Pavores e Desesperos escrita por HatsuneMikuo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

História não betada, contém gatilho de auto mutilação.
Boa leitura. ^^



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— Não... Não isso. 

"Pare de resmungar saga, seu bezerro chorão. Medo de trovões? Patético, combina com você " 

— Pare com isso, me coloque para dormir, eu não aguento mais 

"Nem parece que é o mesmo homem que assassinou o seu mestre" 

— Eu não matei mestre Shion. Foi você...  

" Não Saga, você está fugindo da realidade justificando sua culpa em mim.  

Saga a essa hora não sabia se apertava seus ouvidos ou seus olhos, estava já sem fôlego de tanto chorar e gritar sob soluços. Sua fobia de trovões piorara ao longo dos anos saindo de seu controle.  

Não é verdade... Não é verdade... Não fui eu, não fui eu. Aaah! 

"Escandaloso. Você grita a cada relâmpago, chora a cada trovão e se estremece no chão como um cachorro acuado a cada estrondo. o céu está lotado deles, veja Saga. Olhe para o céu. " 

—Não... não me force a ver isso, como me forçou a matar o Mestre Shion. ..  

Saga levantava a cabeça tremendo, sabia que a qualquer momento um raio riscaria de branco o céu negro trazendo aquilo que ele temia. 

Ares, a personalidade maligna que consumia a alma de saga adquiriu mais espaço em seu corpo ao longo dos anos, com ele, controlava Saga como uma habilidosa marionete. Dedilhando fios conectados aos seus braços, assassinou muita gente até conseguir seu trono. 

Primeiro seu mestre, aquele refletia que era a figura paternal de sua parte humana.  

Inconscientemente cegado pela inveja, gatilhado pelo ódio, e suas mãos movendo-se pelo instinto da fúria ceifou Shion.  

O sangue do grande mestre foi apenas para despertar aquilo aprisionado em sua alma, que o Grande Mestre tanto tentou fazer-lo não acontecer.  

Ele morreu para aquilo que sempre tentou mantê-lo aprisionado para que Saga não sofresse. Era apenas um adolescente, não. Saga era apenas uma crisálida para a reencarnação do mal que crescia e evoluía a longo dos anos. 

O corpo de Shion foi perdido para sempre. Ares usara o cosmo de saga para usar Another Dimension, nem mesmo o dono verdadeiro do cosmo saberia para onde o corpo do patriarca foi mandado.  

Um relâmpago corta o céu trazendo à mente do geminiano a imagem de Shion morto à sua frente por suas mãos.  

— Shion-Sama... Me perdoe, me perdoe. Eu não consigo...  

"Que meigo de sua parte pedir desculpas aquele que matou. Acalme-se Saga... um ataque a queima roupa no pescoço não foi tão doloroso como pensa. Você deu chance para ele antes de morrer do quanto ele estava velho e senil de não ter nomeado o grande mestre. Poderia ter sido bem mais fácil... e menos doloroso" 

— Não!! Pare... Eu imploro.  

Saga pressionava com força seus ouvidos para não ouvir o barulho dos trovões, mas não adiantava, a voz estava dentro de sua cabeça  

"Você lembra de vê-lo no chão imóvel, apenas o peito se enchendo e esvaziando de ar por reles segundos até ficar imóvel de vez? Você viu seus cabelos brancos se tingirem de vermelho com aquele sangue expirado da validade? Saga, diga que se lembra disso " 

— Não... 

Os olhos de saga se preenchem de lágrimas mornas e não deslizam por seu rosto caindo diretamente ao chão  

"Ele já iria morrer de qualquer forma. Ele não serviria mais para ser o patriarca deste santuário Saga. Ele era um velho, depois de certa idade o cérebro para de funcionar normalmente. Ele sabia que você era quem deveria herdar o seu trono..., mas ele te desprezava por não ser forte o suficiente, e então ele..." 

— Aioros... 

"Ele nomeou Aioros de sagitário para ser o Grande Mestre a sua frente. Aquele que você considerava como amigo. Aquele que você admirava e apreciava ter sua amizade o traiu. " 

— Aioros. ... Não... 

"É verdade Saga. Você era cego e não enxergava as verdadeiras intenções daquele traidor. " 

— Não era verdade... Aioros salvou o bebê de você.  

"Por causa de sua covardia Saga, você travou em frente ao berço de Athena por conta de trovões. Se eu tivesse conseguido manter o controle por mais um pouco... mas você tinha que estragar tudo" 

Um relâmpago rasgou o céu no momento fazendo com que o geminiano gritasse, engatinhasse pelo chão buscando um abrigo. Logo depois o trovão cai sobre o santuário deixando seus canais auditivos doloridos de tanto apertar, seus dedos estavam desistindo da força surreal da pressão aplicado sobre o crânio. Estava começando a ter enxaqueca e sofria com o tremor leve do chão. 

Sua fobia era de relâmpagos e trovões, um medo irracional que consumia seu corpo e alma, mas não sua personalidade maligna.  

Um pânico sem previsão para melhorar que o assolava desde criança, e a cada tempestade que acontecia parecia piorar.  

O tremor passou e Saga pareceu encontrar um conforto, respirava fundo, várias vezes, estava soando, suor escorria de seu rosto junto com algumas lágrimas. Uma dor no braço parecia acalma-lo.  

Estava cravando suas unhas no braço esquerdo e arranhando-o. Estava concentrado apenas naquela dor, estava se sentindo melhor... Embora a chuva continuasse a cair.  

O seu redor estava livros e louças quebradas ao longo do chão, sem perceber havia derrubando-os no momento de pânico, não havia problema, de manhã um serviçal poderia limpar e depois fingiria que isso nunca aconteceu. Durante a noite os servos eram proibidos de adentrar os aposentos do Grande Mestre, sujeito a punição... sujeito a morte por suas próprias mãos, mas não eram as mãos de Saga, era pelas mãos de Ares, vestindo as mãos de Saga como se fossem luvas para proteger sua identidade e assim permanecer no poder. Mas havia um problema, Ares não conseguia ter controle do corpo de Saga quando começava tempestade de raios e trovões, nem mesmo o próprio dono do corpo possuía controle sobre si nesses momentos.  

Não adiantava colocar Saga para dormir num momento desses, os trovões o acordavam-no como se desfizessem o feitiço.  

Já tentara afoga-lo na banheira, mas ele sempre escapava.  

Embebedou de vinho até demais para que caísse bêbado de sono e foi em vão. Só o fez vomitar e se sujar e ficado violento.  

Talvez uma droga fortíssima que poderia fazê-lo apagar por algumas horas, mas da mesma forma o corpo cairia e não conseguiria retomar o controle enquanto apagado.  

O jeito era colocar uma coleira em seu pescoço e puxa-la como um guia para que ele não fizesse besteira. Em um dos poucos momentos que deixou Saga no poder do corpo ele havia colocado uma adaga em sua jugular.  

Não permitiria que Saga tirasse sua vida, casos como esses tornaram-se recorrentes durante esses anos, de venenos ingeridos, pulsos cortados, corda no pescoço e até mesmo caminhas sobre a ponta de um abismo.  

Os servos do santuário acreditavam que o Grande Mestre passava tempos demais nos aposentos reais por sua saúde estar fraca, mas a verdade por trás disso era para manter Saga preso para que ele não fugisse ou tentasse algo contra si. Os impulsos suicidas que o cobriam eram muito fortes, mas nada comparados ao poder de Ares sobre ele.  

Pela maior parte do dia conseguia manter Saga dormindo dentro de sua mente, mas por outro lado não conseguia mantê-lo sobre seu controle, e isso trazia problemas.  

E isso tudo piorava ainda mais durante essas tempestades. 10 anos passaram-se desde que tomou o controle completo de seu corpo e era sempre assim, Saga surtando com os trovões e tentando se matar e Ares se esforçando-o para que ele não fizesse nada.  

O pânico era tão grande que desenvolveu auto mutilação, e assim Saga continuava cavando seu braço com suas próprias unhas... Teria que corta-las depois, se fosse possível arranca-las para que ele não se arranhasse, mas se fosse assim teria que arrancar seus dentes para que ele não se mordesse. Não chegaria a esse ponto, quem sabe no futuro. Talvez. 

Enquanto Saga observava sua própria mão se arranhando, teve uma lembrança resgatada.  

Estava em seu quarto com as luzes acesas, haviam duas camas de solteiro, mas apenas uma estava sendo ocupada pelos irmãos.  

Estava deitado sobre as pernas de seu irmão mais novo, com a cabeça em sua barriga enquanto cobria seus ouvidos e chorava, de olhos fechados as lágrimas encharcavam a blusa de Kanon e um travesseiro estava sobre sua cabeça cobrindo-o de qualquer som. Estava abafado, mas estava bom, estava quente... Se sentia seguro. As mãos de Kanon passando sobre seus cabelos, os afagos se intensificavam quando caia um trovão.  

“Está tudo bem Saga” 

Era uma voz igual a sua, mas era de seu irmão, era aconchegante ouvi-lo, era calma, com um toque de impaciência, mas era de seu querido irmão. Muito diferente daquela voz que sempre dizia coisas horríveis para ele e que não parava de ecoar na sua mente.  

Saga chorava 

Não fora Ares que prendeu Kanon, fora ele mesmo. Os ideais de Kanon eram impuros e sujos, queria purifica-lo... Mas acabou por deixando-o lá. Nunca fora visita-lo ou tentar retira-lo de lá, mas depois de todos esses anos o seu amável irmão o odiaria por ter deixado trancado até hoje.  

Os pensamentos de culpa o assolavam, o devorava, o mordia, o mutilava.  

Kanon não deve mais ama-lo. Seu amado irmão não o ama mais. E se ele não estiver mais vivo, morrera o odiando.  

Isso era cruel demais para ele.  

Começou a morder seus lábios esmagando-o com os dentes e cortando. O sangue escorria pelo queixo e sujava a gola do manto branco que vestia.  

Sua pupila não parava de fixar e tremer focando seu braço com caminhos vermelhos feito por suas unhas.  

“Eu conheço essa face” 

— Cale-se... 

“Está querendo enfiar sua mão tão forte no peito e arrancar seu coração fora” 

— Calado...! Não quero te ouvir!

“Está querendo esmagar seu coração com suas próprias mãos” 

— Pare... 

“Está lembrando do seu irmãozinho, aquele imprestável, não servia para nada. Devia me agradecer Saga, por culpa do Grande Mestre, ele viveu a vida inteira preso dentro de um quarto. Você não fez nada de errado, ele nasceu para ficar preso e escondido, você apenas o mudou de lugar.” 

— Não... É verdade, eu o amava 

“Poupe-me Saga, a quantos anos que você não o vê? Você nem precisa mais dele, você tem a mim agora” 

— Eu nunca quis você, nunca quis você na minha vida. 

“Ha ha ha ha ha...” 

A risada ecoava em sua cabeça e não parava mais, mesmo com os olhos cerrados, conseguiu ver o clarão do relâmpago clareando o ambiente. Se jogou novamente no chão com reflexo, como se estivesse escapando de uma granada ou mina terrestre.  

Sua mente perturbada, bagunçada, poluída o maltratavam. Pobre Saga, pobre ex-cavaleiro de ouro, fadado a sofrer por duas vezes mais.   

O trovão desceu do céu trazendo outro tremor, balançando prataria e a janela para o pavor de Saga.  

Sua cabeça parecia que estava para explodir, a enxaqueca não dava trégua, seus olhos já estavam murchos de tanto derramar lágrimas, seu nariz estava vermelho vivo de tanto escorrer coriza, os lábios inchados de tanto morder com força, o braço ardendo com contato do ar... Tudo era reflexo de sua crise de pânico recorrente a fobia de trovões.  

Aos poucos sua respiração voltava ao ritmo normal, bem lentamente... 

Fechou os olhos para relaxar, não ouvia mais nada a não ser o som da chuva caindo do lado de fora e sua pesada respiração.  

Talvez uns momentos de calmaria, por alguns instantes, um pouco de paz depois de tanta tempestade em sua mente... 

“Grande Mestre...?” 

Que voz foi essa? Não era sua voz, seus olhos abriam-se vermelhos como sangue, veias saltavam de sua testa e levantou-se rapidamente.  

— Grande Mestre, o que houve? 

Era um servo? Iria morrer.  

Não 

Era um dos cavaleiros de ouros que servia a Athena, Afrodite de Peixes.  

Trajando a armadura de ouro reluzente, mesmo escuro ela brilhava com o poder do cosmo da constelação pisciana.  

Ele iria morrer. 

— Eu vim aqui porque seu cosmo estava com aspecto estranho.

Ele iria morrer, ele iria morrer, ele iria morrer.  

O sentimento ecoava em sua mente, mas seu corpo não se movia.  

Talvez ele poderia ser útil. 

Na visão do cavaleiro de peixes o salão estava revirado, cadeira revirada, livros espalhados pelo chão e algumas pratarias e vasos quebrados. Não aguentou a curiosidade e foi averiguar os aposentos do Grande Mestre e o observou caído no chão encolhido. Estava sem sua robe de praxe e sua máscara ocultando sua face.  

Viu os cabelos loiros virarem brancos num jogo de luz, os olhos brilhando como um animal feroz acuado.  

Pena, sentiu.  

Caminhou até ele com passos lentos como se estivesse se aproximando de um feroz predador. Sabia desde o princípio de onde estava se metendo, estava adentrando território proibido.  

— Grande Mestre, está precisando de ajuda? - Ajoelhou-se perante ele. 

O corpo de olhos vermelhos virado para si, sem se mexer até ataca-lo se jogando por cima dele. Iria devorar cada pedaço de seu corpo e jogar numa dimensão desconhecida o restante.  

Sua mão se levantou para pegar impulso, iria cortar sua garganta e parte do pescoço fora, mas no levantar do braço arranhado um relâmpago apareceu o paralisando. Não houve reação, apenas um estado de choque. 

Afrodite ainda continuava abaixo de si sem entender nada, mas continuava calmo.  

— Não sei o que está acontecendo, não compreendo, mas parece que algo o perturba.  

Travada mente Saga olhava para baixo e encontrar o rosto de Afrodite no chão, seu rosto de pele clara e branca, seus cabelos loiros mais claro que a cor do ouro da armadura, viu a figura de Kanon nele, mesmo sendo os dois diferentes.  

O trovão veio em seguida para desalinhar sua vida, saindo de cima do menor e tentando se refugiar no chão.  

Ninguém poderia saber disso, ninguém poderia o olhar dessa forma tão vulnerável.  

Ambos Saga e Ares se juntavam e concordavam que ninguém poderia ter o visto assim.  

Ares repetia para matar Afrodite na cabeça de Saga, mas o trovão atrapalhou mais uma vez seus planos. 

O geminiano estava de cabeça baixa até o trovão passar, e então percebeu que não havia mais voz na sua cabeça, será que Ares se afastou? Não estava mais nada em seu controle.  

Virou para trás e viu com seus olhos pesados e olheiras Afrodite ajoelhado sem entender nada do que acontecia.  

— Afrodite... - pediu temeroso. 

— Sim Grande Mestre.  

— Afrodite... Afrodite – Se aproximou.— Por favor, eu te imploro. - Segurou seu rosto. - Faça parar, tudo. Eu não aguento mais.  

O menor se assustou com o contato do patriarca, mas queria esse contato com ele. Queria provar para ele que era confiável de ver suas indefesas, mas não entendia o que parar.  

— Antes que ele volte... Por favor, acabe com isso, faça parar. Eu não aguento mais...  

Saga gemia enquanto falava, se esforçava em formar uma frase, seu rosto estava tão perto que notou seus olhos azuis que estavam inchados, pouco momento atrás estavam brilhando vermelha mente.  

Afrodite não olhava o Grande Mestre, e sim Saga. Era o desaparecido cavaleiro de gêmeos a sua frente.  

Então era esse o segredo de não poder adentrar o salão do Patriarca.  

As mãos tremiam, lágrimas voltavam a descer. Estava desesperado, se não for por suas mãos, que seja as de Afrodite a sua frente.  

— Afrodite, fique aqui comigo... Faça passar tudo isso, eu não estou aguentando mais... 

— Você quer a minha ajuda? 

— Sim...! 

— Grande Mestre... Eu farei tudo que o senhor ordenar.  

Afrodite pôs a mão no rosto do falso patriarca e o mesmo abaixou o rosto. Tanto seu corpo quanto seu cosmo emanavam veneno, mas sabia se controlar. Se pudesse materializar um componente de veneno em baixa quantidade serviria como inofensivo sonífero. Aos poucos o corpo de Saga pendia-se a baixo e o peso ia para cima do cavaleiro de peixes.  

Deu certo, um relâmpago caiu e não houve nenhuma reação do maior.  

Era confiável para o Grande Mestre, realizaria seu pedido de acabar com tudo isso e o colocando para dormir.  

“Eu sempre farei tudo que o senhor ordenar, Saga.”   — Disse o pisciano. 

E assim a chuva continuou pela madrugada enquanto o patriarca adormecia tranquilamente nos braços de seu fiel cavaleiro.  


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Notas finais do capítulo

Eu possuo mais duas fanfics desse mesmo tema da esquizofrenia do Saga, é a história "Medos e Fobias" e "Nightmare" ambas em meu perfil. Se você chegou até aqui, muito obrigada pela leitura.



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