Reação escrita por pó de flu


Capítulo 1
U: dos reagentes


Notas iniciais do capítulo

Estou mega feliz de postar Reação nesse projeto ♥ Desde que eu pensei nela, eu sabia que ela precisava ir pro Pride, afinal, essa é uma fic sobre autodescoberta e autoaceitação, o que tem tudo a ver com o orgulho LGBTQIA+. OBRIGADA às adms por idealizarem e fazerem esse projeto pela segunda vez, vocês são perfeitas!!
Sobre a fic: o plot já estava na minha cabeça, mas a vibe dela foi resultado de uma noite de insônia em que eu decidi escrever para esvaziar a mente e essa fanfiction saiu por inteiro! Eu tinha pensando inicialmente numa história maior, mas essa aqui me foi natural e eu amei o tom dela ♡ Espero que gostem também :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802692/chapter/1

Reação s. f. (re.a.ção)¹

Ação ou efeito de reagir, de responder uma ação com outra.

[química] Transformação que altera a composição das substâncias reagentes, a fim de formar produtos.

 

Eu não imaginava que outro reagente pudesse ser capaz de competir com Remus John Lupin na minha equação. Marlene provou que podia e desequilibrou o meu balanceamento.

Foi inevitável, então, sentir que havia algo de errado comigo.

O fato de não ver meu namorado há meses não era desculpa para cobiçar outrem. Ainda assim, se o ônus da carne é a lascívia, poderia ao menos não ser por ela?

Era pecaminoso, repugnante e inadmissível. O mero pensamento já me submergia em culpa, culpa e mais culpa.

Não por ela ser mulher — embora ainda me fosse confuso, à época, o fato disso não importar —, e sim por ela dever ser apenas minha amiga, colega de dormitório e confidente. Sentir-me dessa forma por uma pessoa tão próxima, e esta estar tão distante de perceber os meus anseios... Se ela olhasse bem no fundo dos meus olhos, talvez enxergasse o desejo — e, impreterivelmente, a culpa.

Se porventura eu estiver usando muito essa palavra — “culpa” —, saiba que não é culpa minha, pois não consigo não me sentir culpada, portanto peço desculpas pelo inconveniente.

Pois bem, a falar dos fardos que carrego...

Remus não faz ideia.

Nosso namoro, outrora baseado em honestidade, está na corda bamba e ele nem sabe. Merlin, como contar? Não me resta alternativa além de tentar e, possivelmente, fracassar.

Daremos, pois, esse passo ao abismo das incertezas.

 

 

Como caloura na Universidade de Hogwarts, a vida não era nada fácil. Mudei-me para o dormitório da faculdade, desconheci todos ao meu redor e, aos poucos, conheci meus colegas de curso e moradia. Saí da bolha escolar, saí da bolha familiar, saí da bolha das amizades passadas — no final das contas, o único amigo que restara da minha antiga vida era o meu próprio namorado. Enfrentei as dificuldades universitárias com empolgação inicial, depois frustração e, por fim, contentamento e motivação. Todo esse processo foi muito mais rápido do que eu jamais poderia imaginar, e, para alguém tão lenta com mudanças, foi fatal. Sentia-me perdida e ansiosa constantemente.

Quando Marlene chegou, sutilmente, e se expandiu, ligeiramente — no dormitório ou na minha vida, como preferir interpretar —, eu já era um misto de ansiedade, saudade, estudos e amor. Já tinha noção também, de certa forma, da minha predileção por todos os corpos. Sempre me pegava admirando alguém, querendo observar mais e mais as singularidades alheias, porém não costumava chamar de secar, a menos que fosse homem cisgênero. Existem “valores” que são difíceis de desaprender. No entanto, considero que sabia, sempre soube, desde o meu despertar sexual, que meus interesses não eram limitados em gênero, número e grau. E, ainda assim, o baque de me apaixonar por Marlene Mckinnon me foi surpreendente, porque o meu coração jamais acompanhara as aventuras dos meus olhares e as fantasias da minha libido.

Eu, que tinha o coração guardado a muitos quilômetros, voltei meus olhos para ela. Era como outras pessoas que eu me permitia observar, até que deixou de ser. Sei que deveria contar como isso aconteceu, mas terá que me absolver por não achar meios para explicar...

Marlene era viva como eu nunca vira antes. Ela era completa, tinha nela ar, água e terra. Mas seu elemento, definitivamente, era fogo. Ao passo que eu e Remus éramos iguais, ela era meu oposto. Veja em que dilema eu me encontrava...

“Estou confusa, amor. Por favor, me perdoe” e ele foi compreensivo.

A cumplicidade de Remus Lupin talvez trouxesse algum alívio a uma alma menos atormentada que a minha. Remus tinha razões sólidas para desconfiar de mim, uma vez que o magoei profundamente com a ambiguidade dos meus sentimentos — e com a minha hesitação em revelá-la. Mas meu namorado sabia e entendia que, à época, eu tinha corriqueiramente crises do transtorno de ansiedade que eu desenvolvera. Ele também tinha consciência de ser a única pessoa com quem eu havia me deitado, e eu explicara como a falta de experiência fundamentava inseguranças quanto à minha sexualidade. Remus enxergava em mim tudo que eu me permiti mostrar, e mais um pouco. Sendo justa com ele e comigo mesma, eu precisava reagir ante ao meu impasse.

Ávida por respostas, vi-me cada vez mais desnorteada. Não que pansexualidade ou bissexualidade signifiquem confusão, pelo contrário, cada rótulo é uma convicção, uma afirmação. É inegável, contudo, o quão caótico é o processo de autodescoberta. Se eu saboreasse outras peles, sentiria realmente prazer? Como poderia me apresentar como pansexual sem ter ficado com outros tipos de gente? Essa necessidade de provar era para o mundo ou para mim mesma?

O pairar dessas dúvidas se tornou sufocante com Marlene tão perto e Remus tão longe. Eu não amava mais o meu namorado, então, se tinha sentimentos por outra? Minha necessidade de estar com ela era a confissão da minha pansexualidade ou da minha não-monogamia?

A decisão que vim a tomar foi a mais difícil e corajosa: esperar.

Eu esperei, meses e meses, por você, Remus. Porque eu sabia que, no passado, quando eu entrara naquela sala de aula em que encontrei você pela primeira vez, eu desconhecia o amor. Paixão, aquela chama tão instável quanto intensa? Já colecionava algumas, platônicas. Entretanto, de alguma forma, meus caminhos tortuosos haviam me preparado para a sua chegada, meu amigo, amante, namorado e companheiro. Minhas memórias disso não se apagariam. Foi assim que, no meio da tempestade de incertezas, pelo menos eu soube que, no olho do furacão, eu tinha você.

Quando nos reencontramos, eu finalmente compreendi. Por Marlene, senti paixão violenta. Estava aí a prova da minha pansexualidade, que tanto procurara. Talvez fosse também a prova da minha não-monogamia. Que eu não a poria em prática, não importou, porque estava feliz com você uma vez que me entendi comigo. 

Dizem que, numa transformação química de várias etapas, a mais lenta é a mais relevante para a velocidade da reação. Eu pude dizer, Remus, que, na reação do meu coração, nosso amor foi etapa determinante. Lenta. Crescente. Permanente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1: A palavra reação obviamente tem outros significados, mas eu só coloquei os convenientes haha
Essa fic provavelmente não foi nada do que vocês estavam esperando, foi assim para mim também quando eu escrevi kkkk Adoraria saber o que vocês acharam! ♥
Ah, e dia 12 eu apareço aqui com uma short dorlene!
Muito obrigada a quem leu, vejo vocês nos comentários :*