Ventos do destino escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 1
Capítulo 1




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—Os lucros desta viagem foram superiores ao que esperávamos._ constatou Mauriri ao conferir o bloco de recibos no convés do Rattler.

Ele realmente sentia falta daquele lugar. Depois da briga com David, custou a Isabelle muito trabalho convencê-lo a retornar a bordo daquela embarcação. Mesmo depois que a morena conseguiu com que os dois marinheiros voltassem a se falar, o polinésio não aceitava o emprego de volta. Ela precisou apelar à expectativa de futuro que Tahnee e Tevaki teriam caso o pai continuasse desempregado, só assim, finalmente conseguiu fazer com que ele reconsiderasse a proposta de voltar a trabalhar com o antigo parceiro. Agora, percebia que tinha tomado a decisão correta, viajar tendo David e Isabelle como parceiros era divertido, emocionante e estava se mostrando ser muito lucrativo.

—Tem razão._ concordou Grief._ Isabelle é uma boa negociante._ele jamais faria tal afirmação na frente dela, a Srta. Reed já tinha uma dose de confiança o suficiente para precisar de novas adulações. Mas a verdade é que nem nos tempos mais gloriosos da parceria David/Mauriri, eles pleiteavam fretes com tão bom retorno financeiro como agora que a nova sócia ajustava as negociações. Isabelle era notável, conseguia se impor em um mundo comandado pelo sexo masculino.

—Em pouco tempo você poderá comprar a parte dela no barco e voltar a ser o dono absoluto.

—Talvez…_ falou sem muito entusiasmo.

—Ou talvez você não queira desfazer esta sociedade._concluiu o homem mais moreno.

—É claro que eu quero!_ respondeu impaciente._Esse arranjo sempre foi temporário. Tão logo tenha o dinheiro eu recuperarei a parte que me falta do Rattler._David tentava se convencer do que acabara de dizer. Na verdade, ele já tinha reservas o suficiente para fazer uma proposta a Isabelle, mas estava protelando tal decisão. Repentinamente a insistência de Mauriri neste assuntou o deixou irritado. David não queria desfazer a associação com ela, gostava de sua companhia nas viagens, da maneira como trabalhava, da cor bronzeada que sua pele alva havia adquirido após aqueles meses de trabalho no sol, da forma como seus cachos selvagens se moviam ao compasso do vento enquanto a observava na proa do navio, do som alegre de sua voz quando retornavam para casa, enfim muitos eram os motivos pelos quais a queria por perto, porém, não estava disposto a admiti-los e a negação constante de seus sentimentos est5ava o deixando mal humorado.

—Eu só quis dizer que diante desta lucratividade seria uma decisão acertada mantê-la na equipe._explicou o amigo sem entender o motivo da explosão de raiva do capitão.

—Nunca foi minha intenção dividir o Rattler, você bem sabe que isto foi uma emergência, uma necessidade inadiável, que jamais teria permitido que acontecesse em outras circunstâncias, por que insiste nesse assunto? Se bem me lembro foi você mesmo que disse que Isabelle era sinônimo de problemas.

—Isto foi muito tempo._admitiu o polinésio._antes de Isabelle provar o seu valor inúmeras vezes. Você está sendo injusto, David.

Mauriri tinha razão, Isabelle tinha sentimentos nobres e mesmo com o seu passado conturbado, ela conseguira se regenerar e tornar-se uma mulher digna de respeito e admiração. Há muito David tinha notado isso, talvez, começou a perceber tal fato quando a mesma parou de flertar com ele e concentrou—se apenas na parceria comercial que firmaram. Embora fosse comum rejeitar os flertes da morena, a ausência deles agora passava a incomodá-lo. Ele nunca quis uma relação formal com ninguém, esta foi a principal razão do término com Lavínia, porém, seria hipócrita negar que as investidas de uma mulher linda como Isabelle Reed não lhe massageassem o ego. Entretanto, desde que ela o salvou a vida do ataque de Jenny tudo tinha se acabado, como num passe de mágica o encanto que ele exercia sobre ela sumiu e Isabelle começara a tratá-lo como um amigo qualquer. Jamais imaginou que isso um dia pudesse chegar a magoá-lo, mas, estava acontecendo.

—Chega deste assunto!_ determinou David._Ajude Isabelle a ancorar a embarcação e descer o bote._ exigiu impaciente.

Eles não haviam notado que escondida no primeiro degrau da escada a morena ouviu parte da conversa dos dois. Um sentimento de mágoa e decepção tomou conta do seu coração quando ouviu Grief proferir palavras tão frias. Ela julgou que depois que tudo que passaram juntos tinha ganhado a confiança do honesto capitão. Porém, saber que ele esperava ansioso por se ver livre dela a pegou desprevenida e a machucou como poucas pessoas já haviam conseguido. Depois que salvou a vida e o barco de David, em um gesto de profunda gratidão, Isabelle decidiu que também salvaria sua própria dignidade e não mais tentaria estabelecer com ele nenhum tipo de relação que afetasse a comercial. Além disto, não deseja que ele se sentisse de alguma forma obrigado a compensá-la por sua ajuda. Isto era humilhante demais até mesmo para ela. O distanciamento que ela impôs, tão pouco significava que tivesse perdido por completo a atração que sentia por aquele homem, ao contrário, o que antes era apenas um anseio por um romance passageiro, uma aventura de uma noite ou alguns dias, tornou-se algo mais profundo em seu coração. Sabendo que ele nunca a olharia como mulher, preferindo proteger-se, a jovem se resignou a tê-lo apenas como amigo, porém, ao que parecia, nem amizade David queria dela.

Antes que notassem sua presença Isabelle subiu a proa e tentando controlar suas emoções se aproximou da âncora que ainda se mantinha içada. Puxou a alavanca para que a engrenagem permitisse que o pesado objeto de metal mergulhasse no mar. Alheia ao que estava fazendo não percebeu quando uma ponta de sua camisa se prendeu a uma das coroas puxando-a com violência contra o carretel de corda grossa.

—Socorro!_ gritou em desespero quando não conseguiu se soltar e as engrenagens a apertavam cada vez mais. Tentou rasgar a camisa, mas o que conseguiu foi um profundo corte no antebraço. Seu coração disparou quando viu o líquido escarlate jorrando dela e espalhando-se por toda a máquina. A dor era dilacerante, tentou se concentrar em uma saída, mas só conseguia sentir dor. Até que finalmente a engrenagem parou e a pressão se aliviou.

—Isabelle! O que aconteceu?_ ouviu a voz exasperada de David muito próximo dela rasgando sua camisa com o canivete. Mauriri tinha levantado alavanca parando a máquina.

—Foi um descuido, minha camisa prendeu na engrenagem._ disse com um gemido de dor.

Grief desistiu do soltar a camisa e julgou mais fácil despi-la do corpo atraente da mulher. Reprovou-se mentalmente por se permitir ter pensamentos libidinoso em uma circustância como aquela.

—O que você está fazendo?_perguntou ao notar que ele lhe desabotoava a sua blusa.

O pudor dela só lhe aumentou a irritação. Estava nervoso e preocupado, odiava tais sentimentos. Acostumado a ter o controle da situação e vê-la machucada sem poder ajudá-la de forma eficaz o tirava do sério.

—Nada que você já não tenha me sugerido._ as palavras foram ríspidas e de uma deselegância sem tamanho. Arrependeu-se delas no momento em que saíram de sua boca._Eu sinto muito… não queria ser grosseiro._ o que ele tinha na cabeça dizer tal coisa quando ela se encontrava tão vulnerável.

—Você tem razão… não se desculpe._ disse com frieza, em seguida gemeu novamente ao remover a peça de roupa e se dar conta tamanho estrago a engrenagem havia causado em seu braço.

Isso precisará de pontos._ concluiu David tirando sua própria camisa e enrolando na ferida na tentativa de estancar o sangramento.

—Ai ai… _resmungou ela._ Estou bem_tentou se firmar e afastar as mãos de David do seu corpo, contudo, sua palidez o assegurava do contrário.

—Há um médico novo em Matavai. Curou uma infecção na garganta de Tahnne há algumas semanas, Leani diz que ele é um bom médico, pode ajudar Isabelle._ sugeriu Mauriri.

—Essa parece ser uma boa ideia._incentivou David buscando a concordância de Isabelle.

Ela sorriu com dificuldade, seu rosto estampando a dor da ferida aberta, o pano que envolvia o braço começava a ficar úmido. Não havia muito o que pensar.

—Acho que não tenho muita opção._concordou por fim.


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