A garota da viela escrita por La Rue


Capítulo 1
A garota da viela


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem com vocês? Espero que sim!

Fiz esse pequeno conto para participar de um desafio, o mesmo se tratava de escrever por volta de 1.000 palavras baseando-se em imagens escolhidas pelos administradores do site.

Estou muito animada, pois não sou de participar de muitos desafios. Espero que gostem da mesma forma que me apaixonei escrevendo cada linha.

Boa leitura!



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"Minha vida é brilhante
Meu amor é puro
Eu vi um anjo
Disso tenho certeza
Ela sorriu para mim no metrô
Ela estava com outro homem
Mas não perderei o sono com isso
Porque eu tenho um plano"

 

Sabia que aquilo era errado e erros não eram exatamente partes de sua personalidade sempre tão íntegra. Fernanda não se importava com o fato de que estava se sentindo atraída por uma mulher, mesmo que jamais tivesse pensado em se envolver com uma antes, sua harmatia estava em ter se deixado envolver de uma forma platônica, mesmo tendo a certeza que aquela era uma via de mão única e que além disso estava em um relacionamento monótono e sem cores.  

Possuía uma vida tranquila e monocromática, assim como a maioria dos cidadãos que ali residiam. Se relacionava com Caio desde o ensino médio, e apesar dos pequenos defeitos, sempre foi o seu melhor amigo. Trabalhava em uma livraria em uma viela charmosa, que algum dia teve o seu glamour, mas que agora era quase esquecida pelos indivíduos que iam e viam, também presos às suas próprias rotinas sem cores... Não era de reclamar, estava feliz por achar um local onde poderia compartilhar seu amor pelos livros. 

Tinha um emprego, um relacionamento estável, pensavam em morar juntos e quem sabe se casar... Parecia a receita perfeita de uma vida feliz, ou pelo menos era assim que havia idealizado. 

Mas talvez, apenas talvez, ela estivesse errada. Fernanda jamais esperava que uma coisa tão banal fizesse uma revolução em seu peito. 

Despediu-se do Sr. George - o proprietário da livraria - como fazia todos os dias após o expediente. Ele poderia muito bem curtir a sua aposentadoria e a companhia dos netos, mas amava aquele local tanto quanto a sua jovem assistente. 

— Nos vemos amanhã! - constatou animadamente fazendo um leve movimento com as sobrancelhas espessas e grisalhas, indicando que alguém em especial lhe aguardava. - Você é uma garota de sorte. 

"Uma garota de sorte"... Será que ela era? Questionar-se fazia seu peito doer, sabia que não era justo com Caio, ele poderia não ser exemplar, mas pelo menos era melhor que a média dos homens. 

Sabia que seu namorado já estava lhe aguardando do lado de fora. Ele lhe recebeu com o sorriso aberto de sempre, nunca menos que isso, beijou-lhe brevemente os lábios e pôs o braço por cima de seus ombros pequenos; sentia-se protegida, Caio era o seu super herói particular, mesmo que vivessem em uma cidadezinha pacata demais. 

Ele estava empolgado, mais uma vez entrara no monólogo sobre a vaga em um time que não recordava o nome, mas onde teria grande potencial para ascender. Fernanda queria do fundo do coração lhe dedicar a devida atenção, mas não conseguia, a medida que eles seguiam a passos tranquilos, sua mente se desconectou de suas palavras e era aprisionada pelo som que havia tomado o seu coração pouco a pouco. 

 

"Sim, ela prendeu meu olhar
Enquanto passávamos lado a lado
Ela poderia ver em meu rosto que eu estava
Voando alto
E eu não acho que a verei novamente
Mas nós compartilhamos um momento que durará até o fim"

 

O som do violão preenchia a charmosa viela como em um filme romântico e as vozes se tornavam mais nítidas à medida que se aproximavam de um trio composto por dois homens e uma mulher. 

— Bando de desocupados... - sussurrou Caio balançando negativamente a cabeça antes de concentrar-se novamente em suas palavras. 

Fernanda se chateava todas as vezes que o namorado comentava aquele absurdo, mas ignorava... Ignorava, pois não queria perder um só segundo daquela bela melodia, principalmente da voz que se destacava entre o trio. 

A princípio ela sequer havia se importado com a presença inusitada que se fazia na esquina após o hotel, mas agora... Agora tinha medo que Caio notasse as suas batidas descompassadas, mesmo tendo total ciência de que isso não era possível. Sabia que era errado olhar com admiração para aquela mulher desconhecida, mas não conseguia mais resistir. 

Seu sorriso era perfeito, do tipo que faria qualquer um sorrir junto, até mesmo Fernanda tinha de manter a compostura para não acompanhar. Suas vestes despojadas assim como seu cabelo curto e repicado lhe davam um ar arrojado, do tipo que conseguia sempre o que queria. Mas o que mudou tudo, sem sombra de dúvidas, foi o olhar... Os orbes da loira eram amendoados, Fernanda havia notado há poucos dias, de forma muito rápida, em uma de suas espiadas soturnas. 

Ela arriscou mais um olhar, queria muito poder parar e apreciar aquele momento, mas sabia que Caio faria algum comentário desagradável e ela odiaria isso. Por vezes até desejou ir para casa sozinha, apenas para poder ouvi-los cantar, sem pressa, sem qualquer malícia, mas parecia que o namorado estava sintonizado com os seus pensamentos nos últimos dias. 

Mas algo mudou naquele dia... 

Quando sorrateiramente mirou os três, seus olhos castanhos foram capturados de imediato pelo belo par enigmático... Deveria ter desviado, mas não o fez, assim como a desconhecida. Sabia que seu rosto estava corado por ter sido pega de surpresa, mais ainda por ter recebido um sorriso - diferente dos já havia captado - igualmente bonito, singelo e peculiar. 

Desviou o olhar e apertou a cintura do namorado, desesperada ao sentir o latejar forte em seu peito, todavia sua agitação não foi notada. 

~***~

 

"Você é linda, você é linda
Você é linda, é verdade
Eu vi seu rosto na multidão
E eu não sei o que fazer
Porque eu nunca ficarei com você"

 

Foi difícil conseguir organizar seus pensamentos naquela noite, mais ainda após ser notada pela bela loira boêmia. E se ela achasse que era do tipo "fácil"? Afinal, ela não estava acompanhada de seu namorado?! Tentou espantar aquele pensamento, assim como a imagem do sorriso singelo e o olhar convidativo. 

Ocupou-se no dia seguinte com as estantes e seus fiéis companheiros, os livros, somente assim ela conseguiria esquecer aquilo que jamais deveria ter deixado se estabelecer. A campainha da entrada indicava a presença de mais um cliente, contudo continuou o seu serviço, George estava na frente da loja para atender qualquer recém-chegado. 

Mas um toque sútil no ombro lhe fez abandonar o mundo em que havia se enclausurado naquele momento. Virou o rosto com um sorriso amigável, talvez precisasse de algum título específico que George certamente não conhecia... O que era raro de acontecer. 

— Por favor, você poderia me ajudar? 

Fernanda piscou por algumas vezes. O tom melódico e bonito, o sorriso de lado e o olhar enigmático estavam a lhe perseguir... Não era um sonho, era a garota da viela. 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Escrever contos curtos não é exatamente o meu forte, mas adorei a experiência. Quem sabe, futuramente, não consiga escrever algo mais longo... Obrigada por lerem até o final.



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