O fada padrinho escrita por Biazitha


Capítulo 1
Um descanso merecido


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Cá estou eu, muito feliz mesmo, postando mais uma shortfic lindona. Começando pela capa, maravilhosamente feita pela @kiyohlme, que está perfeita em seus detalhes do começo ao fim; que magnitude incrível ESSA CAPA, POR FAVOR, APRECIEM SEM MODERAÇÃO PORQUE ELA MERECE DEMAIS A
E, graças ao projeto @desbravando, consegue desenvolver os primeiros capítulos sem muitos problemas. QUE DELICIA, MEU DEUS!
A fanfic é pra ser engraçadinha e bem boiolinha, porque se tem Nejiten eu só consigo fazer essas coisas fofinhas assim


Boa leitura!



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Era imprescindível que aquele conteúdo fosse entregue ao meio-dia e Mitsashi Tenten esforçava ao máximo as pernas cansadas para que chegasse a tempo no destino. Seus olhos faziam o caminho do relógio prateado em seu pulso até o movimento de criaturas à sua frente. Estava pouco se importando se parecia uma malcriada enquanto empurrava o máximo de corpos que impediam a sua passagem. A estatura mediana era complicada por si só e o único modo de conseguir chegar a tempo era sendo estúpida e se fazendo ser notada… Com pisões e berros, claro.

— Onze horas, cinquenta e seis minutos, trinta e dois segundos — sibilou entre uma suspirada sôfrega; os pulmões estavam exaustos de se dividir entre expelir ar para gritar, correr e respirar. Caso atrasasse um segundo que fosse, a mestra com certeza lançaria outra maldição em cima dela. A última praga conjurada havia sido extremamente desconfortável — passar o dia todo com as pernas grudadas e ter que pular para se locomover foi um inferno — e às vezes podia jurar que estava presa dentro de uma história de terror mal escrita, mas era a sua realidade. Para sua felicidade ou infelicidade.

Virou uma esquina e o número de criaturas diminuiu consideravelmente. Estava longe do centro, então não havia mais a necessidade de se espremer entre seres vivos caminhantes. Contudo, os pés ainda batiam com força contra o chão de pedras, tentando não se atrasar e evitando assim enfurecer a velha elfa rabugenta. Faltavam dois minutos e oito segundos.

— Estou aqui! — Tenten gritou o máximo que os pulmões fatigados permitiram. Algumas poucas criaturas viraram-se espantadas, buscando pelo som, mas ao notarem que era apenas a duende, voltaram com suas rotinas. A jovem de birotes no cabelo não merecia tanta atenção assim. — Mestra Tsunade!

Avistou a carroça podre e o alazão judiado parados em frente à loja; a esbelta figura da mestra elfa a esperava com os braços cruzados e uma pequena maleta gasta aos seus pés, as orelhas pontudas se remexiam entre os longos cabelos loiros. Mesmo sendo de uma raça muito respeitada e provindo de uma família bem influente nos três condados, a tal mestra Tsunade não suportava as bajulações e muito menos as mordomias do palácio, por estes motivos vivia pacata fazendo poções e magias, curando os doentes e deixando outros doentes, trazendo amores de volta e levando outros amores. Enfim… Lidando com maldições, magias e poções; assim levava a vida.

Porém, às vezes, o dever a chamava e precisava fazer cansativas expedições à pedido dos nobres. Os outros seres nunca souberam o que ela fazia durante essas viagens, todavia, as mais variadas histórias horripilantes circundavam o vilarejo, aumentando ainda mais o temor do povo.

Mitsashi Tenten — uma duende desconfiada, dona de longos cabelos escuros e também aprendiza da elfa (mesmo que por muitas vezes parecesse algum tipo de experimento de mau gosto da velha) —, por sua vez, sabia de todas as curas e milagres que a gigante elegante realizava nos mais diversos locais desconhecidos, mas mantinha segredo para não levar bofetadas da mestra por ser “boca grande”.

A elfa olhou-a com a costumeira carranca, contorcendo o largo rosto em uma careta. O dedo indicador quase zuniu no ar, ficando em riste na frente do rosto da duende exausta e ofegante. Os cabelos da mais nova espalhavam-se pela cabeça e grudavam na pele molhada.

— Onde está o que te pedi? — Perguntou por fim, pulando as saudações e qualquer outro tipo de etiqueta. Naquela relação não havia tempo e nem vontade para isso. Era uma relação bem estranha, na verdade.

— Aqui. — Tenten estendeu um saco médio e pesado na direção da mulher. Parte aliviada e parte ansiosa; alguns dias cuidando da loja sem a presença da velha eram como o paraíso.

A grande torre do relógio soou. Meio-dia.

— Está atrasada — Tsunade sentenciou impassível. A duende revirou os olhos e nada respondeu; não adiantaria discutir. Abaixou-se e segurou a mala entre os braços cansados, caminhando com certo desespero até a carroça. Depositou o objeto meio sem jeito na parte de trás e estendeu a mão para que a elfa pudesse subir com mais facilidade, e assim a velha fez. Após acomodar-se, olhou com mais seriedade ainda para a jovem duende e proferiu: — Cuide bem da loja e não se esqueça dos pedidos. Se eu souber que…

— Eu sei, eu sei: vai lançar um feitiço para me fazer sofrer lentamente se isso aqui virar uma bagunça — interrompeu apressada, gesticulando em direção a pequena loja com o resto de força que ainda havia no corpo fatigado. — Faça uma boa viagem, até logo!

Sem esperar qualquer resposta, deu um tapa no traseiro do cavalo que começou a andar devagar. A mestra endireitou a coluna e, sem olhar uma única vez para trás, partiu.

E, então, a jovem pôde respirar com mais tranquilidade por alguns minutos, apenas aproveitando o sentimento agradável de saber que estaria livre de cobranças e sem estresse pelos próximos dias.

Por estar um pouco distante do centro do vilarejo, pôde aproveitar também o pacato movimento naquela hora e desfrutar do silêncio. Tenten apoiou-se no murinho de pedras da loja e cruzou os braços, observando tudo ao seu redor.

O sol escondia-se atrás das pesadas nuvens escuras, indicando a chuva que logo viria para refrescar o dia. Paju era um vilarejo calmo e sem muitos acontecimentos importantes, localizado na ponta do “Primeiro Condado” e se sustentava pelo comércio, basicamente. Os condados eram comandados pelas famílias das criaturas mais poderosas: elfos (como era o caso da família de Tsunade), faunos e gigantes. A maioria das criaturas mágicas era capaz de viver em paz, entretanto, era óbvio que algumas espécies consideravam a si mesmas como superiores.

Os nomes dos condados não eram tão criativos quanto os dos vilarejos e cidades, contudo, os seres anciãos haviam colonizado todas as terras, então o direito do nome sem graça era deles: Primeiro Condado, Segundo Condado e Terceiro Condado.

O Primeiro Condado pertencia aos elfos. A raça cuidava da parte mágica e da saúde em geral.

O Segundo Condado pertencia aos faunos. Eles eram administradores da riqueza e das provisões que cada vila receberia.

O Terceiro Condado pertencia aos gigantes e, como era de esperar, cuidavam da segurança e das fronteiras.

O resto das raças era livre para fazer o que quisesse, desde que tivessem alguns aprendizes ou subordinados dispostos a aprender a cada ano que começava, como era o caso da duende Mitsashi Tenten. Os 1,60 de altura não a permitiam trabalhar em muitas áreas e os duendes eram vistos como seres medrosos, portanto a vaga de aprendiza de magia foi a melhor opção para todos. Assim que terminou os longos oito anos de estudo na escola de Paju, começou como aprendiza de magia. Estava naquela vida há seis anos, aproveitando ao mínimo os recém-completos 24 anos. Um dia esperava chegar ao nível da mestra, mas sabia que precisaria enfrentar o estereótipo ridículo que haviam imposto nos duendes e se esforçar muito para ser a melhor.

— Boa tarde, aprendiza. Como vai?

A voz genuinamente animada despertou a jovem de seu estupor; olhou para o lado esquerdo e sorriu para o velho troll, que girava as grandes chaves na porta da alfaiataria. Não foi possível contar o rubor nas bochechas quando os seus olhos voaram até a figura alta atrás do alfaiate: o belo aprendiz.

— Tudo na mais perfeita paz, senhor Sarutobi. — Mal era capaz de disfarçar a felicidade. Bom, felicidade dupla: a mestra Tsunade estava longe e o discípulo de alfaiate estava sorrindo grandemente para ela. Que dia de sorte! — Boa tarde, Neji. Como vão vocês?

— Tudo muito ótimo — respondeu o troll mais novo, aumentando o sorriso alguns milímetros mais, mesmo que o pirulito em sua boca atrapalhasse a ação. Os cabelos escuros e presos pela metade da criatura davam-lhe um ar de realeza caindo com maciez pelas costas largas e balançando conforme os pesados passos, juntamente com as roupas impecáveis e os acessórios brilhantes. De repente, Tenten começou a sentir vergonha da calça velha de linho e da camiseta azul desbotada. Sentia-se estranha perto da figura grandiosa dos outros dois.

Hyuuga Neji esbanjava um ar de magnificência e delicadeza, mesmo sendo um enorme troll. A duende não sabia muito sobre a origem e a família do dito cujo, todavia, podia jurar que fazia parte da “nata” do vilarejo apenas pelo modo como se comportava e falava; parecia um príncipe. Talvez fosse algum perdido, como a sua mestra que não suportou a vida mesquinha e besta que as criaturas superiores levavam e resolveu viver por conta própria. Ou talvez tivesse sido educado para ser um infante mesmo pertencendo à ralé.

— Minha cara, eu fiz um combinado com a sua mestra. Mais tarde mandarei Neji pegar o que foi dito e lhe entregarei o que prometi à velha Tsunade. — A duende concordou no susto por ter sido arrancada de seus devaneios pela segunda vez. Precisava parar de sonhar acordada com tanta frequência. Os dois trolls entraram na loja, deixando-a sozinha mais uma vez. 

— Até mais — respondeu para o vazio, virando-se também e atravessando os murinhos de pedra para começar o seu trabalho.

A lojinha era escura e fria na maior parte do tempo, tornando o ambiente pouco agradável ou chamativo para os clientes. As paredes eram de pedras cinzentas e o chão de madeira escura; era uma combinação estranha, mas que parecia funcionar muito bem para a sua fundadora. Tenten tirou poucos minutos para observar o ambiente com mais atenção. Havia decorado em sua mente cada canto daquele lugar, porém sempre podia se surpreender com algum produto novo ou o sumiço de outro antigo. Passou por entre as prateleiras de pedra espalhadas de forma desordenada pelo centro do ambiente, depois foi até o grande balcão — também de pedra — no canto esquerdo e sentou-se no banquinho com a coluna ereta. Atrás dela havia uma grande porta de madeira que levava à “Sala de Preparo”.

Em cima do balcão havia algumas recomendações da mestra elfa, no entanto, a jovem resolveu dar uma olhada naquilo mais tarde; sabia que teria bastante tempo e ainda queria aproveitar a paz que lhe inundava. Cruzou os braços atrás da cabeça e inclinou o corpo para trás até estar confortavelmente apoiada na parede fria, logo fechou os olhos junto com um suspiro relaxado.

A calmaria daquele dia parecia especialmente mágica. O barulho baixo das criaturas do lado de fora era como uma canção de ninar agradável. Os cavalos batiam os seus cascos nas pedras como uma marcha e ao lado havia o sibilar ritmado da máquina de costura. Podia imaginar o aprendiz Neji e o mestre Asuma passando a tesoura colossal por panos tão gigantes quanto eles, escorregando a agulha delicada pelos tecidos sem forma e chiando em cima dos... Opa, chiando?

— O quê? — Murmurou ainda de olhos fechados começando a se irritar com o chiado baixo, como se algo pegasse fogo, perturbando o seu descanso.

Abriu o olho direito primeiro e sentiu o seu coração parar de bater quando viu a face emburrada da mestra Tsunade envolta por uma bolha azul fumegante bem em cima do balcão.

— SOCORRO! — Berrou antes de se forçar para frente e cair do banquinho com um estrondo seco. Derrubou alguns papéis junto consigo.

— Recomponha-se — mandou a cabeça flutuante com uma voz arrogante. Tenten sentia a cabeça latejar, assim como o seu traseiro, e a calmaria fugia de todo o seu ser.

— Mestra — saudou com uma reverência depois de ter arrumado toda a bagunça —, que surpresa agradável.

— Corte a falsidade, aprendiza. Aproveitei que tudo estava tranquilo por aqui para lembrá-la dos pedidos. — A elfa aumentou a carranca e franziu a testa como se pudesse enforcar Tenten apenas com o olhar. Talvez fosse capaz. — Pare de ser preguiçosa e comece a fazer os pedidos, Mitsashi! — E assim como apareceu, sumiu em uma nuvem de explosão azul.

A duende suspirou fundo e ficou um tempo parada olhando para onde Tsunade estava poucos minutos antes. Era uma forma de magia nova e precisava lidar com o fato dela existir, para perturbá-la ainda mais, depois.

Contendo a vontade de xingar e espernear, caminhou até a porta de madeira atrás de si e abriu-a com cuidado. Deu uma última olhada para o seu cantinho de paz contra a parede e entrou na escuridão da Sala de Preparos.

Tenten juntou os ingredientes necessários em cima da bancada de madeira, em seguida arrumou a máscara preta e incômoda no rosto. A Sala de Preparados era fria e fedia; diferente dos ingredientes dentro de potes coloridos nas prateleiras da loja, aquela parte sombria da magia ficava exposta em grandes sacos de pano ou vasos sujos de vidro, todos completamente destampados e desprotegidos, formando uma mistura de cheiros e sentimentos para quem ousasse entrar ou trabalhar ali. A máscara no rosto da duende era apenas por questões de segurança, porque ela mesma não sentia mais cheiro nenhum. Estava imunizada àquela mistura doentia da sala.

Em uma bacia de argila jogou uma pitada de origanum vulgare e um fio de azeite das montanhas. O conteúdo dentro da bacia começou a ferver e borbulhar assim que Tenten proferiu:

— Sui generis.

Enquanto a magia fazia sua parte, a jovem foi atrás de outros ingredientes para a próxima encomenda. Observava o amontoado de pós, colheres, óleos, azeites e especiarias com tremenda concentração. Não podia errar um miligrama que fosse; diferente de cozinhar, preparar poções e remédios exigia muita precisão para que não acabasse transformando alguém em um punhado de cinzas ou em algum animal selvagem. Poderia acabar com a vida de um ser com poucas pitadas do ingrediente errado. E com a sua própria, claro. Mestra Tsunade a caçaria até em outros condados ou até mesmo na vida pós-morte se cometesse algum erro.

Os seus pais eram agricultores humildes, viventes na ponta do condado, próximos ao mar Oeste; era um ambiente extremamente propício para a plantação de grânulos exóticos e raros, no entanto, a duende não se sentia tão à vontade para seguir o ramo da família. Sempre teve desejos e sonhos maiores.

Quando Tenten começou como aprendiza, sentia-se a dona do mundo, mesmo que não fosse algo tão espetacular assim para algumas outras raças. Tinha a ligeira ciência de que apenas fora admitida porque sua pobre mãe implorou por aquela chance única; se a amizade entre seus pais e a mestra não fosse tão longa e sincera, certamente estaria enfiando as mãos na terra para plantar os grãos. Não que não se orgulhasse dos seus pais e do pequeno império que haviam construído apenas com algumas sementes, porém sentia que era capaz de fazer mais pelo seu povo, sentia que o sangue duende que corria em suas veias não era tão amedrontado e bobão quanto a crença popular ironizava. Sentia que o desejo pela mudança pulsava em seu coração. Sentia-se capaz de muitas coisas e talvez começar como aprendiza era o início de sua tão sonhada jornada.

— Mitsashi Tenten? — Parou de zanzar perdida em pensamentos quando o seu nome foi chamado lá da loja. Quase derrubou um pouco de rhus coriaria no chão e repreendeu-se com um tapa na própria mão. Precisava parar de divagar tanto! 

— Só um minuto. — Abaixou a máscara e gritou para quem quer que fosse do outro lado da porta. Escutou os passos pesados se afastarem e se preparou para sair carregando dois recipientes com poções já prontas. Saiu com um sorriso leve no rosto, mas que logo trocou por um genuinamente feliz quando viu a grande figura do troll Neji parado na frente do balcão.

— O mestre pediu para que eu viesse pegar a encomenda dele — explicou-se com a voz serena de sempre. Tenten se sentia diferente perto da presença dele; eram tão diferentes fisicamente, suas espécies eram quase 100% opostas. Trolls, com seu porte viçoso e bonito, pareciam capazes de realizar tudo. Ninguém ousaria mexer com eles ou fazer alguma brincadeira; eles eram muralhas impenetráveis e firmes, porém flexíveis quando a situação pedia. Conhecidos pela calma inabalável e o semblante sincero, poderiam trabalhar com o que quisessem que seriam certamente bem-sucedidos.

Diferente dos duendes, claro...

O sangue corria quente nas veias do duendes, mas era facilmente "esfriável". Bastava um mínimo aumento de voz que muitos se encolheriam e voltariam atrás, pedindo milhões de desculpas. Podiam ser irritáveis, contudo, perdiam a valentia em poucos segundos. Tenten muitas vezes precisava conter os pensamentos covardes quando a mestra gritava ou a ameaçava; ela realmente lutava contra o lado frouxo dentro de si com todas as forças que tinha. Duendes eram comparados com castelinhos de areia. Beeeeeem pequenos e fáceis de desmoronar, por sinal.

— Oh, sim, estou terminando um pedido. — A jovem fez menção de recolocar a máscara no rosto, mas as mãos do outro ergueram-se por um instante para chamar sua atenção e depois repousaram no balcão. — Precisa de alguma coisa?

— Posso...? — Tenten elevou seus olhos até o outro que tinha as faces coradas, envergonhado com o que falaria a seguir; trolls realmente eram incapazes de esconder suas verdadeiras intenções e sentimentos. Neji batucou os dedos inquietos e engoliu em seco por um instante. Ela notou como os belos olhos claros dele analisaram cada parte de seu rosto. — Eu gostaria de ver como você faz as poções.

A jovem deixou uma lufada de ar escapar por entre os lábios comprimidos, fazendo um alto som de risada esganiçada, e por um instante parecia que estava rindo do pedido tímido, mas na verdade sentia-se lisonjeada e ria de nervoso. Que dia maravilhoso estava sendo!

— Se não puder, eu entendo. Não quero atrapalhar, apenas tenho essa curiosidade — completou o grandalhão, sem graça.

— Não se preocupe! Eu vou trazer os ingredientes para cá e você pode me ajudar — retrucou animada e correu até a sala sombria quase saltitando. Neji parecia ser cheio de surpresas como ela e isso deixava o seu coração mais agitado do que o normal; poderia conhecer mais daquela criatura que sempre admirou em silêncio. Quem poderia dizer que ele se interessava por magia? E que gostaria de vê-la trabalhando?

Fantástica. Mitsashi Tenten sentia-se fantástica.

Voltou em pouco tempo abarrotada com alguns sacos de pós e vidros com líquidos estranhos nos braços. Depositou-os no balcão com displicência e olhou para o rosto do troll, deliciando-se com a curiosidade e excitação latentes em sua feição.

— E, então, vamos começar? — Indagou retoricamente enquanto abria um grande livro com uma receita para unhas de gigante encravadas. Inspirou fundo por um tempo e começou a separar o que precisava; os olhos atentos do outro acompanhando cada movimento seu. — Você pode me entregar o que eu te pedir, pode ser?

— Claro, estou à disposição. — Sorriu simpático e a duende se perdeu por uns segundos com os pulos que o seu coração deu com aquele ato. Estava ainda menos preparada quando o outro apontou para a mistura no pote e começou a divagar: — Trabalhar com magia deve ser prazeroso. Observar a modificação dos elementos com apenas uma sequência de palavras e ainda salvar vidas.

— Ah... — Deixou a onomatopeia se estender um pouco enquanto vasculhava em sua mente uma resposta sincera, mas ao mesmo tempo que desse abertura para saber mais sobre o aprendiz de alfaiate. — Acaba se tornando algo corriqueiro e banal. Eu acho que as transformações que você faz com os panos espetaculares. Você é capaz de salvar vidas também.

Ele riu verdadeiramente. Não havia pensado por aquele lado; por mais que fossem profissões opostas, tinham o seu devido valor em igual proporção. A aprendiza de magia era mais interessante do que estava esperando; o troll torcia para que não estivesse sendo muito agressivo ao demonstrar o seu interesse, todavia, que ao mesmo tempo fosse perceptível. Estava funcionando?

Hyuuga Neji sorriu mais uma vez e calou-se, observando as mãos ágeis da duende moverem-se de um lado para o outro. Pegava uma pitada, derramava umas gotas, mexia várias vezes e repetia tudo mais umas três vezes, até pronunciar palavras que desconhecia o significado. A criança em seu interior pulava de felicidade por estar tão perto da jovem e vendo o seu incrível trabalho ao vivo. 

— Você pode me passar o allium sativum, por favor?

— O... O quê? — Saiu do transe em que estava com a voz suave de Tenten. A mesma apontou para os potinhos amontoados na ponta do balcão e depois para a mistura laranja no pote. Finalmente iria ajudar!

O troll levantou os frascos até a altura do rosto e espremeu os — já bem pequenos — olhos para que pudesse ler as etiquetas coloridas com os nomes. Não entendia nada. Sorriu sem graça para si mesmo por não entender absolutamente nada do que estava escrito.

— Procure nos potes com “S”. Allium sativum — instruiu ela, ainda mexendo a mistura com a mesma intensidade, sem desgrudar os olhos do que fazia. Havia assumido uma postura mais profissional. Neji distraiu-se por mais alguns segundos com o movimento hipnotizante enquanto fingia procurar o que havia sido pedido. Os seus olhos pulavam dentro daquela mistura laranja sem que percebesse e viajava para outra dimensão. Tenten era tão bela e interessante que podia observá-la por horas mexendo em qualquer coisa. — Encontrou?

No pulo, o grandão voltou a olhar os potes, achou um com a etiqueta sativum e pegou. Coriandum sativum. Era isso, não?

Contente, a aprendiza de magia agradeceu e abriu o pote, pegando uma colherada. Derramou com calma na poção e de laranja ela ficou vermelha. Compartilharam um sorriso cúmplice com a transformação.

— Eu vou terminar essa mais tarde. Quer me ajudar com uma diferente?

E assim começaram mais um ciclo de medir, mexer, pegar e achar frascos. Não falavam nada mais do que o necessário durante a preparação, mas se sentiam confortáveis mesmo com o silêncio, apenas pararam com aquele momento agradável quando o mestre Asuma começou a gritar pelo aprendiz no meio da rua.

— Obrigado por me deixar ajudar e por me mostrar como você trabalha — começou a se despedir meio a contragosto. Fez menção de abraçar a jovem, no entanto, achou melhor apenas estender a mão. Não queria parecer muito evasivo. — Até amanhã, Tenten.

— Até! Obrigada pela ajuda.

Ela quase suspirou encantada, entretanto, lembrou-se que sua vida não era um conto de romance e voltou a cuidar das poções só com um sorrisinho tremendo no canto dos lábios.

Algumas horas mais tarde estava terminando a primeira poção que havia feito com Neji quando ela começou a borbulhar e saltar no pote sem permissão. Pega de surpresa, tentou conjurar alguma palavra para controlar a transformação inesperada, contudo, uma explosão a empurrou para trás. Junto com ela, uma voz berrou:

— Onde está a desgraçada da Tsunade?


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Notas finais do capítulo

Link original: https://www.spiritfanfiction.com/historia/o-fada-padrinho-22617417

Espero que aproveitem e gostem desse mundo mágico que está começando (e logo mais vai terminar porque eu só sei escrever shortfic, aparentemente). Até o próximo!

Blog cheiroso Animes Design que eu pedi a capinha linda: http://animesdesign-ad.blogspot.com/



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