Para Viktor, estar em Hogwarts não estava sendo nada demais. Bem, para os outros talvez fosse uma oportunidade de visitar outro lugar e ter contato com jovens bruxos de outras etnias, mas para Krum, que era o jovem apanhador mais bem sucedido do mundo e que inclusive havia acabado de sair de uma Copa Mundial, aquilo estava mais para um passeio de criança com supervisão. 

E tinha também toda aquela histeria coletiva de alunas o seguindo para cima e para baixo, pedindo autógrafos em uma língua que ele tinha que se esforçar para entender e que lhe deixava com uma dor de cabeça contínua. 

Bom, Krum preferia as terras da sua amada Bulgária, a liberdade de sair da escola a qualquer tempo. Sentia falta de todos em sua volta o tratando como uma pessoa normal. 

Até o momento, a única coisa que agradava Viktor era a oportunidade de participar do Torneio Tribruxo. Ele tinha certeza que seria selecionado e invocando todos os santos ortodoxos dos trouxas, ele realmente precisava de algo que fizesse seus sangue correr mais rápido pelas veias. 

Era naturalmente calado, então enquanto alguns colegas da Durmstrang discutiam alguma coisa que ele não fazia questão de entender, finalmente algo chamou sua atenção. Na verdade, alguém, vestida com o uniforme sem graça de Hogwarts, era uma garota tão bonita que Viktor sentiu que estava perdendo o ar. 

Era um tipo de beleza atípica, cabelos armados e um nariz arrebitado

O búlgaro era alto e conseguia ver a menina com clareza enquanto estava sentado no desconfortável banco do salão comunal, mas ele foi tomado por uma súbita vontade de levantar-se e chegar mais perto. O assunto dos amigos pareceu ainda mais enfadonho enquanto ele pensava em se aproximar da garota morena. 

Gostou de como ela se portava à mesa, com os pulsos grudados na borda da mesa da grifinória, os talheres descansando no prato enquanto ela dava risada de algo que os amigos falavam. Era tão espontâneo! Pela primeira vez, ele gostaria de ouvir alguém falando em inglês. 

Cutucou um garoto da mesa da sonserina e apontou discretamente para a menina que tomava café da manhã. 

— Quem é aquela? – o rapaz apertou os olhos para ter certeza de quem ele falava.

— Aquela? – Viktor não entendia o tom de deboche, então apenas assentiu sério. – É a Granger. Hermione Granger – ele não gostou de como o sobrenome dela soava quando falado naquele tom, mas não disse nada, pois queria saber como aquele nome parecia saindo de seus próprios lábios. 

— Hermy-own –  tentou repetir baixo. Fantástico!

Naquele dia, Viktor não chegou na menina desconhecida. Na verdade, nem nos dias seguintes. Começou a ter o costume de olhá-la enquanto tomava café, notou que às vezes ela carregava livros pesados e parecia seriamente concentrada. Outras vezes, ela parecia tão sorridente e feliz que Krum sentia vontade de sorrir também. 

Quando ele passou a ter autonomia suficiente para andar na escola sozinho, ele se esgueirou pelos corredores em direção a biblioteca. Se estivesse certo, encontraria a bruxinha por ali. 

Quase sorriu quando a encontrou sozinha em uma mesa escondida entre as últimas prateleiras. Ele havia pegado o pomo na final do mundial de quadribol e, ainda assim, aquela face concentrava lhe deixava nervoso. Antes que pudesse dar alguns passos em direção a garota inglesa, ele recuou e sentou-se em outra mesa. Sua língua formigava de vontade de falar com ela, mas gostava de observá-la. Agora de perto, ela pareceu sentir o olhar sobre si, pois levantou os olhos. Eram lindos olhos cor de uísque, espetos e brilhantes. 

Não era um rapaz de muitas expressões, era fechado e carregava sempre uma expressão dura, mas não podia deixar de oferecer um sorriso brando quando os olhos dela encontraram os seus. Ela sorriu de volta e Krum percebeu com diversão que ela tentou ajeitar o cabelo atrás das orelhas. 

Ele pegou um livro qualquer para que a situação não ficasse tão estranha. Com pesar percebeu que seu pequeno fã clube havia o seguido até ali. Risinhos, conversas cochichadas e alguns bilhetinhos. Algumas garotas fingiram pegar um livro na fileira da frente e Krum se irritou. Elas haviam tapado a visão que ele tinha de Hermione! 

Quando elas saíram, deixando um bilhetinho flutuando em sua frente, Hermione já havia recolhido suas coisas e saído dali. 

Naquela altura, Viktor já era o campeão da Durmstrang, aumentando exponencialmente suas tarefas e preocupações, contudo ele ainda dava um jeito de bandear-se para a biblioteca com desculpas esfarrapadas, completamente tomado pela vontade de observar Hermione. Ele sempre ficava por alguns minutos até que ela se incomodasse com o barulho que suas “fãs” faziam. 

Naquele dia, tomado de uma coragem que vinha reunindo a dias, quando Hermione recolheu suas coisas, Viktor a abordou entre as prateleiras da sessão restrita. 

— Boa tarde, Hermy-own – ela pareceu surpresa por ele saber seu nome e sorriu devido ao seu sotaque arrastado e forte. 

— Boa tarde – gostou de como ela pareceu tímida em sua presença, as bochechas atingindo um tom avermelhado. 

— Você está indo embora mais cedo hoje – Não queria parecer um perseguidor e nem nada do tipo, mas não podia deixar de falar. 

Parecia incerta, mas apontou com a cabeça para as três garotas que os acompanhava com os olhos. 

— Eu sei, também acho irritante. – Desejou ter treinado mais seu inglês. 

— Não sei como você consegue ler assim… – ela gesticulou. – Digo… com elas sempre falando! 

— Ah… eu não leio. Venho aqui por sua causa. 

Ela arregalou os olhos em sua direção. 

— Não diga besteiras— ela sorria tão lindamente. Viktor pela primeira vez era alvo daquele sorriso brilhante. 

— Estava reunindo coragem para falar com você, Hermy-own. 

Viktor esticou os braços fortes para auxiliar Hermione com os livros. 

— Estou falando certo? Hermy-own – ele não queria fazer um papel de besta. 

— Her-mi-o-ne – ela disse vagarosamente. Viktor tentou pronunciar, mas sempre saía uma variação de Hermy-own. 

— Tudo bem Viktor, assim está ótimo! – a verdade é que ela gostava da forma como seu nome se tornava ainda mais único saindo dos lábios do rapaz. 

Viktor esperava que os olhares pelos corredores não incomodassem Hermione, pois eles saíram da biblioteca conversando enquanto ele carregava seus livros e a acompanhava até a porta do salão comunal. 

— Espero que a gente possa se falar amanhã, Hermy-own! 

E eles se falaram, dessa vez Krum acompanhava Hermione mais de perto. Já percebera como seu cabelo tinha nuances mais claras e como ela possuía algumas sardas no nariz. Como sempre que ela sorria, aparecia uma única covinha do lado esquerdo. 

E céus! Como ela era inteligente. Disse que estava ajudando Harry no torneio, estudando e ainda por cima arrumava disposição para lhe contar uma dúvida ou outra a cerca de Hogwarts e ajudá-lo a pronunciar algumas palavras no inglês. 

Ainda que eles conversassem todos os dias, tinha algo que perturbava Viktor. Era aquela agitação incomum no seu estômago, que nada tinha a ver com as tarefas do Torneio Tribruxo. 

Ele sugeriu que dessem uma volta pelo jardim e Hermione concordou animadamente. Passando pelas margens do lago negro com a inglesa lhe contando curiosidade sobre a ideias de sereias no mundo Trouxa, ele reparava nas curvas que seus lábios faziam quando ela os mordia tentando lembrar de alguma informação. 

Tomado de uma incrível vontade e sentindo seu coração bater de um jeito tão juvenil, Krum encostou seus lábios no dela. 

Hermione suspirou por um segundo e depois seus braços já estavam sobre a nuca dele. 

Primeiro eles se experimentaram com suavidade. Não houve cheiro, não houveram pensamentos. Só havia aquela sensação de formigamento que tomava os corpos. Um calor tão gostoso que parecia que o sol tinha surgido apenas para os esquentar. 

Quando eles se separaram, Krum encarou-a sem saber o que fazer. 

— Uau, é assim que fazem na Bulgária? – ela tentou brincar. Ele sorriu. Estava fazendo muito isso. 

— E eles as convidam para o baile! Quer ir ao baile comigo, Hermy-own?