The Fault in Albus's Stars escrita por Fanfictioner


Capítulo 6
Como nem tudo é o que parece




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Como nem tudo é o que parece (ou, no fim as coisas dão certo)

Scorpius e eu dividimos a mesa com uma dupla Corvinal/Grifinória, e eu não fazia a menor ideia de como nós dois íamos trabalhar juntos quando havia quase dois meses que nem nos falávamos.

— Eu busco os ingredientes e você anota a receita? - sugeri, tentando ficar tranquilo.

— Pode ser, tanto faz. - ele deu de ombros e ali mesmo já senti vontade de revirar os olhos.

Busquei os materiais e, quando voltei, Scorpius lia a receita e fazia marcações sobre o passo a passo. Teríamos uma hora e meia para preparar, cozinhar e servir o frasco com nossos nomes. Ia dar certo, ia dar certo.

Não pense nas previsões de ontem, não pense, Albus!

Scorpius e eu éramos uma dupla tão eficiente quanto poderia ser uma parceria de dois alunos com nota baixa, mas o fato de estarmos com uma péssima relação interpessoal tornava tudo pior. Tudo que eu começava a fazer ele corrigia, e todas as vezes que o via mexendo o caldeirão havia algum detalhe errado que ele deixara passar.

— Você está fazendo errado, Scorpius. De novo! - resmunguei baixinho, tomando a colher e passando a girar o caldeirão no sentido oposto. - Corta as vagens soporíferas, por favor.

— Incrível como tudo está errado para o Mestre das Poções! Por que sua nota está tão baixa se você sabe tudo, eim, Albus? - retorquiu ele, fazendo-me bufar.

Ele pegou a adaga e então sorriu presunçoso.

— E espremer a vagem faz sair mais sumo, só para você saber. 

Lembrei do dia que Rose me dissera isso, corrigindo meu trabalho e me senti constrangido e com raiva. Queria virar o caldeirão quente sobre Scorpius!

O problema era que: não só fazia tempo que não conversávamos, e que estávamos brigados, mas também Scorpius não ficara nem um sicle mais feio! Inferno de cabelo bonito caindo no olho que fazia ele ficar o tempo todo arrumando-o atrás da orelha!

— Prende isso! - reclamei com um cutucão quando ele parou de pingar o éter para arrumar o cabelo. - só atrapalhando.

— Quem me atrapalha é você. Quer me deixar fazer alguma coisa em paz?! Estou tentando passar em Poções!

— Bem, eu também. Mas com você como dupla fica difícil!

— Ah, me erra, Albus! Termina logo de macerar essas folhas de urtiga, anda.

O trabalho todo foi cheio de briguinhas idiotas e eu estava possesso com Scorpius, contando os segundos para acabar aquela droga de poção e ir embora da sala. Nenhum dos dois estava gostando da experiência, mas, quando a poção borbulhou e queimou, ainda na superfície, a folhinha que testava a qualidade, nós ficamos orgulhosos.

— Cinco minutos para as poções estarem etiquetadas na minha mesa!

Scorpius foi até o armário para pegar um tubo de ensaio e eu escrevi nossos nomes em um pergaminho e cortei fita. Scorpius tirou o caldeirão fervente de cima da chama e eu usei a concha para servir a primeira metade do frasco. Tudo certo, só mais uma concha.

E, então, tudo deu errado. 

Scorpius foi arrumar o cabelo e bateu a mão no meu braço enquanto eu levantava a concha cheia. A poção quente esparramou para todos os lados, principalmente no meu uniforme. Com o susto, bati a mão no frasco, que caiu e quebrou, e Scorpius derrubou o caldeirão, derramando poção quente em nós.

Que merda, Scorpius! - berrei, sentindo minha mão arder.

Alguém tinha sido rápido o bastante para usar a varinha para levitar o caldeirão, salvando algo da nossa poção, e o professor veio correndo, mandando que nós colocássemos a mão na bacia de pedra com água corrente, no fundo da sala.

Eu queria enforcar Scorpius com a gravata do uniforme. Minha mão estava vermelha e ardendo como o inferno, e eu podia ver uma bolha se formando.

— Eu odeio você!

— Não foi por querer, é óbvio, Albus! - retrucou, resmungando de dor. - Diferente das merdas que você faz, claro.

— Eu faço? Eu faço?! Você age como um imbecil e eu que faço merdas?

— Foi você quem me acusou de roubar suas coisas, então…

— Potter, Malfoy! - nosso professor chamou, interrompendo a discussão. - A senhorita Dungee já providenciou um frasco com a poção dos senhores, então não se preocupem com a nota. Vão direto à enfermaria.

A menina da Corvinal que estava na nossa mesa sorriu quando eu agradeci, mordendo a boca para esconder uma careta de dor quando a bolha latejou, e, de repente, quase toda a turma já havia ido embora.

— Andem, vocês dois, vamos logo na Madame Pomfrey. - chamou Rose, carregando nossas mochilas além da própria. - Evangeline e Henry foram almoçar, então vocês vão ter que ser adultos e dividirem a minha companhia.

Ela brincou, provocando, mas eu estava com tanta dor que só revirei os olhos.

— Pode ficar com Scorpius, eu me viro sozinho. - mas, no segundo em que tirei a mão da água e enrolei em uma toalha úmida, percebi que queria muito alguém para carregar minha mochila por mim.

— Para de ser idiota, Albus. - ela reclamou.

— Ele não consegue, é um hábito já. - Scorpius devolveu, deixando-me mais irritado. - E já tem experiência em se virar sozinho, já que é um cuzão com os amigos.

— Cala a boca. Eu não vou conversar com você.

— Nada novo, então. Não fala comigo há quase dois meses.

— Foi você quem fez uma cena sobre eu ser um amigo ruim e nunca me pediu desculpas! Foi você quem me chamou de cego. - relembrei, enquanto subíamos as escadas para o hall principal, a caminho da Ala Hospitalar.

— Bom, eu não estava mentindo, estava? Você só provou que abandonou a gente, nesse último mês.

— Você me trocou primeiro! Você e Rose, o casalzinho maravilha! Por que não se casam e vão morar na Irlanda?!

Rose resmungou, pedindo que nós parássemos, contudo, estávamos os dois com dor e muito irritados um com o outro, então a discussão continuou.

— Quem falou nisso? Onde eu e Rose entramos nisso, Albus?! Você completamente sem noção. - ele disse, com raiva. - Isso aqui é sobre você ter largado a gente.

— Ah é? Porque, se eu me lembro, era sobre eu ter ficado com Luke Zabini, seu amigo de infância! - as orelhas de Scorpius ficaram vermelhas, assim como o rosto dele, e eu soube que acertara em ao menos um ponto.

Tínhamos acabado de entrar na enfermaria e Madame Pomfrey quase brigou conosco pelo tanto que falávamos alto. Rose foi à frente e explicou o que tinha acontecido, então Madame Pomfrey nos mandou deixar as mochilas ali e entrar, que ia fazer um curativo e dar um remédio para a dor.

— É claro que também tem a ver com Zabini! Afinal, de uma hora para a outra você resolveu pegar todo mundo! - Scorpius insistiu, enquanto entrávamos na ala com as macas.

— Isso absolutamente não é da sua cont- ei, James! - meu irmão estava sentado em uma das macas, com a ponta da calça levantada e um corte aberto. - O que houve?

— Tropecei num degrau falso e me cortei. - ele deu de ombros. - Nada sério. E você, o que rolou?

— Minha dupla super competente virou poção quente em cima de mim.

— Você, por acaso, consegue não ser insuportável?! Eu me queimei também! Qual seu problema? - ele levantou a voz e James fez uma cara de quem se arrependia de ter perguntado.

— Meu problema? Bem, eu tenho muitos problemas, mas ultimamente você anda sendo o pior deles. - retruquei, falando mais baixo quando Madame Pomfrey chegou com bacias de água flutuantes e remédios.

Scorpius e eu mergulhamos as mãos na água e bebemos a poção para a dor enquanto Madame Pomfrey fez um curativo na perna de James, dizendo que logo menos voltava com as coisas para as nossas mãos.

Rose lançou um abaffiato na sala em que estávamos, dizendo que gritávamos muito.

— Eu realmente não entendo como posso ser seu problema, se não nos falamos há semanas!

Então, com uma dor absurda, muita raiva e uma certa humilhação queimando dentro de mim, vários pensamentos sobre os últimos meses e vendo James - a pessoa que sempre me aconselhara sobre Scorpius - ali, eu decidi dizer tudo logo de uma vez.

— Bom, deixa eu ver por onde eu começo. - respirei fundo, sentindo a raiva pululando. - Primeiro que tudo isso, essa briga e o fato de a gente não se falar, são tudo culpa sua!

— Culpa minha?! - ele riu com escárnio. - Minha? Tem certeza, Albus?

— Você não me pediu desculpas em nenhuma das últimas vezes em que foi um completo babaca comigo, acabou de derramar poção quente em mim e você, definitivamente, não sai da minha cabeça há três anos, a ponto de eu não conseguir me envolver romanticamente com mais ninguém!

— A poç- espera, o que você disse?! - ele me olhou confuso quando ouviu o que eu dissera sobrepondo minha voz à interrupção dele e meu rosto ardeu.

— Então você começa a namorar com Rose, esquecendo completamente toda a confusão de dois anos atrás, quando você a beijou horas depois de ter me pedido para beijar você, coisa que eu tenho certeza de que você nunca foi capaz de contar para alguém! Não sendo suficiente, esconde o começo da coisa toda de mim e me conta no meio da sala comunal, junto com todo mundo! Muy amigo, né?! 

Eu me sentia gritando. Minha mão ardia terrivelmente, mesmo dentro da água gelada, e eu não sabia se o que ardia mais era a bolha ou a ponta congelada e insensível dos meus dedos.

— Mas tudo só melhora! Porque você decide implicar com quem eu saio, com quem eu fico, que bocas eu beijo, justamente quando eu resolvo seguir em frente e tentar esquecer você. Só não me chamou de vagabundo, mas o resto… você não tem o direito de me tratar assim, nem como amigo! Rose sempre soube que eu gosto de você e também nunca fez nada para impedir que você me magoasse.

— Al, é mais complicado. - Rose interrompeu, meio afetada.

— Não, não é. Complicado é eu ser apaixonado pelo meu melhor amigo e ter que ver ele namorando minha prima - minha voz estava ficando aguda e meus olhos ardiam.

Não chore, não chor- merda!

— Al… - chamou Scorpius, e eu não tive coragem de olhá-lo me sentindo humilhado.

— E eu nem estou contando com você ter roubado o Mapa do Mar-

— Scorpius não roubou o Mapa do Maroto, Al. - James me interrompeu. - Fui eu quem pegou. Ele está seguro comigo, no dormitório da Grifinória.

Eu olhei James, confuso. Aquilo não fazia o menor sentido. Como? Por quê? Scorpius parecia tão confuso quanto eu, e Rose estava mordiscando a boca ansiosamente

— Quê? Por quê?

— Eu peguei, no seu aniversário.

— James, não. - Rose pediu, olhando sério para James. - Não é o momento de tocar nesse assunto.

— É muito o momento certo! Isso já ficou ridículo, Rose. - disse James, impaciente, negando com a cabeça. - É patético, e infantil.

Rose olhou para ele, depois para mim, Scorpius, então James de novo, e eu não estava entendendo nada. Do que eles estavam falando. A expressão de Scorpius passou de confusa para séria e atenta, e, de repente, parecia que estava todo mundo tenso.

— James, eu não sei s-

— Você está magoando o Al e sendo covarde, Scorpius. - ele insistiu, em tom de aviso.

— Do que vocês estão falando?! - perguntei, muito confuso, sentindo meus olhos incharem.

James respirou fundo, tirou os óculos e esfregou o rosto, lembrando-me o papai.

— Scorpius e Rose não estão namorando. 

— Como é?

Eu só podia ter ouvido errado.

— Scorpius e Rose não estão namorando. - ele repetiu.

— Não seja idiota. Claro que estão. - olhei para Rose, esperando confirmação.

— Não, não estamos, Al. Não de verdade, pelo menos. - Rose respondeu, séria.

— Ninguém tá brincando aqui, vocês dois! - repreendi. - Olha o anel na mão dela, é de compr-

— Compromisso, eu sei. Foi o Lorcan quem deu.

De repente, o mundo pareceu sair do lugar. Ou eu tinha saído do mundo. Lorcan e Rose? Lorcan Scamander, melhor amigo do meu irmão, e Rose, minha prima? Era sério?

— Você tá zoando.

— Não estou. - James insistiu, sério.

— Mas e o Scorpius...?

Eu olhei para ele e Scorpius estava sério, meio envergonhado, sem dizer coisa alguma, com a mão ainda dentro da água, como a minha.

— Alguém me explica, pelo amor de Deus! 

— Eu disse, Al. É complicado. - Rose começou. - E eu sinto muito termos magoado você…

— Eu acho que ninguém queria ter mentido, Al. De verdade. - continuou James, sério. - Só… Lorcan queria alguém para ajudar a manter um segredo e depois tudo virou uma bola de neve.

— Desde quando, isso?

— Desde as férias. - certo, não chegava a ser um mês, direito. - De verão, Al. Férias de verão.

E, então, tudo fez sentido. James e Lorcan de repente indo assistir aos treinos de quadribol, como se fosse tudo pela temporada, todas as interações dela com Lorcan, subitamente muito mais amigo do que costumava… o tempo todo James estivera acobertando o melhor amigo! Rose e Lorcan estavam juntos há muito tempo.

Era muita coisa para processar. Minha mão estava ardendo demais, Rose e Scorpius não eram um casal, Lorcan e Rose eram um casal, James tinha pego o Mapa do Maroto… espera! Agora fazia sentido!

— O mapa… o mapa… você pegou o Mapa para eu não descobrir? Para eu não os ver juntos?

— A gente realmente nunca fez nada demais, Al. - Rose confessou, com um sorrisinho constrangido e o rosto vermelho. - Mas eu não queria que ninguém soubesse… a gente nem sabia direito o que era que estávamos tendo. E eu não podia simplesmente pegar o mapa no seu quarto.

— Foi a ideia mais brilhante que eu já vi. Eu sou um gênio, admita. - James acrescentou, fazendo Rose revirar os olhos.

— Desculpa, Al… desculpa. - ela continuou. - Por não ter contado do Lorcan, por ter mentido com o Scorp…

Aquilo! Sim, eu sabia que ela e Lorcan estavam juntos, mas porque fingir todos aqueles meses que estava com Scorpius? E o que Lorcan achava daquilo? E por que James sabia de tudo?

— Por quê? Só… por que fazer uma coisa dessas? Um namoro falso… Só para despistar de todo mundo? Precisava mesmo? - perguntei, meio indignado. - E você podia ter escolhido qualquer outra pessoa, Rose… 

Olhei para Scorpius e ele estava muito, muito constrangido. Estava com a cabeça meio baixa, e não tinha dito nada. Ele sabia sobre Lorcan e Rose?

— Não! Não, Al… eu nunca faria isso com você, eu juro! - exasperou ela, então hesitou. - Eu fiz isso… ahrg! Scorp! Eu fiz isso porque Scorp pediu. Implorou, na verdade.

Certo, eu não estava mesmo entendendo nada!

— Fingiu namorar com Scorpius porque ele pediu? Por que Scorpius pediria isso?! Ainda mais sabendo de você e Lorcan! - olhei para Scorpius, mas ele não me olhou de volta.

— Ninguém sabia da gente, Al. Nem Scorpius. Ele sabia que eu estava saindo com alguém e que por isso não ia… - ela fez uma careta. - beijá-lo, nem coisa do tipo. Eu conversei com Lorcan que Scorpius tinha me pedido isso… 

— Por que, diabos, você pediria isso?! - insisti, falando diretamente com Scorpius. Ele estava em silêncio. - Por quê?!

— Para fazer ciúme em você. - foi James quem respondeu, e eu não acreditei no que estava ouvindo. - Eu não sabia! Quer dizer, eu sabia da farsa toda porque o Lorcan me contou… Rose sabe que eu achei ridículo! Mas até há bem pouco tempo eu juro que não sabia que era para pôr ciúmes em você

Ele logo ficou na defensiva, porque sabia que eu ficaria chateado se tivesse escondido isso de mim. Na verdade, nem faria sentido, já que James vivia me aconselhando a superar Scorpius.

— Como é?

Rose hesitou, olhou para Scorpius, mas ele não exibiu reação além de ficar com o rosto muito vermelho, então ela começou a explicar.

— Essa é outra coisa que não devia ter chegado a essa proporção. Scorpius percebeu que estava afim de você e me perguntou se eu sabia de algo… eu não ia expor seus sentimentos, Al, porque eu via que não tinham mudado. Então disse que, no passado, você tinha gostado dele, mas que agora eu não sabia mais.

“Então ele implorou para fingirmos essa coisa de namoro. Para ver qual seria a sua reação, provocar um ciuminho bobo se você ainda gostasse dele... Não era para ter ido nem além do seu aniversário. A gente ia acabar ali, mas você foi embora da festa… eu não sei o que rolou entre vocês.” ela olhou para Scorpius e continuou falando. “Ninguém desmentiu nada e foi ficando maior, maior… você saiu com outras pessoas, Scorpius ficou com ciúme…“

À medida que Rose ia explicando, as cenas das minhas discussões com Scorpius faziam mais e mais sentido.

— Eu sabia que Scorpius queria fazer ciúmes em alguém, mas não que esse alguém era você, Al. - disse James. - Eu só entendi quando você contou que tinham brigado… tanto eu quanto Lorcan vínhamos pedindo para Rose para que eles parassem com isso… como eu falei, é imaturo e infantil.

Minha cabeça parecia explodir com todas aquelas informações novas. Muitas reviravoltas, muita coisa que eu não sabia e muita dor na minha mão. Um pedaço de mim estava muito bravo, com raiva daquelas mentiras e coisas inventadas. Outra parte de mim estava feliz por Rose e Lorcan, outra parte de mim estava chateada com James por ele não ter me contado mais cedo sobre aquilo tudo e, ainda, outra parte queria gritar porque, hey, Scorpius estava interessado em mim, afinal!

Eu só não conseguia falar. Estava em um estado quase de torpor e, quando Madame Pomfrey apareceu para dispensar James e nos fazer um curativo, foi a primeira vez em muito tempo que eu ouvi Scorpius dizer algo.

— Eu primeiro, por favor. - Madame Pomfrey o atendeu e eu pude notar, quase no fim do curativo, que Scorpius estava com a cabeça baixa porque estava chorando.

Ela fechou a atadura com uma espécie de fita e entregou um remédio para a dor, pedindo que Scorp voltasse no dia seguinte para mudar o curativo, e então se virou para mim.

Se eu não estivesse olhando para Scorpius e, se não tivesse uma audição muito boa, nem mesmo teria ouvido ele dizer, bem baixinho.

— Eu sinto tanto, Albus. Me desculpa. - e sair em seguida, sozinho.

***

Scorpius não apareceu no almoço.

Nem nas aulas da tarde, as quais eu não prestei a menor atenção porque estava ocupado conversando com Rose para entender os detalhes de toda aquela loucura que era: Lorcan namora Rose, que finge namorar Scorpius, porque ele gosta de mim, que gosto dele de volta.

Entendi, por exemplo, que fazia algum tempo que Rose e Lorcan trocavam flertes como uma brincadeira de provocação. Que tudo entre eles tinha acontecido de uma conversa sem intenções e que tinham se beijado pela primeira vez no verão, numa tarde em que Lorcan estava lá em casa. Que não tinham nenhuma outra razão para esconder, só tinha acontecido daquele jeito, e que a coisa de ela ajudar Scorpius estava causando algumas discussões com Lorcan, que queria mesmo assumir Rose como namorada.

Por isso o anel que ele deu a ela no natal. 

Eu senti meu coração quentinho por eles, porque Rose contara que Lorcan a tratava com tanto carinho e afeto que eu não era capaz de imaginar alguém que pudesse amá-la daquele jeito. Alguém que escrevesse bilhetinhos dizendo que a amava e colocasse em sua mochila de maneira escondida.

No inverno não havia treino de quadribol, então eu não entendi o motivo de Rose me sugerir ir ao campo no horário em que, em geral, havia treino.

— Scorpius costuma voar por lá quando está chateado. - ela comentou, dando uma piscadinha. - E alguma coisa me diz que vocês merecem uma conversa.

Eu não sabia se queria conversar com Scorpius, porque ainda estava confuso, processando tudo. Um pouco irritado e magoado também. Mas não queria perder a chance de saber se ele, realmente, interessava-se por mim.

Porque eu não tinha ouvido isso da boca dele.

E provavelmente foi isso que me levou a atravessar um caminho de neve na altura dos tornozelos até o ponto preto do uniforme sentado no meio do campo.

— Você vai morrer com a bunda congelada, assim. - disse assim que cheguei. Ele levantou o olhar para mim e riu sem humor.

— Acho que morrer parece uma boa opção agora.

Eu pensei imediatamente em Dominique e sua tentativa, e fiquei enjoado com aquele comentário.

— Não faça piada com suicídio por conta de uma coisa como essa. É insensível e babaca. - ele me olhou e percebeu que eu estava sério.

— Desculpa. - ficamos em silêncio e eu acabei sentando na neve também. - Meu Merlin, me desculpa, Albus! Eu fui muito, muito babaca! Estou me sentindo péssimo!

— Sim, você foi babaca.

Scorpius não devia esperar que eu concordasse com ele, contudo assentiu com a cabeça, envergonhado, sem protestar.

— Eu não sei de onde tive essa ideia imbecil de causar ciúme… foi puro ego.

Nós ficamos em silêncio, porque apenas não sabíamos o que dizer.

— Desculpa também pela coisa de acusar você de roubar o mapa… foi injusto.

— Nem tem comparação! Eu literalmente brinquei com seus sentimentos, usei a Rose e a forcei a mentir para você… tudo por ser um covarde que não quis perguntar uma coisa simples.

Não tinha muito o que dizer em defesa de Scorpius, porque sim, fora exatamente isso. Exceto, talvez, que Rose tinha concordado em participar daquilo por conta própria e já tinha pedido muitas desculpas. Eu quase conseguia entendê-la, supondo que essa mentirinha faria eu e Scorp ficarmos juntos.

— Fiquei com tanto ciúme, todos aqueles garotos com quem você saiu…

Eu não devia achar aquilo bom, mas, por algum motivo, achava. Quer dizer, Scorpius estava interessado em mim!

— Bom, eu também. De Rose, o que é pior ainda. - ele riu um pouco comigo e o clima ficou menos pior.

Caímos em um novo silêncio.

— Eu não queria ter agido estranho aquela vez. Na Toca. Quando você… - minha orelha esquentou com a lembrança daquele beijo patético. - Eu só entrei em desespero. Nunca tinha me imaginado gostando de garotos e eu gostei de beijar você. E entrei em desespero. Então eu beijei Rose, meio que para afirmar para mim mesmo que eu era hétero. Muito hétero. Tipo, macho alfa. Mas claro, foi só outro erro, porque eu e Rose não temos nada a ver no sentido romântico e o resto você lembra.

— E como você… sabe? Percebeu que… bem, que você se interessa por-

— Antes das férias. Percebi que era bi depois de ficar com o Will Mac-

— Macmillan. Ele devia se chamar cura hétero, fala sério! - Scorpius riu.

— Eu não senti que precisava… sabe? Me assumir. Eu gosto de garotos e garotas, só isso. Isso não é um problema, meus pais são ótimos quanto a isso… o problema era você. Sempre foi você.

Aquilo fez o meu estômago revirar, gelado. Tudo estava gelado. Minha bunda estava queimando sobre a neve, minha mão enfaixada ardia - queimadura ou frio? Não saberemos.

— Não soube lidar aquela vez, na Toca, e continuei não sabendo. Porque quando percebi que estava apaixonado por você, eu não tive colhões para falar sério, perguntar como você se sentia. Foi babaca e eu sinto muito. Perdão, Albus.

Entender aquilo realmente me fez sentir quilos mais leve de mágoa e frustração. A parte raivosa de mim se acalmou e só restava confusão mesmo. Era muito louco imaginar que, depois de todos aqueles anos, de tantas brigas idiotas e de tanto ciúme, Scorpius admitia que estava apaixonado por mim.

E, mesmo depois de todo aquele tempo, de tudo aquilo, eu também ainda estava apaixonado por ele.

— Obrigado. - murmurei. - Sim, você fez merda, fez um circo. Sabe, poderia só ter me perguntado… 

— Acho que eu só não queria ouvir um fora seu.

— Não teria ouvido.

Alguma coisa queimou entre a gente, como se o ar entre os nossos corpos fosse inflamável, e eu sentia a neve molhar e arder onde tocava a calça do uniforme, provavelmente queimando minha pele. Estava frio e o vento queimava a minha bochecha. Não havia muito o que falar, eu acho, mas a mão de Scorpius saiu de cima do joelho dele e encostou de leve na ponta do meu dedo.

 Eu devia estar acostumado à sensação de borboletas no meu estômago ao estar perto dele, mas, quando Scorpius segurou minha bochecha e me puxou para perto, achei que havia um milhão delas dentro de mim.

Eu só conseguia pensar, igualmente anos atrás: eu estou beijando Scorpius.

E, Deus, beijar Scorpius sabendo que era correspondido, mais velho, mais experiente e muito mais apaixonado era infinitamente melhor. O jeito com que a boca dele era macia e gelada me fazia derreter por dentro (um pequeno paradoxo, eu sei), e eu adorava a sensação da mão dele no meu cabelo.

Não tinha a pretensão de achar que já estava tudo bem, que tínhamos superado tudo. Mas estávamos os dois dispostos a resolver as coisas, e isso devia bastar.

Talvez os astros não me odiassem tanto assim.

***

Três meses depois 

Estava com a cara pintada de verde e prata, e enrolado em um cachecol de Scorpius, gritando ensandecido para que ele fizesse logo um outro gol e aumentasse a vantagem de nosso time para podermos apanhar o pomo e ganhar o jogo.

Sim, nós estávamos namorando.

Duas semanas depois da fatídica prova de Poções em que eu queimei a mão, Scorpius me levou para Hogsmeade em um encontro e me pediu em namoro. Depois de muitas conversas colocando os pontos nos "is" sobre nossas brigas homéricas de meses sem nos falarmos, é claro.

De lá para cá, eu passei a ser obrigado a assistir os treinos de quadribol semanalmente e me tornei meio empolgado sobre, porém, acho que é só por Scorp e pelo jeito com que ele fica gostoso concentrado, com o cabelo esvoaçando no rabo de cavalo.

A final era entre Grifinória e Sonserina, o que significava que Rose estava rebatendo balaços para cima de James, Lorcan não sabia se torcia para a namorada ou o melhor amigo e eu não perderia isso por nada.

Evangeline, Shafiq, Henry e Candace estavam comigo, torcendo pela Sonserina, e Hector também. Nós continuávamos ótimos amigos e ele era o grande shipper de mim e Scorpius. Segundo Hector, ele tirou uma casquinha de mim enquanto pôde, porque sempre soube que eu e Scorp ficaríamos juntos. Meu lado pisciano se derreteu ao ouvir isso.

Houve um apito alto e eu havia perdido o lance. Mas o pomo estava na mão de um menino de roupa verde. Eu gritei alto, pulando com meus amigos. 250 à 230, um placar apertado, porém tínhamos ganhado o jogo. Foi uma confusão para o time descer e havia logo um amontoado de sete pessoas comemorando. Então, sem aviso, alguém de vermelho desceu a arquibancada correndo, entrou no campo, puxou alguém e tascou o maior beijo.

Eu dei um berro. Lorcan estava escancarando seu relacionamento com Rose. James deu um assobio alto ao lado de Lorcan, a arquibancada ficou louca e a professora Minerva desceu mais rápido para entregar a taça e acabar com aquilo. Eu ri do desespero dela.

Então James e Lorcan começaram a fazer uma espécie de reverência para Rose, admirando-a como jogadora - de longe eu soube notar que corou - e houve um zilhão de assobios, porque, apesar de ser o maior mico, era excessivamente fofo da parte de Lorcan.

Um tempo depois, quando eu finalmente consegui descer e encontrar com eles, Lorcan e Rose vinham de mãos dadas e Scorpius carregava a vassoura dele no ombro, como de praxe. Eu teria me contido, mas as bochechas vermelhas dele eram tudo, então eu sai correndo e o abracei apertado, fazendo Rose rir.

— Que orgulho! Que orgulho! - beijei-o onde alcancei. - Dos dois, é claro.

Rose riu, mas não parecia se importar com o fato de eu não ter dado mais parabéns a ela, agora que ia andar pelos corredores de mãos dadas com Lorcan. Enquanto tirava o cachecol para colocar no pescoço de Scorp, vi um relance amontoado de vermelho e dourado indo ao chão.

— Arranjem um quarto, pelo amor de Deus! - implicou Lorcan, chutando o cabo da vassoura de James enquanto deixava Rose - que era consideravelmente menor - se pendurar em suas costas.

Alice tinha caído por cima de James e, meu Merlin, eu não tinha ideia de que esses dois namoravam? Ou se pegavam, não sei.

— Você vai escandalizar meu irmão desse jeito, Lice. - riu James, com as mãos perto de lugares do corpo de Alice que fariam minha mãe ralhar com James, se visse.

— Escandalizada fico eu, que perdi meu trio de amigos. - Roxy reclamou, revirando os olhos. - Eu não tenho mais poção anticoncepcional, não, ô Alice.

Eu corei, embora James Sirius tenha apenas rido e ajudado Alice a se levantar.

— A cara do Albus! - Rose debochou me dando um tapinha. - Você muito inocente para ser namorado do Scorp.

— Não se preocupe, vou dar um jeito nisso.

Scorpius deu uma piscadinha maliciosa para mim, enquanto James e Lorcan tiravam piadas do tom de tomate das minhas orelhas, que queimavam.

Evangeline veio com uma câmera na mão e achou fotogênico o nosso grupinho, risonho e meio maroto. Ela tirou a foto espontaneamente e eu amei o resultado.

Claro, coisa de libriano emocionado, no entanto, quem podia me julgar, não é? Eu tinha conseguido transformar meu ano horrível em um ano incrível. Com certeza a culpa não era só dos astros, mas sim das minhas escolhas. E eu não queria testar para tirar a prova. Era bom confiar nos dois, só por garantia.

Ah! Eu recuperei a nota de Poções, se quiser saber. Só precisava manter esse Excede Expectativa até o final das provas.

Astros, por favor, não me odeiem tanto assim.


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Notas finais do capítulo

Finalmente chegamos ao fim dessa fic que foi uma experiência maravilhosa de ser escrita. Espero muito que tenham se divertido ao ler tanto quanto eu me diverti em escrever.

Vejo vocês nos comentários? Beijoooo ❤❤❤



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