mais, até porque, nós estamos falando de seres humanos. Mas não pode deixar o medo te impedir de ser feliz, Jennie. Além disso, a Jennie que eu conheço não fica fugindo do problema. Se algo a incomoda, você a enfrenta de frente. Então pare de evitar o inevitável e diga o que sente a Lisa. Seja sincera. Diga que está magoada, bata nela, grite, chore... enfim, faça algo. Só não deixa as coisas do jeito que estão. Não acha que já é hora de você ser feliz?

— Você deveria ouvir os seus próprios conselhos. – Recomenda Jennie, fazendo Jimin dar uma risada amarga, enquanto assente envergonhado. A vida amorosa dele também não era uma das melhores. Ele melhor do que ninguém sabia que precisava tomar uma atitude. – Mas... você tem razão. Eu vou... ouvir o que ela tem a dizer.

— Ótimo. – Jimin sorri, satisfeito com a resposta da amiga. – Eu já vou. Boa sorte.

— Obrigada. – Jennie agradece, trocando sorrisos com Jimin.

Ela não se sentia tão confiante assim, mas sabia que precisava agir mais como ela mesma, ao invés de ficar fugindo de Lisa apenas por medo. Quatro anos haviam se passado e Jennie ainda não havia superado o amor que sentia pela garota de sorriso fofo e olhos brilhantes. Então, mesmo magoada, era hora de finalizar de vez por todas essa história.

Assim como informado, Jimin foi embora depois da rápida conversa com Jennie. Pelos olhares ameaçadores e esperançosos enviados pelo primo, Lisa sentiu que aquela seria a noite que finalmente teria a chance de conversar com Jennie.

Ao contrário dos outros dias, quando o horário de fechar o café-jardim chegou, nenhum funcionário solicitou que Lisa fosse embora. Ela observou todos realizarem a limpeza do lugar, ignorando a sua presença. Ao fim, Jennie se despede dos funcionários e observa todos irem embora, até que restassem apenas as duas mulheres em um silêncio incômodo.

Jennie suspira e se aproxima de Lisa. Ela se senta de frente para a tailandesa e as duas passam a observar as mudanças que ocorreram em suas aparências nos últimos quatro anos. E a única certeza que elas tinham é que o amor e o desejo que sentiam estavam ainda mais intensos.

— Jennie... – Lisa quebra o silêncio, observando com fascínio a mulher sentada a sua frente. – Eu sinto muito. Você tem todo o direito de estar furiosa e magoada comigo. Eu fui covarde e mereço o seu ódio, mas por favor, me perdoe por...

— Por que você fugiu? Por que voltou depois de quatro anos? – Indaga Jennie, interrompendo Lisa. Ela não queria desculpas naquele momento. O que ela precisava era de respostas para as perguntas que a impediu de dormir muitas noites.

Lisa crispa os lábios, sentindo-se frustrada, enquanto busca as palavras certas para explicar suas ações. No fim, o resultado era que ela fugiu por ser covarde e preconceituosa consigo mesma. Ela não tinha problemas com lésbicas, gays, bissexuais ou quaisquer outras orientações sexuais. Mas a história mudava completamente de figura quando ela mesma havia se apaixonado por uma mulher.

— Eu tive medo de aceitar o que sentia. Até você aparecer, eu acreditava fielmente que encontraria um homem por quem me apaixonaria perdidamente, casaria e construiria uma família. Eu não conseguia aceitar meus sentimentos. E então tivemos aquela noite mágica e eu fugi. Eu fui covarde e neguei o que eu sentia por você, temendo que as pessoas me odiassem por ser quem eu era. – Explica Lisa, cerrando os punhos. Ela suspira e encara Jennie. – Eu sei que isso não justifica o fato de ter ido embora sem dizer nada e bloquear seus contatos depois do que aconteceu. Mas eu quero que saiba que durante esses quatro anos, não teve um dia que eu não tenha me arrependido de ter ido embora.

— Por que quatro anos depois? – Insiste Jennie, mantendo-se firme. Ainda havia mágoa em sua voz e isso quebra o coração de Lisa.

— Eu... – Lisa hesita, mas ao ter o olhar teimoso de Jennie sobre si, ela sabia que precisava ser sincera se quisesse receber o perdão da mulher. – Eu testemunhei uma situação que me fez refletir minhas ações e perceber quão estúpida eu estava sendo por me manter longe de você quando eu te amo, Jennie.

Os olhos da barista quase dobram ao ouvir a declaração. Lisa nunca havia dito que a amava. Na verdade, Jennie sabia do bloqueio que a tailandesa tinha para expressar seus sentimentos desde a morte dos pais, principalmente o amor.

— O que... aconteceu? – Jennie questiona, tentando se recompor. Não era porque Lisa havia se declarado, que ela a desculparia tão facilmente. Apesar de entender o medo que ela sentia, nada justificava Lisa ter partido seu coração de forma tão covarde.

— Eu... presenciei um ataque homofóbico a duas mulheres que vieram a cafeteria que eu trabalhava. Um babaca fez alguns comentários sexista e constrangeu as duas. Eu nunca senti tanta raiva na minha vida. Ao mesmo tempo, eu me sentia magoada, porque de certa forma, as palavras dele também me atingiam. Foi nesse momento que eu percebi que ninguém estava disposto a ajudar as duas. – Conta Lisa, frustrada com a lembrança. – Tomada por uma coragem que eu nem mesmo conhecia, eu decidi intervir. Mas antes que eu tomasse qualquer atitude para defender as garotas, uma delas rebateu as provocações e defendeu a esposa. O babaca se sentiu ofendido e tentou bater nela. O resultado foi um golpe na jugular que fez o maldito, que era quase o dobro do tamanho dela, desmaiar.

— Caramba. – Sussurra Jennie, surpresa com a história.

— Depois de toda a loucura, que acabou envolvendo a polícia, eu tive a chance de conversar com essas duas freguesas. Quando eu perguntei se elas não haviam ficado com medo, as duas me contaram que não era a primeira que isso acontecia e que por causa desse tipo de coisa, elas aprenderam a lutar. – Continua Lisa, dando um fraco sorriso. – Segundo Adora e Felina, o amor delas era mais importante do que o restante do mundo, porque mesmo com todas as dificuldades que enfrentavam, elas eram felizes e juntas seriam capazes de enfrentar qualquer desafio. Foi nesse momento que eu percebi que eu nunca seria feliz se continuasse a fugir de quem realmente me completa.

Mais confiante, Lisa cobre os punhos de Jennie com as suas mãos. Ao contrário do que pensou que aconteceria, ela não foi repelida. Isso deu mais coragem para que a tailandesa continuasse a expressar as emoções que tanto evitava demonstrar por vergonha e medo.

— Eu cometi incontáveis erros e causei indescritíveis feridas em nossos corações, Jennie, mas eu não pretendo mais fugir do amor que eu sinto por você. Durante quatro anos, eu tentei mentir para mim mesma, mas eu até mesmo passei todo esse tempo trabalhando em uma cafeteria nos Estados Unidos, só porque inconscientemente, o cheiro de café me fazia sentir que estava próxima de você. – Lisa aperta ainda mais as mãos de Jennie, enquanto seus olhos expressavam toda a sua determinação. – Eu te amo, Kim Jennie. Eu te amo com todo o meu coração, com todo o meu ser. Você é a minha pessoa especial e estou disposta a fazer o que for preciso para reconquistar o seu coração. Então mesmo sendo um pedido egoísta, poderia me permitir tentar?

Jennie encara Lisa sem reação por alguns instantes. De repente, ela já não conseguia mais se lembrar que deveria estar com raiva de Lisa, que deveria gritar, esbravejar e colocar para fora toda a dor que ela tem carregado dentro de seu peito durante todos os últimos quatro anos. Ela nem mesmo se lembra de que sofreu com a solidão e a culpa por achar que tinha feito algo de errado, ainda que tivesse sido Lisa a dar o primeiro passo e a garantir que o desejo era reciproco.

Tudo o que Jennie consegue fazer é chorar e se jogar nos braços de Lisa. Seus lábios se chocam de maneira eufórica, iniciando um beijo necessitado, recheado de saudade, amor e frustração por terem ficado tanto tempo separadas.

Ainda havia muito a ser dito. Muitas coisas que precisavam ser esclarecidas. Seus corações ainda carregavam muita culpa, ressentimento e dúvidas. No entanto, naquele momento, tudo o que Jennie e Lisa mais desejavam é desfrutar da paz e da felicidade que sentiam quando estavam juntas.

— Eu também te amo. – Declara Jennie, assim que se separam. Ela abraça Lisa, sentindo as lágrimas se intensificarem. – Por favor, não vai embora de novo. Não me deixe.

— Eu não irei. Nunca mais. – Garante Lisa, apertando Jennie ainda mais contra si. O aroma de café misturado ao seu suave perfume a embriaga e traz um sentimento de paz a garota. – De agora em diante, eu prometo nunca mais soltar a sua mão. Eu te amo e sou egoísta demais para viver sem ter você em minha vida.

Lisa afasta Jennie mais uma vez e limpa o rosto coberto de lágrimas, enquanto as dela desciam com igual intensidade. Elas trocam sorrisos emocionados e se beijam, dessa vez com calma e delicadeza, selando a promessa de uma linda e inesquecível história de amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá! Obrigada por ter lido até aqui. Eu ficaria muito feliz se você pudesse comentar o que achou. Abaixo estão as datas de postagem e os casais. Espero que possa ler também. Em seguida estão os links das playlists e dos meus grupos. Fiquem a vontade para participar e interagir com meus outros leitores. Enfim, espero encontrar você nas outras histórias. Até mais ♥!

01/08: Apologize - Violet Markey e Theodore Finch (Por Lugares Incríveis)
02/08: Baby I'm Yours - Anne e Gilbert (Anne with an E)
05/08: Coffee - Jennie e Lisa - (Blackpink)
06/08: Dangerous Woman - Diego e Roberta (Rebelde - RBD)
07/08: Epiphany - Jimin e Jungkook (BTS)
08/08: Falling - Louisa e Will (Como Eu Era Antes de Você)
08/08: Goosebumps - Jughead e Betty (Riverdale)
09/08: High - Alex Parrish e Ryan Booth (Quantico)
09/08: Intentions - Mike e Eleven (Stranger Things)
10/08: Juro - Alex e Rosie (Simplesmente Acontece)
11/08: Kids - Sam e Freddie (iCarly)
12/08: Last Kiss - Jamie e Landon (Um Amor para Recordar)
13/08: Mine - Harry e Hermione (Harry Potter)
14/08: Night Changes - Jhon Tyree e Savannah Lynn (Querido John)
15/08: One Less Lonely Girl - Daryn e Isabelle (A Vida em um Ano)
16/08: Pillowtalk - Prielle (Manu e Prince)
17/08: Quit - Natasha e Steve (The Avengers)
18/08: Rude - Annabeth e Percy (Percy Jackson e os Olimpianos)
19/08: Skin - Allie e Noah (Diário de uma Paixão)
20/08: The Hills - Arya e Gendry (Game of Thrones)
21/08: Unbroken - Katie e Charlie (Sol da Meia-noite)
22/08: Velha Infância - Adora e Felina (She-Ra)
23/08: Watermelon Sugar - Harry e o Louis (One Direction)
24/08: XO - Peeta e Katniss (Jogos Vorazes)
25/08: You Can Come To Me - Austin e Ally
26/08: Zombie - Clarke e Bellamy (The 100)

* Spotify: https://open.spotify.com/playlist/0YbjWXwE1lYm8UlieSyqPa?si=e7d8e328bd424352
* Deezer: https://deezer.page.link/quuaYMLYagR4FCey5
* Youtube: https://youtube.com/playlist?list=PLf0Twrkkd6nVI8t-W5hp4ixH05IRoi-sv

oOo

Família Cupcake 2.0: https://chat.whatsapp.com/DQH6eBvDIKuGz921wxomJC
Cupcakes da Lara: https://www.facebook.com/groups/677328449023646
Instagram: @_cupcakesdalara



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coffee" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.