Against the odds escrita por Foster


Capítulo 5
04. Álcool é sempre uma péssima, terrível, abominável escolha


Notas iniciais do capítulo

OIEEEE
Tardei, mas não falhei! Cá estou eu atualizando ATO como forma de agradecimento por ter ficado em segundo lugar no Top de fanfics da Terceira Geração ❤ Um beijo para todo mundo que votou!
Caso não se lembrem, o capítulo passado ficou na festa de aniversário de casamento de Molly e Arthur, em que Al acabou falando o que não devia pro Rigel, levando um soco na cara de Dominique hahaha recomendo darem uma relida ao menos na cena final, de Al e Rigel no terraço, pois o capítulo já começa com uma cena de continuação direta.
Boa leitura!



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Todo mundo passa por alguma situação em que é possível perceber exatamente uma mudança acontecendo. Tipo o vidro se quebrando em How I Met Your Mother quando todo mundo percebe alguns hábitos irritantes dos amigos. 

Perceber que eu estava querendo de verdade que Rigel Thomas-Finnigan me beijasse não havia sido uma quebra de vidro. Não. Havia sido maior. Como se uma bola demolidora atingisse uma vidraçaria de cem andares com a força de quinhentos elefantes. 

Pior ainda foi perceber que ele não iria me beijar, embora o que ele tivesse acabado de me dizer indicasse que, de certa forma, em algum momento ele quis. Era óbvio que Rigel não iria querer mais, não depois que eu fui um idiota com ele, mais do que eu já havia sido nos últimos anos desde que nos conhecemos. Argh, brilhante, Albus. Brilhante.

Mas, de certa forma, era até bom que ele não tivesse me beijado e que eu fosse covarde o suficiente para jamais cogitar dar o primeiro passo, porque, afinal, o que aquilo significava?

Ok, eu queria beijá-lo. E haviam muitos motivos para isso. Rigel era inegavelmente lindo e sedutor. Sabia fazer piadas divertidas de vez em quando — as quais eu sempre me esforcei para não esboçar nenhuma reação, apesar de que por dentro estivesse rindo feito uma hiena — e eu precisava admitir que ele era um excelente amigo para o James, fora que todo mundo da minha família parecia idolatrá-lo. 

Mas no que isso implicaria, afinal? Não éramos amigos, muito pelo contrário. Sempre fiz questão de cultivar um abismo entre nós, enquanto Rigel parecia se divertir com o meu estresse de maneira quase sádica, como eu adorava salientar. Então, as coisas não corriam o risco de ficarem estranhas, como estavam com Rose e Scorpius. Não havia nada em jogo, a não ser nossa rixa - aparentemente unilateral - de anos. 

A questão era: o que viria depois disso? Eu não gostava de Rigel e eu duvidava seriamente que ele iria querer se envolver comigo depois de tudo aquilo. Eu não me envolveria, se fosse ele, em hipótese alguma. 

Porém, mesmo sabendo de todos os contras, eu, ainda sim, me inclinei para Rigel Thomas-Finnigan. Eu não quis pensar em mais nada, apenas estava me deixando levar pela urgência que pareceu tomar conta de mim. De repente, eu precisava encerrar com aquela tensão. Rigel estava tenso de uma forma que eu nunca o vi antes e, apesar de sua expressão séria ser extremamente sexy, o seu sorriso e feição serena lhe faziam muito bem. 

Completamente entregue, incapaz de ouvir qualquer coisa ao meu redor, fechei os olhos enquanto ia na direção dele. Senti a respiração quente dele no meu rosto e o hálito de menta quando ele perguntou:

— O que você está fazendo, Potter?

Abri os olhos na velocidade da luz, me afastando como se tivesse me queimado, sentindo as bochechas arderem de vergonha ao piscar freneticamente, tentando processar o que eu havia feito. Rigel me olhava irritado, como se eu fosse uma espécie de lunático. Pisquei com força, balançando a cabeça e engolindo em seco. 

Repassei a conversa que havíamos acabado de ter, com Rigel praticamente esfregando na minha cara que não era porcaria nenhuma de um familiar meu e, bem, com todos os flertes, só havia uma dedução possível. 

— Hm, eu estou… — tentei falar, a voz falhando. Pigarreei, desejando ter alguma bebida por perto. — Eu achei que tivesse sentido… — por Deus, seria possível alguém derreter de vergonha? Ou morrer por isso? Porque eu me sentia perto de ter um piripaque. — Um… Clima.

— Clima — repetiu Rigel de maneira debochada, rindo pelo nariz. Eu queria cavar um buraco e enfiar a minha cara. Isso não podia estar acontecendo, não podia. — Você realmente acha que tem algum clima depois de tudo o que aconteceu hoje? Depois do que acabei de te contar, Potter? 

— Eu já pedi desculpas, legal? — Rebati, porque eu não sabia agir de outra maneira com Rigel. Eu já estava condicionado a respondê-lo de maneira dura no primeiro sinal de hostilidade. — Não me venha com joguinhos agora, Thomas-Finnigan. Você vive com flertes descabidos e agora age como se o meu ímpeto fosse um absurdo!

— Para a ocasião, sim — devolveu Rigel, dilatando as narinas. Revirei os olhos, me sentindo estúpido. Rigel só queria sair por cima, mas, para o azar dele, eu era extremamente competitivo. 

— Eu só quis ser legal. Mas que grande pecado, não é mesmo? Tentar oferecer algum consolo. 

Então Rigel piscou com força, afastando-se ligeiramente como se tivesse levado um soco. Eu estava tão irritado que demorei um pouco para compreender o motivo de sua reação estupefata e questionei sem pensar:

— O que foi? Que merda eu fiz de errado agora?

— Você ia me beijar por pena?

Ótimo. Brilhante. Excelente.

— Eu suspeitei que fosse o caso, quando você se inclinou na minha direção, mas depois pensei “não, Albus não seria tão baixo” — ele riu consigo mesmo, se levantando. O acompanhei, tentando encontrar as palavras certas para não me complicar mais, mas Rigel não estava disposto a me deixar falar. — Se não fosse a minha consciência me alertando, eu teria permitido, Potter. Mas que bom que não permiti, porque você acabou de confirmar as minhas suspeitas. 

— Rigel…

— Não — ele pediu, passando a mão pelo rosto, parecendo estar prestes a perder o controle. Mesmo em anos de discussões por jogos e coisas bestas, eu nunca havia visto Rigel daquele jeito. Puta merda, eu realmente havia estragado tudo. — Simplesmente não dá, Potter. Não consigo lidar mais com você hoje. Você esgotou uma cota de paciência inimaginável. Só… não. 

Rigel passou por mim para pegar os sapatos vermelhos de couro italiano, deixando um rastro de perfume de sândalo que me fez inspirar profundamente de maneira inconsciente. 

Ele não dirigiu o olhar para mim em nenhum momento e eu apenas acompanhei com os meus olhos enquanto ele voltava para a festa. Ao encontrar com James e Dominique, pude vê-lo sorrindo, agindo como se nada tivesse acontecido. Sádico do caralho. 

Gritei, jogando a cabeça para trás e me sentindo a pessoa mais estúpida da face da terra. Como era possível eu ter feito tanta merda em tão pouco tempo? Eu deveria receber um prêmio, porque aquele só podia ser um recorde. 

Demorei para descer, enquanto repassava vergonhosamente as nossas últimas interações em minha cabeça. Que porra eu tinha em mente? Mas, em minha defesa, Rigel entendeu tudo errado. Não era pena, era só… Uma forma de me compensar com ele, por toda a confusão e também porque… porque… argh! Porque eu queria beijá-lo. 

Porra, não era a merda de um sentimento de piedade. Era uma maldita vontade incontrolável de tirar do meu sistema todo aquele ódio cultivado e o maldito tesão reprimido. 

Eu nem sequer havia pensado nas consequências, apenas queria beijá-lo de uma vez e tirar aquilo do caminho. Não era pena dele. Era mais pena de mim do que dele, para ser sincero. Isso me fazia um idiota? Querer livrar a minha consciência com um beijo? Provavelmente.

Droga, de qualquer forma, era uma justificativa baixa. O desgraçado tinha razão em estar irritado e eu só queria desaparecer. Não tinha nem forças para tentar me explicar ou pedir desculpas porque, sinceramente, eu nem achava que merecia ser desculpado. Talvez fosse melhor desaparecer da vida de Rigel e parar de incomodá-lo. Seria muito mais fácil simplesmente esquecer que tudo aquilo havia acontecido.

No entanto, assim que pisei na festa, percebi que seria impossível não estar presente na vida de Rigel e ele na minha. A minha mãe e o meu pai conversavam animados com ele, que nem aparentava ter tido mais uma discussão comigo agora há pouco.

Senti o meu coração ficar pesado, apertando o meu peito e me dando falta de ar. Eu precisava sair dali. Ninguém parecia ter percebido a minha presença, então dificilmente perceberiam minha falta. Pelo menos nas próximas horas. 

☘ 

— Você realmente achou que poderia se esconder de mim? — A voz de Dominique me despertou de um cochilo que eu nem havia percebido que havia dado. Levantei no susto e bati a minha cabeça no teto baixo da casa da árvore que os nossos avós haviam construído muitos anos atrás e que os nossos pais brincaram quando crianças. — Está querendo disputar o título de drama queen com o James e a Rose agora, é Al? 

Apenas revirei os meus olhos para Dominique, que se esgueirava para se sentar ao meu lado, observando algumas velharias que estavam perdidas ali em cima. — Meu Deus, você se lembra disso? — ela se esticou para pegar duas bonecas e eu não contive um sorriso com a lembrança. 

— Você sempre me dava as bonecas que recebia de presente.

— E você me dava os seus carrinhos — ela sorriu com a lembrança, vasculhando uma caixa próxima e exibindo alguns carrinhos para mim. — Sempre fomos mais parecidos do que imaginávamos. 

— Não à toa você foi uma das primeiras pessoas a saber que eu sou gay — falei sincero, porque de fato era aquilo mesmo. Eu sabia que, de todas as pessoas da minha família, Dominique me entenderia. E na época eu nem sabia que ela era lésbica. Ou talvez soubesse, em um nível mais profundo, já que éramos muito ligados antes de toda a merda acontecer. 

— E você a primeira a saber que eu era lésbica — disse e eu a encarei, sério. Eu não fazia ideia daquilo. 

No verão que passei na França e contei à Dominique, ela me confidenciou também que se sentia atraída por garotas. Naquele momento eu soube que havia feito a escolha certa - até ela soltar isso sem querer para James. Contudo, não imaginei que eu tivesse sido a primeira pessoa a qual ela contou. Quero dizer, Domi falou sobre o assunto de forma natural, enquanto eu parecia que teria um ataque cardíaco a qualquer instante. 

— Eu não fazia ideia.

— Não quero fazer você se sentir pior do que você já está se sentindo, mas já fazendo, - porque Dominique não conseguia não ser assim, cruel quando necessário - já que eu queria ressaltar o quão você é importante pra mim e garantir que você pode confiar em mim pra dizer o que te trouxe aqui longe de todo mundo - mas, ao mesmo tempo, ela também sabia ser incrivelmente atenciosa. 

Eu sentia falta dessa dualidade maluca de Domi, num morde e assopra confuso, mas que dava certo. Eu me sentia acolhido na mesma medida que me sentia sacudido da cabeça aos pés quando conversava com a minha prima, o que, muitas vezes, era exatamente o que precisamos. Ter alguém que passa a mão em nossa cabeça e releva os nossos erros é fácil, no entanto, acabamos caindo no conforto de não encarar os problemas de verdade por conta disso. Dominique nunca permitia que isso acontecesse, porque te dava um tapa - ou um soco - na cara antes que você pudesse sequer cogitar a possibilidade de voltar à zona de conforto.

— Eu sou um idiota.

— Diga uma novidade — provocou, batendo o ombro no meu. Ri pelo nariz, sem emoção, enquanto fazia círculos no chão com um pedaço velho de giz branco que encontrei. 

— Eu me desculpei com Rigel — deixei claro, antes que eu terminasse de contar tudo e Dominique resolvesse me socar de novo, porque, sinceramente, eu estava merecendo. —, mas disse que ele tinha todo o direito de estar aqui por ser praticamente da família, como Jia e Lexie, que são como irmãs pra mim.

— Puta que pariu, Al.

— Piora — alertei, apertando mais o giz no chão. — Ele deixou claro que eu era um idiota por achar isso e que eu não deveria jamais dizer isso. Ah, e também me contou sobre alguns problemas pessoais… 

— Meu Deus, só tire o band-aid logo — implorou Dominique, colocando a mão no meu ombro, praticamente me sacudindo. — Qual foi a cagada?

Respirei fundo, fechando os olhos.

— Eu tentei beijar ele. 

Silêncio. Algo muito incomum para Dominique. Eu esperava um grito de indignação ou uma comemoração. Ou até um engasgo surpreso. Mas nada veio. Abri os olhos, curioso para saber o que a minha prima estava pensando. O olhar de descrença nela dizia tudo. 

— Meu Deus. 

— Sim.

— Eu não esperava isso.

— Nem eu.

— E ele?

— O que você acha? — Perguntei irônico, bufando. Dominique mordeu os lábios, me olhando com receio.

— Ele não quis?

— Disse que eu deveria ter lido melhor a situação. E que parecia que eu tinha tido vontade de beijar ele por… pena. 

Eu esperava que Dominique fosse me bater ao perceber a assimilação que Rigel tinha feito, mas, apesar da careta que fez, ela não parecia brava comigo.

— Mas que merda, que beijasse primeiro e depois discutisse. Achei que Rigel fosse mais esperto. 

— Dominique! Esse não é o ponto.

— Você ia beijar o Rigel por pena? — Inquiriu, com as sobrancelhas arqueadas. Corei violentamente, tentando pensar em como me explicar para ela. 

— Eu só queria parar de me sentir mal. 

— Isso é ainda pior, Al.

— E também parar de fazer com que ele se sentisse mal — acrescentei rapidamente.

— Então, por pena.

— Não por pena! — Rebati, batendo com força o giz no chão, que quebrou. Joguei os dois pedaços longe, irritado, enquanto passava as mãos pelo rosto. — Uma forma de dar um ponto final nisso, sabe? De tirar isso do nosso sistema. Essa… tensão sex… não me olhe assim! Você não vai ganhar a porcaria das suas duzentas libras. 

A desgraçada nem escondia o sorriso satisfeito, enquanto tinha os cotovelos apoiados no chão, sustentanto o tronco. 

— O seu beijo de pena mais me parece um ato desesperado, se quer saber. Desespero por finalmente beijá-lo e acabar com esse drama todo. Admita, Albus, você está morrendo de beijar o Rigel há tempos. 

Crispei os lábios. Não diria morrendo, mas nos nossos últimos encontros, sim, eu havia pensado no assunto. Achei até que estava enlouquecendo. Não precisei dizer em voz alta, a resposta estava evidente nas minhas bochechas coradas. 

— Basta dizer a ele. Explicar que você sente essa vontade há tempos e só calhou de ter coragem agora.

— Ah, com toda certeza, Dominique. A primeira coisa que vou fazer depois de ter sido rejeitado e humilhado, e ir me humilhar novamente, para ser rejeitado… De novo! — Bufei, apoiando o meu rosto entre os meus joelhos e desejando ser capaz de esquecer aquele desastre todo. 

— Meu Deus, Al, calma, não é o fim do mundo! Desde quando você é tão estressado? Você costumava ser calmo. Não te vejo agir normal há muito tempo. Eu sabia que Rigel te tirava do sério, mas não tanto assim. 

Ri pelo nariz, tentando manter a minha respiração controlada, o que estava sendo difícil. Ah, se Dominique soubesse como minha mente era um turbilhão, como um vulcão prestes a entrar em erupção. 

O que minha prima já vivenciara eram picos de explosões que Rigel despertava em mim durante aquelas discussões durante os jogos e agora eu vejo que, tanto Domi quanto outras pessoas, achavam se tratar de pura rixinha ou coisa sem fundamento. Algo passageiro. Porém, ninguém via o quanto isso me corroía. E, agora, com aquela merda estourando na minha cara, eu não tinha controle algum sobre as minhas emoções. Não conseguia ser o Al tranquilo de sempre, porque eu não era tranquilo. Eu apenas fingia. Até agora. 

Não era fácil cultivar um desafeto pelo melhor amigo do meu irmão apenas para não me deixar cair no que eu mais temi durante todos esses anos: uma paixonite que terminaria mal. A ironia da coisa toda era que não havia nem começado e já havia terminado. 

Quero dizer, Rigel jamais me beijaria e eu teria que conviver com essa vergonha de ter me deixado levar por flertes idiotas e ter pesado a mão no ódio conferido a ele por puro medo

Não, eu não estava apaixonado. Mas sabia que, se me permitisse, essa loucura não seria nada difícil de se tornar realidade. O que eu estava pensando? Que um beijo iria tirar Rigel Thomas-Finnigan do meu sistema? Pelo amor de Deus, isso só iria torná-lo ainda mais presente. Eu não sei se conseguiria superar um beijo com Rigel. Onde eu estava com a cabeça?

O desejo cegava as pessoas e eu era prova viva disso. Ainda bem que o maldito beijo não aconteceu. Se tivéssemos nos beijado, ignorar aquilo seria impossível. Mas se, no fim das contas, o fiasco do terraço se resumisse a Rigel me dando um fora, poderíamos rir disso anos depois sobre como éramos imaturos. Ou ao menos eu era imaturo. 

Por Deus, como era possível chegar a idade de vinte e três anos e sentir como se ainda fosse um adolescente de dezesseis anos sem saber porra nenhuma da vida? Porque era assim que eu me sentia. Soberbo em um primeiro momento, por assumir que entendia tudo e lidava com as situações perfeitamente. Até tudo explodir na minha cara prepotente. 

Olhei para a minha prima com os olhos semicerrados, enquanto ela mantinha um sorriso irritante na cara. Mesmo sem gritar comigo ou me sacudir literalmente, Dominique havia dado um giro de trezentos e sessenta graus na minha vida. 

Não, eu não iria me humilhar admitindo que tive vontade de beijá-lo outras vezes e não, eu não iria “voltar a ser o Al descontraído de sempre”, porque eu não era assim. Eu iria me fechar, fingir que nada daquilo aconteceu e possivelmente continuar surtando na frente da primeira pessoa que aparecesse na minha frente até conseguir me controlar. 

Mas, ao menos, eu não seria o babaca de sempre com Rigel. E nem com ela, nem com James. E, se os céus me ajudassem, com mais ninguém. Eu já havia batido a minha cota de merdas para uma vida inteira. Só queria ficar em paz. 

O problema era que “paz” e “Weasley” não combinavam na mesma frase. Todos os netos e filhos iriam passar a noite de sábado para domingo na casa dos meus avós, o que indicava que os agregados também ficariam por ali. Em resumo: Rigel estaria lá. Sob o mesmo teto que eu. 

E, como tínhamos uma família fofoqueira, eu não desconfiava que até meia noite todos já saberiam do fiasco. Por isso, marchei de volta para a casa, ouvindo ao longe o barulho da festa que ainda contava com meia dúzia de convidados. Alguns familiares já estavam se recolhendo, outros estavam acomodados jogando cartas ou apenas procurando mais bebidas para retornarem para a diversão lá fora. 

Vi Dominique, que descera da casa de árvore trinta minutos antes de mim, abraçada com Jia no sofá, enquanto as duas sussurravam uma para a outra. Lexie estava lá fora, entretida em um conversa com Rose, enquanto Scorpius estava ao longe, bebendo com James e Rigel, olhando fixamente para a minha prima. Respirei fundo, prevendo que aquele dia infernal estava longe de acabar quando Rigel olhou na minha direção e sussurrou algo para James, afastando-se da rodinha. Eu não soube o que Rigel havia dito ao meu irmão, contudo não pareceu ser nada muito relevante, porque James seguiu falando algo para Scorpius, sem perceber que ele não escutava nenhuma palavra do que era dito. 

Os meus pés balançaram para a frente por um instante, inconscientemente querendo me levar em direção a Rigel, que se servia de drinks em uma mesa afastada. Não, eu não iria me humilhar. Além disso, ele queria um tempo de mim, como já havia informado. Então, respirando fundo, me juntei à Rose e Lexie. 

As duas conversavam sobre moda. Ou melhor, Lexie falava, já que Rose estava visivelmente perdida em pensamentos. Até tentei dar ouvidos à Lexie em respeito a ela e também porque ela ficava adorável quando falava de algo que gostava, no entanto eu estava mais preocupado em olhar para o grupo de James, Scorpius e Rigel vez ou outra sem ser flagrado. 

— Ok, eu desisto! — Lexie jogou a mão para o alto, aumentando o tom de voz. Eu e Rose olhamos culpados para ela, mas a Longbottom abanou a mão, como se não se importasse. — Vocês estão com essa cara de cachorrinhos sem donos e claramente não estão interessados em saber nada sobre moda, então vamos encher a cara. 

— Lexie, são quase onze da noite — observei. 

— E é o dia do aniversário de casamento dos nossos avós — Rose acrescentou, indicando o casal que estava sentado em um banco distante, a minha avó falando algo no ouvido de meu avô, que ria. 

— E vocês acham que eles vão ligar se os netos derem uma escapadinha? Pelo amor de Deus, eles mesmos estão prestes a fugir pra aproveitarem só os dois, na cara. 

Lexie balançou as sobrancelhas de uma maneira maliciosa e eu juro que eu e Rose quase gorfamos, indignados com a insinuação dela. Tudo o que eu não precisava era ficar traumatizado pela imagem hipotética dos meus avós transando!

— Eu vou ter pesadelos com essa imagem — Rose segurou no meu braço, como se estivesse zonza por um instante. Eu contorci a minha expressão em uma careta, enquanto Lexie reclamava sobre a nossa sensibilidade exagerada. 

Não achava que seria uma boa ideia sair para beber, mas sinceramente, eu não estava muito afim de ficar sozinho com os meus próprios pensamentos durante a noite, remoendo todo aquele fiasco. 

Pedimos um Uber, já que ninguém ali iria querer bancar o motorista da rodada e, enquanto nos encaminhávamos para a entrada da propriedade, James veio correndo até nós. 

— Posso saber onde é que vocês vão?

— Não temos quinze anos para você ficar controlando onde vamos, James — Lexie respondeu revirando os olhos, sem parar de andar. James a segurou pelo pulso, querendo que ela desacelerasse. 

— Posso falar com você um instante?

Nós três olhamos desconfiados para James, mas como Lexie assentiu e o meu irmão não deu indícios de que eu e Rose podíamos escutar, resolvemos deixá-los à sós e aguardar o Uber do lado de fora. 

Virei para trás, querendo obter alguma pista sobre o que James e Lexie poderiam estar conversando, porém os meus olhos acabaram inevitavelmente se desviando para onde Rigel e Scorpius conversavam, olhando na nossa direção. Virei-me para Rose, que também observava os dois ao fundo.

— Eu queria fazer uma pergunta, mas isso implicaria em deixar você fazer uma pergunta — falei, já me arrependendo do maldito acordo em não falar sobre o beijo de Rose e Scorpius desde que eles não falassem sobre a minha proximidade com Rigel. 

Rose parecia achar a mesma coisa, pois me lançou um olhar quase desesperado. 

— Não sei quanto tempo mais vou conseguir aguentar.

— Vamos tentar sobreviver a essa noite sem pensar nas cagadas que nós fizemos.

— Eu não fiz nenhuma cag-

Rose

Minha prima revirou os olhos, ignorando-me de propósito, porque era uma sonsa que não sabia dar o braço a torcer. Apenas bufei, agradecendo que o Uber já estivesse apontando na esquina. Gritei para Lexie, que se despediu rapidamente de James, que estava digitando apressadamente alguma coisa no celular. 

Assim que entramos no carro, olhei de maneira curiosa para Lexie, que parecia meio irritada. 

— O que ele queria?

— Bancar o chato protetor. James está indo com a gente na boate, acabou de pedir um Uber pra ele e pros rapazes.

Eu e Rose a encaramos incrédulos, explodindo em protestos. Lexie arregalou os olhos como se três cabeças tivessem surgido em nós e estivessem atacando-a. Eu estava bem próximo de pular no pescoço dela, de qualquer forma. 

— O que foi que eu perdi?

— Nada — respondemos emburrados. Pelo visto teríamos que passar o resto da noite miserável fugindo de Scorpius e Rigel. Ao menos, teríamos algumas garrafas de gin do nosso lado para facilitar a missão.

O lado bom do álcool era que tudo se tornava altamente esquecível depois de seis doses de tequila e dois gin tônica de maracujá e limão. Eu piscava e, de repente, estava em outro ponto da boate, interagindo com pessoas que eu sequer me lembrava o nome, mas tratava como se fôssemos amigos de infância.

Outro piscar de olhos e alguém vinha parabenizar a mim e a Rose pela dança em cima da mesa, que nenhum de nós se recordava de ter feito. Mais outro, e de repente eu estava beijando alguém. 

Ou o lado ruim do álcool era que tudo se tornava altamente intenso depois de mais três doses adicionais de tequila e um mojito e meio. De repente, o efeito de amnésia já não parecia ser tão eficiente em conceder histórias divertidas e situações inusitadas. Agora, eu sentia os meus olhos pregados em um ponto fixo: Rigel Thomas-Finnigan beijando um cara no meio da pista de dança. 

Ok, ok. Eu tinha beijado alguém também, não era grande coisa. Mas em minha defesa eu mal me lembrava do maldito beijo. Eu preferia mil vezes ter isso como recordação, já que vi o cara depois e aquela definitivamente seria uma memória louvável, do que ter tatuado em minha retina a agarração de Rigel. 

De uma hora para a outra, tudo o que eu sabia fazer era falar sobre como eu havia sido estúpido e como Rigel era lindo de morrer e parecia beijar fodidamente bem. E Rose me escutava, enquanto Lexie, cansada do nosso drama e chororô bêbados, ia encher a cara para nos aturar sem nos mandar tomar no cu. 

Em certo ponto, Rose começou a chorar e se chamar de idiota, falando sobre Scorpius. De repente, estávamos os dois chorando, bebendo e chamando um ao outro de estúpidos. Porque éramos extremamente estúpidos. Só fazíamos cagadas. Poderíamos até culpar o nosso sangue, já que éramos primos e era impossível que fizéssemos tanta merda assim de graça, porém tínhamos tantos outros primos que não faziam cagadas colossais assim. Então só éramos dois fodidos mesmo, relegados a destruir tudo o que tocávamos. 

E, assim, muitos choros e bebidas depois, a amnésia voltou com força. Tão forte, que eu sequer me lembrava de como cheguei inteiro na casa dos meus avós. Bem, não exatamente inteiro. 

Eu abri os olhos com dificuldade, a luz que entrava pela janela quase me cegando enquanto a minha cabeça latejava de dor. Ao me levantar com lentidão, senti um gosto amargo preencher a minha boca e eu podia jurar que o meu estômago estava dando sinais de que iria ser colocado para fora a qualquer instante. 

Decidi fechar as janelas para tentar amenizar os efeitos da ressaca e fui trombando nas malas e nos móveis que encontrei no caminho. Ao fechá-las, o quarto não escureceu totalmente, já que as cortinas eram claras, mas ao menos o sol não parecia queimar os meus olhos. Conforme fui me virando para voltar à cama, me deparei com um espelho e quase caí para trás. 

Eu estava só de cueca. Por Deus, se a minha mãe me pegasse dormindo assim na casa da minha avó, eu iria facilmente ficar de castigo aos vinte e três anos, eu tinha plena certeza da capacidade de Ginny Potter em agir como se ainda tivesse esse poder sobre os filhos. E nós não seríamos bestas em questionar (uma vez na faculdade James ficou secretamente de castigo, furando festas com as piores desculpas possíveis apenas para não desobedecer a mamãe). 

Tentei me localizar, porque dependendo de quais fossem os primos que eu estivesse dividindo quarto, a fofoca poderia não chegar aos ouvidos de minha mãe - eu poderia subornar Hugo, por exemplo, e Rose jamais contaria, mas Roxy era uma linguaruda e suborno nenhum adiantava. 

Foi quando eu quase caí para trás de novo. 

Na cama que eu tinha acabado de me levantar, estava Rigel Thomas-Finnigan, dormindo feito um anjo. Que merda eu tinha feito?


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Notas finais do capítulo

Não me matem! Amo escrever personagens fazendo merda e o Al ainda vai passar por poucas e boas antes de tudo dar certo!!! Teorias sobre esse final???
Acho que essa foi minha última atualização do ano, então boas festas para todos vocês ❤ Espero vocês nos comentários!



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