Tempestade - Jasiper escrita por Fada sininho


Capítulo 1
ºÚnicoº




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Piper dirigia movida pela força do ódio. Qualquer um que tivesse um pingo de inteligência sairia de seu caminho

Enquanto descarregava metade de sua frustração no trânsito, pensava mentalmente em qual das amigas poderia ir para desabafar. Mas ela sabia que ficar escolhendo qual amiga seria a mesma coisa toda vez que vai comer pizza: por mais que rode o cardápio inteiro, sempre vai escolher  a mesma de frango com catupiry.

Por mais que rode na lista telefônica procurando uma amiga, sempre vai escolher sua confidente de segredos, Reyna.

Com uma freada brusca, parou o carro na frente da humilde casa pintada nos mais leves tons de roxo onde a advogada criminal morava sozinha. Piper desceu do carro pegando o celular e a carteira, ajeitando a blusa e subindo a calça jeans andando a passos largos para a porta.

Assim que tocou a campainha, desejou ter ido para a casa de Calipso. Pelo menos Leo estaria lá para rir de seu drama. O primeiro latido veio e a morena soube naquele instante que não ia receber todo o apoio que veio procurar

Reyna abriu a porta com um sorriso segurando um galgo pela coleira 

— Hey! Desculpe a demora, Argentum estava agitado demais para deixá-lo sem supervisão 

— Tudo bem… - Piper respondeu incerta vendo o pequeno cão pular tentando acertar-lá - Preciso… hum, conversar 

— Ok, entra aí… Aurum, se acalme! - ela ralhou com o cachorro assustando a outra

— Não era Argentum? - Piper fechou a porta vendo que a outra se mantinha ocupada com o pequeno galgo cor de mel

— Não, esse se chama Aurum. Argentum precisou fazer uma cirurgia e está de repouso no quarto

— Os cachorros tem um quarto? - Piper se assustou recebendo um olhar repreendedor 

— Quando foi a última vez que veio me ver?

 

Piper ficou calada. Sabia que a amiga estava chateada pela falta de visitas, quando foi a última vez que as duas tiveram tempo para fazer uma festa do pijama para afogar os problemas com algumas boas garrafas de whisky?

As duas se jogaram no sofá, se encarando por um bom tempo. McLean se remexia abrindo e fechando a boca várias vezes, mas sem falar nada. Dizer que Reyna a esperava pacientemente seria mentira, a morena arregalava os olhos toda vez que a outra se pronunciava em falar e continuava com a mesma expressão surpresa-apressada-curiosa-e-irritada

Se Piper demorasse mais, ela gritaria. Porém, não foi necessário

— Quer saber, deixa pra lá - Piper balançou a cabeça se levantando e indo para a porta - Você não vai entender

Reyna quis xingá-la

— Você não me fez ficar esperando 15 minutos por isso - a morena a confrontou batendo a porta antes que a outra saísse - Você vai falar e se eu não entender você vai me explicar

Piper andou hesitante de volta ao sofá com Reyna em suas costas a guardando para não fugir

— Eu odeio o Jason - Piper soltou cruzando os braços. Reyna fez careta

— Não odeia não

— Odeio sim - rebateu, decidida

— Como odeia se na semana passada postou uma foto com mil dedicatórias sobre o aniversário de casamento? - a garota ainda mantinha os braços cruzados vacilando levemente sua postura de durona - Piper, são 9 anos! Decidiu que odeia ele agora por que?

— Se eu contar, vai prometer que não vai me chamar de dramática?

— Sim

— E não vai rir de mim?

— Claro que não 

— Promete?

— Conta logo! - ela lançou um olhar desconfiado - Eu prometo! Prometo!

— Ok - com uma respirada profunda, ela prosseguiu - Jason adotou um cachorro

Silêncio era a única coisa que reinava. A amiga se inclinou para frente esperando vir mais alguma coisa, mas nada veio

— É só isso? 

— Você prometeu não me julgar, Rey! 

As duas morenas se encararam. Uma estava em silêncio profundo esperando alguma reação, a outra processava a informação, e uma boa frase que não tivesse a palavra “dramática” no meio, mas com o mesmo sentido

— Não estou te julgando… - ela desviou o olhar varrendo o local com os olhos à procura de uma solução que a sua sala não dava. A foto em cima da estante dela com sua irmã, Hylla, junto a Argentum e Aurum não ajudava - Só estou tentando entender, qual é o seu problema com cachorros?

— É por isso que eu não queria te contar - ela bufou afastando a franja que escapulia do penteado “estou nem aí pra nada porque estou em casa, me deixa!” - Eu não queria ver esse olhar

— Que olhar? - a Arellano perguntou ajeitando a postura

— Esse olhar! O mesmo que você lançava pra mim quando eu tinha uma recaída

— Desculpa, mas eu não te lançava olhar nenhum! Quando eu sabia das suas recaídas com aquelas trastes eu dava um tapa na sua cara - McLean abriu a boca para reclamar, lembrava bem da época que acordava na casa da amiga e levava um tapinha na cara, mas a outra tratou logo de cortar - E nem venha querer brigar por isso agora! Já passou muito tempo e pelo o que eu me lembro eu era a única pessoa que te ouvia e te oferecia sorvete quando a situação estava muito crítica. Sem contar das vezes que eu encobria as suas saídas

— Pode ficar calminha, eu não fiz saída nenhuma às escondidas! - Piper protestou - Todas eu pedia permissão do meu pai até sair de baixo do teto dele!

Reyna arqueou as sobrancelhas indignada. Mesmo depois de tantos anos, Piper continuava cínica. Dizia ao pai que não iria muito longe, estava com ela e só ia na esquina tomar um sorvete

— Eu não lembrava que antigamente a sorveteria mais próxima da casa do seu pai era quase do outro lado da cidade e que por um acaso você acabava encontrando com um ex - Reyna lembrou vendo a outra arregalar os olhos

— Foi só uma vez! 

— Ele não foi o único idiota que terminou por telefone, consequentemente foi o único que teve cara de pau o suficiente para pedir um passeio pessoalmente para tentar “ser amigos” - ela desenhou as aspas com a mão enquanto se deitava em um dos sofás. Piper tirou o tênis do pé e se esticou no outro 

— Aquele dia foi horrível

— Nem tanto. Pelo menos tomamos o sorvete que você prometeu pagar pra mim - Reyna recebeu uma almofada na cara assim que terminou a frase soltando uma risada - Mas enfim, qual o problema do Jason adotar um cachorro?

— Eu não tenho problemas com cães, meu irmão tem um - Piper falou dando ombros se referindo a Leo - Festus é legal, eu cresci com ele

— E qual o problema?

— Eu vim aqui porque pensei que você me entenderia, porque Hazel mora com um zoológico em casa

— Mora? - a Arellano franziu a testa tentando se lembrar quando foi que viu Hazel pela última vez

— Mora. Começou com um cachorro, depois veio outro, Frank não satisfeito resgatou três lindos, fofos e antipáticos gatinhos

— Mas Frank tinha uma Calopsita de estimação, não?

— Ainda tem - McLean confirmou  - Ele resgatou mais dois cachorros recentemente mas Hazel deu um basta. Ele passou os gêmeos para Clarisse que agora vive pra cima e pra baixo com os dois

— Tadinho do Chris, ele não era alérgico?

— Só a gatos. Coisa que na casa da Zoë vive cheia, acredita que ela pegou mais 5?

— 5? Ela tinha três!

— Zoë viraria a tia dos gatos se não tivesse casado com o Lee

— Mas o Fletcher não é alérgico?

— A cães - a mente de Reyna deu uma cambalhota com a quantidade de informações, mas ela se manteve firme. Teria que absorver mais coisa pela frente - E Will está na África sendo voluntários no Médicos Sem Fronteiras, perdi meu conselheiro particular - ela choramingou

— Nossa, obrigada - Reyna fingiu estar ofendida recebendo outra almofada junto com uma gargalhada de Piper

Ela sabia muito bem do pequeno ciúme sobre sua amiga com o Solace. No início, era ela e Reyna, um time completo, tímido e divertido. Era sempre as duas na escola desde o sexto ano. No primeiro ano do ensino médio, Will apareceu roubando a atenção de Piper para si, resultando em brigas entre ele e a Arellano quase diárias. Somente depois que conheceram os amigos dele, em um dia interessante que Piper sairia com Annabeth e Hazel enquanto Reyna se divertia tentando não matar o Solace na detenção, foi que eles se entenderam

Apesar de ser homem, ele sabia guardar segredos que confidenciaram só a ele. Sendo a moita loira no meio das duas, a amizade durou bastante desde aquele dia até os dias atuais

Mesmo com quase dez anos de diferença, ainda existia a antiga briga de ciúmes entre a Arellano e o loiro. Era em horas assim que Piper agradecia aos céus por ele estar longe, as brigas começaram a ficar insuportáveis

— Acho que esse seu ciúme poderia ser outra coisa, não acha? - McLean questionou vendo a amiga ruborizar de leve

— Não mude de assunto Piper! Se não vou te arrastar até a casa da Anne - Piper soltou um muxoxo - O que foi?

— Eu gosto da Anne, o problema é a cachorra dela… - a morena falou encarando o teto. Reyna mantinha os olhos fixos na garota

— Mas a Senhora O’Leary é um amor 

— Não é por causa disso… - Piper viu a amiga erguer uma sobrancelha pedindo explicações - A Senhora O’Leary tem um péssimo hábito de… cheirar… bem… você sabe onde

Reyna quis rir, seria trágico se acontecesse só com uma pessoa 

— Não pode criticar a cachorra por isso, é um hábito animal - Ela deu ombros - Mas o que tudo isso tem a ver com o Jason e o cachorro que ele adotou?

Aos poucos o sorriso de Piper foi desaparecendo levando embora o clima descontraído. No dia anterior, Jason voltava do trabalho e encontrou com um cãozinho perdido no meio da calçada todo sujo e doente. Chegou três horas depois em casa com o cachorro nos braços todo limpinho e cheiroso com coleira e tudo

— Está chateada por que ele adotou e não te falou nada? - a Arellano tentou entender a situação sentada de pernas cruzadas, assim como a amiga

— Também - a voz enérgica foi levada embora, um tom mais calmo e magoado tomou conta - Sabe, lembra que comentei que a gente estava tentando construir uma família? 

— Piper, isso faz dois anos - Reyna falou devagar vendo que Piper beirava as lágrimas

— Eu sei… - ela abaixou a cabeça  brincando com os dedos

O silêncio se instalou entre as duas por um tempo. Reyna se levantou do sofá sentando do lado da garota fazendo carinho em seu braço

— Piper, o que aconteceu?

A morena ergueu a cabeça com os olhos cheio de lágrimas derramando lentamente uma de cada vez

— Minha irmã veio me visitar mês passado, e falou para eu fazer uns exames - a voz começou a ficar embargada. Piper engoliu o seco fungando e focou em nenhum ponto específico a sua frente

— Você fez? - Reyna perguntou suavemente vendo a amiga concordar com a cabeça

— Peguei o resultado semana passada - ela olhou para Reyna chorando, agora, abertamente pedindo um abraço com os olhos - Eu não posso ter filhos

Por um tempo elas ficaram assim, abraçadas em silêncio. Reyna ficou calada deixando a amiga chorar, não sabia o que falar em uma hora dessas. Ela quase desejou que o Will estivesse ali. Ele com toda certeza saberia o que falar, sempre sobre

Arellano chegou a concluir ao longo dos anos o porquê de brigarem com tanta frequência. Will foi criado rodeado de irmãs e irmãos mais velhos e mais novos, todo tipo de conselho ele já escutou, todo tipo de ajuda ele já deu para cada um, aos olhos de Reyna, ele era o garoto perfeito: descontraído, conselheiro, amigo, sem contar que era lindo. Enquanto ela, que cresceu basicamente sendo cuidada pela irmã e pela tia que a resgatou de uma casa problemática com pais mais problemáticos ainda, era só uma menina que entendia muito bem de problemas e sabia como evitá-los, enquanto ele sabia como resolvê-los

Eram o famoso trio de confusão; Piper criava as confusões, Reyna tentava impedir enquanto Will dava corda para o problema mas sempre vindo com a solução no final

Para o loiro, Reyna era perfeita. A garota certinha que “nunca se metia em encrencas”, a gênia que lutava com Annabeth pelas as maiores notas. Se ele fosse um por cento do que ela era para evitar problemas, não se meteria em tanta encrenca emocional e amorosa

Piper sempre falou que se eles se beijassem na mesma quantidade de vezes que brigassem, iriam se casar com dezoito anos. Como sempre, eles ignoraram

Mas dessa vez, Reyna desejou engolir o ego e fazer a ligação, mas ele não ia atender, raramente atendia

— Quer que eu ligue para o Will? - ela perguntou vendo que a amiga tinha se acalmado

— Não precisa, depois eu falo com ele - Reyna assentiu

— O Jason sabe? - Piper respirou fundo, secou os olhos antes de responder

— Sabe. Ele foi comigo na consulta 

— E como ele reagiu? - ela perguntou depois de um tempo

— Ficou arrasado. Mas falou que tudo tinha solução, e que adotar era uma opção

Reyna sorriu. Assim, como Will, ele também sempre pensava em soluções para os problemas, não importava qual fosse. Jason era seu vizinho antes de conhecer Piper e entrar no ensino médio. Depois que ele começou a namorar sua melhor amiga, a amizade ficou cada vez mais próxima e estranha. Próxima por eles andarem cada vez mais juntos, e estranha era porque a morena tinha medo da amiga imaginar coisas e romper a amizade. Piper nem se importava, gostava de ver os dois agindo de maneira bizarra perto dela preocupados com a confiança. Depois de tanto apostar milhares de fichas em garotos, ela apostou sua última em Jason e deixou acontecer, não esperava que no futuro ia estar casada com ele, nem que ele seria um cara tão bacana

Havia cansado de ouvir sua mãe falar que garotos bonitos não prestavam. Mas também tentava entender a hipocrisia da mãe ao se casar com um lindo astro do cinema. Ria ao ver seus pais se divertindo juntos e sonhava em ser assim com alguém, quando conheceu Jason, não esperava um futuro tão divertido e que ele a alegrasse todos os dias

E se sentia péssima por não conseguir dar a ele a única coisa que sonhava: ser o pai que nunca teve

— Se ele falou isso, por que está com raiva? - Arellano questionou confusa - Se ele tivesse te abandonado… mas nem isso

Piper pareceu pensar por um segundo. A ideia dele fazer as malas e sumir rodeava sua cabeça milhares de vezes.

— Eu estava com raiva dele porque ele adotou o cachorro tentando me animar, sendo que não era isso que eu queria…

Reyna observou descrente a amiga

— Está me dizendo que brigou com ele porque ele tentava te animar? 

— Eu não… briguei com ele. Foi só uma discussão pequena… - ambas se encararam por um tempo - Acha que ele vai mesmo me largar?

A Arellano coçou a cabeça tentando pensar em uma solução. A melhor das ideias era não se envolver até esse ponto. Essa ideia sempre funcionou com ela, o que explica o fato dela morar sozinha e ter implorado para a irmã entregar os dois cachorros

— Eu não sei Piper… - ela começou delicadamente, ao ver a amiga entrar em desespero, tratou de acrescentar rapidamente - Mas aconteça o que acontecer eu estarei do seu lado, sempre

Piper respirou fundo tranquilizando a si mesma internamente. Já passou da época e que as paranoias internas não deviam mais fazer efeito

— Ele colocou algum nome? - Reyna perguntou de repente

— Quem? - Piper estava áerea, focava em tudo mas em nada ao mesmo tempo

— Jason. Ele deu nome ao cachorro?

— Ah, não. Falou que eu poderia decidir - ela checou o relógio de parede que marcava 17:32 - Ele vai chegar em casa em quase meia hora

Ela se levantou e Reyna a imitou indo a cozinha e voltando com um pote de sorvete na mão e uma garrafa de tequila na outra

—  Isso é bom, até ele chegar, dá tempo de afogar as mágoas da semana à moda antiga. Senta aí que agora eu que tenho que te contar as novidades

 

**

 

Era quase 20:47 quando Piper chegou em casa. A fofoca conseguiu distraí-la de seus problemas até passar pela sala e encontrar Jason no sofá assistindo televisão com o cachorro do lado

Se ela estivesse bêbada, provavelmente teria gritado pelo fato do animal estar soltando pelo no sofá novo, mas graças às inúmeras xícaras de café e a enorme quantidade de sorvete ingerida, somente a cabeça doía. Arrastou os pés até o braço do sofá recebendo um sorriso fraco de Jason

— Você está péssima - ele falou enquanto uma mão descansava levemente na cabeça do cachorro fazendo cafuné

Ela olhou em volta. Pior que o ninho que virou seu cabelo e a maquiagem borrada no rosto, estava a casa. As revistas estavam espalhadas pelo chão e algumas até rasgadas, a cozinha era um campo minado onde várias rações estavam espalhadas e continuavam a sair do saco rasgado. O banheiro foi mumificado, o rolo de papel higiênico que ela havia colocado cheio antes de sair, estava vazio

Cachorros limpam a bunda depois de usarem o vaso? Ela pensou

Ignorando o novo sarcófago, ela olhou para a dispensa. Agradeceu mentalmente aos céus por ter passado a chave antes de sair. Sem nem passar por seu quarto, voltou para a sala ficando de frente para o loiro. Consequentemente, de frete a televisão

—  Você viu como a casa está? - ele inclinou o corpo tentando saber qual era o final do jogo. Da maneira mais fofa, o cachorro o imitou inclinando para o lado oposto - Jason, estou falando com você!

Ela estalou os dedos ganhando a atenção dos dois

— Eu fiquei preso na reunião e acabei chegando agora - ele se desculpou. Ao analisá-lo de cima a baixo, percebia que sua camisa de botão estava aberta nos primeiros três botões com a gravata frouxa, os pés ainda estavam de meia e o cinto ainda afivelado na cintura. A pasta estava jogada ao lado do sofá e os sapatos por perto, na poltrona, o paletó descansava jogado de qualquer jeito

Juntando isso mais à zona da casa e a garrafa de cerveja pela metade em sua mão, parecia a casa de um alcoólatra. Jason não faria essa zona, nem se tivesse dado uma festa para adolescentes. A casa estava mais bagunçada que o quarto de Leo no auge da adolescência, constando que Leo sempre foi e continua um bagunceiro

Respirando muito fundo e pensando em tudo que conversou com Reyna, ela tomou uma decisão

O jogador que Jason torcia estava com a bola. Ele corria o campo todo. O loiro quase se levantou do sofá em alerta e êxtase, o cachorro o imitou. Ambos estavam enérgicos e ansiosos, estavam quase pulando de felicidade quando... a televisão apagou. Um “que?” histérico fugiu da garganta de Jason vendo a esposa com o controle apontado para o aparelho o olhando séria. Uma série de palavras não tão gentis passaram pela cabeça do loiro, mas seu fiel amigo tratou de cuidar do caso latindo incessantemente para a garota transmitindo toda sua raiva. Ele só interviu quando o animal ameaçou a mordê-la

—  Ei! Isso não! - ele o segurou pela coleira vendo o animal ficar de dois pés no sofá. Piper recuou assustada até a parede. Ele pegou o bichinho no colo e o levou para seu quarto o trancando lá dentro voltando para a sala para finalmente conversar - O que foi?

Sua voz saiu terrivelmente suave. Por mais que estivesse bravo com a garota, não ousaria levantar a voz. Não seria como seu pai

—  Pipes, - ele a chamou carinhosamente - o que aconteceu de tão urgente para você desligar a televisão na melhor parte do jogo?— com um sorriso amarelo de “eu não estou bravo com você. Só um pouquinho, mas não vou te matar” que ele treinou lançando para sua irmã, Thalia, quando ela decidiu se casar com seu melhor amigo aos vinte anos e se mudado para a Itália vivendo lá desde então. Com sua família… e seus filhos

Se xingando internamente, ele se repreendeu por pensar tal coisa. Sabia que não era culpa da garota, mas não fingiu ficar decepcionado. Pelo olhar de Piper, ela queria falar sobre isso, ele sabia

—  Precisamos conversar - um frio na espinha passou por Jason ao ouvir isso. Só escutou essa frase saindo da garota somente três vezes: uma, quando deram um tempo pela primeira vez, a segunda quando ele foi conhecer os pais dela, e a terceira quando ela foi falar dos exames. 

— Estou todo ouvindo - ele se sentou no sofá puxando-a para seu colo, mas ela rejeitou sentando ao lado. Medo

Ela encarou no fundo dos olhos azuis dele, uma tonalidade tão bonita…

Ainda grogue pela bebida, distraidamente levantou  mão tocando na pequena cicatriz no lábio dele, se ele tivesse recebido a cicatriz numa viagem, ela certamente pegaria uma caneta para escrever “Lembrança do incidente de uma criança de dois anos que resolveu experimentar o sabor de um grampeador, lembrei de você!”

Jason começou a se assustar com as atitudes da garota

— Pipes… tá tudo bem? - foi o suficiente pra garota cair no choro. Ele a abraçou se sentindo o pior dos homens enquanto ela chorava em seu peito

— Eu sou uma pessoa horrível - ela resmungou contra a camiseta dele um pouco mais calma depois que ele começou a fazer cafuné no cabelo dela. Jason suspirou, não seria a primeira vez que teriam essa conversa

— Pipes, a culpa não é sua… - ela fungou contra a sua camiseta reprimindo o choro - Olha, tudo bem se sentir triste, eu entendo que isso é bem difícil pra você… e até pra mim. Mas isso vai passar e eu vou te ajudar a resolver isso, porque o mais importante pra mim é estar com você, agora

Um pequeno silêncio se instalou até ela fungar e se desvencilhar dos braços dele e o encarar nos olhos

— Obrigada - sua voz saiu rouca, limpou a garganta para poder prosseguir - Jason, eu acho que não tô pronta - ela abaixou o olhar - Sei que é isso que você quer mas… eu não tô pronta pra ser mãe…

— Não diga isso… - ele tentou argumentar mas foi cortado

— Jason, se eu pegar uma criança agora, tenho quase certeza que ela cairia no chão ou eu a afogaria no banho. Fiz isso com a minha irmãzinha pequena e a minha mãe nunca mais me deixou cuidar dela sozinha novamente - ela admitiu um pouco envergonhada fazendo o garoto rir

— Pipes, minha irmã tem dois filhos, e ela me deixou comer um grampeador quando pequeno. Sua lógica não tem lógica - ele riu afastando os fios de cabelo presos no rosto dela molhado pelas lágrimas - Mas se é isso que você quer, eu entendo

Ele se aproximou dela deixando os narizes se tocarem… mas foram impedidos por um barulho ensurdecedor vindo do quarto. Rapidamente eles correram e encontraram a pior cena possível

Não se explica como, a pequena bola peluda conseguiu derrubar a estante de livros de madeira toda no chão deixando todos os livros e acessórios espalhados pelo tapete

E ele sorria sentado no meio da bagunça

Jason avançou primeiro questionando se estava tudo bem. A garota perguntou se estava ouvindo e vendo bem: seu marido estava perguntando aos livros se estava tudo bem? Revirou os olhos e avançou para a bagunça pegando no colo o animal “indefeso”. Foi aí que Jason lembrou do animalzinho

— Caso você queira saber, ele está bem - ela afirmou sentada ao lado da cama que não tinha sido golpeada pela estante. Jason lhe sorriu triste ao sentar no seu lado

— Sei que não gostou dele… se quiser eu posso…

Ele nunca terminou a frase, porque ela não deixou. Sua boca estava ocupada com a dela, os dois começaram a entrar numa dança que a muito tempo aprenderam os passos. Porém, alguém não deixou finalizar

—  Precisamos dar um nome pra ele - ela constatou rindo levemente enquanto ele lambia sua bochecha

— Já sei! Que tal Rex? - ela negou com a cabeça - Max? - outro não como resposta - Laudelino?

— Pelo amor de Deus! Eu não vou ter um cachorro que se chame Laudelino - ela frisou - É um nome muito elegante para a zona que esse coisinha fez - ela acariciou a cabeça dele e passou o controle da televisão para Jason - Você tem um jogo pra terminar

Ele agarrou o controle e saiu correndo com o filhote aos seus pés. Depois de um banho e de limpar a cozinha, tudo que Piper queria era deitar no sofá com uma caixa de pizza no colo. Antes de chegar até Jason, um barulho de trovão cortou seus ouvidos e a chuva caiu forte balançando a janela. A pequena e cinzenta bola de pelos pulou do sofá indo para a grande janela de parede inteira do apartamento latindo sem parar dando cabeçadas no vidro toda vez que tentava passar para a varanda

A morena tentou pegar no colo, mas ele ainda estava energético

— Relaxe, é só uma tempestade - ele latiu para ela e abanou o rabo. Uma rápida olhada para Jason, que continuava focado no jogo, chamou o cãozinho de novo - Tempestade - ele latiu e abanou o rabo - Tempestade! - ele latiu e pulou se apoiando nas duas patas dando a deixa para ela pegar no colo e levá-lo para sofá junto do loiro - Jason - ela o chamou deixando o cachorro lamber o rosto do dono chamando a atenção dele - Acho que já sei qual o nome dele


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